Por
Eliana Moraes (MG) RJ
naopalavra@gmail.com
naopalavra@gmail.com
“E que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade
através de muito trabalho” Clarice Lispector
Um
dos artistas que tem me inspirado para este ano é Piet Mondrian. Retomei minha
reflexão sobre as ideias do movimento “De Stijl” (que não por
acaso significa “O Estilo”), registrado
em um texto anterior chamado “Mondrian e
Arteterapia – Um diálogo para um estilo” CLIQUE AQUI. Contextualizado no início
do século XX, mais precisamente no período da primeira guerra mundial, Mondrian
ficou conhecido por seu caminho em direção à abstração completa, chegando ao
seu inconfundível estilo geométrico, o neoplasticismo.
O processo imagético em que reduziu-se ao que há de mais simples, as linhas retas e as cores primárias,
não se deu ao acaso, mas profundamente simbólico, na busca de uma linguagem
visual de aplicação mais universal, menos individualista. Assim, em meio aos
conflitos humanos transbordados em guerras, esta expressão poderia servir como um modelo para as relações harmoniosas
que Mondrian e seus amigos imaginavam para a vida dos povos num futuro utópico.
Podemos pensar que estes artistas eram movidos por um desejo
de que assim o ser humano poderia se comunicar e se relacionar harmoniosamente
apesar de tanta diversidade e pluralidade. Não nos parece um desejo tão atual?
“Simplificar para facilitar as relações: na imagem e na vida” à inspiração de Mondrian, é uma das propostas que tenho investido em diversos
contextos da minha prática arteterapêutica. Primeiramente porque penso que este
é o momento em que devemos oferecer propostas em que as relações sejam pensadas e ressignificadas.
Mas a prática nos mostra outra grande
surpresa que o diálogo com Mondrian nos traz: a riqueza de
possibilidades que se abre a partir do que há de mais simples. E hoje releio o
que escrevi anteriormente com muito mais significado:
“... Mondrian, um artista que olhos mais
desatentos podem vê-lo como ‘sem graça’ ou ‘bobo’. Mas... Pude me ouvir o
quão difícil foi selecionar e sintetizar em um breve texto tudo que Mondrian
tem me tocado e me provocado a pensar. Percebi que este fato nada mais é do que
o reflexo de uma das grandes lições que o artista me trouxe até o momento, que
também coopera para meu estilo:
quanta coisa é possível criar e influenciar a partir do que
há de mais simples! Mondrian nos ensina que simplificar não é empobrecer, mas um processo (que
sim, demanda muito trabalho) de limpeza de ruídos e excessos para a abertura do novo e quantas possibilidades couberem em
nossas mãos!” (MORAES)
O retorno ao simples:
uma inspiração para metáforas da vida
O
diálogo com o simples segue em outros campos. Tenho trocado com arteterapeutas
que compõem a minha rede sobre a simplicidade dos materiais em Arteterapia: o
que na grande maioria das vezes não ocorre por escolha, mas por escassez.
Quem
trabalha em alguma instituição como escolas ou hospitais, públicos ou privados,
sabe do que estou falando. Mas aqui a simplicidade pode chegar com cara de
empobrecimento. Em outros contextos, arteterapeutas recém formados(as) que
ainda não construíram seu próprio material ou outros(as) que pelas demandas da
vida tiveram que mudar de cidade não havendo a possibilidade de levar consigo
todo o material cultivado até ali (todos os casos mencionados são reais à minha
escuta).
De
fato, em nossos cursos de formação somos estimulados para a experimentação da riqueza
de materiais. Somos impressionados com mesas cheias de recursos,
possibilidades, linguagens, cores, formas, texturas... Penso que realmente é
essencial que o arteterapeuta tenha a oportunidade de manusear, sentir e criar
intimidade com os mais variados materiais que possam em algum momento serem
úteis em nossa prática. Somente através desta experimentação teremos subsídios
para manusear os materiais de forma consistente.
Entretanto,
ao meu ver, é essencial que o arteterapeuta saiba que não raras vezes, “na
prática, a teoria é outra”. Muitas vezes não, não dispomos de muitos materiais
para oferecermos em nossos trabalhos. Muitas vezes somos contratados para uma
instituição que não pode investir em material, ou em atendimentos particulares
o próprio terapeuta, por realidades da vida, não tem disponibilidade naquele
momento para um grande investimento em materiais.
Seria
a escassez de material um impeditivo para o arteterapeuta trabalhar? Muito
antes pelo contrário. Penso que esta efetivamente é a oportunidade para que no
campo do simples, a mola mestra da Arteterapia possa emergir: a CRIATIVIDADE.
Criar
a partir da riqueza de possibilidades é muito interessante. Mas penso que criar diante do pouco ou do quase nada é de
fato, o chão da vida. A realidade da clínica nos mostra que vivemos em
tempos de crise financeira, perdas sucessivas de poder aquisitivo, redução de
possibilidades múltiplas aos quais nossos pacientes nos contam com ar de
frustração, derrota e o discurso do “não posso” é a tônica.
Então
eu pergunto aos arteterapeutas, não seria justamente esta metáfora de vida que
precisamos remontar em nossos settings terapêuticos? Diante do (que parece)
pouco, para onde sua criatividade te leva? O que sua intuição te instiga? Quais
possibilidades você pode se fazer enxergar diante do que você tem a frente?
A
prática nos mostra que ao aceitarmos o que temos e com o que temos acessarmos
nossa criatividade, grandes possibilidades de abrem. Nos materiais e na vida.
Nesta
perspectiva, meu estilo como arteterapeuta tem se firmado em cima da
simplicidade – só possível de ser construída a partir de muito estudo. Quando
bem embasado, o simples é suficiente e muito potente.
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referência
Bibliográfica:
Moraes,
Eliana. Pensando a Arteterapia
________________________________________________________________________________Sobre a autora: Eliana Moraes
Arteterapeuta e Psicóloga.
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia.
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.