Eliana Moraes (MG) RJ
Em textos
anteriores deste blog, venho compartilhando fragmentos do ciclo de palestras “Série
Arteterapia Clínica” ao qual venho me dedicando a oferecer em diversos espaços
no Rio de Janeiro e a partir do segundo semestre de 2018, em São Paulo.
Neste ciclo, estudamos sobre o manejo dos
materiais de forma consciente pois este se configura como a espinha dorsal do
ofício do arteterapeuta: promover o encontro entre o paciente/cliente e o
material pertinente como facilitador de seu processo. Para saber mais sobre o arteterapeuta
como promotor de encontros CLIQUE AQUI. Sobre a colagem CLIQUE AQUI e sobre a
pintura CLIQUE AQUI.
No texto de
hoje, a protagonista é a escultura, uma arte que representa ou
ilustra imagens plásticas em relevo
total ou parcial. É considerada a 4ª das artes clássicas. A escolha do material
normalmente implica a técnica a se utilizar. A cinzelação, se dá quando de um bloco de material se retira o que
excede a figura utilizando ferramentas de corte próprias, como em sabonetes e
velas; ou a modelagem, quando se
agrega material plástico até conseguir o efeito desejado, como a argila ou
sucata.
Neste texto
não entraremos no mérito dos materiais e técnicas específicos mas falaremos de
forma ampla das aplicabilidades e propriedades das produções que se estabelecem
como tridimensionais.
a)
As propriedades
A escultura é uma técnica
construtora, estruturante. No diálogo com a imagem coloca o autor prioritariamente
em relação com o volume, o tridimensional.
Todas as técnicas expressivas estimulam as
quatro funções psíquicas descritas por Jung, mas naturalmente em cada uma
delas, uma função específica se torna protagonista. Na experiência com a
escultura, a função principal é a Função Sensação e proporciona o contato com o
elemento terra.
Estimula a percepção sensorial pois lida
com muitas variáveis, como peso, equilíbrio, proporção, texturas...
Trabalha estrutura, pragmatismo, tentativa e erro. Além
de ser bastante mobilizadora de movimentos físicos, cognitivos e psíquicos.
Outra propriedade bastante intrigante do objeto tridimensional
é a possibilidade de deslocamento do olhar, de explorar outras perspectivas, obter
novas percepções de um mesmo objeto, cenário ou imagem, basta movimentar-se.
b) O
processo: verbos:
ações e movimentos externos/internos
Colocar o sujeito na experiência com o material
significa colocá-lo para agir sobre ele em suas questões psíquicas.
Desta forma é interessante ao arteterapeuta atentar-se para os “verbos” ou as
ações que cada material proporcionará externa e internamente em seu
paciente/cliente.
No processo da escultura as ações provocadas são estruturar, construir, reconstruir, edificar, concretizar, materializar.
Dar corpo, fazer crescer, levantar, ficar em pé,
erguer, verticalizar.
Buscar soluções, formar estratégias, executar,
realizar.
“Batalhar”, persistir.
Nas palavras de Cláudia Brasil:
“Modelar
é erguer, é sair de uma única dimensão. Construir algo que sai do papel, que
anima, tem vida e se manifesta para além do horizontal. Na
modelagem, há a possibilidade de verticalizar, de tornar-se mais humano
na relação com a imagem. Criar uma imagem que poderá ter volume, poderá
ficar em pé ou sentado. Modelar algo que será útil ou que participará
mais ativamente de um diálogo.” (BRASIL, 2013)
c)
Os potenciais
c.1) Perfis de pacientes/queixas, palavras chave:
Promover o encontro com a escultura é interessante
para pessoas que demonstram dificuldades na transição entre o “abstrato” e o
concreto; o idealizar e o concretizar; o pensar e o fazer; “cabeça” e “mãos”.
Para aqueles que se apresentam em um momento de vida
ou necessidade de construir algo para (em) si.
Aos que diante do “criar”/realizar acionam diversas
auto sabotagens como preguiça, procrastinação, inseguranças, “travas”...
c.2) Estimulação cognitiva idosos/seres humanos:
Um dos benefícios da Arteterapia no trabalho com
idosos se dá porque de forma criativa, lúdica, leve e convidativa os
pacientes/clientes estimulam as mais variadas funções cognitivas como atenção,
concentração, memória, linguagem, funções executivas, praxia, abstração. A
estimulação cognitiva é um imperativo da gerontologia e no processo da escultura
isto se dá de forma bastante desafiadora, por agregar muitas outras variáveis e
complexidades no processo ao emergir do bidimensional para o tridimensional.
Porém, independente da faixa etária, a escultura é encaminhada para qualquer contexto em que o
arteterapeuta intente estimular a busca de soluções, o reconhecimento dos
recursos, a criação de estratégias e suas execuções, além de trabalhar a
proatividade, pensar fora da caixa, principalmente quando explorada a
pluralidade de materiais.
d) Resistências
É essencial sublinhar que o processo de construção do
tridimensional não é indicado para pacientes iniciantes na Arteterapia, aqueles
que chamo de “pacientes leigos” e “não alfabetizados”. Pois:
“A
modelagem em Arteterapia só deve ser utilizada depois de algumas experiências no plano
bidimensional... Essa precaução deve-se ao fato que esta linguagem plástica
oferece algumas dificuldades operacionais e inaugura as experiências no
plano da tridimensionalidade, envolvendo desafios de organização
espacial e capacidade de formar estruturas, e mantê-las em equilíbrio, além de
intensificar a experiência com o tato, envolvendo sensações com texturas e
relevos.” (PHILIPPINI 2009)
É de importância vital também que o arteterapeuta
tenha tido sua própria experiência e prática com o material para esteja íntimo
com ele, podendo oferecer sustentação e segurança ao paciente neste processo tão
desafiador em tantos aspectos.
e)
Materiais de apoio
A medida da ampliação dos materiais
utilizados na escultura, o arteterapeuta deve atentar-se para dispor em seu
atelier de materiais de apoio que deem sustentação para o processo criativo e o
encontro de soluções por parte do autor.
É essencial disponibilizar
bases resistentes como papelão, papel paraná, cartão kraft grosso (de cor
parda), papel duplex ou triplex (de cor branca), madeira, tela...
Deve dispor também de materiais para colar
diferentes elementos como cola cascorez, cola quente, fita crepe, grampeador,
arame, gominha, tachinha, tachinhas tipo bailarina, prego...
f)
Materiais intermediários, que
promovam revelo:
Para pessoas que demonstram alguma dificuldade – não técnica
ou cognitiva, mas psíquica – de erguer uma imagem tridimensional, um bom
caminho é explorar materiais intermediários que o colocarão em contato
paulatino com o processo de sair do bi
para o tridimensional. Propostas que estimulam texturas e relevos, colagens
como o papier collé /papelagem, colagens com barbantes e fios, desenhos com arame,
pinturas com massinha e o que mais couber na criatividade do arteterapeuta.
Concluindo:
“A modelagem no trabalho
arteterapêutico ativa e intensifica processos de compreensão devido ao grau de
concretude das produções plásticas obtidas através desta linguagem, pois sua
aparência é muito mais real que as experiências do plano bidimensional, em
consequência do peso, volume, textura, etc... Trata-se de atividade que aponta
com clareza as distorções nas proporções, as dificuldades na estruturação, os
problemas no equilíbrio. Esta concretude da produção propicia ‘insights’ mais
rápidos, estimula processos de autoconhecimento, em tempo e intensidade, nem
sempre possíveis nas experiências expressivas do plano bidimensional.” (PHILIPPINI,
2009)
“As
técnicas de construção em Arteterapia... são as mais complexas. Demandam
simbolicamente a consciência e a integridade de uma estrutura interna
organizada, coesa e bem introjetada. Esta estrutura interna abrangerá percepção
e eixo, centramento, integração entre seguimentos e, se este equilíbrio não
estiver sendo percebido internamente, não poderá ser expresso fora. Na produção
simbólica, o mesmo poderá ser aprendido e reaprendido nos erros e nos acertos
de tentar edificar e de constatar que nem sempre as próprias concepções de
equilíbrio resultam acertadas. A materialidade sempre apresentará de modo óbvio
estas dificuldades, e atravessá-las e resolvê-las permitirá que, analogamente,
processos emocionais se reorganizem.” (PHILIPPIN, 2009)
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
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Referências
Bibliográficas:
BRASIL, Claudia. Cores, formas e expressão: Emoção
de Lidar e Arteterapia na Clínica Junguiana
PHILIPPINI, Angela. Linguagens e Materiais Expressivos
em Arteterapia: Uso indicações e
propriedades
________________________________________________________________________________Sobre a autora: Eliana Moraes
Arteterapeuta e Psicóloga.
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia.
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.