terça-feira, 16 de setembro de 2014

PALESTRA: HISTÓRIA DA ARTE PARA QUÊ? – Um relato




Por Eliana Moraes e Flávia Hargreaves

No último dia dez de setembro Flávia Hargreaves e eu apresentamos palestra no “Clube da Arte” no espaço de arteterapia de Luciana Machado. Lá pudemos compartilhar um pouco da pesquisa que nós estamos desenvolvendo sobre a aplicabilidade da História da Arte na prática da arteterapia, nos últimos anos.

Primeiramente pudemos perceber como conceitos, expressões e definições na literatura da arte referentes aos mais variados períodos da história são altamente aplicáveis nos propósitos da arteterapia. Observamos que a arte desempenhou várias funções ao longo da história neste papel de mediadora entre o homem e o mundo. E nossa pesquisa e prática nos diz que experimentar os diversos “homens”, seus movimentos artísticos e estilos, atualizando-os no setting arteterapêutico, se mostra um excelente instrumento ao arteterapeuta ao promover como estímulo projetivo, reflexões, insights, resignificações e autoconhecimento.  

Em nosso relato, demos ênfase à Pré-História e Antiguidade Clássica: períodos estes que mais nos aprofundamos em pesquisa e produção de material até o momento. Ao entrarmos em contato com as imagens que guardamos em nossa imaginação sobre o homem pré-histórico, por exemplo, resgatamos o momento em que o homem se percebe no mundo e dá seus primeiros passos em direção à transformação e ao domínio da natureza, à civilização, à cultura e à arte. Em seguida, abordamos algumas possibilidades de aplicação destes conteúdos na nossa prática e conversamos sobre perfis de clientes que entendemos ser interessante o uso tanto destas reflexões teóricas como o uso das técnicas e materiais do período em questão.

Por fim, apresentamos as propostas dos dois módulos do curso “Arteterapia: História da Arte para quê?” que estamos oferecendo atualmente. (Maiores informações pelo email elianapsiarte@gmail.com)

Agradecemos o convite da Luciana Machado por esta rica oportunidade de troca e aos colegas que tão gentilmente aceitaram o convite de conhecer esta jornada que tanto tem nos movido e encantado!
 
 
 
 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O ENCONTRO COM A DIVERSIDADE


O texto de hoje foi escrito por Maria Cristina Resende, fruto de sua pesquisa inspirada no trabalho desenvolvido juntamente com Flávia Hargreaves: Ateliê Livre, em arteterapia. Recomendo este trabalho e a leitura do texto. Bem vinda Cris!


O objetivo desse ateliê livre é a promoção do encontro com diversos materiais e suas diferentes possibilidades de manejo. Pensamos que o processo de confronto com essa diversidade possibilita que a dinâmica de projeção aconteça, uma vez que a energia psíquica encontra diversas possibilidades de se ligar. Isso acontece sem a interferência inicial da fala, apenas o encontro com a diversidade e a apenas mínima orientação de seguir o que o desejo impele o individuo a fazer. Nesse encontro, espera-se que aconteça de fato um encontro entre a energia psíquica e a linguagem que o material oferece para sua expressão. A partir dele o diálogo entre o desejo e o material expressivo pode se estabelecer, com a expectativa do mínimo de atravessamento egóico, racional, apenas o desejo de algum lugar longínquo que ainda pode encontrar ali uma brecha para “falar” de diversas formas.

Percebemos, no entanto, que nos primeiros contatos há uma enorme contaminação do ego na escolha dos materiais, a partir da escolha daquele mais conhecido ou o mais confortável. No meio do seu processo criativo, o desejo de fazer esse ou aquele movimento, acrescentar esse ou aquele material pode promover um fluxo energético que leve a um afrouxamento do ego e então o desejo começa a vir de outros lugares desconhecidos. Há que se observar se esse “plus” é oriundo de um desejo livre ou se ainda é interferência do ego que busca uma estética estável e sem o mínimo de brechas.

Sendo assim, essa escolha dentro de um ateliê de arteterapia nos mostra que o processo de resistência se instala quando o indivíduo recusa o uso de um material “estranho”, desconhecido ou incômodo. Nesse momento podemos fazer duas observações, sendo a primeira sobre certa retenção do fluxo criativo do individuo quando este se nega a experimentação de um novo material, partindo do pressuposto que o indivíduo buscou livremente um espaço de expressão através de diversos materiais diferentes entre si. Logo, a evitação de confrontar certo material em certo momento do seu processo terapêutico aponta para algum conteúdo evocado, possivelmente ainda inconsciente, que desperta o processo de resistência do Ego. Isso nos leva a segunda observação a respeito da velocidade que o encontro com diversos materiais nos revela as brechas para questões difíceis e temidas de serem abordadas pelo indivíduo. Todavia, isso não significa que o facilitador ou o terapeuta devam apontar para esse caminho de imediato só porque ele pode “trazer a sombra” - meta de muitos terapeutas sedentos em iluminar a todo custo toda e qualquer questão de seu cliente - é preciso observar as dinâmicas da relação transferencial e da estrutura egoica a se abrir para esse diálogo.

A hipótese que surge desses apontamentos é: o bloqueio do processo criativo dentro de um ateliê arteterapêutico revela um processo de resistência? Será possível através do uso terapêutico dos materiais expressivos ir, no ritmo do processo de individuação do cliente, aumentando cada vez mais esse encontro (de fato) do individuo com sua multiplicidade? Com sua diversidade psíquica?