Por Eliana Moraes (MG) RJ
naopalavra@gmail.com
Instagram @naopalavra
No último mês de setembro, a
Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro, promoveu o ciclo “Encontros de
Arteterapia” ao qual tem como proposta que diversos espaços de Arteterapia
abram suas portas oferecendo oficinas com temas variados e que recebam o grande
público. O objetivo é promover a Arteterapia, seja para os próprios
arteterapeutas e estudantes como também para os interessados em experienciá-la.
Neste contexto, o Não Palavra
em parceria com o Centro Cultural Venha Conosco, promoveu o encontro
“Conversando com Cora Coralina”. O texto de hoje se faz um relato sobre esta
experiência tão marcante para cada um que participou, a começar pelas próprias
facilitadoras: Vera de Freitas e eu.
A proposta inicial deu-se para
duas turmas, no dia 13 de setembro, mas a procura foi tão grande que estendemos
para um terceiro encontro no dia 11 de outubro. Ao todo foram 36 participantes que
nos deram um feedback bastante positivo.
A ideia de convidar Cora
Coralina para nosso diálogo, inicialmente se deu por dois motivos.
Primeiramente porque Cora, por sua própria história de vida já nos ensina que
nunca é tarde para realizarmos nossos sonhos, pois sabemos que embora ele
escrevesse desde sua adolescência, publicou seu primeiro livro aos 75 anos de
idade, deixando sua marca e fazendo história na literatura brasileira. Mas
escolhemos Cora principalmente porque ela era uma doceira de profissão e
vocação: era especialista em fazer doces em compotas, mas, mais profundo do que
isto, em oferecer “doces” com seus versos.
Está claro que estamos vivendo
uma contemporaneidade bastante pesada. Densos fenômenos coletivos que transbordam
para as histórias dos indivíduos inseridos na cultura. Cedermos a pensamentos
negativos, um olhar pessimista e uma desesperança é o caminho natural.
Entretanto, resgatamos uma poesia de Cora Coralina que, embora antiga, parece
ter sido escrita para nossos dias. Que o leitor a saboreie como um doce:
Ofertas de Aninha
(Aos moços)
(Aos moços)
Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.
Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.
Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências do presente.
Aprendi que mais vale lutar
Do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.
Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.
Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências do presente.
Aprendi que mais vale lutar
Do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.
“Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”.
6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p.145.
Proposta arteterapêutica
A poesia é lida pelo grupo e
relida pela facilitadora, pois assim é a poesia: deve ser saboreada e degustada
para que possamos entender cada vez mais em profundidade sua mensagem. O debate
sobre os versos levanta palavras como otimismo, esperança, persistência,
recomeços, resiliência, fé, amor, relações, sentido e outras.
Nesta poesia Cora aborda
aspectos do passado, do seu presente e seu olhar para o futuro. Escrevendo em
primeira pessoa, escreve versos autobiográficos sobre aquilo que viveu, que
aprendeu e que acredita.
De posse desta inspiração,
sugerimos que cada participante traduzisse o que esta poesia despertava em si
para a imagem. Com um olhar autobriográfico, que fizesse uso da técnica da
Assemblagem para deixar que diversos materiais disponíveis o atravessasse e que assim formasse uma
composição de tudo aquilo que viveu, aprendeu e acredita.
Vera e eu fomos testemunhas de
processos tão bonitos de participantes que fizeram um contato profundo com sua
história e um convite a se apropriarem dos seus presentes e futuros.
Encerramos o encontro
oferecendo uma compota com doces versos de Cora e a sincronicidade se
encarregou de entregar a cada um a mensagem que lhe era verdadeiramente
encaminhada.
Ouvimos relatos de que aquele
encontro foi um oásis em meio às demandas da vida. Que saíram daquele encontro
muito diferentes de como entraram – afinal não seria este o sentido da
Arteterapia? Um encontro com a experiência do Belo, eis uma das minhas grandes
motivações como arteterapeuta na contemporaneidade.
Conversar com artistas é uma
prática extremamente enriquecedora. É por isso que Vera e eu estamos motivadas
a promover outros encontros como este. Em breve, notícias sobre os próximos!
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Sobre a autora: Eliana Moraes
Arteterapeuta e Psicóloga.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia.
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia. Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Que maravilhoso. Cada dia mais encantada pelo trabalho desse blog e da arteterapia. Parabéns meninas.
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