Rita Finotti Pardi – SP
@finottirita
Sou Rita Finotti Pardi, pós-graduada em Arteterapia pelo Instituto Freedom-SP e Arte Educadora formada pela Faculdade Belas Artes-SP. Tendo em vista meu interesse latente pelo tema trauma, mesmo não tendo essa especialização formal, venho estudando e buscando entender de forma espontânea e autodidata o trauma e suas consequências. Apresento aqui alguns fragmentos de minhas pesquisas pessoais, baseadas em lives e aulas através do canal do YouTube dadas pelas professoras e terapeutas Cecília Lauriano (@cecilia.laurianooficial) e Liana Netto (@liananetto). Sendo um assunto atual e pertinente, compartilho este artigo na expectativa de contribuir de alguma forma.
Trauma pode ser definido como uma resposta psicológica e emocional avassaladora a eventos ou experiências que ameaçam a integridade física, emocional ou psicológica de uma pessoa. Trauma é o que nos acontece na vida, é o incontrolável, o imponderável, como a morte, doenças, acidentes, rompimentos de relacionamentos, eventos naturais. Esses eventos são percebidos como inesperados, avassaladores e muitas vezes estão além da capacidade de enfrentamento da pessoa envolvida. É importante ressaltar que o trauma não está apenas no evento em si, mas a forma como o sistema nervoso reage a ele. Esta reação pode ser altamente subjetiva e influenciada pela história de vida, experiências passadas e capacidade de adaptação do indivíduo.
O trauma pode assumir diferentes formas e manifestar-se de várias maneiras, desde eventos únicos e graves, como acidentes ou agressões, até experiências prolongadas de abuso emocional, negligência ou violência. Além disso, o trauma pode ser resultado de exposição repetida e prolongada a situações estressantes, especialmente durante a infância, conhecido como trauma complexo.
É essencial compreender que o impacto do trauma vai além do evento inicial. Pode afetar profundamente a maneira como uma pessoa se percebe, como se relaciona com os outros e como enfrenta o mundo ao seu redor. Os sintomas do trauma podem incluir uma ampla gama de manifestações físicas, emocionais, comportamentais e cognitivas, que podem variar em gravidade e duração. É uma experiência que transcende a mera adversidade e pode deixar marcas duradouras na vida de um indivíduo. É um fenômeno complexo que requer compreensão, sensibilidade e intervenção terapêutica adequada para promover a cura e a resiliência emocional.
Resumidamente, o trauma é um conceito
que pode ser definido de maneira simples: ocorre quando o tempo não consegue
curar uma ferida. Independentemente de quanto tempo tenha passado, seja desde o
útero materno, desde o nascimento, ou em qualquer fase da infância ou
adolescência, até mesmo a fase adulta, se a ferida não foi adequadamente
amparada e não avançou para a cicatrização, isso resulta em
traumatização.
A
Traumatização é a cronificação, paralisação, fixação, é o desfecho
provocado pelo evento traumático. Esse senso de desconexão e desamparo é o
ambiente para sua instalação. Quando não conseguimos elaborar, quando esses
eventos rompem os nossos limites, não são incorporados na correnteza da
autorregulação da nossa resiliência e criam fixações.
Tipos de trauma:
- Trauma Agudo: resulta de um evento
único e muitas vezes repentino, como acidentes graves, agressões físicas,
assaltos, desastres naturais ou eventos violentos.
Este tipo de trauma geralmente ocorre de forma inesperada e pode ter um impacto imediato e avassalador na pessoa afetada, (Ex: o caso RS).
- Trauma Crônico: refere-se a experiências prolongadas de estresse ou adversidade ao longo do tempo. Pode incluir situações como abuso emocional, negligência, violência doméstica, exposição a conflitos armados ou condições de vida precárias. O trauma crônico pode causar danos duradouros à saúde mental e emocional, afetando a capacidade da pessoa de funcionar no dia a dia.
- Trauma Complexo: é resultado da exposição repetida e prolongada a eventos traumáticos, especialmente durante a infância. Geralmente está associado a situações de abuso ou negligência crônicos, onde a pessoa enfrenta múltiplos traumas ao longo do tempo. Este tipo de trauma pode causar danos profundos no desenvolvimento emocional e psicológico da pessoa, afetando sua autoestima, relacionamentos e capacidade de confiar nos outros.
- Trauma Vicariante (ou "fadiga por compaixão"): ocorre pela exposição às histórias traumáticas de outras pessoas. Mesmo que não tenham vivenciado diretamente os eventos traumáticos, a empatia e a conexão com as experiências dos outros podem causar estresse emocional e sintomas semelhantes aos do trauma direto. O trauma vicariante pode resultar em esgotamento emocional, ansiedade, depressão e outros sintomas semelhantes aos do trauma direto, exigindo cuidados terapêuticos específicos É quando nos falta “musculatura” emocional. Além disso, pode desenvolver-se em familiares das pessoas afetadas diretamente, voluntários e profissionais que atuam na linha de frente
Abordagens Terapêuticas utilizadas no tratamento do trauma:
- Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC): a TCC é uma abordagem baseada na identificação e modificação de padrões
de pensamento negativos e comportamentos disfuncionais associados ao trauma.
Ajuda os pacientes a reconhecer e desafiar crenças distorcidas sobre si mesmos
e o mundo, promovendo uma visão mais realista e adaptativa das experiências
traumáticas. Estratégias como dessensibilização sistemática e reprocessamento
cognitivo são frequentemente usadas para ajudar os pacientes a lidar com
memórias traumáticas e reduzir sintomas de estresse pós-traumático.
- Terapia de Exposição Gradual: esta abordagem envolve a exposição controlada e gradual às lembranças ou situações que desencadeiam sintomas de trauma. O terapeuta ajuda o paciente a enfrentar gradualmente as memórias traumáticas, permitindo-lhes processar e integrar essas experiências de uma maneira segura e terapêutica. A exposição gradativa pode ajudar a reduzir a intensidade e a frequência dos sintomas de estresse pós-traumático ao longo do tempo.
- Dessensibilização e Reprocessamento
por Movimentos Oculares (EMDR): O EMDR é uma abordagem terapêutica que combina
técnicas de exposição com estímulos bilaterais, como movimentos oculares,
toques táteis ou estímulos sonoros. Ajuda os pacientes a processar lembranças
traumáticas de forma menos intensa, facilitando a reestruturação cognitiva e a
redução dos sintomas de ansiedade e estresse.
- Terapia Centrada no Trauma: Esta abordagem terapêutica concentra-se na compreensão e na validação das experiências traumáticas do paciente, criando um espaço seguro para explorar e processar o trauma. O terapeuta trabalha em parceria com o paciente para reconstruir um senso de segurança e autonomia, promovendo a resiliência emocional e a recuperação do trauma.
-
Arteterapia: Ela oferece uma forma
não verbal de comunicação que pode ser especialmente útil para pacientes que
tenham dificuldades em expressar suas emoções e experiências verbalmente. Pode ajudar os pacientes a acessar e
integrar memórias traumáticas de uma maneira segura e terapêutica, promovendo a
cura emocional e a resiliência. Utilizar
a arte e outras formas de expressão criativa pode oferecer ao paciente uma
maneira alternativa e não verbal de processar suas experiências traumáticas.
Isso permite que se expressem de maneira mais livre e autêntica, respeitando
sua demanda de fala ou por silêncio.
Cuidados Terapêuticos para o Tratamento de Trauma:
No tratamento de pacientes de trauma, é
fundamental adotar uma abordagem sensível e centrada no cliente, levando em
consideração suas necessidades individuais e respeitando sua demanda de fala ou
de silêncio. Aqui estão alguns cuidados terapêuticos importantes a serem
considerados:
- Estabelecimento de uma Relação de
Confiança: construir uma relação terapêutica sólida e de confiança é
fundamental. Isso envolve demonstrar empatia, aceitação incondicional e
respeito pelo ritmo do paciente.
- Respeito à Autonomia e Autodeterminação: reconhecer e respeitar a autonomia do paciente é essencial. Isso inclui permitir que o paciente tome decisões sobre seu próprio tratamento e respeitar seus limites individuais.
- Validação e Empoderamento: validar as experiências do paciente e reconhecer a coragem que ele demonstra ao enfrentar o trauma pode ser extremamente capacitador. Isso ajuda a fortalecer a autoconfiança e promover um senso de controle sobre sua própria narrativa.
- Foco no aqui e agora: embora seja importante explorar e processar as experiências passadas, é igualmente importante manter um foco no presente. Isso ajuda o paciente a desenvolver habilidades de enfrentamento eficazes para lidar com desafios atuais.
- Flexibilidade e Adaptabilidade:
reconhecer que cada pessoa responde ao trauma de maneira diferente e estar
preparado para adaptar as abordagens terapêuticas de acordo com as necessidades
individuais do paciente é essencial.
Ao adotar esses cuidados terapêuticos, de respeito, de presença, de escuta, podemos criar um ambiente seguro e solidário que promova a autorregulação, cura e a resiliência nos pacientes de trauma, respeitando sua jornada individual de recuperação.
Finalizo com uma frase que muito fez sentido para mim: Trauma – “Muitas vezes no terrível que a gente encontra o incrível. ” De Liana Netto.
Deixo uma sugestão de livro para quem
quiser maior entendimento: “UMA VOZ SEM PALAVRAS” de Peter A. Levine, que
aborda como o corpo libera o trauma e restaura o bem-estar.
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Sobre a autora: Rita Finotti Pardi
Pós-graduada em Arteterapia pelo Instituto Freedom-SP e Arte Educadora formada pela Faculdade Belas Artes-SP.
Frequanta ativamente a rede Não Palavra e Crisântemo, se preparando para novos vôos na Arteterapia.