segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

MINHAS OFERTAS (AO MUNDO): Fechando 2018 à inspiração de Cora Coralina



Eliana Moraes (MG) RJ
Instagram @naopalavra

“Feliz é aquele que compartilha o que sabe e aprende o que ensina.” Cora Coralina

Feliz, assim recebo dezembro e o final de 2018. Para o Não Palavra Arteterapia, este foi um ano de muito trabalho e (a palavra que mais se repete em minha mente) consolidação. Neste ano germinaram muitas sementes há muito tempo plantadas, sementes que tinham seu tempo próprio para fazer germinar e brotar. Brotaram. 

Todo este processo, fundamentado no desejo de compartilhar os estudos e práticas daquilo que move meu senso de missão neste mundo: a Arteterapia. Em um ano tão conturbado em nosso social, a cada momento confirmava a certeza de que o mundo necessita de arte, e minha contribuição é oferecê-la através da Arteterapia, além de instigar arteterapeutas para que também o façam. Acredito que o conhecimento só se faz quando compartilhado. E acredito que o conhecimento da Arteterapia deve ser multiplicado por sua tamanha importância. Esta é a raiz do meu desejo: ofertar aquilo que aprendo.



Potencializando este caminho de ofertas, encontrei parceiros ao longo do caminho aos quais, sem eles, não seria possível. Neste ano o Não Palavra Arteterapia agregou em sua equipe a Laila Alves de Souza como gestora dos projetos e redes sociais e a Patrícia Serrano como gestora de materiais e arquivo. Larissa Kouzmin-korovaeff da Semente Editorial, parceira que generosamente abriu as portas para aumentar o alcance de minha escrita através do livro “Pensando a Arteterapia”. Além dos espaços virtuais, berço do Não Palavra, em 2018 expandimos territórios geográficos: além do Espaço Não Palavra em Copacabana, firmamos a parceria com Vera de Freitas do Espaço Venha Conosco na Tijuca- RJ e com a Regina Célia Rasmussen do Espaço Crisântemo de São Paulo.  

Quanto ao blog, o consolidamos como um espaço colaborativo. Um espaço de compartilhamento de reflexões, pensamentos, experiências. Neste ano, foram ao todo 42 textos, e esta construção só foi possível com a colaboração de Valéria Diniz, Juliana Mello. Laila Alves de Souza, Tania Salete, Daniele Pereira Schnorrenberger, Suzane Guedes, Vera de Freitas, Hellen Faria, Liane Esteves, Andréa Goulart de Carvalho, Fabiana Juvencio, Cristina Costa, Flávia Amancio de Oliveira, Juliana Ohy. Cada autor contribuiu com a sua abordagem teórica, sua perspectiva, seu olhar e estilo para a Arteterapia, que acredito ser tão rica, tão plural, tão potente!

Cabe mencionar também todos aqueles que participaram dos encontros, palestras, eventos e grupos estudos do Não Palavra ao longo do ano. Pude conhecer muitas pessoas interessadas, engajadas, investidas e desejosas da Arteterapia. Pessoas aos quais pude ofertar aquilo que construí e receber aquilo que me move. Toda gratidão à uma rede lindamente construída, tecida por afeto, comprometimento, idealismo e arte. 

Ao fechar este ano só posso agradecer a cada pessoa que colaborou para sua construção. Ao pensar no que dizê-las, me faltaram palavras, mas pude encontrar em Cora Coralina os versos que falassem por mim. Cada um destes versos resume aquilo que trago no peito e com eles damos início à um período sabático para o blog, que se estenderá até 4 de fevereiro de 2019. Neste dia, o blog Não Palavra retornará com novos textos, novas reflexões, novas energias e você faz parte desta construção. Por hora, é tempo de descansar e restaurar a terra para que acolha, sustente e alimente a muitos, em um ano que tanto nos solicitará. Até lá, que o som da poesia reverbere em nós! 

OFERTAS DE ANINHA (AOS MOÇOS)



Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.
Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.
Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futuras dos erros e violências do presente.
Aprendi que mais vale lutar
do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar. 

Cora Coralina

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Sobre a autora: Eliana Moraes



Arteterapeuta e Psicóloga. 
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Autora do livro "Pensando a Arteterapia" CLIQUE AQUI

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

“ARTE COMO TERAPIA”: Leituras, reflexões e comentários



Por Eliana Moraes (MG) RJ
Instagram: @naopalavra


Tenho estimulado o estudo da ARTE aos arteterapeutas e estudantes. Em minha jornada profissional, o mergulho no estudo da arte foi o grande pulo do gato para que eu migrasse de uma psicóloga que utilizava de técnicas expressivas para uma arteterapeuta propriamente dita, e assim me encontrei profissionalmente.
Neste sentido tenho sustentado o grupo de estudos “Teorias da Arte e Arteterapia” e tem sido um espaço muito potente de pesquisa, troca, aprendizado, aplicações e teorizações, para cada participante, incluindo-me.  
Percebo que não apenas na formação de Arteterapia, mas em diversos seguimentos que contemplam a disciplina História da Arte, o conteúdo transmitido academicamente se dá de forma racionalizada, impessoal e pouquíssimo contextualizado ou aplicável ao ouvinte e sua área de interesse. Estudar História da Arte é muito mais do que absorver datas, períodos, (apenas) pinturas e nomes de artistas. Ali existe um verdadeiro universo a ser explorado, verdadeiramente compreendido e aplicado como ensinamentos ou inspirações para nossa vida prática e atual, em diversos contextos e seguimentos. Basta desenvolvermos nosso olhar e escuta da maneira apropriada. 
No caminho de estudar História da Arte para dialoga-la com a Arteterapia, me deparei com o livro “Arte como Terapia”, que muito enriqueceu meu estudo. Hoje trago alguns fragmentos e comentários deste livro, ao qual recomento a leitura aos arteterapeutas, pois com sua linguagem tão acessível e próxima do leitor, corrobora com este pensamento:
“Este livro sugere outra abordagem. Os especialistas deviam pensar em como conectar melhor o espírito das obras que admiram às fragilidades psicológicas dos seus ouvintes... A essa luz, os acadêmicos tratariam... todas as obras de arte com a seguinte pergunta humana: ‘Quais lições você está tentando nos ensinar que podem nos ajudar na vida?’ Qualquer coisa que não seja isso, por mais inteligente e carregada de informação que seja, não passaria de mera preparação ou distração.“ pag 87
É importante ressaltar que, embora o livro traga em seu nome “A Arte como terapia”, ele não contempla a perspectiva ao qual o arteterapeuta está habituado: o fazer arte, o ato criativo, o sujeito em contato direto com os materiais e a criação. Sua reflexão se dirige ao potencial terapêutico de se contemplar uma obra de arte, tendo o sujeito como espectador e fruidor da obra:
“... a arte tem o poder de ampliar nossas capacidades para além dos limites originalmente impostos pela natureza. A arte compensa algumas de nossas fraquezas inatas, nesse caso, mais mentais do que físicas, fraquezas que podemos chamar de fragilidades psicológicas. 
Aqui, propomos que a arte... é um meio terapêutico que pode ajudar a guiar, incentivar e consolar o  espectador, permitindo-lhe evoluir.” Pag 5 

De fato, seus autores, Alain de Botton e John Armstrong falam do campo da filosofia e não do campo psi. Ao longo do livro, fica claro que os conteúdos abordados pelos autores são problemas da filosofia, como o amor, a natureza, o dinheiro e a política, além de ficar nítido não haver alguma teoria da psicologia para embasar suas reflexões. 
De toda forma, os temas abordados, profundamente humanos, e a maneira de expô-los são extremamente ricos para instrumentalizar nossa escuta clínica – individual e coletiva – enquanto nos coloca em contato direto com obras de arte que dialogam com questões humanas variadas. 
Nesta perspectiva, os autores apontam cinco possíveis leituras da arte: leitura técnica, leitura política, leitura histórica, leitura do caráter contestador e por fim uma leitura terapêutica, proposta por eles:
“Este livro apresenta um quinto critério para julgar a arte: ela pode ser importante por nos ajudar de maneira terapêutica... A adoção desse quinto critério traz uma série de consequências para o entendimento do cânone. Tal leitura permite esboçar o que pode estar acontecendo no nosso íntimo quando dizemos que uma obra é boa ou ruim. Podemos acabar gostando das mesmas obras consideradas importantes pelas outras leituras, mas será por motivos diferentes: porque ajudaram a nossa alma. Obter algo com a arte não significará apenas aprendermos a seu respeito, mas também uma autoinvestigação. Teremos de estar dispostos a olhar dentro de nós mesmos, reagir ao que vemos. A arte será considerada boa ou ruim não per se, mas para nós...” pag 72
Embora os autores não tragam formalmente o conceito de projeção, percebemos que em todo tempo, fazem referência a este fenômeno: quando o sujeito tem um encontro com um objeto e nele deposita conteúdos inconscientes para si, animando-o e elevando-o à condição de uma espécie de espelho, ao qual tem a capacidade de iluminar e trazer para a consciência aquilo que ele não se reconhece:
“... de vez em quando, topamos com obras de arte que parecem agarrar algo que sentimos, mas que nunca havíamos notado com clareza. Alexander Pope identificou como função central da poesia tomar os pensamentos que sentimos incompletos e lhes dar expressão clara: aquilo que ‘era pensado com frequência, mas nunca tão bem expressado’. Em outras palavras, uma parte esquiva e fugidia do nosso pensamento, da nossa experiência, é pega, editada e devolvida a nós melhor do que era antes, de forma que enfim sentimos que nos conhecemos com mais nitidez.” Pag 44
Sendo assim, a arte atuaria como: 
“Um guia para o autoconhecimento: A arte pode nos ajudar a identificar o que é central para nós, mas difícil de expressar em palavras. Boa parte do que é humano não está prontamente acessível na linguagem. Podemos segurar um objeto artístico e dizer, de maneira confusa mas significativa: ‘Isso sou eu’.” Pag 65
Ao longo do livro, fica clara a perspectiva otimista pelo qual os autores visualizam e abordam os temas e manifestações artísticas (ao meu ver, até um pouco excessiva. Por outro lado, eu também acredito que uma boa dose de otimismo é bem-vinda nos dias atuais). Ainda assim, eles não deixam de mencionar os momentos em que as expressões artísticas podem nos causar estranheza, desconforto e incômodo: 
“O envolvimento com a arte é útil porque nos apresenta exemplos vigorosos do tipo de material estranho que aciona as defesas de tédio e medo e nos concede tempo e privacidade para aprendermos a lidar de forma mais estratégica com isso. Um primeiro e importante passo para superar a posição defensiva diante da arte é nos tornarmos mais receptivos à estranheza que sentimos em certos contextos. Não precisamos nos odiar por causa disso: muitas obras de arte, afinal, resultam de concepções de mundo radicalmente distintas da nossa.” Pag 53
Sem mencionar diretamente o conceito de sombra, os autores refletem sobre a importância de nos expormos àquilo que nos é estranho para que possamos nos (re)conhecer e assim crescer como seres humanos: 
“A arte que começa nos parecendo estranha é valiosa porque nos apresenta ideias e atitudes que dificilmente encontraríamos em nosso ambiente costumeiro e que nos são necessárias para termos pleno envolvimento com nossa humanidade... elas continuarão adormecidas até serem atiçadas, espicaçadas e provocadas de modo útil pelo mundo... É quando encontramos pontos de contato com o desconhecido que somos capazes de crescer.” pag 58
Este livro nos presenteia com inúmeras reflexões relativas ao campo da arte aplicada à vida cotidiana que em próximos textos pretendo mencionar e reitero o convite desta leitura aos arteterapeutas e estudantes. Por hoje, encerro com um dos benefícios terapêuticos à contemplação de obras de arte, desenvolvidos pelos autores, o sensibilizar. Pois a arte é:
“Um instrumento de recuperação da sensibilidade: A arte remove nossa casca e nos salva do habitual descaso pelo que está ao redor. Recuperamos a sensibilidade; olhamos o velho de novas maneiras.” pag 65 

Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referência Bibliográfica: 
BOTTON, Alain de & ARMSTRONG, John. Arte como terapia. Editora Intrínseca, Rio de Janeiro, 2014. 
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Sobre a autora: Eliana Moraes


Arteterapeuta e Psicóloga. 
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Autora do livro "Pensando a Arteterapia" CLIQUE AQUI

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E ARTETERAPIA: RESSIGNIFICANDO OS SABOTADORES ATRAVÉS DOS MANDALAS

Por Juliana Mello – RJ
entrelinhas.artepsi@gmail.com

A terapia Cognitivo-Comportamental – TCC - enfatiza a ideia de que o modo como pensamos afeta nossas emoções e comportamentos. Pensamento, emoção e comportamento estão diretamente ligados, quando um não “funciona” bem, os outros também ficam disfuncionais. Nossas interpretações – pensamentos - sobre as situações têm forte influência na forma como percebemos a nós mesmos, o outro e nosso futuro.

Porém, em muitos casos, é difícil identificar o que estamos pensando ou sentindo. As palavras podem nos faltar, ou não parecerem suficientes para descrever o que nos incomoda, o que nos gera angústia. A Arteterapia nos ajuda a trazer à tona esses pensamentos e sentimentos, de forma lúdica e natural, os conteúdos que não estão conscientes. Nesta metodologia, o paciente pode experimentar-se, facilitando o desenvolvimento e as transformações internas.

Neste caso, trabalhamos a reestruturação do nosso comportamento, e assim, teremos como consequência a flexibilização dos pensamentos e emoções mais agradáveis. A ideia não é mudar o pensamento e deixar de sentir emoções desagradáveis, mas pensarmos em possibilidades funcionais, não excluindo a realidade, mesmo que esta seja desconfortável.

Os sabotadores são nossas reações disfuncionais, que foram desenvolvidos na infância. Porém, nesta fase da vida, nosso cérebro ainda se encontra em sua estrutura mais primitiva e os sabotadores eram necessários para nossa sobrevivência emocional. Ao nos desenvolvermos, eles vão deixando de ser necessários, mas com o “uso” durante muito tempo, eles passam a ser hábitos automáticos no nosso funcionamento e percepção do mundo. Quando eles não são atendidos, é acionado o Crítico Patológico, uma vozinha que fica em nossos pensamentos nos lembrando sempre de coisas desagradáveis e disfuncionais. Esses comportamentos estão quase ou totalmente fora do domínio da Consciência. Para combater o Crítico, precisamos acionar o Sábio, que tem uma estrutura mais criativa e percebe nas situações possibilidades diferentes de resoluções, enquanto o Crítico tem visão focal somente para o negativo. Todos nós possuímos o Crítico Patológico, que vem reforçado por, pelo menos, um ou dois sabotadores (existem 9).

Em meu trabalho clínico, o trabalho com Mandalas tem-se mostrado eficaz no desenvolvimento do Sábio, através das escolhas das formas, das cores, na produção e desenvolvimento de suas próprias Mandalas. Além de trabalharmos esse comportamento, o trabalho com Mandalas trazem à tona, isto é, a Consciência, pensamentos e situações que estão “esquecidas” pelo paciente e que geram sofrimento.

Caso Clínico

Paciente J, 32 anos, casada, trabalha na área de saúde, chegou ao meu consultório em março/18, com queixa de desorganização de suas tarefas diárias e com questões de emagrecimento e falta de continuidade em dietas e tempo para praticar atividades físicas. Não parecia sentir-se confortável para o diálogo, e seu discurso não parecia condizer com a queixa inicial, porém a mesma não faltava a nenhuma sessão. Após aplicar o teste dos sabotadores, o resultado passou a fazer sentido para a paciente e como, estávamos trabalhando comportamento, começamos com o uso dos Mandalas. Seus sabotadores foram: Insistente, Prestativo, Hipervigilante e Controlador. Lembrando que os sabotadores são rígidos e com visão focal. 




Iniciei o processo entregando possibilidades de Mandalas para uma ser escolhida. Nesta etapa já trabalhamos a ampliação da visão, a escolha da melhor possibilidade, o olhar para o interno, a descrição de si através das cores, os sentimentos, o fazer criativo. Neste primeiro momento foi possível perceber a diferença dentro do setting do comportamento da paciente, que pareceu mais confortável no ambiente e mais comunicativa.  

Posteriormente, o Mandala é feito no papel vegetal, acrescentando ou eliminando elementos do Mandala inicial e a realização de sua própria Mandala. 


         

Nas etapas seguintes são acrescentados Mandalas à serem coloridas com lápis de cor aquarelável, que foram trabalhados sentimentos como: frustração e perfeccionismo (muito forte) e ansiedade. 

Em muitas sessões, a paciente expressava que não tinha nada a ser falado, ao fazer as atividades, aconteciam insights e a mesma falava sobre acontecimentos agradáveis e, principalmente, desagradáveis, sendo possível realizar a reestruturação cognitiva dos mesmos. 





As próximas etapas poderão ser realizadas com pintura e colagem, porém a sequência é flexível, acontecendo de acordo com a demanda apresentada.

Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!



Bibliografia:


ROSNER, S.; HERMES, P. O ciclo da autossabotagem: por que repetimos atitudes que destroem nossos relacionamentos e nos fazem sofrer. 16ª ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2018.

Workshop “O uso das mandalas na prática da arteterapia” – Eliana Moraes 
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Sobre a autora: Juliana Mello


Juliana Mello
Psicóloga, Arteterapeuta e Coach
Atendimento clínico  individual e grupo om criança, adolescente, adulto e idoso.
Abordagem em Terapia Cognitivo- Comportamental e Arteterapia
Palestras e Workshop motivacionais.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

GESTALT E ARTE: AWARENESS



Por Valéria Diniz - RJ
valdiniz.td@gmail.com
Instagram @valeriadiniz50

Awareness é uma palavra de origem inglesa, proveniente de “aware” (estado de ser consciente), significando “consciência”.
Um conceito central em Gestalt-Terapia é o conceito de awareness, que se caracteriza pela consciência de si e a consciência perceptiva; é a tomada de consciência global no momento presente, a atenção ao conjunto da percepção pessoal, corporal e emocional, interior e ambiental (Ginger, 1995).
 A Gestalt-terapia acredita em mudanças naturais e espontâneas por meio do contato e da awareness que abrange aceitação, escolha e responsabilidade. Essas atitudes levam a pessoa ao crescimento. (Yontef ,1998)


Escolhi iniciar esse texto com as referências acima para explicar o conceito de awareness. Esse pilar central da Gestalt Terapia não pode ser definido apenas como ter consciência, no sentido estritamente racional. É um processo “contínuo” que envolve emoção, sensação, percepção de si e do meio. 
Para simplificar o entendimento, gosto de dizer que é um “dar-se conta com a sua totalidade: sensação, percepção, emoção, raciocínio, corpo.”
“Eu sei que estou aqui escrevendo um texto”-  Isso é Consciência
“Eu estou aqui escrevendo um texto,com um leve desconforto nos olhos e na coluna. Uma dificuldade em traduzir em palavras o significado de awareness. Percebendo que tudo flui mais leve quando escrevo referenciada em meus sentimentos e que posso me livrar desse desconforto se voltar ao meu estilo de escrita original. O que passo a fazer em seguida.” – Isso é Awareness.
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Um fragmento da História de Mary:
Ela entra no consultório e relata : “Tá tudo do mesmo jeito, não consigo fazer nada do que eu quero, nada do que desejo fazer. Sei que quero sair, ter vida social, passear com amigos,ir ao cinema... Mas não consigo fazer. Não faço porque tenho medo dos julgamentos ,do que vão pensar”.  Esse é um relato consciente de seus desejos e de seus impedimentos. Apenas um relato.
Como terapeuta, minha tarefa é convidar a ir mais além. Buscar os elementos que facilitam a awareness. Minha proposta é que ela faça contato com o que sente e reproduza em forma de cores.
Marrom para angústia e vermelho para raiva.
“Vejo que está tudo misturado”.  ( Vê nas cores e dentro de si)
“Esse marrom da angústia... angústia é quando não expresso minha raiva. Fica tudo preso aqui dentro de mim. Eu engulo e fica apertado no peito.”  (Percebe seu corpo e nomeia as emoções.)
Um choro contido. Escolho não interferir. Aguardo porque sei o poder que as cores têm quando se está em contato com elas.
Essa raiva... essa raiva... Me lembro de uma vez quando eu era bem pequena e minha mãe achou que era melhor eu repetir o ano... nem sei se isso tem a ver.. mas me lembrei agora”. (Traz uma gestalt inacabada, uma situação que precisa ser fechada)
Mais choro genuíno e potente.
“Eu fiquei com muita raiva porque ela não tinha esse direito... todos os meus amiguinhos ficaram rindo de mim... só eu ia ficar para trás... era muito pequena para dizer algo, eu engoli. E fiquei com muita vergonha dos outros... acho que tenho essa vergonha ainda hoje”.
Agora sim temos uma awareness. Uma compreensão mais inteira de si mesma. E uma possibilidade de atualização. Consciente dos processos e sentimentos que emergiram através da AÇÃO de pintar, escolher as cores, selecionar pincéis, material bloqueado por anos surge com potência numa tela e podem finalmente ser compreendidos e ressignificados. 

Fragmento da história de Lucy:

“Tô bem ansiosa... tudo me deixa nervosa... difícil esse mundo... cansada de gente... e ainda dizem que eu é que sou difícil!” 
- Como é sua ansiedade?
- Ansiedade é ansiedade ué... você é a doutora aqui...
- Não sei como é a sua ansiedade Lucy, mas posso sentir a sua agressividade.
Silêncio...
Convido a fechar os olhos e imaginar quais as cores da sua ansiedade e agressividade. Gosto de trabalhar com cores pela facilidade imaginativa, pela fluidez no contato com emoções e mais ainda, pela potência que carregam em si mesmas.
O amarelo é escolhido. Apenas uma cor.
“Queria que as crianças fossem mais organizadas... chego do trabalho e ainda tenho que arrumar tudo sozinha... sabe que esse amarelo me dá um nervoso só de olhar?!... Sei lá... esse amarelo parece eu... Acho que devo ser assim né?” 
O contato com a cor trouxe uma nova percepção a respeito de si mesma. A projeção de sua ansiedade sobre terceiros é assumida como sua responsabilidade.
“Sou esse amarelo que deixa todo mundo nervoso... deixa meus filhos e meu marido nervosos... não quero ser assim... tadinha das crianças.”
Com sua nova percepção pode ampliar sua awareness a respeito de seu modo de funcionar. E poderá aprender formas mais saudáveis de existir.
Ahhh... e a cor da agressividade? Trabalhamos em sessão posterior.
Ela escolheu um azul. Azul para agressividade? Surpresa minha também. Mas, como eu sei a potência das cores ela explica:
“...é porque fico aborrecida com você... igual eu faço com as crianças... eu achava que ia chegar aqui e você ia me entender... me dar razão... e depois daquela pintura amarela o ‘eu amarelo’, eu entendi que o problema é esse: querer ser a dona da razão...(risos) então a minha agressividade hoje é azul porque estou em paz.”
Ela adquiriu uma nova forma de compreensão e ainda está experimentando novos jeitos de funcionar com mais leveza, menos cobrança e mais paz.


Para finalizar os exemplos, escolhi uma criança de 9 anos.
Fragmento da História de Lily:
Minha proposta é deixar que ela escolha os materiais livremente. É uma forma de estimular sua criatividade e aceitar suas escolhas, algo pertinente a sua história pessoal. Uma criança que, como tantas outras, fica presa em jogos virtuais e está com sobrepeso.
Carimbos figurativos foram escolhidos. E posteriormente propus que ela mesma confeccionasse seus próprios carimbos esculpindo em isopor.¹
- Como sou burra... eu não prestei atenção que ia ficar ao contrário!” (Exigência e julgamento consigo mesma)
- Eu também não. (Algumas atividades fazemos juntas).
- Mas não dava para saber... você não tinha feito antes!”. (Compreensão e aceitação comigo)
- E você também não.
- Acho que vivo fazendo isso... tô sempre  desculpando meu irmãozinho porque ele é o caçula e eu a mais velha... E minha mãe briga e sempre fala: Lily, ele é pequeno... você já é grande.... eu ainda sou pequena... só tenho 9 anos...”
- E também pode errar.
- A gente pode errar sempre... até quando tá grande... até você errou... e minha mãe também erra... ninguém faz tudo sempre certo...

A visualização de um “erro” numa atividade potencializou seus conflitos internos. Uma awareness surge e sua exigência “introjetada” pode ser percebida e reconfigurada. De um  modo saudável e simples inerente ao processo de desenvolvimento infantil. 
Hora de finalizar. Foi difícil escolher quais exemplos usar no texto. Então fiquei com aqueles que livremente surgiram. 
As técnicas expressivas são potentes “facilitadoras” do processo de awareness. Técnicas e materiais, por si só ajudam no difícil  e envolvente caminho de conhecer a si próprio. E escolhi fazer esse caminho com uma clínica mais leve e criativa, como pode ser na vida, para mim e meus clientes.


Agradecimentos as pessoas que carinhosamente me convidaram a fazer parte de suas histórias e que se permitiram como exemplos para esse texto, sem os quais a construção seria teórica e rasa.


¹ Técnica que aprendi na Oficina de Monotipia: Gravando emoções com Liane Esteves (arteterapeuta no Rio de Janeiro)
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Sobre a autora: Valéria Diniz



Psicóloga 

Gestalt terapeuta

Mestra em Saúde Mental
Atendimento individual e casal .
Oficinas de Técnicas Expressivas em Gestalt 

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

SÉRIE CORES: COR/LUZ = EMOÇÃO/ENERGIA PSÍQUICA


Por Eliana Moraes (MG) RJ
naopalavra@gmail.com
Instagram @naopalavra


Fazer uso das cores em produções é facilitar a passagem da mensagem feita pelo canal do inconsciente à consciência, dos afetos reprimidos, esquecidos ou ainda imaturos para o alcance da mesma.” (URRUTIGARAY, 2011, pag 212)
No último mês compartilhei no blog Não Palavra fragmentos de minha pesquisa e estudo sobre as cores e suas aplicabilidades no setting arteterapêutico. Até aqui trouxe referências a partir das teorias da arte, Wassily Kandinsky CLIQUE AQUI e Fayga Ostrower CLIQUE AQUI. Hoje teremos como referência teórica a Arteterapia propriamente dita, com o livro "Arteterapia: A transformação pessoal pelas imagens" de Maria Cristina Urrutigaray que no capítulo 4 aborda o "Emprego da Cor na Arteterapia". 
Conforme dito anteriormente, meu percurso com as cores iniciou-se com a busca de estímulos de fácil acesso, compreensão e potencial projetivo, visando a pluralidade de pacientes/clientes recebidos pela Arteterapia em suas diversas modalidades e campos de trabalho, contemplando principalmente aqueles que chamo de “pacientes leigos”: que não possuem qualquer histórico com a Arteterapia, técnicas expressivas e materiais. Segundo Maria Cristina, fazer uso das cores é facilitar a passagem de conteúdos inconscientes para a consciência. Creio que essa facilidade advém da “simplicidade” do estímulo, e na mesma proporção da simplicidade se faz o imenso potencial projetivo e simbólico, basta sabermos investir neste diálogo e projeção.
Em seu texto, Maria Cristina nos apresenta uma relação muito interessante entre a cor e a luz, a emoção e a energia psíquica: 
“Assim como as cores são uma variedade de ondulações da luz e provocam a sensação cromática, as emoções, do mesmo modo, também variam de acordo com a cor ou com a intensidade da energia psíquica. Poderíamos, então, por analogia, atribuir que a variação da intensidade ondulatória da luz assemelha-se ao movimento da energia psíquica e, portanto, poderíamos associar o elemento cor com a emoção de acordo com a seguinte comparação: COR/LUZ = EMOÇÃO/ENERGIA PSÍQUICA” (URRUTIGARAY, 2011, pag 121)
“Sabemos que onde há cor, há uma onda eletromagnética. Assim, do mesmo modo, onde há emoção, há energia psíquica em ativação. Desta forma, podemos vincular à presença de cores nas expressões criativas como representação de nossos afetos. (URRUTIGARAY, 2011, 127)  
Neste contexto, entendemos que o uso de cores como estímulos pode ser acionado pelo arteterapeuta, quando entende que é necessário trabalhar-se com emoções. Seja para expressar aquelas já se encontram manifestas no sujeito e necessitam de escuta e elaboração ou aquelas que se mostram latentes, adormecidas, mas buscam um caminho para a expressão e consciência:
“As cores possuem fortes propriedades expressivas e estão relacionadas aos estados emocionais... As cores por meio das emoções, são despertadas pelas estimulações sensoriais ou pela recordação de algum fato, ou de algum tipo de experiência, seja ela boa ou má, que ficou armazenada durante um tempo.” (URRUTIGARAY, 2011, pag 132) 
A prática mostra o quão interessante é quando o paciente/cliente de Arteterapia é estimulado a ter um encontro íntimo com cada cor, percebendo qual é a vibração e o impacto causado de forma singular e pessoal. Desta forma ele poderá inclusive desconstruir algumas falas do senso comum como “verde é esperança”, “preto é luto”... O mergulho e a experiência pessoal com cada cor promove a criação de um (outro) vocabulário próprio e individual para as expressões imagéticas que estão a caminho no processo arteterapêutico: 
“A intensidade da cor, de acordo com critérios de tonalidade, claridade e saturação imprime a vibração ou a frequência natural dos nossos estados psíquicos....
Por meio dessa percepção visual, conhecemos e identificamos  a cor, mas o que visualizamos como sendo cor não é tudo sobre ela, pois a sensação por ela produzida no nosso corpo é sentida em nível psicológico como sentimento, seja de amor, ódio, calor, repulsa, prazer ou desprazer.” (URRUTIGARAY, 2011, 127)  
Para esta experiência é necessário um “demorar-se” em cada cor. É necessário um tempo de mergulho, percepção, escuta e elaboração daquela vibração. Um caminho interessante é proporcionar ao paciente/cliente de Arteterapia a oportunidade de produzir as cores, ao invés de recebe-las prontas em potes de tintas. Pois segundo Maria Cristina:

“... o cliente ao fabricar cores pode ir se exercitando no controle e na adequação de sua emoção, pois, assim como dar mais luz à cor significa adicionar mais branco, para diminuir a intensidade da luminosidade, basta colocar mais preto.” (URRUTIGARAY, 2011, pag 131) 
“Poesias e Cores”: Aplicabilidades para a Arteterapia



“então o amor é verde...
ou é o elo do mais puro acaso, que só é do azul com amarelo para rimar com elo...
ou o elo da liberdade azul e da riqueza amarela...

enfim, não importa o que seja, importa que se trata de um haikai, de um verso que começa, verso que parte (definição de hokku e, posteriormente, haikai). E parte para terminar na nossa boca, seja como for, basta que ele apenas parta para chegar em nós... a mim ele chegou.”
 

Paulo Leminski


No ciclo “Poesias e Cores”, percurso experienciado por grupos arteterapêuticos que coordeno, em um dado momento tomamos como referência as palavras de Maria Cristina: "o cliente ao fabricar cores pode ir se exercitando...". Foi proposto que a cada dia os participantes criassem com as próprias mãos as cores secundárias. Ao dialogarmos as cores primárias, amarelo e azul, fomos presenteados pela poesia de Paulo Leminsky, que com o gracejo de um haikai, registrou sua experiência ao fazer o elo entre estas duas cores e dali nascer o verde que lhe despertou o amor. 


A partir de uma proposta aparentemente tão simples, quanta profundidade podemos experimentar e agir sobre: a partir das polaridades cromáticas (e da vida) fazer nascer um terceiro, a partir de uma mistura. A disponibilidade em fazer elos entre partes que parecem não dialogar, mas ao se encontrarem nasce um novo. O investimento de energia psíquica para o criar e dar forma à estas cores e comtemplar a beleza de sua integração. 

Para Leminsky, “o amor é verde” pois nasce do elo entre o azul e o amarelo.
E para você? 

Por hora, concluo esta série sobre cores, ciente que este caminho continua. Tanto teoricamente, pois outras referências ainda pretendo buscar, quanto em experiência, pois a prática sempre nos surpreende. A motivação que mantém a chama aquecida está na constatação do quão potente é o mergulho nas cores em vivências arteterapêuticas. 


 Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referências Bibliográficas: 
URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: A transformação pessoal pelas imagens. Editora Wak, RJ. 2011. 
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Sobre a autora: Eliana Moraes


Arteterapeuta e Psicóloga. 


Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte. 


Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".


Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 


Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Autora do livro "Pensando a Arteterapia" CLIQUE AQUI