segunda-feira, 29 de junho de 2015

AQUARELA, GEOMETRIA E ARTETERAPIA

Flávia Hargreaves

Nas palavras da artista e professora Lourdes Barreto, a aquarela
“[...] essa matéria fluida colorida deve ser dominada,
controlada, seguida, sem espaço para indecisões.”

Está claro que a qualidade de fluidez deste material não é colocada em questão, mas a afirmação acima deve saltar aos olhos dos arteterapeutas. Percebo uma contradição entre o olhar do artista e o do arteterapeuta, que parte desta fluidez para propor justamente o “deixar fluir”, direcionando as técnicas com tintas diluídas, aguadas para pessoas enrijecidas, colocando-as em contato com o fato de que não é possível manter a vida, as emoções sob controle, etc.

O que podemos aprender trazendo esta perspectiva, esta mudança de atitude diante da aquarela para a nossa pratica em Arteterapia? Ao invés de usá-la com o intuito de “soltar”, poderíamos lançar-nos no desafio de “controlar” o que tende a “fugir ao controle”, buscando soluções técnicas e criativas para estas situações?

“Não há espaço para indecisões” remete à necessidade que em certos momentos da vida somos chamados a fazer escolhas sem hesitação, chamar a função pensamento para conter afetos fora de controle. Diante de uma matéria que insiste em expandir, escorrer, vazar, o artista/cliente precisa buscar meios de conter os “excessos” e os “transbordamentos”.

Decidi pessoalmente experimentar este modo de pintar a aquarela trazendo a geometria para traçar as linhas de base, trazendo a regra, a estrutura como pano de fundo para a aquarela. Aquarelas geométricas já foram muito exploradas em arte, como podemos observar na obra de Paul Klee. Mas voltando à Arteterapia, minha experimentação parte da contradição inicial de um material fluido, que escapa, e da geometria que remete ao controle e à permanência. Mergulhei nesta tarefa de trabalhar a aquarela com as limitações de contornos retos e circulares.

A geometria traçava um ponto de partida, com réguas, esquadros e compasso. Eles me deram segurança para iniciar, mas não fui inflexível no respeito às linhas traçadas, nem tampouco as abandonei ou as perdi de vista. Fui maleável, permitindo algum transbordamento aqui e ali. Depois de alguns ensaios, liberei as mãos da régua e do compasso e segui construindo minhas formas retas e circulares à mão “livre”. As palavras são sempre sugestivas...

Esta experiência, me fez retomar um tema que me é muito caro, o uso dos materiais em Arteterapia. Acredito ser fundamental que o arteterapeuta se experimente no diálogo com os materiais, sem preconceitos, explorando suas técnicas e abordagens tradicionais e pesquisando e experimentando novas possibilidades.  O desafio passou a ser ficar no material, não pular de um para o outro, de uma técnica para outra. Ficar no material, insistir, para dar espaço para que o material mostre suas contradições.

O mesmo material poderá servir de meio para caminhos opostos. Ao perceber o transbordamento de suas emoções, o descontrole, que se desdobra em situações que trazem sofrimento, a utilização de uma técnica aguada em Arteterapia poderá tornar visível esta situação. E o mesmo material poderá ser trabalhado no sentido de transformar esta relação com as emoções, organizando, dando um sentido, um continente, usando a aquarela a partir da perspectiva de conter os excessos, dar uma direção, etc. E isto será possível tecnicamente compreendendo a dinâmica das áreas secas e úmidas. Não precisamos mudar o material, mas insistir nele, afinal estamos diante do mesmo indivíduo, com o mesmo material.

O desafio de “ficar no material” foi proposto aos participantes do Grupo de Estudos em Arteterapia, que coordeno com Maria Cristina de Resende, e no curso “Conhecendo os materiais e aprendendo a usá-los”, ainda em andamento.

No dia 6 de julho de 2015, estarei compartilhando um pouco desta experiência com a geometria, no contexto da contribuição da Arte Abstrata na pratica da Arteterapia, no ciclo de palesras Não-Palavra: Pensando a Arteterapia.

Para os interessados na articulação das Artes Visuais e da Psicilogia na Arteterapia, o Grupo de Estudos: o encontro da Arte e da Psicologia na pratica da Arteterapia estará iniciando um novo módulo dia 13 de julho.

AGENDA
Ciclo de palestras Não-Palavra: Pensando a Arteterapia
Dia 6 de julho| SEG | 18h às 20h
“Artetrapia” e “Abstração na Arte” com Flávia Hargreaves
Investimento: R$ 15,00 por palestra     Local: Botafogo.
VAGAS LIMITADAS. INSCRIÇÕES ANTECIPADAS  SOMENTE POR EMAIL :  naopalavra@gmail.com

Grupo de Estudos: O Encontro da Arte e da Psicologia na prática da Arteterapia
com Flávia Hargreaves e Maria Cristina de Resende
SEG | 18h às 20h
2 encontros por mês - Início dia 13 de julho
Investimento: R$ 150,00 por mês    Local: Botafogo.
VAGAS LIMITADAS. INSCRIÇÕES ANTECIPADAS  SOMENTE POR EMAIL :  naopalavra@gmail.com

domingo, 21 de junho de 2015

TEORIA, POESIA E CLÍNICA – Diálogos em Arteterapia


Por Eliana Moraes

E agora, José?
... A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?...
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,...
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?...
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Carlos Drummond de Andrade




            Ao ler o texto “O ato criativo e a imagem” de Maria Cristina Resende (texto anterior deste blog) minhas reflexões foram instigadas por este ensaio de construção teórica para a arteterapia. Senti-me motivada a escrever sobre algumas articulações que já passeavam por meus pensamentos, em um diálogo entre poesia e clínica.

            Há algum tempo a leitura da poesia vem me tocado. Tenho me debruçado sobre ela e articulado as palavras dos poetas com a clínica, pois ao meu ver, poetas são por definição artistas – seres sensíveis às questões mais profundas da alma – que possuem alguma intimidade singular com as palavras, nos aproximando um pouco mais daquilo que experimentamos como “não palavras”.

A poesia de Drummond me impacta quando retrata aquele momento de crise fatalmente conhecida por nós: “E agora?”. Drummond retrata este momento como algo tão humano, que escolhe para o personagem o nome José, um dos nomes mais comuns de nossa cultura, nos convidando a pensar no José que há em cada um de nós e que sua crise nos pertence.

            Em geral, clientes/pacientes que procuram por um terapeuta se encontram em crise, das mais variadas ordens e potências, e após relatarem sua queixa (verbalmente ou não), se perguntam sob o olhar do terapeuta: “E agora?”. Nas  palavras de Maria Cristina:

É a crise, que vem do grego Krísis, cujo significado é separação, avaliação, e no latim era usado na medicina antiga se referindo ao momento decisivo da doença, onde haveria um desfecho, a cura ou a morte. É o turning point, o momento em que se percebe que é preciso acontecer algo, onde “cada decisão que se toma representa assim um ponto de partida, num processo de transformação que está sempre recriando o impulso que o criou”, Fayga completa dizendo que “a cada decisão algo é deixado para trás e a possibilidade de algo novo permanece latente, à espera de sua objetivação” (OSTROWER, 2014. p. 27).

Neste contexto, no processo terapêutico a crise se apresenta como um momento crucial em que há um convite para uma decisão (“E agora?”) e uma bifurcação: um movimento para o adoecimento ou um movimento para a saúde.

Na poesia, ao relatar tudo que acabou, tudo que passou, Drummond retrata com maestria o impacto avassalador da sensação de vazio causada pela crise. Este é o momento do caos, que muitos clientes/pacientes tomados por sua potência, ainda não conseguem construir vocabulário para o descrever (há como descrever?). Maria Cristina:

Nesse intervalo, quase imperceptível, habita o caos, cuja etimologia vem do grego Khaos, o abismo, o vasto, ou seja, é o nada que antecede o tudo. É o momento onde mais nada existe, onde nada cabe nos lugares conhecidos, onde nada mais é conhecido.

Mas dois trechos que muito me chamaram a atenção quando me debrucei sobre este poema, versos que pouco são citados quando fazemos referência ao clássico “E agora José?” são:
Mas você não morre,
você é duro, José!
...
você marcha, José!
José, para onde?
Para a clínica da arteterapia este é justamente o ponto de tensão propício para a criação. O ato criativo se apresenta como o movimento para a saída do ponto zero, um movimento para a vida, que manifesta o desejo daquele sujeito em permanecer marchando. A escolha de cada material, de cada ação sobre ele manifestando-se em ato criativo, colocam o cliente/paciente no lugar de autor de sua obra. A beleza deste ritual se dá pelo fato de que ele se configura um ensaio para movimentos que este sujeito fará em sua vida. Ele marcha.
Para onde? Ao iniciar e manter sua marcha, somente aquele sujeito poderá reconhecer, nomear e se apoderar do destino de sua marcha, que não é solitária, pois para enfrentar este processo doloroso, contará com a confiança (transferência) da companhia de seu terapeuta.
Nossa prática como arteterapeutas nos mostra que a arteterapia atua como força, como potência, e é neste contexto que corroboro com o pensamento de Maria Cristina:
Criar, na Arteterapia, é mais que fazer uma obra que respeite alguma regra estética; criar é dar vida às forças psíquicas que precisam ser olhadas e trabalhadas com muita atenção e uma escuta refinada, um olhar atento às curvas, retas, cores, texturas e formas dadas a elas.

Porque o ato criativo dentro do setting arteterapêutico é a manifestação da própria existência.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O ATO CRIATIVO E A IMAGEM

Por Maria Cristina Resende


Cena do filme Pollock, de Ed Harris.

Criar é basicamente formar. É poder dar uma forma a algo novo. [...] novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos.” Diz Fayga Ostrower em seu livro, Criatividade e Processos de Criação.

Criar é dar vida a alguma coisa que emerge de algum lugar em nós. Esse processo pode ser visto na nossa vida ao mudarmos de emprego, ao buscar soluções para nossas relações difíceis, para dar um jeito no carro quando ele quebra no meio do nada, quando estamos sem sentido em nossa vida e conseguimos um lampejo de uma direção. Criar é fazer algo para que possamos sair do conflito que vivemos, seja ele um pequeno conflito: qual a melhor rota pra fugir do engarrafamento? Ou grandes conflitos: o que fazer da minha vida?

Para nós, arteterapeutas, a criação aparece também nas obras produzidas no setting. São mais do que testemunhas ou cumplices de um processo de mudança, a obra é um pedaço do próprio processo. Falamos acima sobre os conflitos que antecedem a criação, Fayga nos afirma que em todo processo de criação há a tensão. É a crise, que vem do grego Krísis, cujo significado é separação, avaliação, e no latim era usado na medicina antiga se referindo ao momento decisivo da doença, onde haveria um desfecho, a cura ou a morte. É o turning point, o momento em que se percebe que é preciso acontecer algo, onde “cada decisão que se toma representa assim um ponto de partida, num processo de transformação que está sempre recriando o impulso que o criou”, Fayga completa dizendo que “a cada decisão algo é deixado para trás e a possibilidade de algo novo permanece latente, à espera de sua objetivação (OSTROWER, 2014. p. 27).

Nesse intervalo, quase imperceptível, habita o caos, cuja etimologia vem do grego Khaos, o abismo, o vasto, ou seja, é o nada que antecede o tudo. É o momento onde mais nada existe, onde nada cabe nos lugares conhecidos, onde nada mais é conhecido. É quando o artista está diante da tela em branco, o escultor da pedra amórfica, onde toda a virtualidade se apresenta em sua forma mais poderosa e completa. Os mitos de criação nos ajudam a compreender que nesse processo há fases onde a semente da criação passa por muitas batalhas até chegar à consciência
cada crise decisiva e cada rite de passage, o homem retorna ao inicio o drama do mundo. A operação é efetuada por duas vezes: (1) o regresso à totalidade primordial e (2) a repetição da cosmogonia, quer dizer a quebra da unidade primitiva. (ELIADE, p. 101)

Neste processo a obra atua como função transcendente, ou seja, como resultado da disparidade entre a consciência e o inconsciente (JUNG, 2011), que gera conflito. Essa função transcendente não é representacional, ela é o próprio processo coagulado na obra, por isso, a produção na Arteterapia atua como força, como potencia e não como descarga de libido, como Fayga diz
Compreendemos, na criação, que a ulterior finalidade de nosso fazer seja ampliar em nós a experiência da vitalidade. Criar não representa um relaxamento ou um esvaziamento pessoal, nem uma substituição imaginativa da realidade; criar representa uma intensificação do viver, um vivenciar-se no fazer; e, em vez de substituir a realidade, é a realidade; é uma realidade nova que adquire dimensões novas pelo fato de nos articularmos, em nós e perante nós mesmos, em níveis de consciência mais elevados e mais complexos. (Ostrower, 2014. p. 28)

A obra, portanto, é também, a encarnação dos daimones, forças psíquicas nem boas, nem más, contendo as possibilidades múltiplas da criação, que precisam do direcionamento da consciência para estar presentes no mundo objetivo do homem. E quando elas encontram essa direção é preciso retê-las, ficar na imagem, segurar o afeto e a emoção trazidos pela obra e trabalhar com eles, a fim de adquirir cada vez mais consciência do próprio processo, ou seja, consciência do agido e não do ato, como nos diz Argan (1998). Uma tomada de consciência capaz de promover as mudanças
A percepção de si mesmo dentro do agir é um aspecto relevante que distingue a criatividade humana. Movido por necessidades concretas sempre novas, o potencial criador do homem surge na história como um fator de realização e constante transformação. Ele afeta o mundo físico, a própria condição humana e os contextos culturais. Para tanto, a percepção consciente na ação humana se nos configura como premissa básica da criação... (Ostrower, 2014. p. 10)

Criar, na Arteterapia, é mais que fazer uma obra que respeite alguma regra estética; criar é dar vida às forças psíquicas que precisam ser olhadas e trabalhadas com muita atenção e uma escuta refinada, um olhar atento às curvas, retas, cores, texturas e formas dadas a elas.

Porque o ato criativo dentro do setting arteterapêutico é a manifestação da própria existência
[...] A arte, portanto, é a consciência de algo de que, de outra forma, não se teria consciência: não há dúvida de que ela amplia a experiência que o homem tem da realidade e lhe abre novas possibilidades de ação. E o que é conscientizado pela consciência que se realiza na operação artística? O fenômeno enquanto fenômeno. A consciência “racional” assume o fenômeno enquanto valor, mas no mesmo instante perde-o como fenômeno. A finalidade última de Kandinsky é levar o fenômeno enquanto tal à consciência, de fazê-lo ocorrer na consciência; como o fenômeno é existência, aquilo que se leva e se faz ocorrer na consciência é a própria existência. Esta é a função insubstituível da arte”. (ARGAN, 1998, p. 320).


Bibliografia
JUNG, C. G. A Natureza da Psique. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
HILLMAN, James. Ficções que Curam. Campinas, SP: Verus, 2010
ELIADE, Mircea. Origens – História e Sentido na Religião. Edição 70.
ARGAN, Giulio. Arte Moderna. Ed. Companhia das Letras. 1998


contato: naopalavra@gmail.com

segunda-feira, 1 de junho de 2015

RENÉ MAGRITTE EM ARTETERAPIA – Uma experiência pessoal e profissional (Parte I)

Por Eliana Moraes

No último dia 22 de maio estive no "I Congresso de Clínica Junguiana e Arteterapia" na Universidade Veiga de Almeida - RJ, apresentando o trabalho “O uso das imagens oníricas surrealistas na prática da Arteterapia”. E como protagonista deste trabalho, um de seus principais artistas: René Magritte. Aqueles que estão por perto sabem do meu apaixonamento e diálogo com as “imagens poéticas” deste artista e pelo impacto que causam. Hoje inicio aqui no blog uma série de textos comentando minha experiência pessoal e profissional com Magritte e estendo este convite aos que têm “olhos curiosos”.

Primeiramente, é interessante observarmos que as imagens oníricas surrealistas se apresentam como um potente estímulo projetivo na prática da arteterapia, pois, assim como os sonhos, impactam o expectador com a sensação de que são ao mesmo tempo familiares e desconhecidas, causando estranhamento:

[...] familiar em razão do estilo minuciosamente realista que permite ao espectador o reconhecimento dos objetos pintados; desconhecido, por causa da estranheza dos contextos em que eles aparecem, como num sonho [... ] (BRADLEY, 2004, p. 34)

René Magritte (Bélgica 1898-1967), foi um dos grandes artistas do Surrealismo. Entretanto, diz-se que não era um pintor comum, mas um pintor de ideias, um pintor de pensamentos visíveis:

Magritte vira subversivamente do avesso a percepção: os objetos que pinta são todos claramente reconhecíveis, provêm da esfera banal e quotidiana, contudo, logo que são pintados de uma forma bastante acadêmica... mudam, e tudo mergulha na incerteza. Magritte apresenta aqui as coisas com uma lógica poética [...]. (PAQUET, 2000, p 23)

O artista é conhecido por suas “imagens poéticas”, pois para compreendê-las, não é suficiente olhar para a obra, é preciso refletir sobre o que se vê, imaginá-los. Somente através de uma atitude meditativa o observador poderá acessar o sutil jogo de enigmas proposto pelo pintor, pois sua primeira preocupação é “revelar o que está escondido pelo que podemos ver”. (PAQUET, 2000, p. 55)

A obra de Magritte é constituída por imagens impactantes, desafiadoras, que inquietam o observador. Mas afetam, sobretudo, porque elas fazem eco às questões profundas que pertencem à quem as observa. Imagens que atuam como espelhos da alma de quem as vê. Este espelhamento proporciona ao apreciador a oportunidade de pensar:

[...] pintura para filósofos ou pelo menos para apreciadores do pensamento filosófico. Na arte de Magritte, o choque poético, o estímulo estético causado pelo quadro, não devem decididamente separar-se do amor pelo pensamento, um prazer incontido de reflexão [...]. " (PAQUET, 2000, p 21).

Em sua concepção “A arte de pintar exprime o invisível por meio do visível, pensamentos por meio de imagens.” (PAQUET, 2000, p 77). Neste contexto, percebemos que não raramente as questões terapêuticas, fontes de angústia relatadas verbalmente ou não pelo paciente, são traduzidas pelo artista em imagens. Imagens estas não literais, ricas em simbolismos, metáforas, paradoxos, características tão presentes e ao mesmo tempo tão desestabilizadoras da vida. Propor ao cliente/paciente de arteterapia um diálogo com grandes artistas, e neste contexto específico com Magritte e suas imagens provocativas, mostra-se uma experiência riquíssima e eficaz na prática da arteterapia.

O manejo das propostas a partir das imagens ficará a cargo do arteterapeuta e o contexto de seu trabalho – atendimento individual, ou grupo terapêutico; se proporá uma imagem a partir de um símbolo trazido pelo cliente/paciente contido em uma imagem do artista; ou uma vivência semi-estruturada. Enfim, a prática nos mostra que nos mais variados contextos, o uso das “imagens poéticas” de Magritte servirá como disparadoras de grandes reflexões e de subsídio para que o paciente se perceba, se pense, se conheça e se ressignifique.

Em breve, em um novo texto, continuarei compartilhando minha experiência pessoal e profissional com este artista verdadeiramente instigante.

 

Referências Bibliográficas:

BRADLEY, Fiona. Surrealismo: movimentos da Arte Moderna. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

PAQUET, Marcel. Magritte. Paris: Taschen, 2000.