“Zodiac” – Mucha
Por Claudia Abe
Por Claudia Maria Orfei Abe -
São Paulo/SP
Instagram: @claudia_abe_
Há algum tempo sentia vontade
de levar desenhos impressos para meu pai e minha tia materna colorirem, com o
tema Art Nouveau, do artista tcheco Alphonse Maria Mucha. Ainda mais
depois de eu ter ido à uma exposição belíssima deste artista, na sede da FIESP*
na Av. Paulista, em São Paulo.
Pesquisei alguns sites na internet,
para saber um pouco mais sobre a Art Nouveau e Mucha e complementar esse meu
texto:
A Art Nouveau foi um
movimento artístico iniciado na Europa no século XIX. Surgiu como um desejo de
rompimento dos padrões clássicos da arte acadêmica das Belas Artes. Buscava a
originalidade tanto na forma de expressão como pelo uso de materiais pouco
explorados nas artes, como vidro, madeira, ferro e cimento, e havia também uma
presença marcante de elementos orgânicos como flores, plantas e folhagens.
Tiveram a influência de técnicas usadas na arte japonesa, assim como o uso de
linhas e formas mais arredondadas que imprimiam movimento e elegância às obras.
Alphonse Mucha era pintor,
escultor, fotógrafo, decorador e professor. Ganhou fama a partir de 1895,
quando seu primeiro cartaz para a atriz Sarah Bernhardt passou a circular em
Paris. Aliás, os painéis da cidade acabaram se tornando “galerias ao ar livre”,
trazendo um “sopro de ar fresco” à cena artística parisiense. Mucha passou a realizar
campanhas publicitárias encomendadas por gráficas além de criar painéis
decorativos para interiores, como forma de arte acessível ao público em geral.
O estilo Mucha representaria o
Art Nouveau, com suas formas sinuosas, linhas orgânicas e uma gama sutil
de tons pastel.
Voltando para o nosso encontro
arteterapêutico...
Escolhi três gravuras para
impressão. Como meu pai e minha tia já haviam trabalhado anteriormente com giz
pastel seco, achei que não haveria nenhuma dificuldade.
O
pastel seco é um material intermediário, pois ele permite a passagem do
controle e da segurança do traço para a leveza e a fluidez das tintas. (CARRANO
e REQUIÃO, 2013, pág. 84)
Para iniciar a sessão, como
sempre, contei um pouco sobre o artista e mostrei algumas obras deste artista
pelo celular, para o meu pai e tia materna. Coloquei duas gravuras sobre a mesa
e minha tia deixou meu pai escolher primeiro. Ele escolheu a obra “Le Fruit”
por ter muitas frutas desenhadas e ela ficou com a obra “La Plume”. Distribuí uma
caixa de giz pastel seco para cada um. Pai ficou com as cores fortes e básicas
e tia com as cores fluorescentes.
Meu pai começou colorindo as
frutas e pintou as unhas sem elas estarem desenhadas na gravura. Perguntou
quanto tempo teria para pintar, se era para terminar no mesmo dia. Respondi que
teriam uma hora. Sua pintura começou a ficar borrada pelo fato dele ir passando
a mão por cima do giz, espalhando as cores, cobrindo inclusive os traços pretos
originais do desenho.
Os
pastéis mais macios deslizam com facilidade, porém deixam um resíduo que se
espalha e “borra”, que podem dificultar o trabalho, por isso, é necessário
conhecer e experimentar a linguagem do material e seus recursos. Quando se tem
por objetivo integrar esses resíduos ao desenho e dar um ar mais esfumaçado e
fluido na composição, integrando as cores, o resultado pode ficar muito bom,
tornando-o mais uniforme, caso contrário pode “estragar” o trabalho,
borrando-o. (CARRANO e REQUIÃO, 2013, pág.83)
Minha tia começou pintando o
rosto, a boca, o braço na gravura. Fez com delicadeza e cuidado. Uma pintura
bem suave, esfumaçando o giz com o dedo, com muita calma.
Porém,
para dar um efeito mais bonito, o melhor mesmo é usar o dedo para espalhar o
pastel. (CARRANO e REQUIÃO, 2013, pág. 84)
Deixei um pedaço de papel
toalha umedecido para cada um limpar as mãos sujas pelo giz.
Sempre me chama muito a
atenção a forma de trabalhar do meu pai. As estratégias dele vão desde o uso de
materiais de apoio como régua e pinça, até outras formas de execução do
trabalho. Por exemplo: usar a régua para limitar o desenho na hora da pintura
com o giz, fazendo uma barreira física de proteção. Usar um pedaço de papel
higiênico sobre a pintura para protegê-la e não borrar a mesma. Acabei eu mesma
aprendendo este artifício e ensinando minha tia. Por um momento, ele acabou
passando papel higiênico por toda a pintura para retirar excessos de pó.
Pai sorriu e fez um sinal de
positivo com as mãos. “Descobri que essa coisa funciona no papel, retira o
excesso” (o uso do papel higiênico sobre o desenho pintado). Usou direto o
movimento de pintar e passar o papel por cima. Transformou o vestido que era
azul escuro em azul claro.
Contei a eles que os artistas
pintavam quadros enormes com giz pastel seco. Pai deu uma suspirada. Falei que
da próxima vez traria um desenho do tamanho da parede para eles pintarem.
“Avisa o dia que você vem,
que eu falto, eu alego doença na perna”, disse meu pai, brincando.
Ele mostrou um ponto preto no
braço da mulher no desenho e disse: Isso aqui é a vacina que ela tomou. Mamma
mia, quanto lavoro**. Essa mulher me deu muito trabalho. Se você me deixasse
aqui eu ainda pintava. Não pode, né?
Perguntei por que ele
precisaria de mais tempo –Tá muito leve. Eu queria fazer as frutas com
círculos (para dar volume), e com defeitos na pera. Aproveitei para mostrar
pelo celular, um detalhe na obra “Cesto de Frutas” do pintor italiano Caravaggio,
sobre as marcas das frutas pintadas que mostram seu amadurecimento, e
conversamos um pouco mais sobre outras obras de Caravaggio.
Pai terminou seu trabalho apesar de querer continuar. Puxa, podia caprichar na pera, nas uvas, dar aquele brilho. Não tô satisfeito com a minha obra. Frutas saborosas. Eu ainda queria pintar melhor. Minha obra não está ainda como eu gostaria. Tem pedaços que está sem pintura. Se eu puser “Tudo Saudável”, a moça parece saudável, as frutas frescas. Tudo parece apetitoso.
Compartilhamento
Tia:
Dirigindo-se a uma festa.
Eu achei fácil de pintar,
achei o colorido ficou bom. Gostei da gravura.
Pai:
“Aspecto saudável”
Para mim seria: “Frutas
delicadas nos braços de uma jovem”.
Parece que me faltou um pouco
de habilidade porque eu costumo pintar com força, com cor mais forte. A uva eu
pintaria de preto. A uva preta dá muito mais aspecto. A pera seria amarelo
avermelhado, bem maior. Acho que aqui as cores não estavam bem fortes para mim.
Traz outra gravura. Você traz outra gravura e você vê a habilidade do pintor.
Se for fazer só coisa fácil...aí...japonês em Tóquio...Mamma mia...moleza.
Quando cheguei em casa, eu
mesma resolvi colorir com giz pastel seco, a gravura que havia imprimido –
“Zodiac” de Mucha (foto no início deste texto). E foi então que ao longo
do processo, fui percebendo o quão difícil era pintar com o giz em áreas
pequenas com muitos detalhes; fiquei me perguntando como meu pai e minha tia
tinham conseguido fazer as pinturas num período tão curto de uma sessão. Como
já era tarde da noite, acabei dando um “tapa” para finalizar meu trabalho e fui
dormir.
Nota 1: Ao
olharem seus trabalhos finais, mostrei novamente as pinturas de Mucha e frisei
que nestes trabalhos a proposta era o uso de cores em tons pastel, suaves.
Nota 2:
*FIESP = Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
Nota 3: **quanto
lavoro (em italiano) = quanto trabalho
Nota 4:
Dedico esse texto ao amigo Arthur Blade, psicanalista, artista plástico, historiador
da arte, fotógrafo, ator, diretor de teatro, cineasta, escritor e poeta. Ele
mesmo produz uma linha de sketchbooks – Art Blade.Books. Não sei que horas ele
dorme, mas realiza tudo e com excelência! @blade.arthur
Bibliografia:
CARRANO, Eveline e REQUIÃO,
Maria Helena – Materiais de arte: sua linguagem subjetiva para o
trabalho terapêutico e pedagógico. – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013.
Internet:
https://www.significados.com.br/art-nouveau/
Acessada em 31/07/2022.
https://dasartes.com.br/materias/alphonse-mucha/ Acessada
em 31/07/2022.
Se você quiser ler meus textos
anteriores neste blog, são eles:
19- Tô Vivo! – 22/08/22
18- A Massa Caseira como
Recurso Arteterapêutico – 18/07/22
17- As Bailarinas de Degas –
16/05/22
16- Degas e as Mulheres – 21/03/22
15- Ah, o Tempo... – 14/02/22
14- As Cores em Marilyn Monroe
– 13/12/21
13- Um Desafio – 11/10/21
12- O Branco no Branco –
23/08/21
11- Tudo Começa em Pizza –
28/06/21
10- Um Material Inusitado – O
Carimbo de Placenta – 10/05/21
9- As Vistas do Monte Fuji –
22/03/21
8- É Pitanga! – 07/12/20
7- O que é que a Baiana tem? –
26/10/20
6- Escrita prá lá de criativa
– 27/09/20
5- Fazer o Máximo com o Mínimo
– 01/06/20
4- Tempo de Corona Vírus,
Tempo de se reinventar – 13/04/20
3- Minha Origem: Itália e
Japão – 17/02/20
2- Salvador Dalí e “As Minhas
Gavetas Internas” – 11/11/19
1- “’O olhar que não se
perdeu’: diálogos arteterapêuticos entre pai e filha” – 19/08/19
Sobre a autora: Claudia Maria
Orfei Abe
Arteterapeuta e
Farmacêutica-Bioquímica
Curtindo a exposição Mostra
UMAPAZ: Yoshio Abe & Luciana Orfei: Arte na Melhor Idade...eu e os
autores das obras – pai e tia, setembro 2022.
Meu contato pelo Instagram:
@claudia_abe_