segunda-feira, 30 de maio de 2022

O MITO DE SÍSIFO, PADRÕES DE REPETIÇÃO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E A MATERIALIZAÇÃO EM ARTETERAPIA

 

Por Juliana Mello – RJ

entrelinhas.artepsi@gmail.com 

“A alma não tem segredo que o comportamento não revele”. (Lao-Tsé)

 

Desde a nossa infância, criamos pensamentos sobre nós mesmos, sobre o mundo e sobre nosso futuro, que vão se reforçando ao longo da vida, dando origem ao que chamamos de crenças.  Essas crenças dão origem aos comportamentos, que nos auxiliam na adaptação ao meio em que vivemos. Criamos assim um ciclo de funcionamento inconsciente onde pensamentos e comportamentos se retroalimentam. Conforme Darwin, citado por Renato Caminha e Marina Caminha, “Se o comportamento se mostra eficaz à adaptabilidade da espécie ele será maximizado, ou seja, passará a ser generalizado no comportamento desta espécie...” (2013)

Passamos então a repetir padrões de comportamento, visto que, em determinada época de nossa vida, eles nos auxiliaram em nossa relação com o meio. Porém, muitos desses comportamentos, e pensamentos, conforme vamos nos desenvolvendo, tornam-se disfuncionais, mas não conseguimos “eliminá-los” de nossa mente e passamos a vida reforçando e mantendo ativos no funcionamento do dia a dia. Como descreve a psicóloga Thaís Petroff em seu blog:

O que os torna disfuncionais, é que são mantidos e perpetuados por toda a vida e em situações em que não necessariamente se “encaixam”. Transformam-se em padrões arraigados de pensamentos e crenças distorcidas. (2011)

E enquanto não tomamos consciência desse funcionamento disfuncional, passamos pela vida repetindo ações que nos levam a pensamentos do tipo: “não nasci para isso”; “as coisas nunca dão certo para mim”; “eu tenho dedinho podre” e por aí vai. Gerando sentimentos como frustração, decepção e ansiedade, nos impedindo de alcançar nossos objetivos.

E agora você pode estar se perguntando: E o que o mito de Sísifo tem a ver com isso?

            Sísifo, da mitologia Grega, era muito inteligente e esperto. Ele conseguiu enganar os deuses             em busca de objetivos que o beneficiasse. Ao descobrirem o comportamento de Sísifo, os deuses lhe deram um grande castigo: Essa punição consistia em escalar uma pedra pesada pela encosta de uma montanha íngreme. E quando ele estava prestes a chegar ao topo, a grande rocha cairia no vale, para ele escalar novamente. Isso teria que se repetir por toda a eternidade.

E é isso que acontece conosco, quando temos padrões disfuncionais, quando nos deparamos com situações que podem ser gatilhos e que nos aproximam dos nossos objetivos, ativamos nossas crenças e nos autossabotamos, “deslizando nossa pedra ladeira abaixo novamente”. O que antes nos beneficiava, para sobrevivermos ao meio em que estávamos inseridos, agora nos revela como uma “pedra” disfuncional.

Em TCC podemos trabalhar estes padrões, através do Registro de Pensamento Disfuncional (RPD), observando os resultados que encontramos e que comportamentos utilizamos, através da Teoria dos Esquemas, entre outras técnicas.

E como podemos trabalhar em Arteterapia?

Trabalhamos observando o nosso processo de criação e os conteúdos que nos são mostrados. Como podemos ver abaixo, os trabalhos de uma paciente de 31 anos, que tem algumas questões em sua vida relacionadas as relações interpessoais, que para ela são difíceis de serem faladas e vivenciadas. Ela chegou à terapia com o olhar muito voltado para o outro, em querer agradar e não magoar, acreditando que ao expressar algo que não gostasse, o outro ficaria chateado. E com pensamentos sobre si de que não era boa o suficiente em seu trabalho, “que era uma fraude”, que as pessoas só a elogiavam para agradá-la. Além de “excluir” a possibilidade de um relacionamento afetivo.  

 


Papel preto amassado e papel vegetal


Papel amassado e papel vegetal

Essas duas imagens são um recorte do processo, em que mostram as partes desintegradas e “esquecidas”, que só com a fala seriam difíceis em ser acessadas, pois para ela, conscientemente, está tudo bem como está, o tempo está passando e não se pode ter uma solução, já está acostumada, isto é, nunca irá deixar de duvidar do seu potencial e nunca terá um relacionamento afetivo.

O processo arteterapêutico tem permitido que ela entre em contato com novas possibilidades, voltando seu olhar para si mesmas e sobre seus objetivos pessoais. A proposta desta última imagem foi que ela pudesse trazer contorno aos pontinhos que eu havia feito na folha, como forma de continuar o movimento em que ela tem feito, buscando o equilíbrio entre ela e o outro. Além de relaxar, pois havia sido um dia cansativo de trabalho. Ela, então, escolheu como ligar os pontinhos e sentiu vontade de trazer cores diferentes para cada espaço. Ao final, conversamos sobre as produções anteriores e como agora ela conseguiu integrar as partes e trazer cores. Ela tem olhado mais para seus objetivos pessoais e buscado meios para realizá-los. Alguns aspectos de sua vida ainda são difíceis de vivenciar, porém estamos trabalhando com os graus de complexidade, e as coisas mais simples estão começando a serem concretizadas.

 

Ligando os pontinhos em papel A4


Bibliografia

BECK, Judith S. Terapia Cognitivo-Comportamental: teoria e prática. 2º edição. Porto Alegre: Artmed, 2013.

CAMINHA, Renato M; CAMINHA, Marina G. Baralho dos comportamentos: efeito bumerangue. 1º edição. Curitiba: Sinopse, 2013.

Clínica de Psicanálise. O Mito de Sísifo: resumo em filosofia. Site: O Mito de Sísifo: resumo em filosofia - Psicanálise Clínica (psicanaliseclinica.com) Acesso em: 25/05/2022.

PETROFF, Thais. De onde vêm nossas crenças negativas e comportamentos disfuncionais? Site: https://www.thaispetroff.com.br/autoconhecimento/de-onde-vem-nossas-crencas-negativas-e-comportamentos-disfuncionais/ Escrito em 2011. Acesso em: 25/05/2022.

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Sobre a autora: Juliana Mello



Psicóloga, Arteterapeuta e Coach
Atendimento clínico  individual e grupo om criança, adolescente, adulto e idoso.
Abordagem em Terapia Cognitivo- Comportamental e Arteterapia

Palestras e Workshop motivacionais.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

A PRÁTICA DA CINEMATERAPIA COM RELATOS DE GRUPO - PELÍCULA “CHOCOLAT” (PARTE 3)

 

Por Milena Medeiros - Volta Redonda - RJ

milolmedeiros@gmail.com

Com o intuito de levar você leitor(a) a uma experiência mais detalhada sobre a aplicabilidade da técnica da Cinematerapia no Setting de Arteterapia, a série se estenderá por mais um episódio. Dessa forma, o relato de caso que irá acompanha-lo(a) nesse terceiro encontro tratar-se-á da aplicabilidade da técnica, realizada como “estímulo gerador” - uma das fases estruturantes do estágio de Pós Graduação em Arteterapia - em um grupo de seis pessoas, em ambiente corporativo e na modalidade presencial.

 

          O direcionamento e proposta de utilização de um filme em uma das sessões da fase mencionada, partiu após uma sessão de supervisão de estágio pela necessidade de um Estímulo Gerador que pudesse colaborar com todo o processo arteterapêutico grupal até aquele momento experenciado. A tônica de grupo e os insumos trabalhados no Setting até aquele momento orientou a escolha. Assim, películas foram testadas e enredos fílmicos avaliados até a tomada de decisão. Partindo do princípio de que tal exposição pudesse proporcionar através do recurso fílmico, a possibilidade de influência sobre o comportamento do grupo, considerou-se como instrumentos para o estímulo: A disponibilidade de interação com o conteúdo, considerando a imagem, a sonoridade e o enredo; a criatividade por imagens em movimento; a familiaridade com o cotidiano e posturas de encorajamento, como a exemplificação de modelos de comportamento frente a situações aversivas.

 

          Segundo Joya Eliezer[1] (2008, n.p) “[...]cada cena conduz a uma direção emocional. Assim, o filme é um re médio dentro da Arteterapia.” Sobre o processo da relação projeção e identificação diante da técnica aplicada, a Arteterapeuta ressalta que a intenção é a de que o Paciente/Cliente seja acercado por um enredo salutar e que nesse contexto identifique-se e considere, para que a partir de então, possa se comunicar de forma verbal.  Eliezer explica ainda que: 

 

A escolha do filme deve ter sempre uma proposta acolhedora, que vislumbre um final que possa trazer consequências positivas e ressalta que a cautela se faz necessária: A Cineterapia ou filmeterapia deve ser feita por Arteterapeutas. É preciso escolher as obras equilibrando-as ao estado do paciente e, então discutir os efeitos da obra com ele. 

 Chocolat[2] , uma Película comercial do ano de 2001, foi a escolhida. Uma história que comunica a quebra de paradigmas diante das tradições exercidas por uma sociedade que apresenta duas realidades distintas. Uma, a rigidez movida pela tradição e escravizada por normas, com anseios e desejos reprimidos; a outra, uma estrangeira, mãe solteira, livre e sem preconceitos, que chega à cidade expressando-se por meio de seu chocolate, produto fabricado e vendido por ela, numa nova chocolateria que abre durante a quaresma. Um período em que o jejum se faz presente, desencadeando a estranheza decorrente da opressão moral exercida por parte dos moradores de uma cidade pequena e fictícia da França. 

 

 A Linguagem expressiva foi dividida em quatro sessões.  Três sessões fílmicas de quarenta minutos cada com roda de conversas para análise de relatos de grupo, seguida da quarta e última sessão destinada a modalidade expressiva.  A seguir uma síntese acompanhada das sessões fílmicas aos preparativos do Setting Arteterapêutico que se transformou no período, em uma sala de Cinema.

 

A Primeira Sessão foi marcada pela surpresa de um Setting Arteterapêutico temático. O ambiente cinematográfico deu espaço a curiosidade sobre o tema da película a ser explorado. Na mesa posta, um jogo de porcelana compunha o cenário. Chocolate quente cremoso e caseiro, acompanhado de pequenas barras de chocolate, utilizando a matéria prima como fixador psicológico no plano emocional, ligando-o ao enredo fílmico a uma exata cena da narrativa em que cozer o chocolate deixou todo o grupo com “água na boca”.    O interesse em cada cena se mostrou relevante, assim como a atenção aos detalhes, conforme comentários do grupo durante a projeção da película. Após a sessão, um momento foi aberto para que as impressões pudessem ser relatadas. Tradição, mudança de paradigmas, a rejeição dentro de um contexto interno e como os temas reverberaram em cada uma das integrantes, foram os comentários mais relevantes. “A possibilidade de se olhar para o novo”, foi a frase escolhida pelo grupo com referência a narrativa da primeira sessão.

 

  Na segunda sessão, o grupo foi recebido com waffles de chocolate e frutas frescas, uvas e morangos, que foram degustados no decorrer da película. Uma pausa foi feita durante a exibição, pois o grupo não se continha em tecer comentários sobre os comportamentos de alguns personagens, evidenciando a opressão contida em um deles.  O grupo demonstrou curiosidade e ansiedade com a terceira e última parte, que seria apresentada no encontro próximo. Insistências para uma sessão extra no decorrer da semana fecharam o término desta que se deu entre risos e animação.

 

     Na terceira sessão, assim da preparação do setting arteterapêutico para a exibição da parte final da Película Chocolat, vários problemas técnicos surgiram com a estrutura de rede local.  A exibição foi terminada pelo laptop e por consequência, a materialidade expressiva que seria realizada nesse encontro, teve de ser prorrogada para o próximo e também quarto encontro sobre o tema. Sobre contratempos vivenciados no setting, Philippini (2013, p.40) insere que “os deslocamentos por vários espaços para desenvolver o processo terapêutico, às vezes, oferecem interessantes desafios”.

 

Apesar dos contratempos técnicos ocorridos, a sessão aconteceu acompanhada por risos e apreensões de acordo com as cenas exibidas no decorrer do enredo final. Os relados e comentários sobre o desdobrar da história deixou o grupo animado.  Foi solicitada a cada integrante uma palavra ou expressão sobre a experiência referente ao enredo, considerando o filme completo: P1: “punição”; P2: “não ter medo”; P3: “não à religiosidade”; P4: “escolha”; P5: “nada é absoluto, tudo é relativo”; P6: “omissão”;

 

EXPRESSÃO PLÁSTICA: O DOCE ATELIÊ

 

A ideia foi a de recriar uma das cenas da película Chocolat no setting arteterapêutico e proporcionar por meio da potencialidade sensorial do alimento, experiências ativadoras dos sentidos do corpo humano: olfato, visão, audição, tato e paladar; e das emoções: o chocolate como fixador psicológico no plano emocional, ligando-se ao enredo fílmico experenciado. Para tal, o material específico foi providenciado, além dos usuais pincéis: pastilhas de chocolate comestível, folhas individuais de papel manteiga, fogão elétrico e panela de vidro. Com o setting organizado e a mesa posta - a quarta sessão sobre o tema Cineterapia foi iniciada.

 

TRANSFORMANDO SÓLIDO EM LÍQUIDO NO TERRRITÓRIO SAGRADO: com setting devidamente preparado, deu-se início à atividade de pintura:  o chocolate se fez tinta em uma base de papel manteiga. A trilha sonora da Película Chocolat fez parte do momento junto a risos altos do grupo. O setting foi tomado pela alegria junto ao cheiro de chocolate exalado em cada pincelada, que por sua vez, foram-se constituindo em formas e símbolos.

 

  DA ALQUIMIA DA TINTA DE CHOCOLATE À MATÉRIA-PRIMA DA SIMBOLOGIA: Terminada a experimentação com o alimento - chocolate, pelo tempo estipulado, chegou o momento de interação com a imagem construída. Cada integrante acolheu a sua produção plástica com concentração e seriedade. Fez-se silêncio de forma impecável em todo o ambiente.     O grupo ficou impressionado com uma surpresa preparada pela dupla. A materialidade expressiva tornou-se comestível pós secagem da tinta(chocolate) sobre o papel manteiga. Nutrindo-se, então, da própria construção simbólica em chocolate comestível, os relatos individuais foram iniciados:

 

P1: “Fui lá no filme com esse cheiro, a música tocando”. Comentou sobre a importância de se permitir voar e de se liberar.

P.2: comentou sobre a necessidade de estar bem com o corpo, que se sente tranquila e feliz “eu me aceito como sou”, mas comentou sobre a necessidade de estar mais preparada fisicamente para o dia a dia, acompanhando, sem incômodos, a filha pequena nas suas brincadeiras e complementou: “Iniciei academia há duas semanas”, após a segunda sessão da Película.

P.3: “Eu comi tanto, é tudo tão gostoso”. Comentou sobre a chuva, o medo de se molhar e ficar doente, pois já está “velha para se permitir a tais alegrias. Ela (personagem do filme) não tem medo! Mas eu tenho!”. Concluindo nesse momento sua angustia interna.

P.4: Ainda tímida em suas colocações, falou superficialmente sobre sua criação: “Também fiz borboleta, coração... fui fazendo e comendo. (entre risos)

P.5: “Eu fiz casa e flores... acho que é a minha”. Compartilhou com o grupo sobre a conquista da casa própria que por medo do julgamento da família, não concluía o seu sonho. “O filme me deu um novo despertar. Ela (personagem principal da película Chocolat) queria e fazia! Não tinha medo! Eu decidi acreditar e fechei a compra de meu apartamento um dia após a terceira sessão do filme Chocolat”.

P.6: Comentou sobre o fluxo contínuo do Universo e de suas infinitas possibilidades com a necessidade de se abrir para isso. Iniciou o trabalho colocando muita tinta sobre o papel e ao final foi livremente deixando pingos caírem pelo pincel à medida que se sentia “internamente confortável”; P6, já havia expressado a todos do grupo que seu sonho era o de viver em uma cidade pequena.  Percebeu que poderia ir atrás desse sonho e, durante o Ciclo, participou de um concurso público, com a disponibilidade de uma vaga apenas, em uma cidade do interior de Minas Gerais. O primeiro lugar foi o dela e somente partiu após o término da fase do estágio concluída.

 

A Película escolhida revelou-se um estímulo Gerador de potência naquele momento que, aliado às demais sessões experenciadas e seus conteúdos emergidos e trabalhados no setting arteterapêutico, com a finalidade de um novo modo de se perceber e de estar na vida, que contribuísse para uma possível mudança de paradigma, impulsionou as participantes para a tomada de decisões seguida de ações. Cinquenta porcento, na visão grupal, apresentou resultados concretos em sua mudança de postura com objetivos definidos e apresentados após vivência da Cineterapia aplicada neste Processo Arteterapêutico breve. Estatística essa, que demonstra de forma positiva a aplicação da Película, como recurso Arteterapêutico, utilizada dentro de uma dinâmica técnica planejada pelos conteúdos experenciais relacionados nesta pesquisa.

 

 O psicólogo Gary Solomon, autor do livro The Motion Picture Prescription (O Cinema como Remédio) diz que “filmes são o verdadeiro exemplo de como a arte pode imitar a vida[...]se uma pessoa assistir a um filme que se encaixa em sua problemática pessoal, é muito provável que se identifique e encontre um jeito de aprender e crescer com ele, obtendo resultados positivos com essa interação.” (PERIN; SILVA apud SOLOMON, 2010, n.p.)

 

  Espero que você tenha apreciado cada detalhe de toda a aplicabilidade!  No próximo texto “A Odisseia” será relatado em seu contexto fílmico, já no Setting Arteterapeutico em ambiente digital.

 

Espero por você! Até lá!

 

 

 

[1] Psicóloga e Diretora do Instituto Brasileiro de Arte terapia - IBART ELIEZER, Joya. Cineterapia. O Tempo, Belo Horizonte, 28, novembro 2008. Disponível em <https://www.otempo.com.br/pampulha/estilo/cinematerapia-1.10182>Acesso em: 09/07/2020.

[2] Película Comercial: Chocolat Disponível em: https://popcorntime.app/pt_BR/Acesso em: 09/07/2020.

REFERÊNCIAS

 

ELIEZER, Joya. Cineterapia. O Tempo, Betim Super Notícia, Ed. Sempre, Belo Horizonte, 28, novembro 2008. Disponível em <https://www.otempo.com.br/pampulha/estilo/cinematerapia-1.10182>Acesso em: 09 jul.2020. 

PHILIPPINI,  Angela. Grupos em Arte terapia: Redes Criativas para Colorir Vidas. Rio de Janeiro. WAK editora, 2011. 

SILVA, Maria Isabel; PERIN, Laís. Cinema é Considerado Terapia -  Rudge Ramos Jornal - Universidade Metodista de São Paulo, ed. 951, 2010. Disponível em:< http://www.metodista.br/rronline/rrjornal/2010/ed-951/cinema-e-considerado-terapia>Acesso em:27jul.2020.

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Sobre a autora: Milena Medeiros



Arteterapeuta AARJ1122

Olá, Sou Milena Medeiros, uma arteterapeuta com mais de 15 anos de experiência em Gestão de Pessoas no mercado Corporativo. Decidi-me por unir ambas as experiências e hoje atuo, além dos atendimentos individuais arteterapêuticos online, com a Arteterapia no ambiente empresarial.

Algumas formações como preparação a minha profissão de arteterapeuta foram concretizadas e hoje também as utilizo como abordagem no settingPracticioner em PNL (Programação Neuro Linguística); Análise Transacional - UNAT Brasil - Abordagem psicológica de Erick Berne que trata de maneira prática e compreensível os aspectos importantes da personalidade e das relações entre as pessoas; Visão Sistêmica pessoal e Organizacional com base psicoterapêutica de Bert Hellinger. Também sou Colagistas Digital e analógica, processo que aprendi pós introdução à técnica de Soul Collage®. Como Hobbie, tenho a alimentação Viva no coração, também conhecida como crudivorismo que aplico no setting como técnica expressiva com o foco na memória afetiva por meio dos sentidos sensoriais. A pintura com aquarela faz parte de minha vida e por meio dessa técnica estou finalizando a ilustrações de um livro infantil. 

Maior do que um prazer é a alegria por estar no espaço “Não Palavra”! Esses são os meus contatos: (24)999619963, Instagram: @milenaoliveiramedeiros. 

 

segunda-feira, 16 de maio de 2022

AS BAILARINAS DE DEGAS

 


 “Bailarina de catorze anos” – Edgar Degas

Exposta no MASP – São Paulo

Por Claudia Maria Orfei Abe - São Paulo/SP

Instagram: @claudia_abe_

 

Comecei a sessão arteterapêutica contando que iríamos pintar e falar sobre mais algumas obras de Edgar Degas, pintor francês impressionista. Meu pai falou para minha tia: “Depois a gente vai para a França ver o que a gente errou”.

Assim iniciamos a sessão 59 ocorrida em 14/out/2019, meu pai então com 85 anos e minha tia materna com 92 anos. Continuamos o trabalho de estimulação cognitiva na residência deles.

A Arteterapia, em sua riqueza de possibilidades e materiais, apresenta-se como um rico instrumento para a estimulação cognitiva de pacientes idosos. O processo criativo em Arteterapia propõe ao paciente a autonomia na medida em que o indivíduo torna-se independente do terapeuta no fazer, mantendo-se ativo enquanto cria. Ela é eficaz também no trabalho com pacientes já com declínio cognitivo. (MORAES, 2018, p. 97)

Resolvi desta vez, trabalhar com duas obras de Degas: “Duas Bailarinas no Palco” e “A Aula de Dança”. Em dois momentos diferentes, abordei pai e tia sobre o que eles viam e o que eles sentiam ao ver cada obra.


 “Duas Bailarinas no Palco” – Edgar Degas

 

Primeiramente, ao mostrar no livro de arte a obra “Duas Bailarinas no Palco”, perguntei à minha tia o que ela “via”, e ela fez uma descrição literal da cena.

Meu pai assim narrou o que “sentia” ao ver a cena: “A concentração é total nas pernas e nos braços. Eu admiro a posição dos pés, os braços alertando para um movimento que elas farão, sem ficar sem graça”.

 

“A Aula de Dança” – Edgar Degas

 

Na obra seguinte, “A Aula de Dança”, meu pai trouxe uma riqueza de detalhes na descrição, detalhes que ele imaginava e não necessariamente via. “Piso não escorregadio feito de madeira para que as bailarinas evitem quedas ou deslize da sapatilha. A vestimenta delas na parte superior é justa. Na parte inferior elas são rodadas, são amplas para fazer parte do movimento. Laços de fitas são necessárias para manter tudo no lugar. Agora, as sapatilhas são especialmente feitas com materiais antiderrapantes e bem aconchegantes aos pés, à pele do pé. Na cabeça geralmente tem um enfeite de flores para dar um toque harmonioso...”.

Minha tia falou o que sentia ao ver esta obra:

“Eu estou notando que elas estão muito interessadas em aprender. Eu estou achando que é difícil aprender a fazer essa dança. Interesse que as meninas têm de aprender a dançar”.

Deixei o livro aberto com as obras como inspirações, distribuí pequenas bailarinas em gesso para eles pintarem com tinta guache.

A tinta guache é uma tinta opaca e à base de água, de fácil manuseio, e sua secagem é rápida. Tem uma textura semelhante à pintura a dedo, mas seu uso é realizado com o auxílio do pincel ou outro instrumento de pintura, o que leva a um certo “afastamento” do material. Neste caso, não temos o contato direto com o material, como na pintura a dedo...Pode ser aplicada em diferentes superfícies e materiais, tais como: gesso, argila, tela, isopor, vidro, tecido etc. (CARRANO E REQUIÃO, 2013, p. 115)

Meu pai iniciou a pintura com a cor salmão. Em seguida pegou a preta, mas desistiu de usar. Passou para o azul, voltou para o salmão e começou a pintar o rosto da bailarina. Usou depois o amarelo e o laranja.

Minha tia iniciou a pintura dos cabelos da bailarina em marrom. Foi para o rosa choque e utilizou água para diluir a tinta durante sua pintura monocromática.

Monocromia é utilização de apenas uma cor e suas tonalidades em uma determinada composição. (FERREIRA, 2013, p. 42)

Aproveitei para colocar músicas clássicas de fundo.

Meu pai ao utilizar a cor preta para os cabelos e pintar os olhos de azul, falou: “Não dá para pintar de uma vez só. Aqui na arte não tem descanso”.

 

Compartilhamento

 

 

Pai: “Pausa para bailarina durante o espetáculo”

Palavra final: Relembrando a beleza do balé

Pai: “Eu acho que a bailarina para a gente pintar deveria ser uma pose de bailado e não de pausa. Já pensou no futebol? O cara no vestiário todo arriado... tem que ser num lance!”

 


Tia: “Descanso da Bailarina”

Palavra final: Interessante

Tia: “Ela já dançou, se cansou e resolveu descansar”.

Meu pai fez uma observação: “Você (tia) pôs descanso e eu pus pausa”.

Terminamos a sessão conversando um pouco mais sobre as obras e alguns detalhes descritos no livro.

Depois de encerrados os trabalhos, meu pai queria colar a bailarina de gesso numa folha e colocar uma moldura em volta.

 

Nota 1: Por curiosidade minha, resolvi dar uma olhada no livro Psicologia das Cores, de Kacianni Ferreira, para ler um pouco sobre a Simbologia das cores nas roupas, em referência às cores utilizadas por meu pai e tia, na pintura em gesso.

Roupa amarela: transmite alegria, atrai a atenção e favorece a comunicação.

Roupa laranja: proporciona descontração verbal e corporal, é jovial, causa leveza, alegria e bom humor. É uma cor antidepressiva, ajuda a elevar a autoestima e liberar emoções e expressões.

Roupa rosa-choque: cor curadora, cria o desejo de expressar o amor físico e o amor pelo mundo.

Nota 2: Agradeço a amiga e arteterapeuta Silvia Quaresma por me ceder gentilmente as bailarinas de gesso.

Nota 3: Se quiser, leia meu texto anterior a este: Degas e as Mulheres. Publicado em 21 de março de 2022 neste blog.

 

Bibliografia:

CARRANO, Eveline e REQUIÃO, Maria Helena. Materiais de arte: sua linguagem subjetiva para o trabalho terapêutico e pedagógico. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013.

FERREIRA, Kacianni. Psicologia das cores. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013.

MORAES, Eliana. Pensando a Arteterapia. 1.ed. Divino de São Lourenço, ES: Semente Editorial, 2018.

Os Grandes Artistas – Vida, obra e inspiração dos maiores pintores. Degas. Volume I. Romantismo e Impressionismo. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda., 1986.

Acesse algumas das obras de Edgar Degas:

https://www.wikiart.org/pt/edgar-degas

Visite o MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

 

Se você quiser ler meus textos anteriores neste blog, são eles:

Degas e as Mulheres – 21/03/22

Ah, o Tempo... – 14/02/22

As Cores em Marilyn Monroe – 13/12/21

Um Desafio – 11/10/21

O Branco no Branco – 23/08/21

Tudo Começa em Pizza – 28/06/21

Um Material Inusitado – O Carimbo de Placenta – 10/05/21

As Vistas do Monte Fuji – 22/03/21

É Pitanga! – 07/12/20

O que é que a Baiana tem? – 26/10/20

Escrita prá lá de criativa – 27/09/20

Fazer o Máximo com o Mínimo – 01/06/20

Tempo de Corona Vírus, Tempo de se Reinventar – 13/04/20

Minha Origem: Itália e Japão – 17/02/20

Salvador Dalí e “As Minhas Gavetas Internas” – 11/11/19

“’O olhar que não se perdeu’: diálogos arteterapêuticos entre pai e filha” – 19/08/19

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Sobre a autora: Claudia Maria Orfei Abe

 


 Arteterapeuta e Farmacêutica-Bioquímica

Atuei em instituição com o projeto “Cuidando do Cuidador”, para familiares e acompanhantes dos atendidos. Atuei também em instituição de longa permanência para idosos com o projeto “Mandalas”, sua maioria com Doença de Alzheimer.

Voluntária com o projeto online “Cuidando do Cuidador”, para cuidadores familiares de pessoas com a Doença de Alzheimer, no grupo GAIAlzheimer, São Paulo.

Idealizadora do projeto “Simplesmente Eu” com atendimento grupal online, para pessoas que não conhecem a arteterapia.

Autora do texto “Salvador Dalí e as minhas gavetas internas”, publicado no livro Escritos em Arteterapia: Coletivo Não Palavra – organizado por Eliana Moraes, 2020, Semente Editorial.

Participante da Live “Cuidados na Doença de Alzheimer” do Instituto Alzheimer Brasil – IAB – com o tema “Arteterapia”, disponível no canal do IAB no Youtube, 2021.

Palestrante especialista do tema Arteterapia na disciplina "Cuidado integral ao longo do ciclo da vida à luz das Práticas Integrativas" – Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – EACH – USP, 2021.

Atendo em domicílio e online, individual e grupal.

 

segunda-feira, 9 de maio de 2022

CINEMATERAPIA, AS PRIMEIRAS EXPERIMENTAÇÕES SOBRE O PROCESSO TERAPÊUTICO NO MUNDO E SUAS APLICABILIDADES – PARTE 2



Por Milena Medeiros - Volta Redonda - RJ
milolmedeiros@gmail.com
 
O filme serve para exercitar o homem nas novas percepções e reações exigidas por um aparelho técnico cujo papel cresce cada vez mais em sua vida cotidiana. Fazer do gigantesco aparelho técnico do nosso tempo o objeto das enervações humanas – é essa a tarefa histórica cuja realização dá ao cinema o seu verdadeiro sentido. (BENJAMIN, 1996, p.174).
 
Dando continuidade à tônica como a arte do cinema, em Películas Cinematográficas, pode, como recurso, influenciar no processo arteterapêutico, o primeiro texto comunicou como introdução:  o Cinema, a Sétima Arte e o que ela representou na Sociedade. O texto de hoje, parte 2 da série, informará em recortes temáticos a cronologia sobre a Cinematerapia e as primeiras experimentações sobre o processo terapêutico no mundo, características, modalidades e identificação de técnicas, assim como a postura terapêutica na aplicação.
 
Oliva, Vianna e Neto (2010), profissionais da área de Psiquiatria e Psicologia, explicam que o cinema tem sido aplicado com a proposta de intervenção psicoterápica, por meio de indicação de películas, com enfoques científico e educacional - sobre a neurologia e a psiquiatria - já no período do Cinema Mudo Alemão - final do século dezenove e início do vinte. Mas foi a partir dos anos cinquenta que se iniciaram as experiências através de películas com pacientes diversos de um hospital psiquiátrico. A reação dos pacientes passou a ser observada durante a exibição fílmica, na busca da interpretação psicanalítica e dos mecanismos de defesa do paciente, junto aos comportamentos de excitação e de silêncio.
 
Como resultado em seus efeitos terapêuticos de grupo, observou-se alterações positivas sobre as variáveis comportamentais da educação, da resistência e da ansiedade, entre outros. Na década de sessenta as películas começaram a ser exibidas particularmente com foco nos impactos que poderiam exercer no paciente. Nesse contexto, técnicas comportamentais eram analisadas. A partir disso, ensaios randômicos[1],  com pessoas aleatórias começaram   a ser realizados e os resultados demonstraram uma melhora significativa nos comportamentos analisados, inclusive, em repetições fílmicas envolvidas na estratégia em demais ensaios ao longo do tempo.
 
Vários outros estudiosos deram continuidade às pesquisas com a abordagem da técnica sobre o uso de películas comerciais (filmes populares) em psicoterapia, o que possibilitou a partir dos resultados, conteúdos relevantes tanto sobre a utilização da linguagem expressiva no que diz respeito ao comportamento dos pacientes, quanto sobre a postura do terapeuta.
 
 De acordo com Berg-Cross et al. (1190, p.135-57), conforme citado por Oliva et al. (2010, p. 140), “enfatizaram que na Cinematerapia, assim como em qualquer outra tarefa de casa de um processo terapêutico, o terapeuta precisaria”: Selecionar, planejar e preparar adequadamente o paciente para a técnica;  realizar o quanto antes a discussão sobre a película assistida; não indicar muitos filmes de uma só vez, correndo-se o risco de falhar a técnica; pedir ao paciente que anotasse os pensamentos e sentimentos em relação ao filme, para serem explicitados nas sessões; as películas seriam indicadas como reforço de uma ideia introduzida na terapia e  como estimulo a busca de autocritica por parte do paciente e não seria fundamental que a película interira fosse discutida.  
                 
Segundo Hesley e Hesley (2001, n. p.), conforme citado por Oliva et al. (2010, p. 140), “explicitaram as vantagens peculiares da Cinematerapia: alta aderência, pelo pouco tempo cedido por parte do paciente a uma tarefa e possível interação com todo o contexto; de fácil acessibilidade; maior disponibilidade de interação do paciente com os familiares; curiosidade no paciente por descobrir quais razões de o terapeuta indicar determinada película; familiaridade com a atividade e evolução da relação terapeuta-paciente, sendo a técnica uma experiencia comum a ambos.”
 
Conforme Berg-Cross et al. (1190, p.135-57),  citado por Oliva et al. (2010, p. 140), “indicaram que o impacto da Cinematerapia no paciente poderia acontecer de diferentes maneiras”:    melhora na comunicação entre terapeuta-paciente; compreensão mais profunda de sua personalidade, a técnica  capacitaria o paciente a praticar fora da terapia o que foi aprendido; progresso terapêutico, ocorrência sobre os estágios evolutivos no paciente, partindo de conceitos psicanalíticos: a dissociação, pois o paciente perceberia o retrato das pessoas no filme como distante do seu. Em seguida, a identificação e a internalização - aumentando a chance de o paciente aceitar o tratamento e observar comportamentos relevantes em outras pessoas, com problemas semelhantes, desenvolvendo assim a empatia.
 
Ainda segundo Hesley e Hesley (2001, n. p.), conforme citado por Oliva et al. (2010, p. 140), “foram os únicos a indicar de forma mais sistematizada os vários objetivos para os quais a Cinematerapia poderia ser utilizada”: oferecer esperança e encorajamento ao paciente por meio da narrativa fílmica; reformular problemas a partir das crises ficcionais dos personagens e fornecer modelos comportamentais de referência; identificar e reforçar forças internas; potencializar emoções; melhorar a comunicação, para pacientes que não conseguem se comunicar bem verbalmente.
 
Oliva et al. (2010) complementa que o recurso da Cinematerapia seria indicado para pacientes que apresentassem problemas de relação interpessoal. As contraindicações estariam designadas para os grupos de primeira e segunda infâncias, pacientes com transtornos mentais graves, casal com histórico de violência, históricos traumáticos que de alguma maneira se inserem na narrativa fílmica e para as situações de vulnerabilidade que, por sugestão dos autores, as cenas emocionalmente fortes, poderiam ser descritas pelo terapeuta para que o próprio paciente desistisse de assistir a narrativa no caso de se sentir mal e perturbado com o relato.
 
Muitos estudos intercederam a favor da técnica sobre o uso da Cinematerapia, alguns limitando-se apenas a relatos pessoais e estudos de casos, outros como evidenciados, mais fundamentados apontando para a eficácia do seu uso. Desde então, muitos são os profissionais da área da Psicologia e Desenvolvimento Humano que se utilizam da técnica seja no formato individual ou de grupo.           Marcelo Gianini[2], psico-oncologista e especialista em luto utilizam essa técnica em seu trabalho e explica que tal estratégia apoia cognitivamente situações experenciadas pelas pessoas, concluindo que: “elas aprendem a pensar em novas maneiras de agir e isso ajuda na reflexão sobre os padrões comportamentais adotados na atualidade”.  São variados os temas abordados nas sessões de cinema desde nascimento, conflitos, enfoques sociais como o preconceito a espiritualidade, adoecimento, envelhecimento chegando ao luto.
 
Denise Deschamps (2008), psicóloga e autora de Cinematerapia: Entendendo Conflitos, explica que as indicações que realiza aos seus pacientes acontecem após as questões apresentadas em seus atendimentos e ressalta que a técnica como ferramenta auxilia, funcionando como um recurso extra no processo terapêutico. Deschamps complementa que a Cinematerapia pode ser aplicada com foco em variados transtornos psicológicos.
 
Para a eficácia da técnica, a discussão sobre o conteúdo que marcou e/ou revelou algo ao paciente pós sessão é primordial. Chamando a atenção para o processo de identificação entre paciente e narrativa fílmica a psicóloga Walnei Arenque destaca: “[...] a pessoa deve estar atenta às sensações e aos sentimentos que foram despertados ao assistir ao filme”, pois a narrativa pode fazer com que o paciente passe pelo processo que ela chama de catarse cinematográfica:
 
A Catarse se dá num processo no qual o expectador sofre uma descarga de desordens emocionais, obtidas por meio da personagem com a qual ele se identificou no filme, e pode se libertar, ou mesmo ter uma melhor compressão de seus conflitos pessoais, revivendo suas experiencias. (PERIN e SILVA, 2010, p.951).
 
A finalidade da indicação de películas no processo psicoterapêutico é o de alcançar junto ao paciente uma possível alteração sobre determinada situação vivenciada, colaborando para o processo terapêutico.
 
E a técnica da Cinematerapia em um Setting Arteterapêutico? Você deve estar curioso(a) sobre como ocorre a aplicação da técnica e o que ela pode implicar no processo arteterapêutico com suas expressões simbólicas de referência e  ênfase sobre todo o processo - como um fator de ativação à compreensão a consciência grupal e individual - certo? Afinal, há em nosso escopo de trabalho o mediador, o que compõe a tríade junto ao Arteterapeuta e o Paciente/Cliente: o material! E com ele uma das funções do Arteterapeuta, a de facilitar o caminho do agir criativo pela materialidade, essa criada pelo paciente/cliente a partir do contexto fílmico trabalhado.
 
Por essa perspectiva, convido você para a terceira e última parte da série, com enfoque na aplicação das sessões Cinematográficas no setting de Arteterapia. Conheceremos dois cases: O primeiro, pela película britano-estadunidense Chocolat (2001) que apresentará o percurso de um processo arteterapêutico breve, aplicado em um grupo de colaboradores em ambiente empresarial e na modalidade presencial. A segunda, pelo filme A Odisseia, baseado na Odisseia de Homero e levada às telas americanas em maio de 1997. Essa aplicada em ambiente online, no processo arteterapêutico de modalidade continuada, durante a pandemia COVID-19, no ano de 2021.
 
Espero então, vê-lo(a) em breve!
Até lá!
 
 

[1] Estudo experimental de grupos, com o propósito de investigação sobre os efeitos relacionados às práticas de intervenções na saúde. Disponível em  http://www.fmrp.usp.br/revista,acesso em 27/08/20.

[2] GIANINI, Marcelo. Os Segredos da Cineterapia. Guia da Semana, São Paulo, 10, abril 2012.Disponível em:<https://www.guiadasemana.com.br/compras/noticia/os-segredos-da-cinematerapia>. Acesso em 27/08/20. 


REFERÊNCIAS
 
     GONÇALVES, Renata.  Revista Eletrônica do Grupo PET - Ciências Humanas, Estética e Artes, São Joao Del Rei, Ano 4, n 4, jan/ dez 2008. Disponível em: <https://ufsj.edu.br/portal2- repositorio/File/existenciaearte/Edicoes/4_Edicao/renata_goncalves.pdf>Acesso em:20 jul.2020.
 
OLIVA, Vitor; VIANNA, Andréa; NETO, Francisco. Cineterapia como Intervenção psicoterápica: características, aplicações e identificação de técnicas cognitivo-comportamentais. Revista Psiquiatria Clínica, São Paulo, v.37, n.3, 2010. Disponível em: <  https://doi.org/10.1590/S0101-60832010000300008 > Acesso em: 20 jul.2020.
 

 GIANINI, Marcelo. Os Segredos da Cineterapia. Guia da Semana, São Paulo, 10, abril 2012.Disponível em:<https://www.guiadasemana.com.br/compras/noticia/os-segredos-da-cinematerapia>. Acesso em 27/08/20. 

 
SILVA, Maria Isabel; PERIN, Laís. Cinema é Considerado Terapia -  Rudge Ramos Jornal - Universidade Metodista de São Paulo, ed. 951, 2010. Disponível em:< http://www.metodista.br/rronline/rrjornal/2010/ed-951/cinema-e-considerado-terapia>Acesso em:27jul.2020.

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Sobre a autora: Milena Medeiros




Arteterapeuta AARJ1122

Olá, Sou Milena Medeiros, uma arteterapeuta com mais de 15 anos de experiência em Gestão de Pessoas no mercado Corporativo. Decidi-me por unir ambas as experiências e hoje atuo, além dos atendimentos individuais arteterapêuticos online, com a Arteterapia no ambiente empresarial.

Algumas formações como preparação a minha profissão de arteterapeuta foram concretizadas e hoje também as utilizo como abordagem no settingPracticioner em PNL (Programação Neuro Linguística); Análise Transacional - UNAT Brasil - Abordagem psicológica de Erick Berne que trata de maneira prática e compreensível os aspectos importantes da personalidade e das relações entre as pessoas; Visão Sistêmica pessoal e Organizacional com base psicoterapêutica de Bert Hellinger. Também sou Colagistas Digital e analógica, processo que aprendi pós introdução à técnica de Soul Collage®. Como Hobbie, tenho a alimentação Viva no coração, também conhecida como crudivorismo que aplico no setting como técnica expressiva com o foco na memória afetiva por meio dos sentidos sensoriais. A pintura com aquarela faz parte de minha vida e por meio dessa técnica estou finalizando a ilustrações de um livro infantil. 

Maior do que um prazer é a alegria por estar no espaço “Não Palavra”! Esses são os meus contatos: (24)999619963, Instagram: @milenaoliveiramedeiros.