Parte central do tríptico “Jardim das Delícias”, 1504,
Hieronymus Bosch (1450/1516 | Países Baixos), Acervo: Museu do Prado, Madri.
Hieronymus Bosch (1450/1516 | Países Baixos), Acervo: Museu do Prado, Madri.
Por Eliana Moraes e Flávia Hargreaves
Nossa jornada pela História da
Arte iniciou-se por pura intuição em 2009, quando decidimos estudar a biografia
de alguns artistas. Conhecê-los nos fez perceber como suas histórias de vida
transbordavam para seus processos criativos e decidimos experimentá-los. Mais adiante, percebemos que não só os artistas individualmente, mas os movimentos
artísticos ao longo de toda a história do homem são transbordamentos de um
contexto histórico que traduzem questões humanas no coletivo.
Nossa pesquisa foi avançando e
percebemos que ao longo da história da humanidade e sua intensa produção de
imagens, o homem desenvolveu técnicas, foi movido por necessidades e desejos
diversos, usou a Arte com intenções e funções distintas (políticas, religiosas,
educativas, etc.), desenvolveu sua inteligência, habilidades manuais e
imaginação. Em todos os tempos, a Arte se apresenta como uma necessidade na
intermediação do homem com o meio, buscando um equilíbrio.
Como arteterapeutas, nosso
encantamento pela História da Arte se aprofundou ao constatarmos que toda esta
dinâmica nos oferece instrumentos poderosos e inspiradores para a nossa
prática. Levar para o setting
terapêutico (individual ou grupo) conteúdos da História da Arte como
estímulo projetivo – seja apresentando
a biografia de um artista e/ou experimentando seu processo criativo no campo
individual, ou entrar em contato com determinado movimento artístico, seu
contexto histórico e motivações expressivas no campo coletivo – significa rever
o potencial e a aplicabilidade desta como ferramenta na arteterapia.
Em nossa formação como
arteterapeutas com base teórica na Psicologia Analítica de Jung, estamos
familiarizados com o conceito de inconsciente coletivo, camada mais profunda da
psique, onde residem os “arquétipos”, estruturas herdadas, constituídas ao
longo de milhares de anos e que correspondem às experiências humanas
compartilhadas como nascimento, morte, juventude, envelhecimento, pai, mãe,
etc. Temos acesso a este vasto material, comum a todos os homens, através de
imagens que surgem em sonhos e fantasias materializadas na produção artística.
Estamos habituados a utilizar
como estímulo projetivo contos e mitos, partindo do princípio que
simbolicamente os conteúdos destas histórias são figuras arquetípicas presentes
em nosso psiquismo. Embasadas em nossa pesquisa e prática, acreditamos que a História da Arte também se apresenta com grande
potencial de estímulo projetivo, com sua grande riqueza e diversidade de
estilos, linguagens, técnicas, motivações, sempre dando forma às questões
humanas individuais e coletivas. Esta proposta dá ao paciente/cliente a
oportunidade de entrar em contato com estes diversos homens/épocas,
identificando como estas imagens os afetam, observando o processo de como se
percebe neste contexto, como se sente experimentando este estímulo e processo
criativo. É confortável, desconfortável? É um desafio possível de seguir em
frente ou é “agressivo” demais para mim? É estimulante ou motivo de
resistência? E assim por diante...
O estímulo por mitos e contos muitas
vezes demanda um exercício de interpretação simbólica que para alguns perfis de
pacientes/clientes é mais difícil entrar em contato. A
especificidade de utilizar a História da Arte, está em trazer fatos, histórias reais,
localizadas no tempo e no espaço, imagens mais próximas e de fácil acesso, mas
que, como os mitos, trazem conteúdos ricos e possíveis de amplificar, tendo
sempre em mente que é justamente a Arte a principal responsável por
materializar, dar forma, ao longo da história da humanidade aos conteúdos do
inconsciente coletivo, ilustrando inclusive os contos e os mitos.
Comentário de Sonia pinto pelo fb: "Adorei o texto e concordo plenamente! Que bom encontrar pessoas q pensam assim , q a arte é terapêutica em si mesma, sem q isto diminua sua função, já q é uma de suas funções e tão digna, quantos outras tantas aplicações q ela possa ter, pois ela é muito abrangente, já q reflete a multiplicidade do ser humano." (4/11/2014)
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