segunda-feira, 16 de julho de 2018

ANCESTRALIDADE: VÍNCULOS QUE CURAM E VÍNCULOS QUE GERAM

           

Suzane Guedes - RJ
            Recentemente li um artigo sobre genética o qual vinha dissertando que cada mulher carrega em seu ventre quando em gestação, os ovários de sua filha e concomitantemente, os óvulos de sua futura neta. 
            Fiquei pensando o quanto a natureza é sábia através de seus desdobramentos. Entendo que o vínculo mãe e filha é formado mesmo antes da gestação, e isto não está apenas ligado aos seus próprios desejos, construções e integrações que vem sendo elaboradas e vivenciadas durante sua vida. Está para além, em um nível inconsciente.
            Afinal, se carregamos a história genética de nossas avós, carregamos também sua ancestralidade. Em que momento nossa mãe foi gerada naquela família primeira? Qual a posição que aquela filha ocupa na linhagem de sua família? Era o momento esperado para a chegada de um filho? Havia condições de saúde adequada? Como esta mãe se sentia em relação ao seu par parental? Existia recurso financeiro para o amparo e responsabilidades com este novo ser?
            É importante ressaltar que apesar destas condições, cada vivência é única e pessoal. Singular. O que importa é como cada um percebe sua própria experiência, mesmo trazendo cargas genéticas e ancestrais.
E como amparar, do ponto de vista da arteterapia, os desdobramentos dessas relações tão delicadas e tênues entre mãe e filha? Como delimitar essa relação, por vezes transbordante, que ultrapassa os limites possíveis para uma relação saudável? 

No conto A moça tecelã, Marina Colassanti tece em palavras a jornada da moça que constrói sua vida no tear. Ela não espera que as realidades apareçam à sua frente, pois ela mesma cria suas  realidades e desejos no movimento de criação e desconstrução proporcionadas pela tecelagem. Alinhados ao texto, encontramos os bordados e desenhos das irmãs Dumont, família de artistas e bordadeiras de Minas Gerais. Uma grande obra brasileira de escrita e imagens que nos auxilia também como ferramenta de fortalecimento pessoal.
No tecer de minha prática como arteterapeuta tenho acolhido e ajudado nos cuidados de gestantes que buscam o desenrolar, desembaraçar e promover novas tessituras à suas histórias, e então, procuram um novo fazer em suas alianças responsáveis nas novas relações que vão surgindo, já que a partir deste novo ser que geram, surgem novas configurações familiares.
Neste processo os fios de lã têm sido companheiros, não para tramar, mas para criar novas realidades com a linguagem apresentada. Poder ir além do que o material prevê tem sido uma boa surpresa para estas mulheres em seu novo ciclo de vida. Além de trazer conforto, aconchego e resgatar memórias afetivas, possibilitando sensações relatadas como: carinho de avó, aconchego, puerilidade, afetividade e genuinidade.
Encontro-me então com a fala de M. que relata a experiência com lãs como uma novidade que gera insegurança, mas que também acessa sua criatividade a qual é identificada como uma “boa surpresa” podendo levar o experimento para sua vida pessoal, já que em função de não estar “trabalhando fora” durante sua gravidez estava se sentindo inútil.
Propiciar ambientes e produções que poderão gerar ações e mudanças de atitude diante da vida e uma ampliação da percepção de si mesmo é uma grande função gerada pela arteterapia, além de proporcionar crescimento pessoal e fortalecimento da autoestima. Nossa ancestralidade e nossas avós sábias, curandeiras e artesãs, agradecem.
Com carinho, alegria e leveza.
Suzane Guedes
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
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Sobre a autora: Suzane Guedes



Suzane Guedes é Psicóloga (CES-JF), Especialista em Psicologia e Desenvolvimento Humano (UFJF) e Arteterapeuta (POMAR).

Colunista no blog O psicólogo Online, no qual escreve sobre Autoestima.
Atua nas cidades do Rio de Janeiro e Três Rios-RJ com atendimento clínico presencial a crianças, jovens, adultos e idosos; ministra grupos e oficinas terapêuticas. Também trabalha como orientação psicológica online.
Suzane acredita na psicoterapia e arteterapia como grande ferramenta de auxílio à transformação e desenvolvimento pessoal e social.
Facebook: https://www.facebook.com/olharparasi/
Atendimento online: http://www.atendimento.opsicologoonline.com.br/suzane-guedes
Instagram: @olharparasi

2 comentários:

  1. Muito bom seu texto Suzane, a ancestralidade gerando o presente do passado feminino. Gerar, nutrir e seguir.
    Parabéns pela bela reflexão.

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    1. Gratidão, Cristina! Muito bom dividir este espaço de construções e artes com vcs. ��

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