segunda-feira, 29 de abril de 2024

A IMPORTÂNCIA DAS HISTÓRIAS NO PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

 


Por Elaine Cristina Tomaz - Ribeirão Preto/SP

@tessera.arteeterapia 

Era uma vez... Tantas ocasiões ao longo da vida escutamos esta expressão, ou ainda alguém que nos diz: “vou te contar uma história”. 

Desde crianças bem pequenas, ouvimos histórias de nossa família, dos livros preferidos, com professores, os amigos da escola e, quando mais velhos, as narrativas que nós escolhemos. 

As histórias capturam pessoas de várias idades, pois uma história bem contada tem o poder de acessar profundamente os pensamentos, emoções e experiências de uma pessoa – das mais difíceis, às mais felizes. 

No livro “Contos para Curar e Crescer”, Jean Monbourquette (Dufour, 2005) ressalta a afinidade incontestável que existe entre o psiquismo humano e a arte de se exprimir através de histórias. E ainda questiona: “não é verdade que quando dormimos, nosso inconsciente se delicia em contar histórias sob a forma de sonhos? Sabemos muito bem que retemos melhor o conhecimento e os princípios da sabedoria humana quando são transmitidos nos enredos das histórias”. 

Neste sentido, Giordano (2007) enfatiza:

 

O Era uma vez...é o lugar onde mora o reino das possibilidades, e o lugar onde não há tempo nem espaço, é aquele lugar onde as pessoas dizem: saí daqui e durante o conto estava lá! Mas lá onde? No Era uma vez..., as personagens do conto te guiam para dentro de você mesmo rumo às suas próprias possibilidades. Esse lugar é onde se compartilha sentimentos de pertencimento com todos os humanos. 

As narrativas são repertórios de alegria, reflexão, criatividade, heroísmo, imaginação e acionam em nós sensações de acolhimento, identificação, encantamento, inspiração e incentivo. Historias também podem enriquecer nosso vocabulário, nos estimulando a falas mais assertivas e aumentando as habilidades de escuta o que, consequentemente, gera uma comunicação melhor. 

No setting Arteterapêutico, contar histórias é um recurso valiosíssimo, que beneficia todas as idades – da criança ao idoso, passando pelos adolescentes e adultos. 

As histórias são ferramentas para despertar imagens, acionar memórias guardadas, mergulhar em nosso psiquismo, desafiar nossas crenças cristalizadas e nos levar a considerar novos pontos de vista, nos dar voz e possibilidades para expressar em arte, aquilo que muitas vezes sentimos, pensamos, mas não temos como explicar, nos encoraja, provoca e podem ser base para processos terapêuticos valiosos, pois fazem o caminho do intelecto e da imaginação ao nosso coração e vice-versa, proporcionando uma organização interna e outro olhar, um novo significado às nossas próprias histórias de vida. 

Diante disso, Philippini (2013), ressalta que:

 

As estruturas simbólicas destes relatos expressam fenômenos universais por serem oriundas do inconsciente coletivo. São desdobramentos da memória humana ancestral e estuda-lás vai facilitar nossa compreensão do psiquismo humano em sua trajetória de aperfeiçoamento e individuação. 

A autora (2013) nos lembra ainda que estas estruturas reaparecem de forma similar, reapresentadas nas tramas contemporâneas de todos nós e, desta forma, sugere aos profissionais da Arteterapia “aprofundar-se no fantástico universo dos mitos, contos de fada, fábulas, contos de ensinamento”. 

Como Arteterapeutas, é importante procurarmos narrativas que tenham relação com o processo do cliente, estudar, observar, buscar, intuir, temas que possam despertar, acolher, encantar, proporcionar reflexões e oferecer estímulos de forma que o paciente entre em contato com seus questionamentos, dores, potenciais, inquietações e sonhos e, também para que possa expressar artisticamente o que sente, pensa e deseja. 

E muito além de uma moral da história e/ou um ensinamento, no processo arteterapêutico precisamos estar abertos ao que faz sentido ao paciente e a sua história de vida. Fazer questionamentos e oportunizar análises e considerações a partir de estímulos diversos de acordo com a idade do paciente, por exemplo: que parte da história mais o tocou e porquê; que frase ele destacaria para expressar em arte; que lembrança a história traz, o que o personagem principal tem a ver com ele; que personagem da história ele seria e porquê, que desenho faria para ilustrar a história; o que a história fala sobre o seu momento de vida; o que ele mudaria na história e porquê, o que mais gostou o que não gostou, como narraria aquela história; fazer associações livres e tantas outras possibilidades. 

E quais histórias contar? As clássicas, os livros de literatura infantil, mitos, contos de fadas, lendas, parábolas, fábulas e mil e uma histórias que falam do humano em nós. São instrumentos que podem ressignificar sentidos e promover o autoconhecimento, o crescimento, a cura, a saúde mental. 

Arteterapeuta AATESP 336/0616

 

Referências: 

Dufour, Michel. Contos para Curar e Crescer. (Trad.Alice Mesquita).São Paulo: Ground, 2005. 

Giordano, Alessandra. Contar histórias: um recurso arteterapêutico de transformação e cura. São Paulo: Artes Médicas, 2007 

Philippini, Angela. Para entender Arteterapia: Cartografias da Coragem. Rio de Janeiro: Wak, 2013.

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Sobre a autora:  Elaine Cristina Tomaz



Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Barão de Mauá, com Habilitação em Administração 

Escolar.

Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional - Centro Universitário Barão de Mauá.

Formação em Educação em Valores Humanos (Básico) pelo Instituto Sathya Sai de Ribeirão Preto.

Especialista em Arte e Arteterapia aplicada à Educação, Saúde, Social e Organizações pelo 

NAPE – Nucleo de Arte e Educação/FAVI – Faculdade Vicentina – AATESP 335/0616.

Formação em Mandala Terapêutica pelo CEIMAS® (Centro Internacional de Mandala, Arte e Simbolismo) - SP 

Formação como Facilitadora SoulCollage® pelo SoulCollage® Brasil. 

Atuou como Gerente de Projetos e Coordenadora de Formação de Mediadores de Oficinas de Leitura e Escrita na Fundação Palavra Mágica em Ribeirão Preto/SP

Professora Alfabetizadora das Redes Estadual e Municipal de Ribeirão Preto/SP. 

Atendimento em Arteterapia, Mandalaterapia e SoulCollage® para  jovens e adultos, individual e grupos, presencial e online em clinica própria – Téssera Arte & Terapia

@tessera.arteeterapia

segunda-feira, 15 de abril de 2024

“O QUE É AUTOESTIMA PARA VOCÊ?” A Autoestima no setting de Arteterapia - Parte 1



Por Milena Medeiros - Volta Redonda - RJ

milolmedeiros@gmail.com

Os estudos sobre o trauma sempre fizeram parte de meus grandes interesses, no que diz respeito à Saúde Mental; quando em uma das aulas assistidas sobre o tema, a questão sobre a AUTOESTIMA foi abordada: "o que é a autoestima para você?", perguntaram-me. Respondi sobre a adequação. Sobre se estar ok ou não ok no momento, no lugar, na interação... na vida. 

 Esta abordagem fez-me pensar, com uma atenção especial, sobre o meu trabalho arteterapêutico. Com isso, os estudos aprofundaram-se cada vez mais, enquanto que de "mãos dadas" à rotina de atendimentos - o caminho encarregava-se - pela sincronicidade, de alavancar de forma eficiente as entrelinhas de minhas intensões. Aquela foi uma fase em que o tema AUTOESTIMA cercou o setting com mais profundidade, imaginei. Porém hoje entendo que permeia de maneira integral os processos terapêuticos, tratando-se de uma construção humana advinda das nossas experiências vividas e que se desdobra em nossas sensações e reações, independente do perfil comportamental do sujeito que demanda os movimentos de vida no agora. Sendo, inclusive, esse um dos grandes motivos pelo qual a AUTOESTIMA está intrinsicamente ligada as questões sobre o trauma. 

Ficou claro para mim que carregamos conosco muitos conceitos a respeito da AUTOESTIMA e que nem sempre conseguimos nos referir a ela de forma objetiva. Assim concluí que um dos conceitos de que mais tomei nota durante a abordagem direcionada: "gostar de nós mesmos” - é ter autoestima, para a maioria de nós. 

 As pesquisas sobre o tema, assim como os estudos continuados em Arteterapia e Saúde Mental, o processo pessoal, as supervisões e o lastro do setting arteterapêutico trouxeram e trazem notícias de que uma das grandes raízes que nos liga a muitos de nossos desafios emocionais e psicofisiológicos  (sendo a psicofisiologia o estudo científico das relações entre os fenômenos psíquicos e os fenômenos fisiológicos) é a AUTOESTIMA. Cabendo a nós, adultos, encontrarmos saídas, sob a premissa do autocuidado, a importância de não nos distanciarmos de nossas histórias, pois nelas encontramos a chave para que nos tornemos seres saudáveis e passemos a entender a estrutura arraigada, complexa e visceralmente sentida, inclusive pelo corpo, em nossas posturas e sintomas, que a baixa autoestima nos traz, produzindo condições que afetam a saúde mental de forma negativa, como a depressão, a ansiedade, os distúrbios alimentares, entre outros. 

Nathaniel Brenden, psicoterapeuta e escritor, conhecido por seu trabalho na psicologia da autoestima, tece de forma cuidadosa sobre o tema, apontando cuidados terapêuticos que apoiam o autoconhecimento. Para Brenden ter a definição de autoestima internalizada é a vivência de que somos adequados. 

            Minha proposta arteterapêutica com o foco circunda em um trabalho contínuo e com base nos conceitos de Brenden:

1.Confiança em nossa capacidade de pensar; confiança em nossa habilidade de dar conta dos desafios básicos da vida e 2. Confiança em nosso direito de vencer e sermos felizes; a sensação de que temos valor e de que merecemos e podemos afirmar nossas necessidades e aquilo que queremos alcançar, nossas metas e colher os frutos de nossos esforços (BRENDEN, 2002, p. 22).  

            Levando em consideração o perfil de pacientes atendidos, empreendi o ajuste de estilo de atendimento com base na Arteterapia centrada sobre o processo, uma visão unificadora que integra a visão junguiana (universo simbólico da imagem), a Bioenergética, (sistema de terapia que combina respiração e exercícios corporais) e conceitos da Gestalt-terapia (abordagem centrada no aqui e agora).  Um processo que busca a consciência do sentir para um possível encontro com o bem estar. Nesse percurso o desenvolvimento do AUTOCUIDADO se coloca a serviço de cada parte pela composição da demanda de fala e de um agir criativo que integra a percepção corporal e a materialidade expressiva, criando um campo de informação que trará pelo inconsciente notícias de nossos desconfortos, dores e traumas profundos. Estruturas essas que compõem a baixa autoestima. 

 


Esquema de autoria de Milena Medeiros 


A AUTOESTIMA E A COLAGEM – Estudo de caso

 

Passo 1:  Receber a demanda do paciente/cliente e suas percepções e, com elas, refletir sobre a AUTOESTIMA.

Passo 2:   Sensibilizar o momento com a percepção corporal integral.

Passo 3: A materialidade expressiva inicia-se pela palavra C-O-N-F-I-A-N-Ç-A e ao paciente/cliente é solicitado que corte a silhueta de seu corpo.

Passo 4: Solicitar ao paciente/cliente que contemple a imagem.

Passo 5:  Realizar a análise corporal através da expressão colagem relacionada a silhueta (formas produzidas) em ambos traçam considerações, criando uma troca reflexiva entre paciente/cliente e arteterapeuta. 


 Colagem – Setting Arteterapêutico

Na imagem acima configurou-se em analise corporal 4 couraças (ocular, oral, cervical e toráxica) em tamanho discrepante ao resto da silhueta como acumulo de funcionalidade nos locais citados, como por exemplo, uma cabeça que age por sobrecargas e pulsações que vão ao encontro do estado emocional e físico do paciente/cliente na rotina de vida: ansiedade, cansaço mental, estresse, dores na cervical e ombros, desconforto no peito e falta de ar.  Fazendo uma analogia com uma casa que possui três cômodos, podemos imaginar que apenas um deles (cabeça/tórax) é mobiliado, enquanto os outros dois (abdômen e membros inferiores) encontram-se vazios. A palavra “fadiga”, encontrada durante a contemplação, fez emergir o movimento de vida atual do paciente/cliente, no que diz respeito a baixa autoestima, pois quando fadigada, por reflexo de situações vividas no passado e que já estão em pauta no processo arteterapêutico contínuo, sente-se inadequada. A palavra C-O-N-F-I-A-N-Ç-A no topo trouxe ditas expressões: “não me sinto confiante quando em exaustão extrema” / “Sinto-me perdida de mim.” Reflexões importantes acerca da sessão trouxeram “a luz” o movimento de que quanto mais baixa for a autoestima, mais propensos estaremos a esquecer quem somos e maior será a necessidade de provar quem somos.

Na segunda parte do texto, mais detalhes sobre a casuística serão colocados em estudo tanto pela ampliação da expressão arteterapêutica, quanto pela abordagem da Bioenergética - e o trabalho pela necessidade de equilíbrio entre os cômodos citados em analogia. A abordagem de Nathaniel Brenden estará presente junto dos 6 pilares da AUTOESTIMA, que estão sendo cuidadosamente semeados no setting de Arteterapia.

 

REFERÊNCIAS

 

BRENDEN, N. Autoestima e os seus seis pilares. Tradução de Vera Caputo. 7ed. São Paulo: Saraiva, 2002

 

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Sobre a autora: Milena Medeiros

 


Arteterapeuta AARJ1122

Coordenadora do Projeto de Atendimento Social do Não Palavra e demais projetos.

Cursando Bioenergética, uma abordagem de Alexandre Lowen – Corpo Terapeuta

Pós Graduada em Arte terapia pela Clínica Pomar RJ

Com mais de 15 anos de experiência em Gestão de Pessoas e Negócios no mercado Corporativo, hoje atua com a Arteterapia nas empresas.

Practicioner em PNL Programação Neuro Linguística pelo Instituto Espaço Ser/SC;

Certificada pela UNAT-Brasil - 101 Introdutório Oficial de Análise Transacional. Abordagem psicológica de Erick Berne que trata de maneira prática e compreensível os aspectos mais importantes da personalidade e das relações entre as pessoas;

Certificada em Visão Sistêmica Organizacional - Systemic Team Awareness - Mundo VUCA (Volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade); Metaforum Internacional SP

Certificada - Visão Sistêmica com base Psicoterapêutica de Bert Hellinger;

Graduada em Gestão de PMES - Universidade Metodista de SP.