segunda-feira, 26 de março de 2018

REFLEXÕES SOBRE O “SIMPLES” NAS PRÁTICAS DA ARTETERAPIA




Por Eliana Moraes (MG) RJ
naopalavra@gmail.com

“E que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho” Clarice Lispector 

Um dos artistas que tem me inspirado para este ano é Piet Mondrian. Retomei minha reflexão sobre as ideias do movimento “De Stijl” (que não por acaso significa “O Estilo”), registrado em um texto anterior chamado “Mondrian e Arteterapia – Um diálogo para um estilo” CLIQUE AQUI. Contextualizado no início do século XX, mais precisamente no período da primeira guerra mundial, Mondrian ficou conhecido por seu caminho em direção à abstração completa, chegando ao seu inconfundível estilo geométrico, o neoplasticismo.

O processo imagético em que reduziu-se ao que há de mais simples, as linhas retas e as cores primárias, não se deu ao acaso, mas profundamente simbólico, na busca de uma linguagem visual de aplicação mais universal, menos individualista. Assim, em meio aos conflitos humanos transbordados em guerras, esta expressão poderia servir como um modelo para as relações harmoniosas que Mondrian e seus amigos imaginavam para a vida dos povos num futuro utópico. Podemos pensar que estes artistas eram movidos  por um desejo de que assim o ser humano poderia se comunicar e se relacionar harmoniosamente apesar de tanta diversidade e pluralidade. Não nos parece um desejo tão atual?



“Simplificar para facilitar as relações: na imagem e na vida” à inspiração de Mondrian, é uma das propostas que tenho investido em diversos contextos da minha prática arteterapêutica. Primeiramente porque penso que este é o momento em que devemos oferecer propostas em que as relações sejam pensadas e ressignificadas. 

Mas a prática nos mostra outra grande surpresa que o diálogo com Mondrian nos traz: a riqueza de possibilidades que se abre a partir do que há de mais simples. E hoje releio o que escrevi anteriormente com muito mais significado:

“... Mondrian, um artista que olhos mais desatentos podem vê-lo como ‘sem graça’ ou ‘bobo’. Mas... Pude me ouvir o quão difícil foi selecionar e sintetizar em um breve texto tudo que Mondrian tem me tocado e me provocado a pensar. Percebi que este fato nada mais é do que o reflexo de uma das grandes lições que o artista me trouxe até o momento, que também coopera para meu estilo: quanta coisa é possível criar e influenciar a partir do que há de mais simples! Mondrian nos ensina que simplificar não é empobrecer, mas um processo (que sim, demanda muito trabalho) de limpeza de ruídos e excessos para a abertura do novo e quantas possibilidades couberem em nossas mãos!” (MORAES) 

O retorno ao simples: uma inspiração para metáforas da vida



O diálogo com o simples segue em outros campos. Tenho trocado com arteterapeutas que compõem a minha rede sobre a simplicidade dos materiais em Arteterapia: o que na grande maioria das vezes não ocorre por escolha, mas por escassez. 

Quem trabalha em alguma instituição como escolas ou hospitais, públicos ou privados, sabe do que estou falando. Mas aqui a simplicidade pode chegar com cara de empobrecimento. Em outros contextos, arteterapeutas recém formados(as) que ainda não construíram seu próprio material ou outros(as) que pelas demandas da vida tiveram que mudar de cidade não havendo a possibilidade de levar consigo todo o material cultivado até ali (todos os casos mencionados são reais à minha escuta). 

De fato, em nossos cursos de formação somos estimulados para a experimentação da riqueza de materiais. Somos impressionados com mesas cheias de recursos, possibilidades, linguagens, cores, formas, texturas... Penso que realmente é essencial que o arteterapeuta tenha a oportunidade de manusear, sentir e criar intimidade com os mais variados materiais que possam em algum momento serem úteis em nossa prática. Somente através desta experimentação teremos subsídios para manusear os materiais de forma consistente. 

Entretanto, ao meu ver, é essencial que o arteterapeuta saiba que não raras vezes, “na prática, a teoria é outra”. Muitas vezes não, não dispomos de muitos materiais para oferecermos em nossos trabalhos. Muitas vezes somos contratados para uma instituição que não pode investir em material, ou em atendimentos particulares o próprio terapeuta, por realidades da vida, não tem disponibilidade naquele momento para um grande investimento em materiais. 

Seria a escassez de material um impeditivo para o arteterapeuta trabalhar? Muito antes pelo contrário. Penso que esta efetivamente é a oportunidade para que no campo do simples, a mola mestra da Arteterapia possa emergir: a CRIATIVIDADE. 

Criar a partir da riqueza de possibilidades é muito interessante. Mas penso que criar diante do pouco ou do quase nada é de fato, o chão da vida. A realidade da clínica nos mostra que vivemos em tempos de crise financeira, perdas sucessivas de poder aquisitivo, redução de possibilidades múltiplas aos quais nossos pacientes nos contam com ar de frustração, derrota e o discurso do “não posso” é a tônica. 

Então eu pergunto aos arteterapeutas, não seria justamente esta metáfora de vida que precisamos remontar em nossos settings terapêuticos? Diante do (que parece) pouco, para onde sua criatividade te leva? O que sua intuição te instiga? Quais possibilidades você pode se fazer enxergar diante do que você tem a frente? 

A prática nos mostra que ao aceitarmos o que temos e com o que temos acessarmos nossa criatividade, grandes possibilidades de abrem. Nos materiais e na vida. 

Nesta perspectiva, meu estilo como arteterapeuta tem se firmado em cima da simplicidade – só possível de ser construída a partir de muito estudo. Quando bem embasado, o simples é suficiente e muito potente. 


Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referência Bibliográfica: 

Moraes, Eliana. Pensando a Arteterapia 
________________________________________________________________________________

Sobre a autora: Eliana Moraes




Arteterapeuta e Psicóloga. 

Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte. 
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia. 
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 19 de março de 2018

O BORDADO COMO INSTRUMENTO DE ARRAIGAMENTO E CONDUTOR DE VIDA




Tania Salete (RJ) - CE
taniasalete@gmail.com
“O mais importante do bordado
É o avesso...
O mais importante em mim
É o que eu não conheço
O que de mim aparece
É o que dentro de mim Deus tece...
É o segredo do ponto
O rendado do tempo
É como me foi passado o ensinamento”
J.Vercilo

Introdução:                

 O bordado é um oficio milenar e intergeracional, sendo a arte de ornamentar os tecidos com fios diferentes, coloridos, formando desenhos. A palavra bordar etimologicamente também quer dizer “seguir junto à borda, orlar, margear, delimitar as margens". O ato de bordar provém da tecelagem e há registros desta atividade na pré-história, quando se tecia peles de animais para vestimentas, usando ossos como agulhas.

               Nas antigas civilizações que se desenvolveram as margens do Rio Eufrates, a arte do bordado foi muito cultivada. Os romanos descreviam o bordado como “pintura de uma agulha”. Em alguns textos bíblicos, no Velho Testamento, encontramos referências ao bordado como atividade manual importante e artística. 

             Na idade Média, principalmente, o bordado estava vinculado à nobreza e religiosidade, alguns deles confeccionados em conventos para ornamentar e diferenciar vestimentas comuns daquelas usadas em cerimônias especiais. Só mais tarde adquiriu status de lazer e ocupação do tempo livre, principalmente para as mulheres das classes mais elevadas. Assim sendo, ampliou-se a variedade e   foi possível criar figuras, desenhos, contornos e aplicação de cores e pontos variados.

               Historicamente, o bordado estava atrelado ao universo feminino e, durante décadas, foi disciplina obrigatória e inseparável do currículo de uma “boa esposa”, assim como cozinhar, tricotar, cuidar dos filhos e da casa. A despeito do estigma, o bordado atualmente vem ganhando força e outros significados, ocupando novos espaços, conquistando públicos de diferentes culturas e ocupações, inclusive servindo de estudo e tese no meio acadêmico, além de ser utilizado como  técnica terapêutica, como no caso da Arteterapia.

                Como ferramenta de conscientização política, o bordado é  reconhecido como possibilidade de fonte de renda familiar, dando maior autonomia às mulheres, ou como instrumento de denuncia de condições abusivas e repressivas , como caso das mulheres no Chile, onde  existem as Arpilleras, técnica de bordado utilizada para denunciar as violações cometidas pela ditadura militar no país, na época do ex Presidente Pinochet. As Arpilleras foram criadas por um grupo de bordadeiras de Isla Negra, no litoral chileno, que costuravam à mão imagens feitas de retalhos e  distribuídas clandestinamente. Esta mesma técnica que relata, através do bordado, as angústias, dores, a vida e o cotidiano de uma comunidade,   servirá  de fio condutor para o desenvolvimento do documentário “Arpilleras: bordando a resistência”, sobre pessoas atingidas por barragens no Brasil. (CLIQUE AQUI)

Da fragmentação à desfragmentação – O Bordado na Arteterapia: um relato pessoal 



            Em Arteterapia, a construção do símbolo significa concretização do “não-dito”, ou daquilo que as palavras não alcançam. Fonseca (2015), afirma que: 

 “Ao olhar para o símbolo, o indivíduo adquire a capacidade de olhar seu sentimento sob outra dimensão e com isso elabora outros tantos sentimentos que podem acolher essa dor, aceita-la para depois transformá-la como parte de seu desenvolvimento, de sua superação”. FONSEA                                                            
Em um tempo recente, foi preciso mudar toda organização da minha vida: familiar, profissional, relacional, em função de transferência para outro estado. Apesar do entusiasmo pelas novas possibilidades que um lugar diferente pode causar, lidar com a realidade desta mudança repentina não foi fácil. Passados os primeiros momentos, fui envolvida por sentimentos ambíguos e em pouco tempo, sem a estrutura anterior que me permitia alguma segurança emocional, percebia-me fragmentada, partida e sem chão ou raízes. Literalmente, parecia ter sido “desarraigada” da vida. 

Buscando o devido acolhimento junto à Arteterapia, o bordado surgiu como um caminho natural para iniciar o processo de arraigamento ou enraizamento. Esta possibilidade de lidar com linhas coloridas, bastidor, agulha, tesoura, vários pontos, me remeteu ao passado quando minha avó me ensinava várias atividades manuais, como bordado, tricô e crochê, “para sossegar essa menina um pouco”, dizia ela.  

             Assim como as demais técnicas artísticas abordadas na Arteterapia, o bordado não está associado à questão da estética, e sim ao que representa como função simbólica para indivíduo. Neste contexto específico, para além de suas funções próprias como a possibilidade de escolha, atenção, minuciosidade, delicadeza, ritmo, gradualidade, experimentação, lidar melhor com erro, pelo fazer, desfazer, refazer,  o bordado teve a função de preencher os espaços, ligar os pontos,  seguir um risco, um caminho traçado, pelo desenho escolhido (que já é um símbolo) e, principalmente, dar contorno ao trabalho, à vida.  A atividade uma vez iniciada, conscientizou-me de que era preciso fixar bem os pontos, que não poderiam ser nem frouxos ou apertados demais e equilíbrio foi a meta a conquistar.  Fui automaticamente absorvida pela sensação de introspecção e concentração por aquele trabalho.  

             Pouco a pouco, ponto a ponto, o sentimento anterior foi dando espaço para novas percepções como no processo de “desfragmentação”.  Desfragmentar é “ação de reorganizar, juntar arquivos fragmentados em um só local do disco rígido”. Interessante que essa palavra advinda da informática, rima  com individuação, auto avaliação, construção e integração.

Conclusão:                          

              O bordado manual estimula a criatividade, eleva os níveis de concentração, tranquilidade mental, estimula a ações equilibradas e amplia a  plenitude, o prazer, além de outros benefícios. Fonseca, cita que “...legitimar o bordado como recurso arteterapeutico é trazer para seu contexto inúmeras possibilidades de representações simbólicas. Ao tecer, o paciente entra em contato com sua ancestralidade, suas crenças e sua história...”.

                     E pensando na atividade com as mãos, como instrumentos de arraigamento, Philippini afirma:

“...mãos ferramentas de muitos bordados, delicadas tramas de afetos, desejos e emoções.  No processo arteterapêutico, ao colocá-las em movimento, vamos redescobri-las como sensíveis instrumentos de captação do mundo... É preciso ativar as mãos como instrumentos terapêuticos em suas inúmeras possibilidades de execução, pois a cada transformação externa com os materiais expressivos, analogamente são geradas transformações internas. E neste universo de mãos e materialidade construímos nossa autonomia expressiva e ativamos nosso processo criativo, deste modo, estas mãos são instrumentos potenciais de germinação e construção.” PHILIPPINI 

                  Diante desta experiência pessoal, ficaram claros para mim os novos traços e riscos que podem surgir neste novo espaço que agora  transito. Conhecer novos costumes, novos cheiros, sabores, ter outros amores, dentre eles, o bordado. Afinal, estar na terra de tantas bordadeiras é dar asas à imaginação, à criatividade e à vida.



1 Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência (teaser)
https://www.youtube.com/watch?v=U1Q-36to_uI


Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referência Bibliográfica:

PHILIPPINI, Angela -  Cartografia da Coragem, 2008 - 4ª edição, Ed.Wak 
                               Linguagens e materiais expressivos em arteterapia, 2009,  Editora Wak

FONSECA, Erica L  - O Bordado como representação simbólica no atendimento arteterapeutico
Artigo Arterevista, número 5, 2015 


VASCONCELOS, Isabella Karim M F – Tese de Mestrado em Historia -UFRPE -  Uma prática, um bem cultural : uma história sobre o bordado na cidade de Passira-PE, Fev 2016
_________________________________________________________________________________

Sobre a autora: Tania Salete


Graduação em fonoaudiologia, pós graduação em psicopedagogia. Especialização em Arteterapia pela POMAR, Rio de Janeiro, atuando com grupos terapêuticos e de apoio em casa de recuperação feminina e masculina. Atualmente residindo em Fortaleza.





segunda-feira, 12 de março de 2018

PAPEL MACHÊ, PAPEL COLÈ, MODELAGEM, CRIATIVIDADE E FAZER




Por Vera de Freitas (RJ)
verafguimaraes@gmail.com 

Para o curso de formação clínica em Arteterapia, é  necessário a escolha de uma linguagem para estudo e apresentação de projeto pessoal. Durante o curso conhecemos e experimentamos diversas linguagens e materiais.Defini a linguagem que estudaria para o meu projeto durante a aula de confecção de personagens,  usando a massa de  PAPEL MACHÊ  semipronta (industrializada). Nesta aula descobri a necessidade de estrutura  para modelagem.  E descobri também  que este seria meu grande desafio: conhecer algo que sempre me interessou e entender sua importância terapêutica. 

Sempre soube que seria necessário mais do que receitas e dicas, facilmente encontradas na internet, para a produção de  um bom trabalho. E por isso, produzia peças com a técnica do empapelamento, papietagem, ou PAPEL COLLÉ,  também considerado um tipo de PAPEL MACHÊ,  pelo seu resultado.

Sendo o PAPEL COLLÉ,  a colagem sucessiva de lâminas de papel, significa  revestir de papel, sobrepondo camadas com cola. 

Tive a sorte e a oportunidade de fazer um curso prático, a tempo de orientar meu projeto, com a artista plástica Carol W. Cunha  de Porto Alegre.  Conhecer a linguagem e aprender o PAPEL MACHÊ, que sempre  me interessou e me encantou foi meu grande desafio. Estudei, pesquisei, experimentei, planejei, criei. E quanto mais criava, mas queria criar. Foi um desafio apaixonado. Fazer PAPEL MACHÊ  é  criar, crescer, planejar, estruturar, renovar e transformar.

A LINGUAGEM :

O PAPEL MACHÊ é  uma técnica de modelagem bastante rica no que diz respeito aos métodos  de confecção tanto  da massa como dos produtos criados com esta. É  uma arte milenar, tendo como insumo principal o papel (reciclado), e suas principais  características são  a versatilidade, resistência e durabilidade. 

Depois de seca, a massa possui propriedades da madeira. A massa  do PAPEL MACHÊ  é  utilizada para cobrir superfícies, quase uma pele, e por isso é  necessário uma boa estrutura como base. 

A palavra  PAPIER MÂCHÉ  tem origem francesa e significa papel picado,  amassado e esmagado.  Embora a palavra seja de origem francesa, o PAPIER MÂCHÉ foi inventado na China, e remonta à descoberta do papel  por volta de dois séculos antes de Cristo. A história do PAPEL MACHÊ está intimamente relacionada com a própria história do papel, seu principal insumo. E apesar dos chineses terem descoberto o papel e sejam considerados os precursores do PAPEL MACHÊ,  foi através dos franceses que essa arte se difundiu.

São duas as possibilidades de confecção  da produção de peças  em PAPEL MACHÊ: a colagem sucessiva de lâminas de papel sobrepostos (PAPEL COLLÉ) e a pasta de papel para modelagem (PAPEL MACHÊ). 

Existem inúmeras  receitas e formas de se chegar a esta massa, e fazer a modelagem,  contudo o exercício continuado, a prática  da técnica pode nos levar a um material mais fácil e adequado para a proposta pessoal.

É  possível também  fazer a massa com vários tipos de papel (jornal, folhas de sulfite,  caixas de ovos, papelão, papel higiênico…) e de maneiras diferentes, com texturas e resultados também  diferentes. É  uma técnica interessante também  no aspecto de seu custo baixo, pela versatilidade  e por  sua produção  ser ecologicamente correta, usando materiais que seriam descartados,  e com isso, evitando o aumento do lixo de materiais de difícil decomposição,  como plástico,  embalagens, garrafas pet  etc.

A MODELAGEM:

Esta é uma atividade basicamente sensorial,  por ser trabalhada com as mãos, proporcionando a estruturação da desordem à organização. Trabalha também com a psicomotricidade, pois requer articulações excessivas das mãos,  além da sensação tátil que fornece um diálogo com a imagem que está  sendo criada. 

É  uma linguagem  com experiências de volume e tridimensionalidade,  trazendo desafios de organização espacial, planejamento e capacidade de formar estruturas, mantendo o equilíbrio e intensificando a experiência  com o tato e com as sensações, além de ativar processos de observação  e criatividade,  reaproveitamento de materiais, exercitar a paciência  e delicadeza. 

Essa atividade é  recomendada para pessoas muito rígidas,  já que o contato muscular das mãos acarretam no relaxamento e liberação de tensões. Há uma troca de energia entre as mãos e a massa, a técnica exige uma canalização adequada de energia,  por partir do nada para a criação  de algo. Pode ainda ser este um primeiro passo para outras linguagens  como pintura, colagem etc.

Assim, ao trabalhar com  modelagem em PAPEL MACHÊ, criando e dando forma a algo, com o amassar, mudar e criar, podemos dar forma a imagens  que emergem do inconsciente e com isso compreender e assim ordenar, configurar e ressignificar.

Jung acreditava que o homem poderia organizar seu caos interior através do processo criativo  fazendo aflorar aspectos inconscientes, através da linguagem simbólica,  de forma organizada através das atividades de artes. Isto é  dar concretude às imagens do seu interior, podendo resultar  uma transformação interna e melhorar sua relação com seu ambiente.

A atividade de modelagem pode ser definida como uma atividade de um corpo que faz outro corpo. E em Arteterapia, acreditamos que ao transformar a massa, atribuindo - lhe  significado,  analogamente processos de transformação subjetivas ocorrem na pessoa que a manipula.

Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
_______________________________________________________________________________

Sobre a autora: Vera de Freitas



Advogada, Arteterapeuta (POMAR)

Cursando Pós Graduação em Arteterapia (POMAR)

Administradora do Instituto VENHA CONOSCO - Tijuca, RJ 

Professora de Iniciação Artística - Instituto ZECA PAGODINHO

Facilitadora do Grupo de Arte e Expressão  para adultos e Grupo de Desenho Livre.

Ateliê  de PAPEL MACHÊ






segunda-feira, 5 de março de 2018

AUTOESTIMA NA VELHICE: O QUE A NEUROCIÊNCIA E A ARTETERAPIA DIZEM A RESPEITO DISSO?


Juliana Ohy - SP
julianaohy@gmail.com
Site: www.julianaohy.com.br


Quando ainda estava pensando sobre que tema escrever, coincidentemente ou não, começaram a surgir comentários e dúvidas de pacientes, artigos e reportagens sobre, além de outros estímulos. Aí pensei: “Talvez seja importante escrever sobre ela: A autoestima”.


Um hábito que tenho é, sempre que inicio um novo tema, dou o start pela etimologia do termo ou da palavra. 

Assim, autoestima é uma palavra originária do grego e do latim, onde AUTÓS (grego) significa A SI MESMO e AESTIMARE (latim) significa VALORIZAR, APRECIAR. 

Do dicionário: 
Autoestima é “característica da pessoa que se valoriza, estando satisfeita com sua maneira de ser, com sua forma de pensar ou com sua aparência física, expressando confiança em suas ações e opiniões: o aumento da autoestima pode melhorar a qualidade de vida”. 

            Segundo teorias da psicologia, autoestima é um componente do processo de desenvolvimento e maturação da personalidade, sendo construída a partir da interação social.

            Muitos fatores estão ligados a autoestima de forma positiva: senso de identidade, papel social que desempenhamos, valores, experiências vividas, conquistas. Mas também alguns fatores podem influenciar negativamente, tais como: fracassos, auto percepção (influenciada pelo julgamento que faz da percepção do outro sobre você), rejeição, humilhação.

            A velhice é um momento em que a interação social, naturalmente, fica mais escassa, seja pela falta de atividade na rotina, seja porque o idoso já não sente que tem um papel social importante a cumprir (e a nossa sociedade infelizmente ainda acredita nisso). Além disso, a perda de entes queridos próximos e prejuízos físicos e cognitivos, afastam o idoso da imagem real do que ele sempre foi. Essa diminuição significativa da interação social na velhice pode acarretar em graves prejuízos na autoestima.             

Mas onde está a autoestima no nosso cérebro? 


A autoestima está localizada entre áreas límbicas e o córtex frontal do cérebro. Toda a rede neural associada à autoestima é construída através da linguagem, da reflexão e de experiências anteriormente aprendidas (CHEDID, 2017).

“O principal objetivo do nosso cérebro é manter-se vivo, e isso inclui a manutenção de um sentido positivo do Eu. Todos queremos ser alguém validado pelos outros e isso só será possível se tivermos segurança emocional e uma autoestima autêntica” (CHEDID, 2017).            

Um estudo publicado sobre níveis de autoestima e performance cognitiva aponta que pessoas inseridas em ambientes com estímulos apresentam melhores índices de autoestima e a interação ambiental exerce papel relevante no comportamento dos idosos. Assim, as atividades realizadas através do grupo de convivência contribuem para uma melhoria das capacidades cognitivas, aumentando os níveis de autoestima (PORTO et al, 2011).

Na Arteterapia, ao entrar em contato com a arte, temos a ampliação da consciência física e mental, facilitando o autoconhecimento, autoconfiança e resgatando a autoestima, possibilitando que o indivíduo ressignifique a própria vida.

            O que é muito importante sabermos é que com o envelhecimento, os sistemas neurais são sim alterados, mas não são os únicos responsáveis pela performance cognitiva do idoso; o ambiente exerce papel relevante no comportamento desses indivíduos e na autoestima.

Consequentemente, com uma boa interação social, atividades que estimulem a criatividade e a autoconfiança, através da Arteterapia, há o surgimento de novas conexões neuronais, contribuindo para um envelhecimento saudável, com idosos mais confiantes e um cérebro mais ativo.

 Referências Bibliográficas

 CHEDID, Kátia. O que a neurociência tem a dizer sobre a autoestima em tempos de “baleia azul” e “13 reasons why”. InfoGeekie, 2017. Disponível em: < http://info.geekie.com.br/neurociencia-autoestima/.

PORTO, Ivalina et al. Correlação entre níveis de autoestima, performance cognitiva e de memória em idosos: uma visão ecológica. AMBIENTE & EDUCAÇÃO-Revista de Educação Ambiental, v. 15, n. 1, p. 187-206, 2011. Disponível em: < https://furg.emnuvens.com.br/ambeduc/article/view/993/923.



________________________________________________________________________

Sobre a autora: Juliana Ohy


Formação:
Psicóloga, Neuropsicóloga, Arteterapeuta, Psicopedagoga, Especializada em Psicogeriatria e Mestre em Saúde Mental e Doutoranda em Ciências da Saúde.

Área de atuação/projetos/trabalhos:
Fundadora do Synapse: Centro de Estimulação Cognitiva. Autora do livro: Jogos Cognitivos: Um olhar multidisciplinar pela editora WAK. Professora dos cursos Arte e Cognição: Estimulando o cérebro através da arte e Jogos Cognitivos. Membro da equipe e professora do curso Neurociências da Educação do CBI of Miami. Palestrante na área de Neurociências, Gerontologia e Arteterapia.

Autora do livro "Jogos Cognitivos: um olhar multidisciplinar"


Disponível para compra AQUI