Por Andréa Goulart de Carvalho – BH/MG
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Ascenção Florescente – Cartão de SoulCollage®
Andréa Goulart de Carvalho
Falar em Universo Arteterapêutico não é
nenhum exagero. A Arteterapia é multidisciplinar. Conjuga saberes da arte, da
psicologia, filosofia, mitologia, das ciências em geral. Tece sua história e
seu trajeto através da experiência e vivências embasadas em literatura de
qualidade e vem atuando, de maneira eficaz, em áreas da saúde, da educação, na empresarial,
entre outras.
Com uma visão aberta e inovadora a
AMART, Associação Mineira de Arteterapia, me convidou para mediar a 1a
Roda de Conversa, realizada no dia 5 de setembro último, com o objetivo
promover debates para troca de saberes e fazeres referentes ao imenso universo
Arteterapêutico.
A perspectiva é promover a nossa
profissão/atividade, embasar profissionais arteterapeutas, estudantes e
interessados na gama da Arte/Saúde, com conteúdos pertinentes, em seus muitos
aspectos.
As Rodas de Conversa são ferramentas
didáticas, utilizadas principalmente na educação e também em grupos diversos,
para diferentes fins como aprendizagem, busca de soluções econômicas,
politicas, etc. Para esta 1a Roda de Conversa da AMART foram
escolhidos a Imaginação Ativa e a Visualização Criativa como temas.
Me atenho aqui ao tema da Imaginação
Ativa e tentarei relatar um pouco do que foi apresentado para o grupo. Tarefa
desafiadora com um assunto tão vasto e de difícil compreensão, abordado apenas teoricamente,
sem uma prática vivencial, a qual deve ser conduzida por um profissional psicólogo/analista,
habilitado para tal.
Nos posicionamos em círculo, respiramos profundamente
e iniciamos o nosso encontro com uma a Visualização Criativa – tema da
atividade e uma das formas de acesso ao inconsciente, que difere da Imaginação
Ativa e poderá ser abordada, com mais detalhes, numa próxima oportunidade.
Como mediadora pedi que cada um buscasse
uma imagem com a qual gostaria de ser apresentado naquele momento. No centro da
roda, sobre uma toalha estendida no chão, há uma vela, alguns papeis de desenho
e giz de cera.
Terminado o breve momento de
introspecção os participantes representaram plasticamente a imagem vinda da
imaginação. Flor, sol, animal, objetos, formas e cores diversas. Cada desenho é
observado e apresentado pelo seu criador, dizendo: Eu sou um sol brilhante; Eu
sou uma bonita flor; Eu sou um elefante colorido e engraçado, e assim por
diante.
Pedi que reservassem os desenhos e que “ficassem
com as imagens”.
O que é ficar com a imagem? Isto é a
Imaginação Ativa? Respirar e deixar vir uma imagem? E o que fazer com ela? Em
que isto me auxilia? Como atua em minha vida, em minhas questões?
Com estes pertinentes questionamentos a Roda
de Conversa efetivamente foi iniciada com a apresentação, em Power Point, de
alguns dados sobre Jung e o surgimento da Imaginação Ativa. Enquanto mostro as
lâminas seguimos conversando sobre a coragem do médico psiquiatra e cientista
que, corajosamente, se submeteu ao próprio experimento e, através da vivência, estruturou
a teoria da Psicologia Analítica e a própria IA. Outro aspecto importante é o fato de Jung ter sidr filho de pastor
protestante e que sua mãe sofreu a perda de três filhos antes do seu
nascimento, dados interessantes e muito relevantes em sua formação. Sabemos que
desde muito criança era criativo, curioso, introspectivo, solitário e, com sua enorme
capacidade imaginativa, se envolvia em pensamentos e brincadeiras fantásticas e
surpreendentes. Por vezes sentia possuir duas personalidades, uma de criança e
outra de um velho sábio. Esculpiu um pequeno boneco de madeira e fez um
pergaminho com um alfabeto criado por ele mesmo. Tinha visões e experiências diversas,
incomuns para sua idade. Era culto, desde cedo teve acesso à vasta biblioteca
de seu pai. Tais visões e brincadeiras foram, mais tarde, constatadas como
experiências de conteúdo arquetípico.
Ainda jovem, ao se especializar em psiquiatria,
elaborou os estudos com as Associações Livres de Palavras originando a teoria dos
Complexos o que favoreceu, em 1906, o contato com Freud.
O contato foi intenso e perdurou até que,
em 1913, quando divergiram a respeito do conceito de libido, acarretando uma
ruptura do contato, uma forte crise existencial e muitos questionamentos
internos, inspirando-o na busca de seu mito pessoal.
A crise gerada pela ruptura com Freud
nos presenteou com o que conhecemos como O Livro Vermelho – Liber Novus, com as
experiências das Imaginações Ativas, as ilustrações maravilhosas e enigmáticas.
Alguns dos participantes da Roda de
Conversa conheciam, outros não, a publicação do Livro Vermelho que esteve
guardada por mais de 40 anos.
Os comentários sobre o conteúdo das
experiências de Jung, o formato exótico do livro, sobre Jung ser ou não ser um
artista, qual o significado das pinturas e da escrita gótica, foram sendo colocados
gerando interesse ainda maior sobre o tema da Imaginação Ativa e as suas
singularidades.
Em resposta aos comentários e
questionamentos conversamos sobre vários aspectos da vida e obra de Jung que
mostram um homem habilidoso e criativo que teve aulas de arte em Paris, apesar
do foco não ser a arte. Vimos que anotava suas experiências e estudos em
cadernos de capa preta, relatos de suas visões e fantasias e que o Liber Novus
é o registro da profunda experiência psíquica na qual Jung mergulhou, durante meses,
e elaborou nos 16 anos seguintes, originando a Psicologia Analítica.
Indagamos sobre os motivos de o livro
ter ficado guardado, a pedido do próprio Jung, por mais de 40 anos, para ser
liberado quando sua obra já tivesse sido mais difundida, finalizando esta parte
da conversa indagamos sobre a interrupção da elaboração do Livro Vermelho quando
Jung teve contato com a Alquimia, constatando a semelhança da sua experiência
com o processo de transformação alquímico denominado o Processo da Individuação.
A
realização de uma IA possibilita, sem garantia, entrarmos em acordo com
o inconsciente. Não é uma tarefa fácil. Estamos diante do desconhecido e
devemos tomar os devidos cuidados.
Coube a Robert Johnson, na década de 80,
a sistematização e publicação do livro: Inner Work: A Chave do Reino Interior
(1989), no qual descreve uma forma mais facilitada de como experimentar uma IA.
Uma Imaginação Ativa, para ser
verdadeira, requer a participação efetiva do consciente na experiência imaginativa
e deve acontecer um diálogo real, livre, espontâneo com as imagens trazidas do inconsciente,
que representam as diferentes partes de nós mesmos.
Tempo para conexão – Cartão de SoulCollage®
Andréa Goulart de Carvalho
As imagens podem ser acessadas através e
além dos sonhos, por visualização e imaginação criativa, fantasias passivas, através
da arte com suas inúmeras formas e técnicas de expressão como a dança, a pintura, o desenho, o SoulCollage®, o cinema,
teatro e a literatura em geral, nos contos de fadas e nos mitos.
A observação quanto aos valores humanos
e a ética pessoal, com relação ao conteúdo do inconsciente foi bem frisada,
pois as imagens internas são expressão de forças instintivas, como se fossem
deuses internos, coletivos, uma vez que tais forças, os arquétipos, são amorais
e atemporais.
O surgimento de imagens de pessoas
conhecidas e ainda vivas em nossas imaginações deve também ser cuidado. A
medida a tomar é modificar a aparência e/ou nome para que as energias e
vibrações emanadas não se transformem em
uma espécie de magia.
Após a apresentação do material sobre
Jung e IA retomamos as imagens surgidas na Visualização Criativa, como dito
anteriormente, uma das formas de acesso às imagens do inconsciente. Cada participante
da Roda de Conversa se debruçou em sua representação plástica da imagem buscando
reflexões sobre qual e quanta emoção surgiu naquele momento, dando sentido ao
comando inicial de “ficar com a imagem”, de cuidar do que é parte de nós, uma
faceta do que nos compõe e nos faz sermos quem somos, com nossos acertos e
desacertos.
Bad Idea – Cartão de SoulCollage®
Andréa Goulart de Carvalho
As imagens e diálogos foram compartilhadas
e as questões referentes a conceitos como a Sombra, a Persona, os Complexos, os
Arquétipos e demais aspectos da Psicologia Analítica foram sendo comentados, proporcionando
maior entendimento do que surge e é trabalhado quando acessamos nosso
inconsciente, através das várias ferramentas de que dispomos.
Encerramos a 1a Roda de
Conversa ávidos por mais encontros como este, para mais ricas trocas de
conhecimento e saberes.
A Arteterapia é instigante, abrangente e
a iniciativa da AMART tem grande potencial, prometendo ficar cada vez melhor!
Grata pela oportunidade!
Indicações de leituras
- Johnson, Robert A. ,
1989, (Inner Work) A Chave do Reino Interior
- Boechat, Walter , 2014, O Livro.14
Vermelho de C.G,. Jung – Jornada para as profundezas desconhecidas.
- Cadernos Junguianos, v. 14, n. 14,
setembro 2018. São Paulo: AJB,2018.
- Sanford, John A.,1987, Os Parceiros
Invisiveis: o masculino e o feminino dentro de cada um de nós.
Jung, Carl G., O Homem e seus símbolos.
Edição Especial brasileira- 3a Edição.
_____________ O Desenvolvimento da
Personalidade, OC.
- Kast, Verena, 2019, Jung e a
Psicologia Profunda, um guia de
orientação prática.
___________ 2016, O caminho para o si mesmo.
- Hillman, James, 2010, Ficções que
Curam , Psicoterapia e imaginação em Freud, Jung e Adler.
- Barcellos, Gustavo,2012, Psique e
imagem , estudos de psicologia arquetípica.
- Franz, Marie-Louise von, 1988, O
caminho dos Sonhos.
- Shamdasani, Sonu, 2015, O livro
Vermelho, Liber Novus.
- Lyra, Sonia (Org.)[et. al.], 2016,
Imaginação Ativa e Criativa, Ichthys.
___________2017, Imaginação Ativa, matéria – prima da cura e quintessência
da Arte, Ichthys.
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Sobre a autora: Andréa Goulart de Carvalho
Bacharel em Desenho e Gravura pela EBA/UFMG;
Arteterapeuta - AMART 107/0112, afiliada a UBAAT.
Facilitadora de SoulCollage®/2015; Artista Plástica;
Atendimento arteterapêutico individual e em grupos no AME – Arteterapia
Ministrante de curso introdutório de SoulCollage® e aulas de desenho no Ateliê de Artes AGC Artes & Arteterapia.
Pós graduanda em Psicologia Analítica na USCS.