Por Rosangela Nery - RJ
rosanery1975@hotmail.com
A MÚSICA
Pensar em música é tocar minha alma. Nos momentos mais difíceis em que as palavras não conseguem dar conta dos sentimentos e emoções, quando esbarra nos diagnósticos diversos dos pacientes que entro em contato no meu trabalho nas enfermarias do Instituto Phillipe Phinel, é ela que chega e abre esse caminho, é ela que traduz as palavras, é ela que transborda a alma... A MÚSICA!!!
Hoje
o convite é pensar a experiência musical a partir da experiência estética como
forma de pensar e estar no mundo. A música como sendo funcional, simbólica,
expressiva. Música como POTÊNCIA transformadora.
A NARRATIVA PRODUZINDO
SENTIDO NO TRABALHO EM SAÚDE
Ao
longo da minha vida como profissional de saúde, sou atravessada por muitas
histórias que me mobilizam enquanto pessoa e forma de estar no mundo, e há
pouco mais de 1 ano, descobri nas “narrativas” uma forma de ressignificar e
reconstruir o sentido do meu trabalho. Me inserir dentro dos textos, narrando
as sensações e sentimentos que emergem da relação com os clientes, tem feito
toda diferença na condução do tratamento dos mesmos. No texto de Patrícia Tempski e Fernanda Mayer “Narrando a vida, nossas memórias e
aprendizado”, encontro algo libertador e confortante sobre o que vinha
fazendo como pesquisadora de forma tímida e que hoje tem a chancela da academia:
o “eu” pode aparecer nos textos e trabalhos acadêmicos sem que os mesmos percam
seu rigor científico. E em tempos de tantas lutas pela saúde e educação, uso a
Narrativa como resistência, assim já dizia o poeta Guimarães Rosa, “NARRAR É (RE)SISTIR” em uma de suas
obras onde pensa sobre os impasses de um momento de escrita.
“O que somos é fruto do significado que atribuímos às
nossas vidas, as quais compõem nossas histórias de vida. Histórias que tecemos
e contamos a nós mesmos, histórias vividas e vivas, nas quais ocupamos o papel
de protagonista, autor, narrador ou personagens coadjuvantes. A narração de
histórias existe desde antes da linguagem escrita, e por meio da oralidade e
gestualidade se deu a transmissão dos conhecimentos através do relato de
experiências armazenadas na memória humana às gerações seguintes. A tradição de narrar histórias sempre esteve
presente no nosso cotidiano e marca nossa cultura e identidade, forjando nossa
memória social. (..) A linguagem escrita como forma de narrativas tem sido
utilizada como estratégia de reflexão sobre a prática de ensino e cuidado na
área de saúde e pode ser descritiva, reflexiva ou dialógica.”
A NARRATIVA
Plantão
de uma quinta feira, minha esperança era chegar e não encontrá-la mais. Em vão!
Lá estava ela, com olhar triste e pesado como de costume. Aquilo já estava
demais pra mim. Fui ao banheiro e pedi a Deus que me iluminasse para fazer
algo. Ouvi: “A música, é pela música...” Então
, lá fui eu.
–
T., você pode me ensinar a ler partituras?
Ela
responde como quem não acredita na pergunta:
–
Você quer mesmo aprender isso?
–
Quero, você pode me ensinar?
–
Ai ai, então tá, presta atenção.
E lá fomos nós, numa viagem a clave de sol, agora já sei onde fica o dó, ré, mi, fá, o sol e o lá, só não sei direito o que fazer com isso, pois tudo que sei de música é de ouvido. Naquele momento a única coisa que me importava era a relação que consegui estabelecer com T., alguém que no auge dos seus 16 anos lutava contra alucinações visuais e auditivas para continuar sua vida. T. tocava Violino, e era monitora num desses projetos sociais perto de sua casa, porém desde das internações não conseguira mais tocar, pois as “vozes” não a deixavam em paz. Nesse mesmo dia acontecia um projeto lindo chamado Paratodos², oficina de consciência corporal e música no campinho da UFRJ, e era o dia da festa da primavera. Chamei T. para ir comigo e junto levar seu Violino. Ela relutou, me chamou de chata, mas mesmo assim colocou-onas costa e lá fomos nós. Participamos da aula, movimentamos o corpo, T. dirigiu alguns movimentos e então chegou a hora do relaxamento, momento que sempre tem um fundo musical de um aluno da escola de música. Porém naquele dia por coincidência, não havia nenhum, e então pensei: é a hora de T. Fui ao seu ouvido baixinho e falei:
- Você acha possível tocar alguma coisa agora?
E
mais uma vez ela me chamou de chata, (risos). Mais eu insisti.
–
Eu vou com você, estamos juntas! E assim ela levantou, abriu sua maleta, me
pediu pra segurar o arco e pôs-se a tocar. Dó, ré, ré, mi, mi, ela pediu pra eu
não esquecer, era a 9° sinfonia de Beethoven, foram 35 segundos que tocaram a
alma de quem ali estava. Ufaaa! deu certo. E o melhor de tudo foi ouvir:
*² Paratodos é um projeto que tem como missão expandir a dança para diversos públicos de maneira a não ficar restrita a bailarinos e atores profissionais, além de oferecer aos graduandos em dança a oportunidade de ampliar suas experiências e favorecer a aplicação de seus conhecimentos também no campo da saúde. Estrategicamente localizado no Campus da Praia Vermelha da UFRJ (perto de centros de saúde e reabilitacão), a professora de dança Marta Peres realiza o projeto há 6 anos, incentivando a dança para todas as pessoas através dessa Oficina de Dança e Consciência Corporal do seu Projeto de pesquisa – extensão.
Referências bibliográficas:
TEMPSKI,P;
BRENNEISEN MAYER,F (orgs.) – Narrando a vida, nossas memórias e aprendizados –
Humanização das práticas educativas e de cuidado na saúde. Editora Atheneu –
São Paulo- 2015.
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
________________________________________________________________________
Sobre a autora: Rosangela Nery
Servidora pública municipal na função de técnica de enfermagem do IMPP, lotada atualmente no setor infanto juvenil.
Psicóloga, pós graduanda em Ciência, Arte e Cultura pelo IOC - Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ e pós graduanda em Saúde Mental e atenção Psicossocial pela ENSP - Escola Nacional de saúde pública - FIOCRUZ.
Atendimento individual à adolescentes e adultos no Espaço SER- Sentir, Experimentar e Recriar em Copacabana.
Psicóloga, pós graduanda em Ciência, Arte e Cultura pelo IOC - Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ e pós graduanda em Saúde Mental e atenção Psicossocial pela ENSP - Escola Nacional de saúde pública - FIOCRUZ.
Atendimento individual à adolescentes e adultos no Espaço SER- Sentir, Experimentar e Recriar em Copacabana.
Este é o segundo texto escrito por Rosangela. Para ler o primeiro CLIQUE AQUI
Maravilhoso! Que depoimento lindo, cheio de amor, emoção e solidariedade! Parabéns, Rosangela Nery! Parabéns Eliana! Cada texto, cada artigo, experiencia relatada aqui me enche de alegria e esperança de que a Arteterapia, na sua pluralidade, é uma ferramenta eficaz e poderosa nas mãos daqueles que a escolheram como seu instrumento de atuação no mundo!
ResponderExcluirMuito Obrigada Tânia pelo carinho😉😍
ResponderExcluir