Por Suzane Guedes - RJ
suguedes@yahoo.com.br
No
início de 2015 fui ao CCBB (Centro
Cultural do Banco do Brasil) no Rio de Janeiro, (um lugar que me
remete ao Sagrado) ver uma exposição de Wassily
Kandinsky. Eu estava prestes a começar minha formação clínica em
Arteterapia, mas era crua em teoria da arte, minha visão era pelo sentimento e
sensação que as obras me provocavam. E com Kandisky
esse sentimento foi intenso, forte e visceral. Posso dizer que nesta exposição
me senti inebriada com suas obras. Suas imagens me absorviam e me emocionavam,
foi uma experiência única e de alma.
A trajetória
no curso de formação ampliou meu olhar para a arte, um olhar antes leigo, mas
apaixonado, sentiu a necessidade de conhecer mais, de aprender mais. Fui
desafiada pela Arteterapia, mas fui também enriquecida por ela. Abriram-se
outros mundos dentro de mim, outras possibilidades de crescimento e ampliação
do meu desenvolvimento pessoal e social.
Eis
que chega um ponto do curso que precisávamos escolher a linguagem na qual
iríamos trabalhar nosso projeto pessoal, tinha que ser um desafio, e
intuitivamente não tive dúvidas, seria a Aquarela.
Mergulhei
neste processo de corpo e alma, fiz aulas, li sobre o tema, produzi bastante. E
dentro dos meus estudos, quem estava lá sempre presente? Kandinsky. Este que se tornou meu muso em 2015. Descobri que ele
foi o primeiro pintor a fazer uma arte abstrata em aquarela, descobri que ele
ligou a arte ao espiritual, como uma experiência de transcendência, descobri
que a data de seu nascimento é a mesma data do nascimento do meu marido. Muita
sincronicidade, diria Jung, não?
No
livro “Do espiritual na arte”, Kandinsky nos brinda com sua fala sobre
a ressonância espiritual da arte na alma. Ele fala que essa é uma necessidade
interior e constitui o princípio básico de todo trabalho artístico. O autor
acredita também que a abstração pura e realismo puro entram na dialética da
necessidade interior, a arte em desordem atingirá, então, um estado absoluto de
pureza. Não seria então, a abstração, este estado de pureza? Esta arte que
atinge a alma?
Acredito
que a aquarela cumpre bem este papel, pois permite fluidez, leveza e um estado
de abstração e condução a sentimentos profundos. Esta linguagem possibilita
acessos ao inconsciente, não sente necessidade de se articular com a função
pensamento (mesmo que havendo possibilidades de acessá-lo de acordo com a
técnica utilizada). E se faz necessária em um espaço de nossa cultura ocidental
tão voltada para o racional, a produção de vieses que estimulem a função
sensação e sentimento. Kandinsky
aponta que “toda obra de arte é filha de
seu tempo e, muitas vezes, mãe dos nossos sentimentos”, a aquarela seria
então um artifício mais que contemporâneo para as necessidades de nossos tempos
atuais, que cada vez mais necessita de leveza e fluidez.
Kandinsky
aponta também no livro citado acima, que após um período de produção
materialista, onde os sentimentos elementares como medo, tristeza e alegria que
serviram para inspiração do artista, já não são tão relevantes, o artista busca
agora sentimentos, segundo ele “matizados,
ainda sem nome”, seriam, segundo ele “emoções
mais delicadas que nossa linguagem é incapaz de exprimir”.
Acredito
que a Aquarela possibilita esses encontros mais profundos, de alma, o meu
encontro com a aquarela posso dizer que foi para além de um encontro com cores,
tons e luzes. Foi um encontro intuitivo e espiritual. Estar entre pincéis e
tintas aquareláveis e com um papel diante de mim, ao contrário de algumas
outras técnicas, me traz alegria e muitas vezes fui tocada por uma profunda
emoção.
E
então, qual seria a função da arte? Qual a nossa função enquanto arteterapeutas
ao utilizar a arte como ofício e instrumento de trabalho? De acordo com Schumann citado por Kandinsky “Projetar a luz nas profundezas do coração humano, eis a vocação do
artista”, citando ainda Tolstói
“Um pintor é um homem que pode desenhar e
pintar tudo”.
E
nesta última linha de raciocínio, acredito que seja a função do arteterapeuta
dar espaço ao outro para ele ser, pintar, criar o que quiser e puder no espaço
de tempo presente. Acolhendo seu mundo e sua psique, sua história,
ancestralidade, funções tipológicas, dando espaço ao desenvolvimento do outro,
sua expressão mais genuína e essencial, seu Si mesmo.
Referências Bibliográficas:
CIVITA, Victor. Gênios da pintura: Wassily Kandinsky.
São Paulo: Abril Cultural, 1968.
GUEDES, Suzane. Aquarela: na fluidez dos sentimentos.
Projeto pessoal para conclusão de curso na formação clínica em Artetarapia do
POMAR. Rio de Janeiro, 2017.
NEVES, José. P. Aquarela: Uma contribuição à prática
terapêutica num ateliê. In: Arteterapia – Coleção Imagens da Transformação.
Número 11 – Volume 11, 2004. POMAR.
PHILIPPINI, Angela. Linguagens e materiais expressivos em
arteterapia: uso, indicação e propriedades. Rio de Janeiro: Editora Wak,
2009.
KANDINSKY,
Wassily. Do espiritual na arte e na
pintura em particular. Tradução Álvaro Cabral, Antônio de Pádua Danesi. 3ª
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015.
Sobre a autora: Suzane Guedes
Suzane
Guedes é Psicóloga (CES-JF), Especialista em Psicologia e Desenvolvimento
Humano (UFJF) e Arteterapeuta (POMAR).
Colunista
no blog O psicólogo Online, no qual escreve sobre Autoestima.
Atua
nas cidades do Rio de Janeiro e Três Rios-RJ com atendimento clínico presencial
a crianças, jovens, adultos e idosos; ministra grupos e oficinas terapêuticas.
Também trabalha como orientação psicológica online.
Suzane
acredita na psicoterapia e arteterapia como grande ferramenta de auxílio à
transformação e desenvolvimento pessoal e social.
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