“O
surrealismo consiste no cultivo e na prática de comunicar o inconsciente
utilizando-se da escrita, da pintura, da escultura e de outros meios.”
(Edward W.
Titus. Editor da revista The Quarter. Inglaterra.1932).
No último
domingo Flávia Hargreaves e eu estivemos no evento da AARJ sobre Surrealismo, inspirado na exposição de
Salvador Dali no CCBB-RJ. Lá pudemos apresentar um pouco mais o resultado sobre
nossa pesquisa sobre o Surrealismo e a Arteterapia.
Flávia apresentou
a palestra “Acaso e inconsciente: identificando o dada e surrealismo na
arteterapia”, onde apresentou a importância dos movimentos artísticos
Dadaísmo e Surrealismo para nossa prática, e a convergência dos pensamentos
destes artistas e teóricos e os princípios básicos da Arteterapia, propondo uma
reflexão sobre o processo criativo que tem por princípio estabelecer uma ponte
com o inconsciente.
Em seguida,
apresentei a palestra “Dada e
Surrealismo na prática da Arteterapia – casos clínicos” onde coloquei
fragmentos de minha prática de aplicação das técnicas destes movimentos em dois
grupos arteterapêuticos de 3ª idade e um atendimento individual. Pudemos
perceber que estas técnicas são pertinentes a serem trabalhadas com pacientes
de perfil racional e controlador. Com questões como pensamento
enrijecido e cristalizado, necessidade
de manter a ordem e a estabilidade. Que trazem marcas de um tradicionalismo,
educação rígida, regras e uma visão polarizada (bem/mal; certo/errado).
Nos casos de
grupo, três das técnicas exploradas pelos artistas foram expostas. O poema dada
(já mencionado e relatado neste blog) e duas formas de desenho automático: com
nanquim e areia. No caso individual, além destas, técnicas de pintura
espontânea e escrita automática. A prática destas técnicas no setting
terapêutico possibilita o aparecimento do que chamamos de “símbolo espontâneo”,
um símbolo que emerge do ato criativo sem que se passe pela escolha ou
racionalização do paciente (“vou desenhar uma borboleta pois esta simboliza
transformação.”). Mas um símbolo, que justamente por ter sido acessado de forma
espontânea, conteúdos inconscientes transbordam para a imagem de forma muito
potente e justamente por isto, muitas vezes objeto de resistência por parte do
paciente.
Concluímos
então que as experimentações e técnicas feitas pelos dadaístas e surrealistas são
amplamente aplicáveis no setting terapêutico propondo flexibilidade,
maleabilidade, o não controle, o acaso, características tão pertinentes à vida.
Encerramos com um poema dada produzido por uma paciente que compreendemos
resumir a essência do que é a vivência surrealista: “Voo livre: o invisível revolucionando o papel da experiência...”
Finalizando o evento, Claudia Brasil, apresentou a palestra “O Surrealismo e o arquétipo do inválido
na prática da arteterapia”, onde
apresentou o surrealismo como uma expressão criativa do inconsciente, trazendo
também o conceito do arquétipo do inválido que nos fala de aspectos pouco
desenvolvidos em cada um de nós, entendendo a invalidez como parte integrante
da natureza humana. Abordou também a importância da expressão espontânea
compartilhando conosco um pouco da sua experiência com a Dra. Nise da Silveira.
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