segunda-feira, 27 de agosto de 2018

LEMBRA QUE O SONO É SAGRADO: UM OLHAR PARA O RESGATE DA INOCÊNCIA


Suzane Guedes - RJ
olharparasi@gmail.com

            F. chega ao espaço terapêutico relatando diversas questões e sensações, entre elas, angústia, falta de ar, excesso de pensamentos e de preocupações, falta de tempo para si, sentindo-se perdido.
            Normalmente quando alguém chega até a mim para um acompanhamento terapêutico, seja pela via da psicologia ou da arteterapia, tenho sempre o cuidado de investigar sobre o estado de seu sono e sua alimentação.
            Se pudermos observar, muitas das questões difíceis que vivemos aparecem nos padrões de nossa forma de dormir e na qualidade de nosso sono.
            A música popular brasileira na voz de Beto Guedes já nos alertou sobre a importância da nossa capacidade de “sair de cena” para uma renovação para a vida. “Lembra que o sono é sagrado e alimenta de horizontes o tempo acordado de viver”.
            Sendo universal e acessível a todos, a música já faz seu papel de alerta para nossa saúde integral: não se esqueça, sono é sagrado.
            Tão sagrado que Clarissa Pinkola Estes dissertou sobre este estado que ela chamou de “sábia inocência”, pois considera o sono como um momento de retorno ao deslumbramento, doçura, onde há um refazer do ser no qual é possível o descarte das atitudes defensivas que normalmente carregamos na vida diária, no dia a dia, muitas vezes por sobrevivência.
            Observo que um  estado de ser de “sábia inocência” é também vivenciado no setting terapêutico. Costumo dizer aos meus clientes que fazer psicoterapia é um ato de coragem, é permitir-se desnudar a alma.
            Este aspecto tão valioso consentido pela psicoterapia e arteterapia em laços que envolvem vínculos e confiança, vem sendo tema de discussões no grupo de estudos “Teorias da Arte e Arteterapia” do Não Palavra. Nestes encontros singulares estamos pensando constantemente nosso lugar enquanto arteterapeutas e psicoterapeutas. E nesse pensar, intuir e agir, sempre nos encontramos com a sensibilidade e com a nossa missão de resgatá-la e cultivá-la em nós mesmos ao encontro do amparo e resgate do outro, assim como no caminho de despertá-lo para sua própria sensibilidade.
            Voltando à Pinkola, ela acrescenta que este estado de inocência do sono é um jeito de se aproximar da natureza da morte. Apesar de o termo inocente ser usado muitas vezes para indicar uma pessoa sem conhecimento, um simplório, a palavra inocente em sua origem, significa inocente de dano ou de lesão. E mais, em espanhol descreve uma pessoa que tenta não prejudicar o outro, mas que também é capaz de curar qualquer lesão ou dano causado a si mesmo. Lindo, não? Viva Clarissa!
            Acredito que a humanidade necessita cada vez mais de sonos restauradores, de desconstruções de armaduras humanas, e ainda como descreve a autora de Mulheres que correm com os lobos, de uma inocência alerta.
            Cada dia aparecem mais aplicativos de encontro, ferramentas eletrônicas, redes sociais num emaranhado virtual e cada vez menos encontros que tocam a alma como conversas inteiras, pois percebo as pessoas cada vez mais partidas. E partidas em si mesmas, mais angustiadas, correndo contra o tempo e através dele, mas estas mesmas pessoas surgem desejantes de um resgate do seu próprio universo, das suas raízes, de suas peculiaridades que muitas vezes foram engolidas pelas rotinas, tarefas e buscas diárias.
            Trabalho pelo resgate dos encontros, e primeiramente para os encontros com si mesmos, com a própria história, com as vivências pessoais mais singulares e profundas, afinal, este é um dos nossos papéis.



E em um desses encontros, propiciados pela arteterapia, propus a materialidade do velho, simples e sábio giz de cera. Estávamos trabalhando a infância, eu como terapeuta observando seus movimentos e a amplificação do inconsciente através do seu desenho, entendendo que este se deriva do mesmo lugar que surgem os sonhos. Do outro lado, um homem, iluminado com as possibilidades que aquela materialidade lhe trazia, me revela após a conclusão de sua produção: o encontro com o resgate de um lugar pessoal que traz a “atmosfera do céu”.
            Faço minha parte reverberando e acreditando nas possibilidades de cuidar do ser humano de uma forma integral, entendendo que somos mente e corpo, psique e soma, continuamente interligados. E venho sendo feliz, entendo que também ajudando a reconstruir pedaços inteiros de seres em construção.
            Com amor e gratidão, Suzane.
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com 
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!

Referências Bibliográficas:
ESTES, Clarissa P. Mulheres que correm com os lobos.  Mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.
FURTH, Gregg M. O mundo secreto dos desenhos. Um abordagem junguiana da cura pela arte. São Paulo: Paulus,  2004.
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Sobre a autora: Suzane Guedes



Suzane Guedes é Psicóloga (CES-JF), Especialista em Psicologia e Desenvolvimento Humano (UFJF) e Arteterapeuta (POMAR).

Colunista no blog O psicólogo Online, no qual escreve sobre Autoestima.


Atua nas cidades do Rio de Janeiro e Três Rios-RJ com atendimento clínico presencial a crianças, jovens, adultos e idosos; ministra grupos e oficinas terapêuticas. Também trabalha como orientação psicológica online.
Suzane acredita na psicoterapia e arteterapia como grande ferramenta de auxílio à transformação e desenvolvimento pessoal e social.
Facebook: https://www.facebook.com/olharparasi/
Atendimento online: http://www.atendimento.opsicologoonline.com.br/suzane-guedes
Instagram: @olharparasi

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

“O USO DA ESCULTURA NO TRATAMENTO DAS PSICOSES”: Uma Resenha


Por Laila Alves de Souza - Curitiba/ Rio de Janeiro 
lai_ajt@hotmail.com

Heinrich Karl Fierz elucidou em seu livro “Psiquiatria Junguiana” questões sobre a clínica psiquiátrica dentro de uma perspectiva da psicologia analítica de C.G. Jung. Inclusive, teve seu treinamento analítico e psicológico com o próprio. Fierz iluminou questões como o manejo e o olhar (assim como a escuta) dentro desse campo da psiquiatria. Em sua vasta experiência como médico e diretor de instituições psiquiátricas, ele dirigia sua metodologia para um campo mais psicoterápico do que a chamada “psiquiatria normal”. Esta, como bem conhecemos, inclina-se mais para a linha de pesquisa no campo da farmacologia, enquanto Fierz abria-se para outras esferas, indagando o conceito de diagnóstico, loucura, trabalho da equipe dentro de uma instituição entre outras coisas, todas elas sendo estudadas sob a ótica da psicologia junguiana.   

Nessa linha, vamos dar atenção a um capítulo especial sobre “o uso da escultura no tratamento das psicoses”. Fierz afirmou que a expressão artística é uma das formas de imaginação ativa; esta, por sua vez, consiste no diálogo do consciente com um conteúdo psíquico. Esse diálogo junto com a atividade física “(...)fornece um apoio positivo à estabilidade da situação psíquica.” (p. 433).  É como se, a partir da atividade criativa, fosse reforçado tal diálogo. 

No caso da psicose, ele observou que a expressão artística através da escultura seria de grande importância terapêutica. Por mais que a expressão escultural seja uma técnica mais difícil que o desenho e a pintura, o trabalho físico com as mãos pode expressar o conteúdo psíquico em um objeto sólido e tridimensional e este objeto oferece ao paciente um ponto de apoio. 

Além dessa dificuldade apontada por Fierz, ele colocou outras que merecem atenção na clínica da “terapia criativa”.  Uma das dificuldades é o problema da interpretação. De acordo com o autor: “Mesmo no caso das imagens, temos que tomar cuidado para não debilitar a linguagem da imaginação criativa e ativa com a linguagem interpretativa dos conceitos, privando a imagem de seu efeito terapêutico direto.”  (p. 434). A única coisa importante o é comentário do paciente e falar muito sobre o objeto significa matá-lo. Fierz, no entanto, reforça o apreciar o trabalho, e "com freqüência, o importante não é sequer o resultado, e sim o processo da execução." (p. 435)



O autor traz quatro aspectos, baseado em casos clínicos, sobre o lugar que a escultura pode ocupar na psicoterapia:

1)    O autodiagnóstico;

O autor descreveu que uma paciente, ao apresentar uma escultura, conseguiu representar sua condição psíquica. Através da imagem, a paciente conseguiu mostrar seu próprio diagnóstico. Ela e o terapeuta puderam observar em que pé estavam as coisas da sua situação psíquica e encaminhar o processo terapêutico. 

2)    A transferência;

Fierz contou que uma paciente deu a ele uma escultura de presente. Ao ampliar o significado daquela imagem, o presente revelou a situação da transferência, e, dessa forma, gerou material psicológico para ser trabalhado no processo terapêutico.

3)    O trabalho escultural como instrumento da terapia;

Em um relato de caso, Fierz apontou que um paciente conseguiu romper a barreira de sua doença através do fazer esculturas. O paciente não realizava nada de real em sua vida e nesse fazer, ou seja, na atividade pessoal e criativa, ele conseguiu realizar algo e assim se libertar da sua condição patológica. “Era apenas uma coisa pequena, uma coisa muito pequena, mas muito pouco é infinitamente mais do que nada.” (FIERZ, p. 439) 

4)    A escultura como expressão de um ponto crítico na psicoterapia;

Em um outro caso clínico, uma escultura também dada de presente a Fierz, teve um efeito terapêutico decisivo para o paciente. O dar a escultura para o terapeuta, para um outro, fez com que ele saísse do seu isolamento psíquico pessoal. E para essas situações em que uma escultura foi ofertada a um outro, afirmou Fierz: “Desse modo, não apenas ‘alguma coisa é feita’, mas ‘algo criativo’ é feito para uma outra pessoa. Uma ação modesta destinada a outra pessoa também protege contra o excesso e inflação(...)”. (p. 446-447)

Fierz, portanto, conclui em seu capítulo que a escultura na psicoterapia não precisa ser ensinada, mas existe a necessidade de um certo estímulo por parte do terapeuta. E que a criação de uma tem efeito direto sobre o processo do paciente, sendo que a escultura tem que ser compreendida e também apreciada, lembrando que a interpretação pode ser perigosa. 

(...) É fundamental que o terapeuta reconheça a importância e o significado da escultura no processo terapêutico. Esse conhecimento pode guiar suas reações e favorecer seu relacionamento com o paciente.” (p. 447) 

Através da leitura (e releituras) desse livro, pude encontrar, além de descrições dos conceitos da teoria da psicologia analítica, um olhar e uma escuta atenciosos às diversas manifestações que ocorrem dentro do campo clínico. Encanta-me esse olhar atencioso que Fierz tem pela alma, ainda mais pela alma considerada "doente" pelos olhos da psiquiatria clássica. Surpreende-me também que junto a esse olhar da alma (ou podemos dizer, uma alma que estuda outras) seja descrita de forma tão didática e com uma linguagem próxima. Recomendo, assim, a leitura dos outros capítulos que, junto com esse, mostra que a psiquiatria pode ter lentes mais humanas, ou poderíamos dizer, que tenta captar a dinâmica da alma nas suas diversas facetas.



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Referência Bibliográfica:

FIERZ, H. K. (1997) Psiquiatria Junguiana. São Paulo: Paulus.

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Sobre a Autora: Laila Alves de Souza



Psicóloga

Pós- graduada em psicologia clínica na abordagem da Psicologia Analítica.

Atendimentos clínicos pela abordagem da Psicologia Analítica no Rio de Janeiro.

Atualmente compõe a Equipe Não Palavra na gestão dos projetos. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

“O QUE É BOM PARA LIXO É BOM PARA POESIA”: MITO E POESIA, SUCATA E ARTETERAPIA



Por Eliana Moraes (MG) RJ
naopalavra@gmail.com
“Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para a poesia


O homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia
 ... 
As coisas que não levam a nada
têm grande importância

Cada coisa ordinária é um elemento de estima 

Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral


O que se encontra em ninho de joão-ferreira:
caco de vidro, grampos,
retratos de formatura,
servem demais para poesia

As coisas que não pretendem, como
por exemplo: pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia

Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia
 ... 
Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia
 ... 
Pessoas desimportantes
dão para poesia
qualquer pessoa ou escada
 ... 
O que é bom para o lixo é bom  para poesia
 ... 
As coisas jogadas fora
têm grande importância
- como um homem jogado fora”

Manoel de Barros em “Matéria de Poesia”

O processo de gestação deste texto se iniciou desde que li o texto “Série olhares sobre os mitos: hécate e a sucata” de Laila Alves de Souza CLIQUE AQUI publicado no blog em junho. Na ocasião, Laila nos apresentou a deusa Hécate, considerada sombria e infernal, sendo não ao acaso que ela tenha sido “esquecida do arcabouço dos mitos”. Suas palavras me atravessaram: 

“Hécate também está associada ao lixo, a podridão e aos restos.  De acordo com Hillman esta deusa ‘(...)torna sagrados os lixos da vida, de forma que tudo conta, tudo importa.’ (Hillman, p. 70). Dessa forma, honrar essa deusa significa iluminar nossos lixos psíquicos, aquilo que não prestou para nossa casa egóica, ou seja, que apresenta característica desagradável e incompatível.” (SOUZA, 2018)

Como tenho uma ligação muito forte com a poesia, automaticamente retomei o diálogo com um poeta muito querido, Manoel de Barros, que uma das características mais marcantes de sua escrita está em seu olhar singular para as coisas mais “desimportantes” da vida. 

Este diálogo vai mais além: enquanto  Hécate possui “atributos que são considerados fétidos e feios para os olhos da consciência” (SOUZA, 2018), Manoel é capaz de escrever um poema chamado “Obrar”:

“... Obrar não era construir casa ou fazer obra de arte.
Esse verbo tinha um dom diferente.
Obrar seria o mesmo que cacarar.

Sei que o verbo se aplica mais a passarinhos
Os passarinhos cacaram nas folhas nos postes nas pedras do rio nas casas.

Eu só obrei no pé da roseira da minha avó.
Mas ela não ralhou nem.
Ela disse que as roseiras estavam carecendo de esterco orgânico.
E que as obras trazem força e beleza às flores...
A vó então quis aproveitar o feito para ensinar que o cago não é uma coisa desprezível.

Eu tinha vontade de rir porque a vó contrariava os
ensinos do pai.
Minha avó, ela era transgressora...
Daí que também a vó me ensinou a não desprezar as coisas
desprezíveis
E nem os seres desprezados.

Manoel de Barros em “Obrar”

Do diálogo entre Hécate e Manoel de Barros me nutri para algumas práticas em Arteterapia, individuais ou grupais, que estimulassem o olhar para tudo aquilo que parecia desprezível. Aquilo que seria descartado, jogado fora. Enfim, uma proposta para olharmos o lixo – objetivo e subjetivo, literal e simbólico, material e psíquico. 

Sucata e(m) Poesia


“... Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes...
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.  
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto
Porque eu não sou da informática:

eu sou da invencionática.”

Manoel de Barros em “O apanhador de desperdícios”

Uma das características de nossa contemporaneidade se faz em um modelo materialista e consumista. Estamos acostumados aos “descartáveis” e todos os sentidos que este termo contém. Pensar desta forma acarreta uma série de desdobramentos, desde subjetivos, quando não investimos na “reutilização” e “reciclagem” de nossos conteúdos psíquicos mais profundos, quanto materiais, quando objetivamente entulhamos nosso planeta/casa de tudo o que entendemos que já cumpriu sua função em nossa vida.
O arteterapeuta, como um administrador de materiais, pode investir em uma conscientização e responsabilização daquilo que utiliza como recursos em seu setting arteterapêutico. Como uma prática cidadã, muitas vezes não precisará comprar materiais novos, mas sim ampliar suas percepções e reutilizar/reinventar aquilo que está a sua volta.
Além disto, esta é uma prática que coopera com o próprio arteterapeuta, que não deve entender que a Arteterapia só se faz com uma riqueza de materiais sobre a mesa. “O chão da vida” da prática arteterapêutica, principalmente em ambientes institucionais como escolas, hospitais, instituições de longa permanência etc, se dá na falta de possibilidade de grandes investimentos financeiros em materiais por parte da instituição e do próprio arteterapeuta. Na escassez de material, não se faz Arteterapia? Ao contrário, muitas vezes a realidade da vida não está na riqueza de materiais/possiblidades e a verdadeira criatividade está justamente em criar a partir do (quase) nada. 
Começando em nós mesmos, arteterapeutas, esta prática será uma transmissão de um movimento muito importante, necessário em nosso cenário social atual. Em um texto anterior chamado “Reflexões sobre o ‘simples’ nas práticas da Arteterapia” defendi que:
“A realidade da clínica nos mostra que vivemos em tempos de crise financeira, perdas sucessivas de poder aquisitivo, redução de possibilidades múltiplas aos quais nossos pacientes nos contam com ar de frustração, derrota e o discurso do ‘não posso’ é a tônica. 

Então eu pergunto aos arteterapeutas, não seria justamente esta metáfora de vida que precisamos remontar em nossos settings terapêuticos? Diante do (que parece) pouco, para onde sua criatividade te leva? O que sua intuição te instiga? Quais possibilidades você pode se fazer enxergar diante do que você tem a frente?” (MORAES, 2018)

Aquecida por estas reflexões, para alguns espaços que trabalho, levei o poema “Matéria de Poesia” e dispus sobre a mesa LIXO. Se Manoel de Barros nos diz que “O que é bom para lixo é bom para poesia”, perguntei aos experienciadores da Arteterapia: ”Onde está a poesia destes objetos que estão sobre a mesa? Que poesia você pode criar a partir daquilo que seria jogado fora? Quais recursos podemos utilizar e reaproveitar a partir do(s) lixo(s) na arte e na vida?”
Se o assunto era o “desinteressante” lixo, gratidão à Hécate, Manoel, Laila e participantes da Arteterapia que tanto me atravessaram para esta tão profunda reflexão até aqui e tantas outras que estão por vir. 

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Referências Bibliográficas:

MORAES, Eliana. Reflexões sobre o "simples" nas práticas da Arteterapia
SOUZA, Laila Alves. Série Olhares sobre os mitos: Hécate e a Sucata. Blog Não Palavra, 2018. 

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Sobre a autora: Eliana Moraes 



Arteterapeuta e Psicóloga. 

Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte. 

Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".

Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

A CRIANÇA E A ARTETERAPIA


Por Vera de Freitas (RJ)
verafguimaraes@gmail.com

            A arte foi o meio usado pela humanidade para se comunicar, se compreender (e compreender o mundo) e se relacionar, desde sempre.

            A criança, desde muito cedo, “brinca” como forma espontânea de se expressar, de interagir com o meio. O brincar e a arte são formas de expressão possíveis para a criança. É importante facilitar, instrumentalizá-la para que nos diga o que sente, uma vez não possuir capacidade de elaboração possível para uma comunicação verbal tão clara.

            Através da Arteterapia, do processo terapêutico, cria-se possibilidade de novas e livres formas de expressão, e com a arte de cada um, vai se construindo e reconstruindo, com autonomia, a subjetividade. Por meio deste “fazer arte”, “fazer terapêutico”, surgem novas formas de funcionamento, de comportamento, de relacionamento e novas descobertas.

            Esse “fazer terapêutico” expressa a singularidade e identidade da criança. E a descoberta de eventos psíquicos, amplia a possibilidade de estruturação da sua personalidade, ativando seu potencial, alterando sua forma de funcionar e contribuindo para a construção de uma comunicação mais harmônica.

            O processo terapêutico busca o aumento da consciência do sujeito a respeito de si mesmo, dos seus sentimentos, de sua vida, de seus padrões de atuação. Esse autoconhecimento promove segurança, autonomia e consequentemente, mais liberdade.

            Num espaço de liberdade e confiança, o arteterapeuta, tem como objetivo oferecer à criança, atividades agradáveis, adequadas e prazerosas através de linguagens e materiais que possibilitem o acesso às suas emoções, facilitando os canais expressivos, para com isso, compreendê-los.

            Regras, esclarecimentos e orientação fazem parte desse “fazer terapêutico”. Sendo importante o respeito aos limites de segurança e de sociabilidade.


            Trabalhando com grupos de crianças há cerca de 20 anos, percebo que uma das formas mais eficientes de promover a saúde emocional delas, é realmente o “fazer arte”, o criar, o estímulo do seu potencial criativo. Importante oferecer instrumentos, possibilidades, para que consigam expressar seus sentimentos e emoções. Assim, se comunicam, se veem.

            Criando um espaço acolhedor e agradável para o “fazer arte”, a criança é capaz de se expressar espontânea e livremente, criando também um espaço interno de cuidar-se, de ver-se, de criar-se e recriar-se. Contribuindo assim para seu equilíbrio e harmonia, tanto do ponto de vista individual como no coletivo.

            Aprendi  com elas que facilitando sua livre expressão, ela será capaz de criar, de se fortalecer e de se expressar de forma mais saudável.



Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
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Sobre a autora: Vera de Freitas


Advogada, Arteterapeuta (POMAR)
Cursando Pós Graduação em Arteterapia (POMAR)
Administradora do Instituto VENHA CONOSCO - Tijuca, RJ
Professora de Iniciação Artística - Instituto ZECA PAGODINHO
Facilitadora de Grupo de Arteterapia  para adultos, atendimento individual e Grupo de Desenho Livre.
Ateliê  de PAPEL MACHÊ