Eliana
Moraes (MG) RJ
naopalavra@gmail.com
Ao
longo de 2017 me dediquei a pensar, escrever e compartilhar sobre a modalidade
clínica dentre as práticas da Arteterapia. Destas articulações nasceu o ciclo
de palestras “Série: Arteterapia Clínica”, ao qual sigo oferecendo em diversos espaços ao longo de 2018.
Este ciclo nasceu a partir da
fala de uma aluna: “Eliana, como saber
quando devo usar cada material em um atendimento em Arteterapia? Quando saberei
que devo usar colagem, pintura ou modelagem?”
Esta pergunta saltou aos meus
ouvidos até porque percebi que não era a
primeira vez que a ouvia, nos espaços de cursos, palestras e supervisões. De
fato, a raiz da resposta se encontra no estudo aprofundado sobre as linguagens
dos materiais, uma das disciplinas básicas do curso de formação em Arteterapia.
Entretanto, o refinamento para a escuta clínica arteterapêutica é algo que é construído com o tempo de estudo e prática, pois se difere das modalidades
semi-estruturada ou estruturada, típicas de vivências pontuais ou propostas
breves, oferecidas principalmente para grupos: aqui, parte do arteterapeuta um disparador inicial para que o paciente/cliente projete de si e crie a partir deste "estímulo externo". Na clínica, o arteterapeuta recebe um
paciente, ouve a demanda daquele sujeito e a partir desta escuta aciona algum
material para oferece-lo, sendo este um facilitador expressivo e mobilizador de atos criativos, na arte e na vida.
Acatei o chamado desta e
outras alunas e me dediquei a temática da clínica da Arteterapia em suas
especificidades, até mesmo porque delinear a tênue fronteira entre ser uma
psicóloga que eventualmente utiliza das técnicas expressivas e ser uma
arteterapeuta propriamente dita é uma das questões que desenham minha
identidade profissional.
Neste pensamento, tenho usado
a metáfora do arteterapeuta como um grande maestro que sustenta uma variedade
de instrumentos, cada um em sua singularidade e potencial. Em uma orquestra
temos os instrumentos de cordas, de sopro, de percussão, sons graves, agudos,
de base, de solo... Cabe ao maestro ser conhecedor de cada um destes
instrumentos para que em sua regência mantenha-os em harmonia e saiba o momento
de fazer com que um deles, a partir do que lhe é próprio, no momento oportuno,
seja o solista ou que permaneça no fundo dando sustentação aos outros.
Assim se dá um setting
arteterapêutico. A parti da entrada do 3º elemento – o material – na dinâmica
relacional, uma gama de estímulos se abre nos campos verbal e não verbal,
objetivos e subjetivos, conscientes e inconscientes. Neste contexto de uma
escuta ampliada, própria do arteterapeuta, de fato a pergunta é estrutural: Como
manejar os materiais e as técnicas expressivas de forma consciente e
consistente? Quando investir em cada material/técnica?
Naturalmente
esta escolha não se dá de forma aleatória ou "irresponsável". Afinal, a natureza
do material oferecido agirá de forma específica no autor:
“Todas
as características dos materiais atingem diretamente quem usa, causando
determinadas emoções que serão acolhidas na relação terapêutica. Entender essas
características e as necessidades de cada pessoa é a chave para saber escolher
o material adequado à situação.” (BRASIL)
Desta
forma, cabe ao arteterapeuta o estudo teórico e prático das propriedades de
cada material e linguagens da arte, pois cada uma delas possui suas “forças
próprias”:
“Não
basta comparar os procedimentos das mais diferentes artes: esse ensino de uma
arte por uma outra não pode dar frutos se permanecer unicamente exterior. Deve
ajustar-se aos princípios de uma e de outra. Uma arte deve aprender de outra
arte o emprego de seus meios, inclusive os mais particulares, e aplicar
depois, segundo seus próprios princípios, os meios que são só dela e
somente dela. Mas não deve o artista esquecer que a cada meio corresponde um
emprego especial que se trata de descobrir... Somos levados assim a
constatar que cada arte possui suas forças próprias. Nenhuma das forças de
outra arte poderá tomar seu lugar.” KANDINSKY
Aqui
se da um ponto de responsabilização do arteterapeuta sobre a seriedade de seu
oficio: aquele que oferece o material que promove o que Fayga Ostrower chamou
de “intensificação do viver” do sujeito que cria.
Mas a
escolha deste material não partirá do olhar voltado para o próprio terapeuta
mas a partir da escuta do sujeito que fala. A prática clínica da Arteterapia
nos mostra que o paciente/cliente em meio ao seu discurso já “pede” o material de forma
intuitiva. Ao arteterapeuta cabe a tarefa de saber ouvir este pedido, identificar
o material e oferecer a técnica expressiva, contextualizada às demandas trazidas através de metáforas entre os conteúdos expressados e os materiais.
Cabe
sublinhar ser estrutural que a analogia feita entre a demanda terapêutica e o
material seja acessível e compreensível para o paciente/cliente pois somente assim
ele poderá investir de si de forma plena para aquele agir.
Concluímos que faz-se
essencial a instrumentalização do arteterapeuta clínico quanto à dinâmica do
setting arteterapêutico para o refinamento de sua escuta e manejo das linguagens
dos materiais, investindo em uma profunda intimidade teórica e vivencial de
suas propriedades e potencias. Somente desta forma poderá desempenhar seu
trabalho de forma consistente em promover
um encontro entre o sujeito que fala e o material pertinente, facilitador do caminho de autoconhecimento e processo arteterapêutico daquele que cria, na
arte e na vida.
Atendendo este chamado, sigo engajada em compartilhar este fluxo de reflexões e articulações sobre a Arteterapia Clínica em palestras, supervisões, grupos de estudos e em textos para este blog.
Atendendo este chamado, sigo engajada em compartilhar este fluxo de reflexões e articulações sobre a Arteterapia Clínica em palestras, supervisões, grupos de estudos e em textos para este blog.
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
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Referências
Bibliográficas:
BRASIL, Cláudia. Cores, formas e expressão: Emoção de lidar e
Arteterapia na Clínica Junguiana
KANDINSKY, Wassily. Do Espiritual na Arte
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação
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Sobre a autora: Eliana Moraes
Arteterapeuta e Psicóloga.
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte. Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia.
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Olá, exelente artigo. Gostei desta abordagem como o material ser o "3º elemento". Confesso que durante o curso não dei tanta atenção à este quesito e à medida que comecei a estagiar, montar oficinas com grupos vi a necessidade de me apropriar mais deste quesito, este 3º elemento do setting terpeutico. Na monografia quase surtei de tanto pesqquisra, me apaixonei completamente!
ResponderExcluirParabéns pelo blog e artigo! Nos vemos em São Paulo,
Angela Vêscovi