Por Eliana Moraes
“Há muros que só a
paciência derruba.
Há pontes que só o
carinho constrói.” Cora Coralina
Estes
versos de Cora Coralina chegaram até mim em um cartão de natal que recebi de
uma paciente. E automaticamente me lembrei das discussões que o grupo de
estudos que coordeno “A prática da
arteterapia” construiu durante o ano de 2014.
Ao
refletirmos sobre as especificidades da técnica da arteterapia e a atuação do
arteterapeuta diante do paciente, observamos que não raras vezes o
arteterapeuta prioriza as técnicas que proporá ao seu paciente/cliente e se
dispersa do que é mais importante no setting terapêutico: o próprio
paciente/cliente. Discutimos sobre o perigo tão sutil, mas na mesma proporção
perigoso, que o arteterapeuta pode se perder: voltar o olhar para si – suas
interpretações, seus desejos, sua ansiedade, suas necessidades –, por que não
dizer, narcisicamente. Desta forma, dispersa-se do protagonismo do paciente em
seu caminho de autoconhecimento. Jornada que pertence exclusivamente à ele, e
ao arteterapeuta cabe estar junto.
A
cada encontro discutimos como é importante que o arteterapeuta esteja atento e
se instrumente teoricamente sobre os fenômenos da relação paciente-terapeuta: a
transferência e a contratransferência e seus manejos. Que mesmo a arteterapia
tendo como especificidade utilizar das técnicas expressivas como base, a
relação paciente/cliente e terapeuta se manifesta de forma imperativa. E se o
arteterapeuta não estiver instrumentalizado para manejá-la em paralelo com as
técnicas expressivas, não estará alcançando seu trabalho como terapeuta de
forma plena.
Ao
percebermos esta lacuna em nossas formações, dedicamo-nos à leitura de textos
que nos embasasse teoricamente sobre estes fenômenos e discutimos como estes
conceitos se manifestaram na prática de cada arteterapeuta participante do
grupo. Assim, a partir de uma grande discussão e troca o grupo chegou à algumas
importantes conclusões e pontos de atenção para a prática da arteterapia: o
protagonismo do paciente em seu caminho de autoconhecimento e o papel do
arteterapeuta de estar ao lado; os fenômenos da relação paciente/cliente, a importância de seus manejos e a necessidade do arteterapeuta
(ser humano que é) ter espaços para pensá-los – sua terapia pessoal, supervisão
e grupo de estudos; tomamos como propósitos para 2015 estudarmos e discutirmos
o triângulo paciente-terapeuta-técnica expressiva, e sobre como podemos
contribuir para que nossa profissão se estabeleça cada vez mais na área da
saúde, em equipes interdisciplinares e instituições.
Estamos
engajadas no propósito que o nome deste blog já traz: “Pensando a Arteterapia”. E estendemos nosso convite para aqueles
que, apaixonados ou ainda curiosos, tenham o desejo de partilhar conosco esta
jornada. Que venha 2015!