Não é raro quando entregamos um
papel em branco para um paciente iniciar um trabalho e ele relata sentir angústia. Em muitos momentos o papel em
branco é intimidador e para cada paciente isto é vivenciado de forma muito pessoal.
Já ouvi muitas associações relatadas por pacientes, mas percebo que na maioria
dos casos o sentimento se resume ao medo.
Medo de que? Não é simplesmente medo
de um papel em branco. O
medo deste papel remonta (repete) medos que os pacientes guardam dentro de si.
Medo de se expor a fazer algo que está além de sua zona de conforto, que foge
ao seu controle. Medo de tentar e errar. Medo de sair do conhecido e fazer algo
novo. Medo de ao se colocar, ser inadequado, errado ou parecer ridículo. Medo
de encarar que aquilo que ele planeja nem sempre será aquilo que se concretizará.
Medo de aceitar aquilo que ele produz e que é seu.
Medos tão frequentes na rotina do
paciente e que se presentificam na sessão de arteterapia apenas com o fato de
receberem uma folha em
branco. Dar ouvidos à estes medos fala muito de quem é o
paciente que se está à sua frente.
Após esta etapa, em arteterapia o
paciente tem a oportunidade de fazer pequenos movimentos de encarar seus medos,
ao reconhecer o que lhe dará mais segurança para iniciar o processo. Neste
momento é muito importante que o arteterapeuta tenha recursos à disponibilizar
para seu paciente. Propor por exemplo o uso de tintas, buscando o abstrato
(pois este não demanda muita exigência técnica), buscando apenas cores e formas
que sejam compatíveis com o que ele está sentindo, geralmente é um bom pontapé
inicial.
Com o passar o tempo o papel em branco não será mais
tão ameaçador. O paciente vai se fortificando, ganhando segurança, autonomia e
ousadia para conhecer seus medos e coragem para encará-los. E a partir destes movimentos dentro da sessão em arteterapia, certamente o paciente voltará de forma diferente para os medos que tem em sua vida.