segunda-feira, 11 de agosto de 2025

RESPIRAÇÃO, PRANAYAMAS E A ARTETERAPIA: INTEGRAÇÕES POSSÍVEIS



por Karine Drumond - MG


“O que a arte oferece é um tipo de espaço de respiro para a alma” – em livre tradução de John Updike


Recentemente participei de uma vivência conduzida pela arteterapeuta Eliana Moraes onde exploramos o tema dos caminhos da vida, seus percalços e singularidades. A vivência foi muito rica e particularmente despertou em mim reflexões profundas sobre carreira e minhas escolhas. Durante o momento de exploração artística surgiu a produção que chamei de “O Caminho-Pulmão". Esta imagem e as conexões que ela evoca dialogam profundamente com meu momento atual. Após mais de 15 anos atuando como designer, experimento um processo de transição de carreira, me formando em Arteterapia e paralelamente me preparando para me tornar também instrutora de Yoga Integral. Nestes estudos, vislumbro muitos diálogos possíveis e sinergias nestas duas áreas de saber. 


A ideia deste artigo, nasce, portanto, destas reflexões sobre os diálogos possíveis entre os ensinamentos da Yoga Integral e Arteterapia. Quais são estes diálogos? De que maneira podem se complementar e potencializar as vivências arteterapêuticas? Neste artigo, em especial, proponho começarmos explorando os diálogos possíveis entre os pranayamas – as práticas respiratórias do yogae Arteterapia.

Pranayama e arteterapia: uma base em comum

A palavra pranayama é composta de dois termos: prana, que significa respiração, alento primordial, energia vital, e ayama, que significa pausa, retenção. Literalmente, pranayama, quer dizer, portanto, retenção da energia vital. Segundo Blay (1996), Pranayama é a parte do Yoga que trata do domínio das energias psíquicas mediante a regulação do movimento respiratório. 


Tanto o pranayama quanto a arteterapia partem da experiência presente.

Enquanto a arteterapia dá forma às sensações internas por meio da expressão visual, as técnicas de pranayama nos convidam a mergulhar em nosso ritmo respiratório como ponto de conexão entre corpo e psique. Ambos criam um espaço para que o que está latente — emoções, imagens, memórias, impulsos — possa emergir com mais clareza. Além do que, compartilham o mesmo objetivo: a integração do Eu superficial com o Eu mais profundo, levando ao desenvolvimento pessoal. 

Aspectos psíquicos da respiração e a arteterapia

Como sabemos, a respiração, enquanto ato ao mesmo tempo voluntário e involuntário, reflete e influi nos estados mentais dos indivíduos. Um dos objetivos primordiais do controle da respiração, no Yoga, consiste em promover um diálogo saudável e nutritivo entre a energia contida na personalidade profunda (inconsciente) com a personalidade superficial (consciente).  Esta integração, na ordem fisiológica, leva a integração de todos os seus sistemas nervosos (central, simpático e parassimpático).  No Hatha Yoga, a integração no nível psíquico leva a integração no nível fisiológico e vice e versa. A respiração é o primeiro ato do ser humano ao nascer, é o ato vital que o mantém em contato permanente com o mundo que o rodeia. Ao integrar práticas de respiração em Arteterapia, um primeiro diálogo importante que podemos fazer é explorar as fases ou tempos da respiração e suas relações simbólicas, como veremos a seguir.

Inspiração e expansão (puraka)

Fisiologicamente é o movimento do aparelho respiratório que permite a entrada do ar nos pulmões. Psicologicamente é o ato pelo qual o indivíduo recolhe ou deixa entrar o ar de que necessita; relaciona-se diretamente com a afirmação do indivíduo dentro de si mesmo. O desenvolvimento da inspiração profunda representa o ato de acolher o novo, nutrir-se, abrir-se às possibilidades.


Na arteterapia, associada a técnicas de pranayamas, podemos explorar as relações simbólicas que surgem desse ato. O que pode traduzir-se, por exemplo, na pergunta-reflexão: “O que preciso inspirar agora na minha vida? Como posso dar forma a esse desejo criativamente?” “Do que preciso me nutrir para crescer?” 

Expiração e entrega  (rechaka)

Fisiologicamente é o movimento do aparelho respiratório que expulsa o ar dos pulmões. Psicologicamente, é o ato com o que o indivíduo expulsa ou se desprende do ar viciado de seus pulmões. Relaciona-se com a expansão da personalidade e com as formas que adota.


No ateliê terapêutico, esse momento pode ser explorado com convites à experimentações com práticas que permitem evocar desapego. Pergunta-reflexão: “Do que preciso abrir mão para que algo novo possa surgir em mim e na minha vida?”

Pausa entre as respirações (kumbhaka)

As retenções são como uma suspensão criadora, um momento de espera e integração entre o que foi e o que virá. A retenção com pulmão cheio, corresponde psicologicamente a um ato assimilador, retentor e conservador, em seu duplo aspecto fisiológico e psíquico. É uma fase ou movimento de equilíbrio relativamente estável. A retenção com os pulmões vazios é um ato pelo qual se mantém em estado de vazio, de ausência de ar, do mundo e dos conteúdos do eu. Momento de equilíbrio instável, abstração ou morte. Feito de forma natural, evoca o distanciar-se do vaivém das coisas. Em Arteterapia podemos indagar:

“Como posso habitar o intervalo entre o conhecido e o desconhecido? O que há neste intervalo? Como dar forma a esse momento de pausa?”


Ritmo e ciclos

A cadência da respiração nos lembra que tudo na vida é cíclico, um vai-e-vem entre dar e receber. A própria observação consciente dos ciclos respiratórios pode inspirar mandalas, padrões gráficos, imagens circulares que tragam senso de continuidade e equilíbrio.

Em ateliê terapêutico podemos explorar visualmente “Como meu ritmo interno se manifesta visualmente? O que ele me ensina sobre o fluxo da minha própria vida?”


Respiração alternada (nadi shodhana)

No Yoga, ao trabalhar técnicas de respiração alternada, busca-se equilibrar os dois canais da respiração (narina direita = positiva, narina esquerda=negativa), criamos uma disponibilidade para a harmonização das polaridades (razão e emoção, ação e entrega, luz e sombra, atividade e descanso). Pergunta-reflexão: “Que opostos dentro de mim buscam diálogo? Como eu os simbolizaria criativamente?”

Possibilidades para integrar pranayama e arteterapia na prática

Explorando alguns possíveis diálogos, vimos como as práticas de respiração do Yoga podem propiciar e potencializar o autoconhecimento, funcionando como um meio de ampliar a percepção sobre si mesmo e seus estados mentais, promovendo um diálogo interno mais harmônico. Um exemplo comum, na condução de uma sessão, o terapeuta pode começar guiando um pranayama simples e curto — o suficiente para que o participante entre em contato com a própria respiração. Depois, com os olhos ainda fechados, pode-se propor que a pessoa observe as imagens que emergem durante a prática e que as transponha para o papel, a argila, a colagem ou o material que preferir. Ao final, a reflexão sobre o que foi criado ganha ainda mais profundidade quando relacionada às qualidades da própria respiração, criando uma ponte entre o que foi vivido corporalmente e o que foi expresso visualmente.


Pesquisando, descobri algumas outras possibilidades interessantes. Como por exemplo, o relato de uma arteterapeuta que colaborou em parceria com uma instrutora de yoga, em sessões para grupos de veteranos em habilitação assistida, com foco em cessação ao tabagismo e manejo do estresse. A intenção foi oferecer estratégias alternativas de enfrentamento — como arte, movimento e atenção plena — em sessão integrativa, unindo psicoeducação, práticas respiratórias e experiências arteterapêuticas. Após o momento de respiração, os participantes foram convidados para criar mandalas com aquarela sobre círculo desenhado à base de giz branco. A técnica com giz resistiu à tinta, fazendo a forma circular emergir sob camadas de cor. Essa mandala simbólica representou o “espaço de respiração interno”, funcionando como metáfora de proteção emocional e lembrança visual a ser mantida mesmo em camadas de vida e tensão. O grupo refletiu sobre o valor de criar fronteiras que protejam momentos de desaceleração e introspecção. A mandala funcionou como lembrança visual desse espaço interno sempre acessível.


Concluindo, o pranayama aquieta a mente e equilibra o sistema nervoso, ampliando a presença e a consciência de si. Esse estado pode potencializar a expressão simbólica, permitindo que as imagens que surgem no processo criativo sejam mais autênticas e conectadas àquilo que precisa ser visto, sentido e elaborado. Pensando nisso, essa integração entre respiração consciente e expressão artística enriquece o próprio caminho de autoconhecimento. Em ateliê arteterapêutico o ritmo da respiração pode virar traço, a inspiração pode virar cor, a pausa pode virar forma, e a entrega pode virar imagem. Respiração em arteterapia pode ser tanto usada como técnica auxiliar, potencializadora das práticas, quanto também como objeto-foco da sessão terapêutica, com ricas possibilidades.

Dessa maneira, o pranayama e a arteterapia se encontram como práticas e saberes que se entrelaçam e abrem novas vias para o florescimento pessoal e criativo.

Este entrelaçar dos dois saberes não acaba aqui, é apenas o começo, continuo seguindo minha curiosidade, ávida por descobrir novas tramas dessa costura.


Referências


BLAY, Antonio. Fundamento e prática do hatha yoga: Loyola, 1996


ROIZEN, Sara. BREATHING SPACE COLLABORATION ~ WITH VETERANS. Art Therapy Spot, 17 nov. 2013. Disponível em: https://arttherapyspot.com/2013/11/17/breathing-space-collaboration-wi/?utm_source=chatgpt.com. Acesso em: 22 jun. 2025.



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Sobre a autora: Karine Drumond




Karine Drumond tem uma formação em Design, Arte Educação. Pós graduanda em Arteterapia pelo INTEGRATE - MG. Com sólida experiência facilitando processos criativos para mulheres e crianças entre 7 e 14 anos. Atuou como pesquisadora e professora em Design na PUC Minas por mais de 10 anos. Recentemente atuou na ONG Projeto Reconstruir, utilizando a arte como ferramenta de expressão e transformação social. Atualmente, está à frente do EquilibrArte, projeto em construção que pretende promover vivências que integram yoga, arteterapia e autoconhecimento para resgatar o bem-estar e a criatividade pessoal e coletiva.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

OLHAR DA ARTETERAPIA NA RELEITURA DE HENRI MATISSE COM IDOSOS

 


Por Anderson Amaral  e Adriana Limeira do Nascimento - CE

O envelhecimento é um processo natural e inevitável na trajetória humana. Ao longo da vida, todos percorremos diferentes fases — infância, adolescência, vida adulta e, por fim, a velhice. Cada etapa é marcada por descobertas, desafios e transformações, e envelhecer, embora muitas vezes visto com receio, também pode ser um tempo de ressignificações, novas conexões e expressão de sabedorias acumuladas.

O Brasil, embora ainda seja considerado um país relativamente jovem, vem passando por um acelerado processo de envelhecimento populacional. Segundo os dados dos Censos Demográficos, a proporção de pessoas com 65 anos ou mais tem crescido de forma contínua: era de 4,8% em 1991, passou para 5,9% em 2000, 7,4% em 2010 e alcançou 10,9% em 2022. Em números absolutos, essa população aumentou de 10 milhões em 2000 para 14,1 milhões em 2010, atingindo 22,2 milhões em 2022 (GONÇALVES et al., 2024).

Esse cenário traz implicações importantes para a organização social e os cuidados com a população idosa. Um dos impactos mais relevantes é o crescimento do número de idosos institucionalizados. De acordo com dados do Censo de 2022, cerca de 160.784 pessoas com 60 anos ou mais viviam em instituições de longa permanência, o que representa aproximadamente 0,5% dessa população — estimada em 32,1 milhões de indivíduos (BRASIL, 2024).

Diante disso, torna-se essencial repensar os espaços terapêuticos dentro das instituições de longa permanência, para que não sejam apenas locais de cuidado físico, mas também de estímulo, afeto e dignidade. Segundo Amaral e Nascimento (2025), é fundamental que esses ambientes ofereçam propostas de estimulação cognitiva, motora e afetiva por meio de jogos, arte, musicalização, dança e outras práticas que favoreçam a ludicidade e o vínculo entre idosos, profissionais e familiares. O objetivo vai além da funcionalidade: busca-se a promoção do bem-estar, da humanização do cuidado e da valorização da pessoa idosa em sua totalidade.

Nesse contexto, a arteterapia tem se mostrado uma abordagem poderosa e sensível, especialmente no ambiente institucional. Ela contribui para a manutenção da cognição, regula o humor, favorece a expressão afetiva e possibilita a ressignificação de vivências pessoais. Por meio da arte, muitos idosos encontram novas formas de expressar emoções e histórias — especialmente quando as palavras já não são suficientes.

Este artigo apresenta um relato de experiência da utilização da arteterapia com idosos institucionalizados no Lar Amantino Câmara, em Mossoró (RN). A proposta foi inspirada na obra do artista francês Henri Matisse, conhecido por sua sensibilidade ao trabalhar com cores e formas recortadas. Matisse, mesmo diante das limitações físicas impostas pela velhice, reinventou sua arte utilizando tesouras em vez de pincéis, criando colagens vibrantes e expressivas. Sua trajetória inspira a ideia de que a criatividade pode florescer mesmo nos momentos de maior fragilidade.



A sessão contou com a participação de oito idosos, sendo dois cadeirantes e quatro com sinais de declínio cognitivo leve. Os participantes foram distribuídos ao redor de mesas, e o início da atividade foi marcado por um convite à presença e ao foco no “aqui e agora”, embalado pela trilha sonora “Acoustic Flower Vol. 35 – Henri Matisse”. O ambiente sensorial criado visava acolher, acalmar e despertar as potências criativas de cada um.

Cada idoso recebeu uma folha com desenhos inspirados na estética de Matisse, além de giz de cera colorido. A proposta era que pintassem livremente, utilizando cores vibrantes e formas fluidas, resgatando o espírito criativo e subjetivo do artista. Após essa etapa, foram convidados a observar suas produções com carinho e atenção.

Em seguida, as imagens foram cuidadosamente recortadas e coladas sobre folhas A4 previamente escurecidas com giz de cera preto. Essa preparação do fundo tinha como objetivo criar contraste visual, facilitando a percepção das formas e valorizando o resultado final da colagem. Alguns participantes necessitaram de auxílio no manuseio da tesoura, devido a limitações motoras nas mãos ou dificuldades visuoespaciais, e esse suporte foi oferecido com respeito, buscando preservar ao máximo a autonomia de cada idoso. 

Ao final, os participantes foram convidados a observar os trabalhos prontos e compartilhar as sensações e lembranças evocadas durante o processo. Muitos relataram emoções ligadas à infância, à liberdade de criação e ao prazer de realizar algo bonito com as próprias mãos. O clima geral foi de leveza, pertencimento e conquista.

 

Objetivos da atividade:

  • Estimulação cognitiva e sensorial: O uso de diferentes materiais, cores e texturas promoveu o engajamento de múltiplos canais sensoriais, contribuindo para a manutenção das funções cognitivas e perceptivas.
  • Promoção da expressão simbólica: A releitura da obra de Matisse permitiu que cada idoso imprimisse seu olhar singular sobre as formas e cores, favorecendo a livre expressão e a construção de sentido por meio da arte.
  • Valorização da história de vida e da resiliência: O paralelo com Matisse reforçou a ideia de superação e reinvenção, mostrando que a arte e a criatividade continuam sendo possíveis — e significativas — em qualquer fase da vida.
  • Fortalecimento da autoestima e do sentimento de pertencimento: Ao produzirem algo belo, coletivo e respeitosamente acolhido, os idosos sentiram-se valorizados, o que contribui para o bem-estar emocional e social.
  • Desenvolvimento da coordenação motora fina: As etapas de pintura, recorte e colagem exigiram planejamento motor e atenção, trabalhando aspectos fundamentais para a preservação da funcionalidade e da autonomia.

Os idosos demonstraram grande entusiasmo ao longo de toda a vivência, e, ao final da atividade, muitos expressaram surpresa e encantamento com os próprios resultados. Relataram que, no início, não acreditavam ser capazes de produzir algo tão bonito, criativo e colorido. Alguns verbalizaram que não tinham o hábito de desenhar ou pintar desde a juventude, e que a proposta os tirou da zona de conforto de forma leve e acolhedora.

Durante o momento de apreciação das colagens finalizadas, foi possível observar olhares de admiração, sorrisos espontâneos e comentários cheios de orgulho, como: “Eu não imaginava que conseguiria fazer isso” e “Não é que eu tenho jeito para a coisa?”. Uma das participantes, que apresentava sinais de isolamento nos dias anteriores, compartilhou que a atividade a fez se sentir “viva e útil”.

Essas reações reforçam o quanto é essencial oferecer experiências significativas, que valorizem a autonomia, estimulem a criatividade e promovam o reconhecimento das capacidades ainda preservadas. Quando o idoso é convidado a criar, expressar e compartilhar, ele não apenas exercita habilidades cognitivas e motoras, mas também reconstrói sua autoestima e fortalece sua identidade — sentindo-se, de fato, visto e respeitado.       



Considerações Finais

A experiência relatada neste artigo reforça o potencial transformador da arteterapia no contexto das instituições de longa permanência para idosos. A atividade inspirada na obra de Henri Matisse mostrou-se não apenas uma estratégia de estimulação cognitiva e motora, mas também um poderoso recurso de expressão emocional, resgate de memórias e fortalecimento da autoestima.

Ao oportunizar que os idosos criassem, interagissem e refletissem sobre suas produções, foi possível observar o despertar de afetos, a construção de significados e o sentimento de pertencimento ao grupo. Mais do que o resultado estético das colagens, o que se evidenciou foi a importância do processo: o olhar atento, o toque cuidadoso, o som que embala, a partilha silenciosa ou falada — pequenos gestos que reafirmam a presença, a dignidade e o valor de cada um.

Diante do avanço do envelhecimento populacional no Brasil, ações como esta revelam-se fundamentais para qualificar o cuidado em ambientes institucionais, promovendo saúde, bem-estar e humanização. A arteterapia, nesse sentido, não é simples pintar ou colar, mas uma necessidade vital: ela amplia horizontes, reconecta histórias, ressignificar e devolve ao idoso a possibilidade de continuar sendo autor de sua própria existência.

                  


Referências

AMARAL, A.; NASCIMENTO, A. L. Tratado do jogo: das regras às regras em jogo. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2025. 669 p.

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasil tem 160 mil pessoas vivendo em asilos e 14 mil em orfanatos. Agência Brasil, 28 set. 2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-09/brasil-tem-160-mil-pessoas-vivendo-em-asilos-e-14-mil-em-orfanatos. Acesso em: 15 jul. 2025.

GONÇALVES, A.; ALVES, L. C. Idade prospectiva e as novas medidas de envelhecimento populacional: indicadores para o Brasil e suas cinco regiões. Revista Brasileira de Estudos de População, São Paulo, v. 41, p. 1–24, e0278, 2024. DOI: 10.20947/S0102-3098a0278. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbepop/a/PFr6mrgfGjpdt8RzXdrGLmr/. Acesso em: 15 jul. 2025.

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Sobre os autores: 



Anderson Amaral – Arteterapeuta formado pelo Espaço Psi Rio de Janeiro. Mestre em Tecnologia no Espaço Hospitalar, Pós-graduação em Neurociência com ênfase em Envelhecimento. Pós-graduado em Geriatria e Gerontologia, Pós-graduação em Neuropsicologia ênfase em Reabilitação Cognitiva e Arteterapeuta do lar Amantino Câmara. Autora do Livro Jogos de Estimulação Cognitiva e Motora - WAK Editora e Co autora do livro Tratado do jogo: das regras às regras em jogo - WAK Editora



Adriana Limeira do Nascimento – Arteterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Pós-graduação em Saúde Menta, Pós-graduação em Saúde Pública e Brinquedista pela ABBri – Autora do Livro Jogos de Estimulação Cognitiva e Motora - WAK Editora e Co autora do livro Tratado do jogo: das regras às regras em jogo - WAK Editora


segunda-feira, 28 de julho de 2025

REFLEXÕES DE UMA ARTETERAPEUTA IMPERFEITA

 

 


Patrícia Paladino – SP

@patriciap.arteterapia

Talvez você ache que eu já tenha todas as respostas.
Eu mesma já quis acreditar nisso.
Mas a verdade é que, todos os dias, também estou aprendendo a me escutar.

Existe um mito silencioso que paira sobre os terapeutas: o de que estamos sempre bem, emocionalmente equilibrados, quase imunes às turbulências da vida. Como se o fato de trabalharmos com o sofrimento alheio nos blindasse do nosso próprio. Mas não é assim.
Eu sou arteterapeuta. E sou humana.
Tenho dias bons e dias ruins. Tenho dúvidas, dores, sombras. E sigo, como todos, em constante construção.

Acredito que a terapia é uma via de mão dupla. Enquanto alguém se permite ser visto, algo em mim também se transforma. Não estou no controle. Não sou um oráculo. E definitivamente não estou num pedestal.
O que faço, com presença e cuidado, é caminhar ao lado. Segurar a lanterna por um momento. Oferecer um espelho simbólico, uma imagem, uma cor. E, se for possível, construir um espaço seguro onde a alma possa respirar e se despir.

Jung dizia:

“Conhecer a própria escuridão é o melhor método para lidar com as trevas dos outros”

E eu não poderia concordar mais.

Como escreveu Beatriz Helena Paranhos Cardella:

“O psicólogo oferece o colo que aninha, o ombro que consola, a mão que encoraja, o discernimento que guia. Mesmo que em seu interior ele careça de tudo isso. [...] Para tanto, precisa de coragem. Uma coragem imensa. Um desprendimento admirável. Uma humildade encarnada – não virtuosa, mas condição necessária para exercer seu ofício com alguma dignidade” (CARDELLA, 2023, p. 241).

Se há algo que aprendi nesses caminhos é que ninguém cura ninguém, mas todos podemos ser testemunhas do crescimento do outro. E, ao sermos tocados por esse processo, também crescemos por dentro.

Ser arteterapeuta, para mim, é um compromisso com o outro, mas também comigo mesma. Com a honestidade de continuar me olhando. Com a humildade de saber que ainda estou em processo.
E com a confiança de que, mesmo imperfeita, posso ser instrumento de cuidado, afeto e transformação.

Como ela também diz:

“Sua precariedade pode estar a serviço do semelhante. Sua fragilidade carrega uma sabedoria sobre a condição humana – e esta mesma sabedoria pode ajudar um outro humano a recordar-se da potência presente em sua fragilidade” (CARDELLA, 2023, p. 44).

Se hoje eu caminho ao lado de outras pessoas, não é porque cheguei a algum lugar.
É porque aprendi que podemos seguir juntas.
E que o verdadeiro encontro se dá não quando um sabe mais que o outro, mas quando ambos se permitem ser humanos.

Trabalhar a partir da própria humanidade muda tudo. Muda a escuta, que se torna mais sensível. Muda o olhar, que deixa de buscar respostas prontas. E muda o espaço terapêutico, que deixa de ser um lugar de correção para se tornar um lugar de criação, escuta e acolhimento.

E isso só acontece quando há confiança. Quando o outro sente que não está sendo analisado, mas acolhido. Não estou ali para interpretar tudo o que é feito, mas para testemunhar o que se revela. E, às vezes, o mais importante é simplesmente sustentar o silêncio.

 

Referências

CARDELLA, Beatriz Helena Paranhos. O Curador Ferido e a Clínica Contemporânea. Amparo: Gráfica Foca, 2023.

 

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Sobre a autora: Patrícia Paladino

 


 
AATESP 984/0823
 
Arteterapeuta com formação pela USCS (Universidade de São Caetano do Sul) com especialização em psicologia analítica pela mesma universidade.
Ofereço Atendimentos individuais para adultos (on-line e presenciais em São Caetano do Sul), grupos  arteterapêuticos e vivências  criativas.

Contato:
Instagram : @patriciap.arteterapia
E-mail: patriciap.arteterapia@gmail.com

 



 

segunda-feira, 21 de julho de 2025

COLAR OS CACOS: REFLEXÕES SOBRE O FILME "VITÓRIA" E OS PROCESSOS DA ARTETERAPIA

 


Por Mônica Ruibal

 

*Contém spoiler


Assistir ao filme Vitória, protagonizado por Fernanda Montenegro, é também entrar num território simbólico profundamente potente, onde a vida e a arte se encontram no movimento de reparar, remendar, ressignificar.

Só que essa história não é só ficção. Vitória existiu. Seu nome verdadeiro era Joana Zeferino da Paz. Mulher nordestina, nascida em Alagoas, que viveu décadas no Rio de Janeiro, até que a violência da cidade invadiu sua porta. Sem ser ouvida, sem apoio, sem acolhimento das autoridades, Joana decidiu pegar uma câmera e, com as próprias mãos, filmar aquilo que parecia inominável: o tráfico, a violência, a corrupção, o abandono.

Gravou, sozinha, por meses, enquanto também seguia sua vida, colando os cacos da casa, das xícaras, da própria existência. Porque enquanto a cidade se estilhaçava em tiros, medo e silêncio, ela se recusava a ser só mais uma invisível.

Quando denunciou, precisou se esconder. Foi viver em Salvador, protegida, com um nome novo — Dona Vitória. Viveu discretamente, longe da terra onde tudo aconteceu, carregando suas lembranças, suas cicatrizes, seus quadros, sua fé.

E partiu recentemente, aos 97 anos, em paz, deixando esse legado de resistência e de coragem.

Vitória, essa mulher que carrega sua própria história de dor, solidão, invisibilidade e resistência, passa boa parte do filme tentando colar uma xícara quebrada.

As xícaras que se partiram não só pelos impactos dos tiroteios que atravessam a sua vida, mas também como reflexo da desintegração de seu mundo, de suas relações, de sua própria identidade naquele espaço.

E talvez aqui esteja uma das cenas mais simbólicas do filme — e que dialoga diretamente com o fazer arteterapêutico: quando ela coloca café nessa xícara remendada… e o café escorre, vaza pelas ranhuras.

A xícara já não sustenta mais. Ela não tem mais a mesma função. Aquilo que se quebrou até pode ser colado, mas jamais volta a ser como antes.



E o que isso tem a ver com Arteterapia?

Tudo.

A Arteterapia é, muitas vezes, esse espaço onde o cliente chega com seus cacos — da vida, das relações, das histórias, dos afetos — e se senta diante de nós com a pergunta silenciosa: “O que eu faço com isso?”

Nos processos arteterapêuticos, aprendemos que nem sempre se trata de consertar para que volte a ser como antes. Às vezes, trata-se de acolher o que quebrou, reconhecer as rachaduras, dar nome às dores, olhar para os vazamentos, e então… criar algo novo.

A xícara não volta a ser xícara. Mas ela pode se tornar escultura, mosaico, objeto poético, memória viva. E, muitas vezes, é isso que fazemos: ajudamos nossos clientes a transformar os estilhaços da vida em novas formas de existir.

 

Práticas que podemos propor a partir desse filme:

 

Trabalhar com colagem, com mosaicos, com cerâmica quebrada — convidando o cliente a criar algo novo a partir do que se quebrou.

Utilizar a metáfora da xícara: o que em você hoje já não comporta mais o que antes comportava? O que está vazando? O que você tenta sustentar, mas percebe que já não cabe?

Convidar o cliente a escrever uma carta para o espaço que precisou deixar, para aquilo que não serve mais, se despedindo, elaborando o luto.

Fazer uma instalação simbólica: uma mesa posta com xícaras quebradas, como representação dos lugares vazios, das ausências, e também dos espaços de reconstrução.

Trabalhar com o conceito do Kintsugi, técnica japonesa que valoriza as cicatrizes da cerâmica, preenchendo as rachaduras com ouro, como uma metáfora de que as feridas também fazem parte da beleza e da história de cada um.


O filme Vitória nos lembra que colar os cacos é um ato de resistência. De amor próprio. De reinvenção. Mas também nos lembra que nem sempre o colado volta a ser recipiente — às vezes, vira obra. Vira memória. Vira história.

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Sobre a autora: Mônica Ruibal



De São Paulo, graduada em Pedagogia com pós graduação em Arteterapia e Arte Reabilitação

Especialista em autismo, atuando em equipe multidisciplinar.

Em 2024 foi convidada a compor um painel sobre Arteterapia no Tearteiro, maior Festival de Autismo e Arte da América Latina.

 ARTBRAZIL, em Fort Lauderdale, expondo a sua arte e promovendo workshops sociais sobre o tema Autismo. 

Criadora do grupo Arte Autismo onde promove encontros e workshops sobre o tema.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Tecendo laços afetivos: um diálogo entre metodologias

 


Por Annamaria Bruno Riscarolli - RJ

@tessituradoser 

Construir um diálogo entre metodologias me recorda como percebo a escrita. Para mim, o ato de escrever guarda em si o gesto de tecer entre palavras e imagens. As ideias, os fios, podem surgir de uma imagem, uma frase lida aqui ou acolá. Pouco a pouco vão se unindo organicamente em versos formando estrofes, um tapete com ideias... Convidando o leitor a dançar pelas cores e texturas, por entre ritmos e entrelaçamentos de histórias, memórias, conectando e despertando novos caminhos, uma trama de possibilidades compondo uma grande tapeçaria que é o viver.

Os fios se encontram : o plantio do “Projeto EntreSaberes: Semeando Gentilezas”

Com muita alegria e gratidão partilho com vocês o trabalho realizado no XV Congresso Brasileiro de Arteterapia, em Vitória, Espírito Santo, em novembro 2024. Uma experiência tão enriquecedora que contou com grande aceitação da comunidade científica e dos participantes.

Este “plantio” surge da importância do trabalho conjunto das metodologias integrativas da Arteterapia, Biodança e Dança Circular. Desde 2017 estas metodologias foram incluídas como práticas integrativas e complementares (PICs) pelo SUS, fortalecendo e confirmando esse diálogo. Esse é fio condutor do Projeto EntreSaberes, desenvolvido no Espaço Tessitura do Ser na promoção de processos de autoconhecimento.

Confiante que este diálogo entre Arteterapia, Biodança e Dança Circular poderia impulsionar mais reflexões naquele Congresso, resolvi inscrever meu trabalho, dentro do eixo temático da Criatividade, na modalidade de apresentação de vivência arteterapêutica.

O tecer dialógico: Arteterapia, Biodança e Dança Circular

Saber dialogar é uma habilidade para criar consciência. É um espaço de compartilhamento de significações onde aprende-se a pensar junto, ainda que diferentemente. Da mesma forma, Arteterapia, Biodança e Dança Circular podem dialogar. Cada metodologia possui características específicas enquanto manejo de estratégias e métodos, mas todas têm um princípio em comum: estão a serviço de um melhor viver, por meio da linguagem não verbal. Não são processos de ordem puramente estética, mas sim de expressão do mundo interior. É justamente neste ponto que se observa o efeito terapêutico e educacional do entrelaçamento das três metodologias. Progressivamente e com regularidade, os participantes vão ampliando as descobertas de si mesmos, ampliando suas habilidades no campo relacional com o outro e com o ambiente, participando de forma mais integrada da dança do viver. Como aprendi com Rubem Alves: “A fala só é bonita quando nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção.”

O sabor do entrelaçar para multiplicar: Autoconhecimento precisa ser um bem acessível ao maior número de pessoas

Os gestos de trançar, de entrelaçar, abarcam conexões, histórias e proteção, sendo, assim, um símbolo de identidade e pertencimento. Atuando profissionalmente há bastante tempo em trabalhos sociais e comunidades, ou seja, em ambientes menos favorecidos, constatei que promover entrelaces é fundamental para desenvolver alternativas para construir vínculos de confiança mútua.

Nestes trabalhos, especialmente com pessoas em situação de vulnerabilidade social, aprendi a acolher saberes, a olhar subjetividades, a enxergar invisibilidades. Por isso sempre foi um movimento muito natural tecer a comunicação entre as metodologias que conduzo, guardando e respeitando suas singularidades, e colocando-as a serviço, de modo conjunto, de um viver mais pleno e significativo.

     

 


 



 

Trabalhos realizados com pessoas em
situação de vulnerabilidade social

Círculo de Acolhimento promovido pela AARJ - 2023

 

Estudos no campo da neurociência trazem importantes descobertas para uma transformação através da interação entre a arte e o movimento. Muitas vezes, compreender algo somente sob o aspecto intelectual não será suficiente para uma mudança de estilo de vida. Processos neurocientíficos mostram como a criatividade e a interação afetam o cérebro, estimulando a plasticidade neural e fortalecendo conexões. Quando nos movemos de forma livre e conectada, superamos barreiras psicológicas e sociais. Criamos espaço para a expressão autêntica e reencontramos o equilíbrio, onde o sistema límbico desempenha um papel central na integração de emoção e memória.

A arte, a dança e a conexão humana podem ativar as áreas responsáveis pela empatia, pela autorregulação e pela criatividade, ampliando nossa capacidade de nos transformarmos. Este é um ponto de comunhão, dialógico, entre a Arteterapia, Biodança e Dança Circular. A partir da utilização da linguagem não verbal, em vivências integradoras, as três metodologias promovem uma efetiva mudança interna, uma vez que convidam os indivíduos a ampliarem sua percepção de como experienciam o mundo.

O “Projeto EntreSaberes: Semeando Gentilezas” nasce do tecer e vivenciar junto, de saberes que originalmente são atividades milenares: arte e dança. Atravessam o tempo e a história. A pré-história narra esses diálogos. Já de muito tempo o homem deixa registros de seu cotidiano, das suas interações, oferecendo notícias do nosso desenvolvimento humano e social enquanto processo evolutivo.

Trazer a arte e a dança para resgatar o valor simbólico que nasce do sentir do corpo, como uma fonte confiável de conhecimento, é promover o pertencimento, num processo de transformação e ressignificação. Sabemos que a linguagem verbal é rica de significados, e que vivemos em um mundo verbal. Mas muitas vezes essa linguagem verbal carece de autenticidade e afetividade. Daí a proposta de trabalhar de maneira conjunta as três metodologias: primeiramente, “preparar” o corpo por meio das vivências de Biodança e Dança Circular, e depois apresentar as possibilidades arteterapêuticas expressivas dos materiais plásticos que vão registrar o mundo interior dançado. Esta abordagem proporciona um ampliar de fala mais coerente e conectada com eixo do sentir-pensar-agir, promovendo progressivamente um encontro mais harmonioso com Ser essencial do participante.

Assim, posso afirmar com convicção que, no Projeto EntreSaberes, Arteterapia, Biodança e Dança Circular estão unidas, tecidas e vivenciadas sob um único propósito: tornar mais humana a experiência da transformação, seja pela arte, pelo movimento ou pela ciência, como uma grande ciranda.

 “Minha ciranda não é minha só, ela e de todos nós...” Música “Minha ciranda” de Capiba

 


  


  

Trabalhos realizado no Espaço Tessitura do Ser – RJ

 

Bibliografia

ALVES, Rubem. Educação dos Sentidos e Mais... . Campinas: Verus Editora, 2012.

ARCURI , Irene Gaeta. Arteterapia e o Corpo Secreto – Técnicas expressivas coligadas ao trabalho corporal. São Paulo, SP: Vetor 2006.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 29ª Ed. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2004.

FREITAG, Vera Lucia; BADKE, Marcio Rossato. Práticas Integrativas e Complementares no SUS – o (re)conhecimento de técnicas milenares no cuidado à saúde contemporânea. Curitiba: Nova Práxis, 2019

RISCAROLLI, Annamaria Bruno. Vida: uma grande teia afetiva e social: Biodanza promovendo a comunicação afetiva nas relações sociais. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Formação de Facilitadora de Biodanza) – Escola de Biodanza Rio-Barra, Rio de Janeiro, 2013.

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Sobre a autora: Annamaria Bruno Riscarolli



Bacharel em Publicidade e Propaganda

Arte-educadora social

Arteterapeuta UBAAT 01/159/1004

Pós-graduada em Arteterapia em Educação e Saúde

Facilitadora de Biodanza RIOB 1302

Focalizadora de Dança Circular

Facilitadora Biocêntrica

Professora de Oficina de Artes em curso de pós-graduação de Arteterapia

Professora de Expressão Corporal/Dança em cursos de formação em Arteterapia

Coordenadora do Espaço Tessitura do Ser (@tessituradoser)

segunda-feira, 7 de julho de 2025

A ESCRITA EXPRESSIVA NO PROJETO DE EXTENSÃO "VIVÊNCIAS EM ARTETERAPIA" NA FACULDADE SANTA CASA BH



Por Nina - BH

 

Compreender a escrita além de um sistema de grafia e símbolos é essencial para ampliarmos conceitos e possibilidades relacionadas ao seu exercício,  sobretudo ao reconhecê-la como um importante recurso para a expressão humana e a educação emocional.

É possível empregá-la para finalidade terapêutica, como uma técnica em que indivíduos são convidados a escrever sobre seus pensamentos e sentimentos relacionados a diversos acontecimentos, semelhante à manutenção de um diário (SMYTH; PENNEBAKER; ARIGO, 2012).

 

Conhecida como escrita expressiva, terapêutica ou sentimental, esta técnica tem sido adotada por psicólogos, terapeutas e arteterapeutas. Seus benefícios e contribuições são relacionados ao autoconhecimento, regulação emocional e organização dos pensamentos do cliente, principalmente em relação à situações difíceis e traumas, ou a temas que o terapeuta deseja abordar com o cliente. 

Deste modo, incentivar a expressão pessoal do indivíduo através do exercício da escrita é uma forma de explorar contornos subjetivos à prática, trabalhar diferentes camadas sobre situações e experiências pessoais, com o intuito de proporcionar autoconhecimento, bem-estar e apurar o reconhecimento do indivíduo sobre as próprias emoções. 

O Projeto de Extensão “Vivências em Arteterapia”, em andamento como prática de estágio supervisionado na Faculdade Santa Casa BH, teve início em março de 2025 e terá conclusão em novembro do mesmo ano; atende a 20 alunos dos cursos  superiores de Gestão Hospitalar e Enfermagem, com sessões semanais de 120 minutos. As práticas são conduzidas pelas facilitadoras Nina (Aline da Conceição Santos Souza) e Shirley (Harleyde Shirley Cordeiro da Silva), pós-graduandas em Arteterapia pela Integrarte - Belo Horizonte. 

Desde a primeira sessão com o grupo, a escrita expressiva tem sido um recuso adotado no projeto, atrelada a temas voltados para o desenvolvimento pessoal como memórias afetivas, reconhecimentos e nomeação de sentimentos, biografia corporal, o processo de perdão, dentre outras pautas inerentes à vida. 



Frequentemente é exercitada após a realização de vivências plásticas, como a modelagem em argila, colagem, pintura com tinta guache ou aquarela, por exemplo. Há uma relação estreita entre a experiência plástica e a escrita expressiva, ambas as práticas são relacionadas ao tema/pauta da sessão. 

O tempo estimado para a atividade de escrita expressiva é entre 15 a 25 minutos, são usadas canetas coloridas, papéis de diferentes tamanhos, gramaturas e cores, uma vez que a cor escolhida para o exercício pode estar relacionada a algum significado para a pessoa. Além disso, desenhos e imagens podem ser agregados ao exercício da escrita, trazendo ainda mais sentido para a produção/obra e a reflexão sobre os símbolos implicados à criação do participante. 

Ao decorrer dos primeiros 4 meses do projeto, a atividade da escrita é explorada como um poderoso recurso de expressão individual, ela tem se mostrado como uma técnica criativa capaz de proporcionar a   autoconexão e o desenvolvimento pessoal dos participantes do projeto de extensão Vivências em Arteterapia. 

 

Referências 

Fonte, Bruna Ramos da. Escrita terapêutica: um caminho para a cura interior. Belo Horizonte. Letramento, 2021.

Pellisson, S. &  Boruchovitch, E. (2022). Estratégias de regulação emocional de estudantes universitários: uma revisão sistemática da literatura. Educ. Form., Fortaleza, v. 7, n. 1, e7152. 

Santana, V. S., & Gondim, S. M. G. (2016). Regulação emocional, bem-estar psicológico e bem-estar subjetivo. Estudos de Psicologia21(1), 58-68. doi: 10.5935/1678-4669.20160007. Link https://www.scielo.br/j/epsic/a/GCvs4yKTqq9HrLz6fcMhW4d/?lang=pt  

Smyth, M.J., Pennebaker, J.W., & Arigo, D. (2012). What are the health effects or disclosure? In Baum, A., Revenson, T. A., & Singer, J. (ed.). Clinical health psychology (pp. 131-149). New York: Taylor & Francis.    

 

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Sobre a autora: Nina