Por Patricia Serrano
- RJ
patriciaserrano.psi@yahoo.com
Falar sobre o documentário
“Lixo Extraordinário”, antes de mais nada é falar sobre o artista plástico que
idealizou esse projeto.
Vik Muniz é um artista
brasileiro, fotógrafo, desenhista, pintor e gravador, conhecido por usar
materiais inusitados em suas obras como lixo, açúcar e chocolate. Seu processo
de trabalho consiste em compor imagens com os materiais, normalmente instáveis
e perecíveis, sobre uma superfície e fotografá-las resultando no produto final
de sua produção. As fotografias de Vik fazem parte de acervos particulares e
também de museus em Londres, Los Angeles, São Paulo e Minas Gerais.
Em 2010, foi produzido o
documentário “Lixo Extraordinário” sobre o seu trabalho com catadores de lixo
de Jardim Gramacho / Duque de Caxias, cidade localizada na área metropolitana
do Rio de Janeiro. A filmagem recebeu um prêmio no festival de Berlim na
categoria Anistia Internacional e no Festival de Sundance.
“Tudo
começou com a sensação de que devíamos fazer algo que pudesse reverter para
eles. Faremos algo a partir do lixo que irá render dinheiro e irá tornar-se
algo no qual eles possam pôr as mãos. Que eles sintam que os está ajudando. No
final, eles não vão dizer que foi o Vik que fez, mas que nós fizemos.”
Vik
Muniz
E assim, o artista nos
apresenta o que foi o principal objetivo do projeto, mudar a vida de um grupo
de pessoas com o mesmo material que eles lidam todos os dias – o lixo. Para
isso, pensou na criação iconográfica a partir do contato direto com esses
trabalhadores que não eram vistos nem sequer ouvidos nas suas necessidades:
“Quero ver o que é importante para eles, o que eles acham que faz uma grande
imagem, o que eles acham importante.”
Somos conduzidos, através do
olhar sensível e entregue do artista, a um universo que estava literalmente escondido
sob o lixo. Vik Muniz nos fala de dois momentos iniciais: a chegada a Gramacho
e suas primeiras impressões e depois o seu olhar a partir de um sobrevoo da
área.
Na chegada, o olhar
impressionado pela quantidade enorme de lixo e as condições precárias de
trabalho em contrapartida as relações humanas se estabelecendo através de
conversas, risos e brincadeiras entre si. A despeito de todas as dificuldades
do ambiente existia uma leveza no convívio dos catadores – o fator humano era
belo!
Ao sobrevoar a região, o
distanciamento físico evidenciou toda a degradação, tristeza e abandono – não
havia sorrisos, olhares, vozes. A massa de pessoas estava imersa ao lixo e o
artista desabafa: “É a pior coisa que já vi”.
Daí se inicia o mergulho de
Vik Muniz nas relações humanas num ambiente que visto à distância era
extremamente desumano e somos convidados a conhecer homens e mulheres que antes
“misturados” e “jogados” ao lixo agora podem ser ouvidos e têm a oportunidade
de ressignificar o produto do seu trabalho diário – o lixo – em arte.
Convido o leitor a assistir o
documentário e entrar em contato com o belo do humano, o belo da arte e por que
não dizer o belo do lixo!
Ressignificando
o lixo em arte no setting terapêutico
O título do documentário já
nos coloca diante de uma definição incomum quando falamos de objetos que
descartamos – Lixo Extraordinário – e nos convida a um olhar que sai do lugar
comum para algo novo, fora do previsto, notável.
E a quê nos remete o processo
terapêutico senão também a um convite a esse novo olhar sobre as questões mais
profundas do ser e a possibilidade de ressignificá-las? Quantos recursos
internos/psíquicos “descartamos” que podem ser revisitados e trabalhados de
forma que possam novamente trazer potência e beleza para o ser!
No texto, “O que é bom para
lixo é bom para poesia – mito e poesia, sucata e arterapia” (publicado em
agosto de 2018 no blog Não Palavra) Eliana Moraes nos apresenta com muita
propriedade a articulação entre poesia e a utilização de sucata na sua
experiência prática e relata:
“Aquecida
por estas reflexões, para alguns espaços de trabalho, levei o poema ‘Matéria de
Poesia’ e dispus sobre a mesa LIXO. Se Manoel de Barros nos diz ‘O que é bom
para lixo é bom para poesia’, perguntei aos experienciadores da Arteterapia:
‘Onde
está a poesia destes objetos que estão sobre a mesa?
Que
poesia você pode criar a partir daquilo que seria jogado fora?
Quais
recursos podemos utilizar e reaproveitar a partir do(s) lixo(s) na arte e na
vida?’”
As técnicas expressivas são de
grande valor no trabalho terapêutico e são ferramentas que possibilitam trazer
para a superfície conteúdos internos de difícil acesso pela consciência. O
simbolismo do material “lixo” que é oferecido no setting terapêutico
(individual ou grupal) para receber um novo olhar e para além disso ser
manuseado e ressignificado, nos possibilita oferecer também um espaço de novos
questionamentos e como consequência natural novas respostas e possibilidades.
Referências
Bibliográficas:
MOREAS, E. “O que é bom para lixo é bom para poesia” –
mito e poesia, sucata e arterapia. Blog Não palavra. Rio de Janeiro, 13/08/2018.
Disponível em: http://nao-palavra.blogspot.com/2018/08/o-que-e-bom-para-lixo-e-bom-para-poesia.html?m=1.
Acesso em 20/09/2019.
VIK Muniz. In: ENCICLOPÉDIA
Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019.
Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9203/vik-muniz>.
Acesso em: 25/09/2019. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
ISBN: 978-85-7979-060-7
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Sobre a autora: Patrícia Serrano
Psicóloga
Pós-graduada em Psicologia Hospitalar pela FIOCRUZ
Atendimentos clínicos individuais
Atualmente compõe a Equipe Não Palavra na gestão dos materiais e eventos
Sou muito grato pela a ajuda da moça,pois me ajudou muito
ResponderExcluirVenha vc tambem, se envolver no algo inexplicável. Procure-me no Instagram:AAA.LLL.RRR
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