segunda-feira, 21 de outubro de 2019

CONVERSANDO COM CORA CORALINA: UM RELATO



Por Eliana Moraes (MG) RJ

naopalavra@gmail.com
Instagram @naopalavra


No último mês de setembro, a Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro, promoveu o ciclo “Encontros de Arteterapia” ao qual tem como proposta que diversos espaços de Arteterapia abram suas portas oferecendo oficinas com temas variados e que recebam o grande público. O objetivo é promover a Arteterapia, seja para os próprios arteterapeutas e estudantes como também para os interessados em experienciá-la.

Neste contexto, o Não Palavra em parceria com o Centro Cultural Venha Conosco, promoveu o encontro “Conversando com Cora Coralina”. O texto de hoje se faz um relato sobre esta experiência tão marcante para cada um que participou, a começar pelas próprias facilitadoras: Vera de Freitas e eu.

A proposta inicial deu-se para duas turmas, no dia 13 de setembro, mas a procura foi tão grande que estendemos para um terceiro encontro no dia 11 de outubro. Ao todo foram 36 participantes que nos deram um feedback bastante positivo.

A ideia de convidar Cora Coralina para nosso diálogo, inicialmente se deu por dois motivos. Primeiramente porque Cora, por sua própria história de vida já nos ensina que nunca é tarde para realizarmos nossos sonhos, pois sabemos que embora ele escrevesse desde sua adolescência, publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade, deixando sua marca e fazendo história na literatura brasileira. Mas escolhemos Cora principalmente porque ela era uma doceira de profissão e vocação: era especialista em fazer doces em compotas, mas, mais profundo do que isto, em oferecer “doces” com seus versos.

Está claro que estamos vivendo uma contemporaneidade bastante pesada. Densos fenômenos coletivos que transbordam para as histórias dos indivíduos inseridos na cultura. Cedermos a pensamentos negativos, um olhar pessimista e uma desesperança é o caminho natural. Entretanto, resgatamos uma poesia de Cora Coralina que, embora antiga, parece ter sido escrita para nossos dias. Que o leitor a saboreie como um doce:

Ofertas de Aninha
(Aos moços)
Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.

Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.

Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências do presente.

Aprendi que mais vale lutar
Do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.

“Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”.
6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p.145.

Proposta arteterapêutica



A poesia é lida pelo grupo e relida pela facilitadora, pois assim é a poesia: deve ser saboreada e degustada para que possamos entender cada vez mais em profundidade sua mensagem. O debate sobre os versos levanta palavras como otimismo, esperança, persistência, recomeços, resiliência, fé, amor, relações, sentido e outras.

Nesta poesia Cora aborda aspectos do passado, do seu presente e seu olhar para o futuro. Escrevendo em primeira pessoa, escreve versos autobiográficos sobre aquilo que viveu, que aprendeu e que acredita.

De posse desta inspiração, sugerimos que cada participante traduzisse o que esta poesia despertava em si para a imagem. Com um olhar autobriográfico, que fizesse uso da técnica da Assemblagem para deixar que diversos materiais disponíveis o  atravessasse e que assim formasse uma composição de tudo aquilo que viveu, aprendeu e acredita.



Vera e eu fomos testemunhas de processos tão bonitos de participantes que fizeram um contato profundo com sua história e um convite a se apropriarem dos seus presentes e futuros.

Encerramos o encontro oferecendo uma compota com doces versos de Cora e a sincronicidade se encarregou de entregar a cada um a mensagem que lhe era verdadeiramente encaminhada.



Ouvimos relatos de que aquele encontro foi um oásis em meio às demandas da vida. Que saíram daquele encontro muito diferentes de como entraram – afinal não seria este o sentido da Arteterapia? Um encontro com a experiência do Belo, eis uma das minhas grandes motivações como arteterapeuta na contemporaneidade.

Conversar com artistas é uma prática extremamente enriquecedora. É por isso que Vera e eu estamos motivadas a promover outros encontros como este. Em breve, notícias sobre os próximos!



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Sobre a autora: Eliana Moraes





Arteterapeuta e Psicóloga.
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.

Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia. Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Autora do livro "Pensando a Arteterapia" CLIQUE AQUI

Um comentário:

  1. Que maravilhoso. Cada dia mais encantada pelo trabalho desse blog e da arteterapia. Parabéns meninas.

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