segunda-feira, 30 de julho de 2018

A ESCULTURA NA PRÁTICA DA ARTETERAPIA: PROPRIEDADES E APLICABILIDADES




Eliana Moraes (MG) RJ


Em textos anteriores deste blog, venho compartilhando fragmentos do ciclo de palestras “Série Arteterapia Clínica” ao qual venho me dedicando a oferecer em diversos espaços no Rio de Janeiro e a partir do segundo semestre de 2018, em São Paulo. 


Neste ciclo, estudamos sobre o manejo dos materiais de forma consciente pois este se configura como a espinha dorsal do ofício do arteterapeuta: promover o encontro entre o paciente/cliente e o material pertinente como facilitador de seu processo. Para saber mais sobre o arteterapeuta como promotor de encontros CLIQUE AQUI. Sobre a colagem CLIQUE AQUI e sobre a pintura CLIQUE AQUI. 


No texto de hoje, a protagonista é a escultura, uma arte que representa ou ilustra imagens plásticas em relevo total ou parcial. É considerada a 4ª das artes clássicas. A escolha do material normalmente implica a técnica a se utilizar. A cinzelação, se dá quando de um bloco de material se retira o que excede a figura utilizando ferramentas de corte próprias, como em sabonetes e velas; ou a modelagem, quando se agrega material plástico até conseguir o efeito desejado, como a argila ou sucata.


Neste texto não entraremos no mérito dos materiais e técnicas específicos mas falaremos de forma ampla das aplicabilidades e propriedades das produções que se estabelecem como tridimensionais


a)    As propriedades


A escultura é uma técnica construtora, estruturante. No diálogo com a imagem coloca o autor prioritariamente em relação com o volume, o tridimensional.


Todas as técnicas expressivas estimulam as quatro funções psíquicas descritas por Jung, mas naturalmente em cada uma delas, uma função específica se torna protagonista. Na experiência com a escultura, a função principal é a Função Sensação e proporciona o contato com o elemento terra. 


Estimula a percepção sensorial pois lida com muitas variáveis, como peso, equilíbrio, proporção, texturas... 


Trabalha estrutura, pragmatismo, tentativa e erro. Além de ser bastante mobilizadora de movimentos físicos, cognitivos e psíquicos.


Outra propriedade bastante intrigante do objeto tridimensional é a possibilidade de deslocamento do olhar, de explorar outras perspectivas, obter novas percepções de um mesmo objeto, cenário ou imagem, basta movimentar-se.


b)   O processo: verbos: ações e movimentos externos/internos



Colocar o sujeito na experiência com o material significa colocá-lo para agir sobre ele em suas questões psíquicas. Desta forma é interessante ao arteterapeuta atentar-se para os “verbos” ou as ações que cada material proporcionará externa e internamente em seu paciente/cliente.

No processo da escultura as ações provocadas são
estruturar, construir, reconstruir, edificar, concretizar, materializar. 
Dar corpo, fazer crescer, levantar, ficar em pé, erguer, verticalizar.
Buscar soluções, formar estratégias, executar, realizar.
“Batalhar”, persistir.


Nas palavras de Cláudia Brasil:


“Modelar é erguer, é sair de uma única dimensão. Construir algo que sai do papel, que anima, tem vida e se manifesta para além do horizontal. Na modelagem, há a possibilidade de verticalizar, de tornar-se mais humano na relação com a imagem. Criar uma imagem que poderá ter volume, poderá ficar em pé ou sentado. Modelar algo que será útil ou que participará mais ativamente de um diálogo.” (BRASIL, 2013)


c)    Os potenciais


c.1) Perfis de pacientes/queixas, palavras chave:


Promover o encontro com a escultura é interessante para pessoas que demonstram dificuldades na transição entre o “abstrato” e o concreto; o idealizar e o concretizar; o pensar e o fazer; “cabeça” e “mãos”.


Para aqueles que se apresentam em um momento de vida ou necessidade de construir algo para (em) si. 


Aos que diante do “criar”/realizar acionam diversas auto sabotagens como preguiça, procrastinação, inseguranças, “travas”...


c.2) Estimulação cognitiva idosos/seres humanos:


Um dos benefícios da Arteterapia no trabalho com idosos se dá porque de forma criativa, lúdica, leve e convidativa os pacientes/clientes estimulam as mais variadas funções cognitivas como atenção, concentração, memória, linguagem, funções executivas, praxia, abstração. A estimulação cognitiva é um imperativo da gerontologia e no processo da escultura isto se dá de forma bastante desafiadora, por agregar muitas outras variáveis e complexidades no processo ao emergir do bidimensional para o tridimensional. 


Porém, independente da faixa etária, a escultura  é encaminhada para qualquer contexto em que o arteterapeuta intente estimular a busca de soluções, o reconhecimento dos recursos, a criação de estratégias e suas execuções, além de trabalhar a proatividade, pensar fora da caixa, principalmente quando explorada a pluralidade de materiais.


d)   Resistências 


É essencial sublinhar que o processo de construção do tridimensional não é indicado para pacientes iniciantes na Arteterapia, aqueles que chamo de “pacientes leigos” e “não alfabetizados”. Pois:


“A modelagem em Arteterapia só deve ser utilizada depois de  algumas experiências no plano bidimensional... Essa precaução deve-se ao fato que esta linguagem plástica oferece algumas dificuldades operacionais e inaugura as experiências no plano da tridimensionalidade, envolvendo desafios de organização espacial e capacidade de formar estruturas, e mantê-las em equilíbrio, além de intensificar a experiência com o tato, envolvendo sensações com texturas e relevos.” (PHILIPPINI 2009)


É de importância vital também que o arteterapeuta tenha tido sua própria experiência e prática com o material para esteja íntimo com ele, podendo oferecer sustentação e segurança ao paciente neste processo tão desafiador em tantos aspectos. 


e)    Materiais de apoio


A medida da ampliação dos materiais utilizados na escultura, o arteterapeuta deve atentar-se para dispor em seu atelier de materiais de apoio que deem sustentação para o processo criativo e o encontro de soluções por parte do autor. 


É essencial  disponibilizar bases resistentes como papelão, papel paraná, cartão kraft grosso (de cor parda), papel duplex ou triplex (de cor branca), madeira, tela... 


Deve dispor também de materiais para colar diferentes elementos como cola cascorez, cola quente, fita crepe, grampeador, arame, gominha, tachinha, tachinhas tipo bailarina, prego...


f)     Materiais intermediários, que promovam revelo:


Para pessoas que demonstram alguma dificuldade – não técnica ou cognitiva, mas psíquica – de erguer uma imagem tridimensional, um bom caminho é explorar materiais intermediários que o colocarão em contato paulatino  com o processo de sair do bi para o tridimensional. Propostas que estimulam texturas e relevos, colagens como o papier collé /papelagem, colagens com barbantes e fios, desenhos com arame, pinturas com massinha e o que mais couber na criatividade do arteterapeuta.  


Concluindo:



A modelagem no trabalho arteterapêutico ativa e intensifica processos de compreensão devido ao grau de concretude das produções plásticas obtidas através desta linguagem, pois sua aparência é muito mais real que as experiências do plano bidimensional, em consequência do peso, volume, textura, etc... Trata-se de atividade que aponta com clareza as distorções nas proporções, as dificuldades na estruturação, os problemas no equilíbrio. Esta concretude da produção propicia ‘insights’ mais rápidos, estimula processos de autoconhecimento, em tempo e intensidade, nem sempre possíveis nas experiências expressivas do plano bidimensional.” (PHILIPPINI, 2009)


As técnicas de construção em Arteterapia... são as mais complexas. Demandam simbolicamente a consciência e a integridade de uma estrutura interna organizada, coesa e bem introjetada. Esta estrutura interna abrangerá percepção e eixo, centramento, integração entre seguimentos e, se este equilíbrio não estiver sendo percebido internamente, não poderá ser expresso fora. Na produção simbólica, o mesmo poderá ser aprendido e reaprendido nos erros e nos acertos de tentar edificar e de constatar que nem sempre as próprias concepções de equilíbrio resultam acertadas. A materialidade sempre apresentará de modo óbvio estas dificuldades, e atravessá-las e resolvê-las permitirá que, analogamente, processos emocionais se reorganizem.” (PHILIPPIN, 2009)

Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!

Referências Bibliográficas:


BRASIL, Claudia. Cores, formas e expressão: Emoção de Lidar e Arteterapia na Clínica Junguiana


PHILIPPINI, Angela. Linguagens e Materiais Expressivos em Arteterapia:  Uso indicações e propriedades
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Sobre a autora: Eliana Moraes



Arteterapeuta e Psicóloga. 

Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte. 

Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".


Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 

Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

ARTE E TÉCNICAS EXPRESSIVAS NO AMBIENTE CORPORATIVO


Por Helen Faria -  RJ


“Mais do que de máquinas precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência precisamos de afeição e doçura.”
Charles Chaplin
                 Quando eu tinha meus 20 anos de idade, ou seja, há 23 anos, tinha acabado de me formar em bailarina e em teatro e estava fazendo faculdade de fisioterapia. O corpo sempre foi a minha grande paixão e entendia que a arte através do movimento era transformadora. Foi então que comecei a realizar preparação corporal para atores e depois comecei a ficar muito incomodada de como os corpos dos trabalhadores e dos empresários funcionavam, eles não sabiam que tinham corpos, não sabiam sorrir e muito menos se movimentar. 
                 Nessa época o Brasil estava em pleno crescimento e os trabalhadores eram massacrados fisicamente gerando grandes constrangimentos físicos levando ao stress. Foi quando teve grande ascensão as tendinites ocupacionais (DORT – doenças osteomusculares).
Stress e doenças ocupacionais:
“Movimento é vida, sem movimento a vida é inconcebível.”
Moshe Feldenkrais
                 Stress, tensões musculares e doenças ocupacionais começaram a crescer no Brasil e grandes afastamentos pelo INSS começaram a acontecer principalmente no ramo de telemarketing / Call Center, onde a produção era pelos movimentos repetitivos. As empresas começaram a se preocupar com as perdas financeiras que estavam tendo pelo alto índice de rotatividade e absenteísmo. Aqui então iniciava os investimentos de grandes empresas em implantação de programas de qualidade de vida em especial com a Ginástica Laboral. 
                 Entrei nesse ramo com a intenção não só de diminuir os impactos físicos gerados pelo sistema empresarial, mas também gerar um ambiente mais relaxado e despertar o brincar dentro das empresas, acreditando que o movimento lúdico e mais humano fosse curador.
                 Nesse momento era importante provar para as empresas que a implantação de programas como a Ginástica Laboral diminuía a sinistralidade dos planos de saúde, a rotatividade e o absenteísmo, promovendo assim um lucro maior tendo funcionários mais produtivos e felizes no ambiente de trabalho. E hoje em dia, é mais do que sabido que isso funciona e a maioria das empresas já tiveram ou tem algum tipo de programa implantado com esse propósito.
                 Comecei a observar que a Ginástica Laboral também passou a ser um movimento repetitivo e começou a gerar grande desinteresse dos participantes. Nesse momento comecei a inserir o teatro, arte e técnicas expressivas utilizando vários materiais diferenciados para tornar a atividade de Ginástica Laboral ainda mais prazerosa. Criamos aulas temáticas, jogos corporais utilizando vários materiais lúdicos (fitas, bolinhas, barbantes, bexigas, bambolês, colher de pau etc.) para despertar a criatividade e resgatar a criança interior.
                 O movimento corporal pelo lúdico e pela arte começou a ser o meu grande diferencial dentro do ambiente coorporativo chegando a atender mais de 120 mil vidas. O nosso foco era muito mais do que prevenir doenças mas tornar o ambiente de trabalho mais humanizado e prazeroso levando um maior equilíbrio entre mente e corpo, coisas que são inseparáveis.

Aula de Ginástica Laboral na plataforma da empresa Modec em uma SIPAT (semana interna de prevenção de acidente de trabalho)


A Crise, Saúde Mental e Arte:
“Um corpo inteligente é um corpo que consegue se adaptar aos mais diversos estímulos e necessidades, ao mesmo tempo que não se prende a nenhuma receita ou fórmula pré-estabelecida, orientando-se pelas mais diferentes percepções conscientes dessas sensações. ”

Klaus Vianna


                 Há mais ou menos 4 anos começamos a sentir uma grande crise se instalando em nosso país. A crise gera grandes sofrimentos, mas também gera um lugar de pesquisa interna, de reinvenção e co-criação. Observei grandes demissões e escutei muitas pessoas falando: “agora que fui mandada embora e não tenho mais nada a perder posso fazer o que eu sempre quis.”
                 Isso me causou grande impacto de como as pessoas estavam sendo máquinas e se movimentando pelo medo e não pela sua potência e desejo interno. Onde estava escrito que não poderia fazer o que sempre quis fazer? E agora está livre? Não somos livres? Somos, mas o sistema gera essa consciência que somos dependentes e uma educação cultuando o medo da escassez.
O adulto de forma geral adquire regras e convenções limitantes do seu jogo autêntico e se fecha no seu mundo materialista e consumista, prisioneiro da rotina e “obrigações”, e o jogo das relações passa a ser rígido e violento. 


Como o sistema materialista e consumista entrou em crise as pessoas começaram forçosamente a entender quem eram e quais eram seus principais valores e com isso começaram a se desestabilizar, a entrar em crise também por estarem muito desconectadas de si mesmas. As doenças mentais começaram a ser o grande problema dentro do ambiente coorporativo. As questões físicas que antes eram o grande foco passou a ficar em segundo plano dos problemas dentro das empresas. 


Comecei a ser chamada para dentro de grandes empresas para apoiar e cuidar da saúde mental pois a maioria das delas está com problemas de alta rotatividade, absenteísmo e baixa produtividade por questões mentais, além de estarem todos sobrecarregados porque muitos foram desligados das empresas e os que ficaram estão trabalhando em dobro, em um clima de tensão e medo instalado pela hipótese de a qualquer momento serem mandados embora também.


Diante desse quadro de questões mentais comecei a realizar a arte como o meu principal recurso, onde as palestras não eram mais em power point e nem teóricas. Aqui nasceu os "Jogos de Conexão", que são jogos terapêuticos, corporais, lúdicos e colaborativos utilizando ferramentas de mindfulness, arte e técnicas expressivas para despertar o autoconhecimento e falar de temas importantes para atualidade: resiliência, empatia, comunicação, presença, coragem, desapego, afetividade, gratidão e outras habilidades sócio emocionais tão importantes para a vida no dia a dia. 


              Acredito que cada vez mais as empresas estão enxergando essa ferramenta como um grande suporte e temos um lindo caminho pela frente para acolher grandes grupos resgatando o seu Eu e realizando o grande jogo da vida, se relacionando com o outro e com o mundo.

Palestra sobre auto-relaxamento na empresa Osklen inspirada nas obras de Lygia Clark



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Referências Bibliográficas:
BROTTO, Fábio Otuzi. – Jogos cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar. Santos: Projeto Cooperação, 1997. 

MILLER, Jussara. Qual é o corpo que dança? São Paulo: Summus, 2012.
Yozo, Ronaldo Yudi k. 100 jogos para grupos: uma abordagem psicodramática para empresas, escolas e clínicas: Ágora, 1998. 
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Sobre a autora: Helen Faria

Facilitadora de grupos, consultora em Qualidade de Vida para as empresas há mais de 20 anos, sócia fundadora da empresa Reabily Qualidade de Vida e da empresa VemSer movimento. 

Atriz, bailarina, terapeuta holística, fisioterapeuta e facilitadora de programas de resiliência, meditação e mindfulness.  

É apaixonada por arte e pelos jogos corporais, pela potência do movimento  e das grandes transformações que vem a partir dele. 

Idealizou o Jogos de Conexão” para que os grandes insights venham da potência do grupo, do lúdico, do corpo através e de uma experiência vivida, experimentada e sentida. Assim, ministra cursos de formação dos "Jogos de Conexão" em várias cidades do país.
 Para saber da agenda de cursos escreva para helen@reabily.com.br

segunda-feira, 16 de julho de 2018

ANCESTRALIDADE: VÍNCULOS QUE CURAM E VÍNCULOS QUE GERAM

           

Suzane Guedes - RJ
            Recentemente li um artigo sobre genética o qual vinha dissertando que cada mulher carrega em seu ventre quando em gestação, os ovários de sua filha e concomitantemente, os óvulos de sua futura neta. 
            Fiquei pensando o quanto a natureza é sábia através de seus desdobramentos. Entendo que o vínculo mãe e filha é formado mesmo antes da gestação, e isto não está apenas ligado aos seus próprios desejos, construções e integrações que vem sendo elaboradas e vivenciadas durante sua vida. Está para além, em um nível inconsciente.
            Afinal, se carregamos a história genética de nossas avós, carregamos também sua ancestralidade. Em que momento nossa mãe foi gerada naquela família primeira? Qual a posição que aquela filha ocupa na linhagem de sua família? Era o momento esperado para a chegada de um filho? Havia condições de saúde adequada? Como esta mãe se sentia em relação ao seu par parental? Existia recurso financeiro para o amparo e responsabilidades com este novo ser?
            É importante ressaltar que apesar destas condições, cada vivência é única e pessoal. Singular. O que importa é como cada um percebe sua própria experiência, mesmo trazendo cargas genéticas e ancestrais.
E como amparar, do ponto de vista da arteterapia, os desdobramentos dessas relações tão delicadas e tênues entre mãe e filha? Como delimitar essa relação, por vezes transbordante, que ultrapassa os limites possíveis para uma relação saudável? 

No conto A moça tecelã, Marina Colassanti tece em palavras a jornada da moça que constrói sua vida no tear. Ela não espera que as realidades apareçam à sua frente, pois ela mesma cria suas  realidades e desejos no movimento de criação e desconstrução proporcionadas pela tecelagem. Alinhados ao texto, encontramos os bordados e desenhos das irmãs Dumont, família de artistas e bordadeiras de Minas Gerais. Uma grande obra brasileira de escrita e imagens que nos auxilia também como ferramenta de fortalecimento pessoal.
No tecer de minha prática como arteterapeuta tenho acolhido e ajudado nos cuidados de gestantes que buscam o desenrolar, desembaraçar e promover novas tessituras à suas histórias, e então, procuram um novo fazer em suas alianças responsáveis nas novas relações que vão surgindo, já que a partir deste novo ser que geram, surgem novas configurações familiares.
Neste processo os fios de lã têm sido companheiros, não para tramar, mas para criar novas realidades com a linguagem apresentada. Poder ir além do que o material prevê tem sido uma boa surpresa para estas mulheres em seu novo ciclo de vida. Além de trazer conforto, aconchego e resgatar memórias afetivas, possibilitando sensações relatadas como: carinho de avó, aconchego, puerilidade, afetividade e genuinidade.
Encontro-me então com a fala de M. que relata a experiência com lãs como uma novidade que gera insegurança, mas que também acessa sua criatividade a qual é identificada como uma “boa surpresa” podendo levar o experimento para sua vida pessoal, já que em função de não estar “trabalhando fora” durante sua gravidez estava se sentindo inútil.
Propiciar ambientes e produções que poderão gerar ações e mudanças de atitude diante da vida e uma ampliação da percepção de si mesmo é uma grande função gerada pela arteterapia, além de proporcionar crescimento pessoal e fortalecimento da autoestima. Nossa ancestralidade e nossas avós sábias, curandeiras e artesãs, agradecem.
Com carinho, alegria e leveza.
Suzane Guedes
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Sobre a autora: Suzane Guedes



Suzane Guedes é Psicóloga (CES-JF), Especialista em Psicologia e Desenvolvimento Humano (UFJF) e Arteterapeuta (POMAR).

Colunista no blog O psicólogo Online, no qual escreve sobre Autoestima.
Atua nas cidades do Rio de Janeiro e Três Rios-RJ com atendimento clínico presencial a crianças, jovens, adultos e idosos; ministra grupos e oficinas terapêuticas. Também trabalha como orientação psicológica online.
Suzane acredita na psicoterapia e arteterapia como grande ferramenta de auxílio à transformação e desenvolvimento pessoal e social.
Facebook: https://www.facebook.com/olharparasi/
Atendimento online: http://www.atendimento.opsicologoonline.com.br/suzane-guedes
Instagram: @olharparasi