Psicologia da Gestalt também é conhecida como Psicologia das Formas, mas
não podemos nos confundir ao acreditar que é uma psicologia que preza os
formatos, formas é diferente de formatos. Entendemos como formatos os moldes,
uma forma que adquiriu um significado e por formas entendemos como a
possibilidade de ser qualquer coisa, ou seja, um significante. É assim que
Kandinsky expressa sua arte, a partir de formas, de significantes e a Gestalt
nos explica como existe uma tendência em traduzirmos essas formas em formatos,
ou seja, como nós, seres humanos, tendemos, inata e pelo aprendizado, a
organizar essas formas para que elas nos transmitam uma mensagem de melhor
conforto para nossa mente consciente, pois é aqui que a Gestalt se se debruça.
Para a Psicologia da Gestalt e, posteriormente, a Gestalt-terapia, a
consciência é tudo que temos para analisar, pois é nela onde os fenômenos se
apresentam. Não há a preocupação em buscar uma causa ou uma instancia
inconsciente que governe nossas ações. Sua abordagem é fenomenológica, e uma de
suas fontes filosóficas é o existencialismo.
Nos estudos da Psicologia da Gestalt nos deparamos com alguns conceitos
e algumas leis da percepção, ou seja, o modus
operandi de como nossa percepção, a capacidade de receber a sensação e
decodifica-la, se organiza para compreender um fenômeno, um estímulo.
Dentre esses conceitos temos o de figura-fundo,
ou seja, a figura como aquilo que está no topo na nossa cadeia de hierarquias e
o fundo como todo o contexto por trás dela.
O que você vê nesta
imagem? Apenas uma figura?
Mas como essa teoria pode nos ajudar em nossa prática enquanto
Arteterapeuta?
Trabalhamos basicamente com as imagens produzidas pelo nosso cliente,
independente do material escolhido ou sugerido. As imagens são a expressão de
sua percepção sobre seus afetos, suas relações, seus pensamentos e suas
angústias. Muitas vezes as hierarquias não estão bem estabelecidas e vemos numa
mancha de tinta, ou numa colagem um completo caos, uma desorganização que
muitas vezes traz uma inércia, um não saber de onde partir e para onde ir.
Identificar através de algumas técnicas a figura que emerge dessa Gestalt
(forma) é ajudar a buscar um fluxo de abertura e fechamento de Gestalten, ou seja,
uma capacidade de sentir a necessidade, ir a busca de sua saciedade, analisar e
despotencializar as interrupções desse movimento e com isso partir para novas
etapas do processo terapêutico e, mais além, o processo da nossa vida.
Vemos também o princípio de agrupamento,
onde nossa percepção tende a agrupar estímulos que possuam alguma semelhança
entre si. Há também o fechamento, ou
seja, tendemos a completar, preencher falhas de estímulos que se apresentem a
nós. Nossa percepção tende a nos colocar num entendimento sobre a vida de forma
mais simples e mais confortável para nós, isso nos mostra que para conseguirmos
enxergar de forma clara aquilo que se apresenta é preciso um esforço de olhar
para além dos formatos e perceber as formas e as múltiplas possibilidades que
existem ali.
Foi isso que Kandinsky expressava com o abstracionismo, as formas e suas
potencias, com suas tensões e conflitos, com a busca em equilibrar, sem negar,
nem esconder. Argan completa
“a arte [...], é a consciência de
algo de que, de outra forma, não se teria consciência: não há duvida de que ela
amplia a experiência que o homem tem da realidade e lhe abre novas
possibilidades e modalidades de ação. E o que é conscientizado pela consciência
que se realiza na operação artística? O fenômeno enquanto fenômeno. [...] A
finalidade última de Kandinsky é levar o fenômeno enquanto tal à consciência,
de fazê-lo ocorrer na consciência;
como o fenômeno é existência, aquilo que se leva e se faz ocorrer na consciência é a própria existência. Esta é a função
insubstituível da arte.”
É importante o profissional e o estudante de arteterapia buscar a força
da obra produzida, buscar o todo, buscar atingir o fluxo de necessidades e o
movimento em busca de saciá-las.
Buscar o fluxo do vir a ser, o movimento de entrar em contato com o
mundo e com as várias possibilidades que existem nele, para além do mundo dos
formatos pré-estabelecidos.
Nestas sequencias de publicação podemos ter um breve vislumbre de novas
modalidades de ver e estudar a arteterapia, que não excluem outras que já fazem
parte do método escolhido pelo profissional, mas soma à sua prática e amplia
suas próprias percepções sobre essa grande área que se estabelece cada vez mais
que é a Arteterapia.
Bibliografias usadas:
NICOLETTO, Ugo. RIZZON, Luiz Antônio. BISI, Guy Paulo. BRAGHIROLLI,
Elaine Maria. Psicologia Geral. Ed. Vozes. 23ª edição. Petrópolis, RJ.
FAGAN, Joen. SHEPHERD, Irma Lee. Gestalt-Terapia. Teoria, Técnicas e
Aplicações. Ed. Zahar 4ª edição. Rio de Janeiro, RJ
KANDINSKY, Wassily. Do espiritual na arte. Ed. Martins Fontes. Rio de
Janeiro.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Ed. Companhia das Letras.