quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

PENSANDO A ARTETERAPIA


Por Eliana Moraes

“Há muros que só a paciência derruba.
Há pontes que só o carinho constrói.” Cora Coralina


            Estes versos de Cora Coralina chegaram até mim em um cartão de natal que recebi de uma paciente. E automaticamente me lembrei das discussões que o grupo de estudos que coordeno “A prática da arteterapia” construiu durante o ano de 2014.
            Ao refletirmos sobre as especificidades da técnica da arteterapia e a atuação do arteterapeuta diante do paciente, observamos que não raras vezes o arteterapeuta prioriza as técnicas que proporá ao seu paciente/cliente e se dispersa do que é mais importante no setting terapêutico: o próprio paciente/cliente. Discutimos sobre o perigo tão sutil, mas na mesma proporção perigoso, que o arteterapeuta pode se perder: voltar o olhar para si – suas interpretações, seus desejos, sua ansiedade, suas necessidades –, por que não dizer, narcisicamente. Desta forma, dispersa-se do protagonismo do paciente em seu caminho de autoconhecimento. Jornada que pertence exclusivamente à ele, e ao arteterapeuta cabe estar junto.
            A cada encontro discutimos como é importante que o arteterapeuta esteja atento e se instrumente teoricamente sobre os fenômenos da relação paciente-terapeuta: a transferência e a contratransferência e seus manejos. Que mesmo a arteterapia tendo como especificidade utilizar das técnicas expressivas como base, a relação paciente/cliente e terapeuta se manifesta de forma imperativa. E se o arteterapeuta não estiver instrumentalizado para manejá-la em paralelo com as técnicas expressivas, não estará alcançando seu trabalho como terapeuta de forma plena.
            Ao percebermos esta lacuna em nossas formações, dedicamo-nos à leitura de textos que nos embasasse teoricamente sobre estes fenômenos e discutimos como estes conceitos se manifestaram na prática de cada arteterapeuta participante do grupo. Assim, a partir de uma grande discussão e troca o grupo chegou à algumas importantes conclusões e pontos de atenção para a prática da arteterapia: o protagonismo do paciente em seu caminho de autoconhecimento e o papel do arteterapeuta de estar ao lado; os fenômenos da relação paciente/cliente, a importância de seus manejos e a necessidade do arteterapeuta (ser humano que é) ter espaços para pensá-los – sua terapia pessoal, supervisão e grupo de estudos; tomamos como propósitos para 2015 estudarmos e discutirmos o triângulo paciente-terapeuta-técnica expressiva, e sobre como podemos contribuir para que nossa profissão se estabeleça cada vez mais na área da saúde, em equipes interdisciplinares e instituições.
            Estamos engajadas no propósito que o nome deste blog já traz: “Pensando a Arteterapia”. E estendemos nosso convite para aqueles que, apaixonados ou ainda curiosos, tenham o desejo de partilhar conosco esta jornada. Que venha 2015!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O DIÁLOGO ENTRE HISTÓRIA DA ARTE E ARTETERAPIA EM 2014


                                   Fotografia: Palestra vivencial "Dadá e Surrealismo na prática da Arteterapia" no Clube da Arte

Por Eliana Moraes e Flávia Hargreaves

            Dezembro, o último mês do ano, chegou, e com ele o convite de fazermos uma reflexão sobre o ano que passou. E o blog “Não Palavra” também se propôs a fazer um balanço sobre o que foi o ano de 2014 em nossa jornada de pensar - e contribuir para – a arteterapia.

            Primeiramente abordaremos a pesquisa  sobre a aplicabilidade da História da Arte na prática da arteterapia, que começou o ano como um embrião envolvido por um grande desejo e uma intuição.  Com o passar dos meses este projeto foi criando corpo e hoje é uma realidade com o curso “Arteterapia: História da Arte para quê?”

            Neste ano vivemos a alegria de promover com duas turmas o Múdulo I: Pré-História e Primitivismo e com uma turma o Módulo II: Antiguidade Clássica e Classicismo. Acreditamos que esta foi uma vivência bastante intensa para aqueles alunos que aceitaram o convite de fazer um profundo mergulho nestes períodos da história do homem e da arte, mas também bastante intenso para nós que os promovemos. E atualmente estamos gestando com todo carinho o Módulo III: Idade Média para início em 2015.

            Entretanto, nossa pesquisa sobre os Movimentos da Arte aplicados na Arteterapia, não poderia deixar de abrir um espaço de destaque para os movimentos Dadá e Surrealismo, pois foram nossos primeiros estímulos para abrir este diálogo entre História da Arte e Arteterapia.

Nos últimos meses nos dedicamos em especial à estes dois movimentos, por tratarem de modo muito particular a desconstrução, o caos e o acesso ao inconsciente, ao mundo da imaginação e dos sonhos.

Tivemos o privilégio de abrir e fechar as palestras do Clube da Arte de 2014 (promovido por Luciana Machado), com as palestras “Arteterapia: História da Arte para quê?” em (10/09/14), e “Dadaísmo e Surrealismo na prática da Arteterapia”, dia (26/11/14). Tivemos também a oportunidade de realizar palestras sobre o tema na Faculdade Estácio de Sá – curso de Psicologia – unidade Norte shopping (07/10/14), no Curso de Formação em Arteterapia Artemísia - Niterói (10/11/14) e no evento “Surrealismo” promovido pela AARJ (27/07/14)

            Estes dois movimentos permanecerão como objeto de nosso trabalho no próximo ano pois, prestes a completar 100 anos, o Dadá continua vivo, atual e mobilizando discussões nos espaços de Arte. No mês outubro, o Rio de Janeiro recebeu dois eventos sobre o tema: o curso com Marc Dachy - Retorno a Dadá (Museu de Arte do Rio – MAR, 15 e 16/10/14) e  Dada on Tour – Zurique 2016, uma vídeo instalação itinerante que antecipa o centenário do dadaísmo (Casa Daros, Rio de Janeiro, de 22 a 26/10/14). O Surrealismo não ficou atrás, o CCBB RJ nos trouxe a exposição de Salvador Dali (maio e junho) e a Caixa Cultural, a Magia de Miró (julho a setembro) com seus desenhos.

            Olhamos para 2014 como um ano de realizações pois passos importantes foram dados em nossa jornada. Entramos em 2015 bastante motivadas com nossa pesquisa sobre a riqueza que a História da Arte pode proporcionar para a prática da arteterapia. Nosso convite permanece aberto a todos àqueles que têm curiosidade ou que já conheceu um pouco do nosso trabalho, que no próximo ano compartilhe conosco desta tão apaixonante jornada.