Vassili
Kandisnky (Russo. 1866-1944). Primeira Aquarela Abstrata (1910).
Por Maria Cristina Resende
A
cena acontece no início do século XX, um momento político-sócio-cultural tenso.
Nas ciências, mudanças para todos os lados, a física com a relatividade e a
física quântica, no mundo psi a psicanálise e a sua interpretação dos sonhos,
na política a guerra! E a Arte? Onde ela está nesse momento, ou melhor, como
ela reflete esse contexto social?
Primeiramente
podemos perceber que as palavras de ordem no início do século XX são: MUDANÇA e
DESCONSTRUÇÃO. O homem se encontra diante da necessidade de revisão das
verdades outrora tidas como absolutas. Formas antigas dão lugar a novas modalidades
de pensar, de calcular, de sentir e também de expressar. E na busca por essa
desconstrução do mundo das formas, o abstrato surge, na Arte, como uma
possibilidade de entrar na subjetividade do mundo.
A
física nos mostra que a matéria não é tão sólida quanto pensávamos, que ela é
na verdade “cheia” de espaços vazios, que o tempo não é linear, é relativo. As
ciências da mente nos mostram que existe “algo” que pensa em nós, e às vezes
por nós, a Psicanálise recupera a importância dos sonhos sob uma nova perspectiva.
O mundo não é mais regido pelas leis racionais de causa e efeito, não existem
mais certezas e verdades, não há mais um “porto seguro”, não podemos mais
confiar nos nossos sentidos, nos nossos olhos, pois existe um universo naquilo
que não vemos, no imaterial, no abstrato. A subjetividade se revela e a Arte
busca expressar este novo mundo com novos e múltiplos caminhos. A objetividade
e a precisão dão lugar a uma nova percepção sobre as coisas do mundo, pois nada
mais é somente aquilo que se vê, há uma “alma secreta” nas coisas, há algo que
os olhos não percebem e que a Arte captura.
Este é o tema dos últimos encontros do “Grupo de
Estudos em Arteterapia: O encontro da Arte e da Psicologia no setting
arteterapêutico”, que coordeno ao lado de Flávia Hargreaves, na Casa 2, onde buscamos compreender o papel da Arte, o
como ela irá dar forma e expressar as tensões e as mudanças na sociedade, sejam
elas de fundo político, cultural, econômico ou científico. Buscamos junto a
esta reflexão, fazer uma analogia ao que ocorre na clínica com a arteterapia e
o uso das técnicas expressivas em psicoterapia, onde a expressão plástica do
cliente será também o desdobramento das tensões, angústias e transições
vivenciadas por sua psique.
Através
do atual estudo do texto “O simbolismo nas artes plásticas”, de Aniela Jaffé (O
Homem e seus Símbolos), percebemos que os movimentos artísticos seguem lado a
lado ao movimento individual de qualquer pessoa. Quando os nossos paradigmas
vigentes estão em desconstrução, buscamos a percepção desse novo mundo e novas
formas vão sendo descobertas. A arteterapia busca acessar essa “alma secreta”
das coisas, aquilo que os materiais possuem e que à primeira vista não
percebemos. Assim como em nossa psique, nossas atitudes muitas vezes contêm uma
“alma secreta” que nossa mente consciente não percebe. Em nossa psique profunda
habita também uma “alma secreta” que se constela através das práticas
terapêuticas, e a arteterapia “toma emprestado” a riqueza do discurso dos
movimentos artísticos para a captura dessas várias “almas secretas” escondidas
dentro-fora de nós.
GRUPO DE ESTUDOS EM ARTETERAPIA
O encontro da Arte e da Psicologia no setting arteterapêutico
com Maria Cristina de Resende e Flávia Hargreaves
Encontros quinzenais. Segundas-feiras. Das 18:30h às
20h.
Local: Casa 2. Botafogo. Rio de Janeiro.
Contato: crisilha@hotmail.com