No
último dia 22 de maio estive no "I Congresso de Clínica Junguiana e Arteterapia"
na Universidade Veiga de Almeida - RJ, apresentando o trabalho “O uso das
imagens oníricas surrealistas na prática da Arteterapia”. E como protagonista
deste trabalho, um de seus principais artistas: René Magritte. Aqueles que
estão por perto sabem do meu apaixonamento e diálogo com as “imagens poéticas”
deste artista e pelo impacto que causam. Hoje inicio aqui no blog uma série de
textos comentando minha experiência pessoal e profissional com Magritte e
estendo este convite aos que têm “olhos curiosos”.
Primeiramente,
é interessante observarmos que as imagens oníricas surrealistas se apresentam
como um potente estímulo projetivo na prática da arteterapia, pois, assim como
os sonhos, impactam o expectador com a sensação de que são ao mesmo tempo
familiares e desconhecidas, causando estranhamento:
[...] familiar em
razão do estilo minuciosamente realista que permite ao espectador o
reconhecimento dos objetos pintados; desconhecido, por causa da estranheza dos
contextos em que eles aparecem, como num sonho [... ] (BRADLEY, 2004, p. 34)
René
Magritte (Bélgica 1898-1967), foi um dos grandes artistas do Surrealismo.
Entretanto, diz-se que não era um pintor comum, mas um pintor de ideias, um
pintor de pensamentos visíveis:
Magritte vira subversivamente do avesso a percepção: os objetos que pinta são
todos claramente reconhecíveis, provêm da esfera banal e quotidiana, contudo,
logo que são pintados de uma forma bastante acadêmica... mudam, e tudo mergulha
na incerteza. Magritte apresenta aqui as coisas com uma lógica poética [...]. (PAQUET, 2000, p 23)
O
artista é conhecido por suas “imagens poéticas”, pois para compreendê-las, não é suficiente olhar para a obra, é
preciso refletir sobre o que se vê, imaginá-los. Somente através de uma atitude meditativa o observador poderá acessar o sutil jogo de
enigmas proposto pelo pintor, pois sua primeira preocupação é “revelar o que está escondido pelo que podemos ver”. (PAQUET, 2000, p. 55)
A
obra de Magritte é constituída por imagens impactantes, desafiadoras, que
inquietam o observador. Mas afetam, sobretudo, porque elas fazem eco às questões
profundas que pertencem à quem as observa. Imagens que atuam como espelhos da
alma de quem as vê. Este espelhamento proporciona ao apreciador a oportunidade
de pensar:
[...] pintura para filósofos ou pelo menos para apreciadores
do pensamento filosófico. Na
arte de Magritte, o choque poético,
o estímulo estético causado pelo quadro, não devem decididamente separar-se do amor pelo pensamento, um prazer incontido de reflexão [...].
" (PAQUET, 2000, p 21).
Em
sua concepção “A arte de pintar exprime o invisível por meio do visível,
pensamentos por meio de imagens.” (PAQUET, 2000, p 77). Neste contexto,
percebemos que não raramente as questões terapêuticas, fontes de angústia
relatadas verbalmente ou não pelo paciente, são traduzidas pelo artista em
imagens. Imagens estas não literais, ricas em simbolismos, metáforas,
paradoxos, características tão presentes e ao mesmo tempo tão
desestabilizadoras da vida. Propor ao cliente/paciente de arteterapia um
diálogo com grandes artistas, e neste contexto específico com Magritte e suas
imagens provocativas, mostra-se uma experiência riquíssima e eficaz na prática
da arteterapia.
O manejo das propostas a partir das imagens ficará a cargo do arteterapeuta e o contexto de seu trabalho – atendimento individual, ou grupo terapêutico; se proporá uma imagem a partir de um símbolo trazido pelo cliente/paciente contido em uma imagem do artista; ou uma vivência semi-estruturada. Enfim, a prática nos mostra que nos mais variados contextos, o uso das “imagens poéticas” de Magritte servirá como disparadoras de grandes reflexões e de subsídio para que o paciente se perceba, se pense, se conheça e se ressignifique.
Em
breve, em um novo texto, continuarei compartilhando minha experiência pessoal e
profissional com este artista verdadeiramente instigante.
Referências
Bibliográficas:
BRADLEY,
Fiona. Surrealismo: movimentos da
Arte Moderna. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
PAQUET,
Marcel. Magritte. Paris: Taschen, 2000.
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