Em arteterapia, podemos perceber que a bibliografia existente se baseia em sua maioria no trabalho com psicóticos, principalmente quando o embasamento teórico é a psicanálise. Além disto, outro público diretamente associado ao poder terapêutico das técnicas expressivas é o infantil.
E eis as perguntas que sempre me vêm: e por que não com neuróticos? Por que não com adultos? Por que restringir o potencial terapêutico da arteterapia para o público A ou B?
Recentemente li o prefácio de um livro de arteterapia escrito pelo professor Walter Boechat que aborda a questão:
“Em trabalho de consultório, também há pouco espaço para atividades expressivas, apenas em ludoterapia e análise de crianças... Mas com adultos, a interpretação verbal ainda domina.” Walter Boechat *
Em minha prática percebo que as técnicas expressivas têm espaço e podem ser bem encaminhadas em qualquer tipo de público desde que haja disposição do paciente para experienciá-la. Cada público pode sim ter olhares e demandas específicos, mas as amplas possibilidades técnicas que a arteterapia dispõe podem responder bem à eles.
É justamente baseado na prática (e esta é soberana) que o professor Walter afirma:
“Em nossa experiência, o uso das técnicas expressivas é fundamental não só em crianças e adolescentes mas também em diversos casos. Em certos pacientes somáticos, naturalmente nas psicoses de qualquer tipo, e em outros casos em análises nos quais as mãos podem falar mais do que o cérebro...” Walter Boechat
Pacientes em momentos terapêuticos nos quais as mãos podem falar mais do que o cérebro. Este é o público da arteterapia que eu acredito.
* Walter Boechat: Médico, Analista Junguiano. Citações no prefácio do livro “Arteterapia: a transformação pessoal pelas imagens” de Maria Cristina Urrutigaray.