segunda-feira, 31 de março de 2014

ARTETERAPIA, ESTIMULAÇÃO COGNITIVA E ESCULTURA


Por Eliana Moraes

             Trabalho com o público da 3ª idade desde 2011 na UIP/HAS – Unidade Integrada de Prevenção do Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro, sendo este um núcleo de acompanhamento ao envelhecimento dos idosos do plano Silvestre Saúde. Lá, juntamente com equipe composta por geriatras, nutricionistas, fisioterapeutas e enfermeiros, trabalho como psicóloga e arteterapeuta. Nesta equipe pude aprender sobre a grande importância da estimulação cognitiva no trabalho com idosos para que mantenham o cérebro ativo, o que coopera para a prevenção dos declínios cognitivos tão característicos da idade, o mais conhecido o Alzheimer. Aprendi que não se pode pensar no trabalho com o público idoso sem levar em consideração as questões referentes à cognição, seja para tratamento ou prevenção.
            Em oficinas e aulas de memória, as atividades mais utilizadas são jogos, palavras cruzadas, sudokus... enfim, em geral exercícios que estimulam o pensamento lógico, matemático e linguístico. De fato, são tarefas que desafiam a mente e a desperta da preguiça. Mas vale ressaltar que elas têm a condicional da escolaridade e conhecimentos prévios do paciente. Além disto não podemos nos esquecer que estas são apenas algumas funções cognitivas que merecem ser exploradas. 
         Exercícios que estimulam o lado direito do cérebro acessando a criatividade apresentam uma riqueza de possibilidades para estímulos cognitivos, além de propiciar o aprendizado de novas atividades. Neste contexto, minha prática tem me mostrado como a arteterapia pode ser um excelente instrumento para a estimulação cognitiva. Como afirmei em um tento anterior neste blog, chamado “Arteterapia e 3ª idade”:

“A arteterapia... não necessita de conhecimentos prévios e pode ser adaptada à dificuldade e ao potencial do paciente. Já inicialmente ela trabalha a coordenação motora de pacientes com neuropatias ou artrite e artrose, por exemplo. Faz com que o paciente saia do que ‘já é conhecido’ para o cérebro e proporciona o aprendizado de novas atividades. Além disto é um excelente estímulo quando a partir de uma proposta, o paciente busca soluções ao criar (formas, cores, equilíbrio, etc), ao elaborar um conceito e se esforça para planejar uma estratégia de execução a partir dos mais variados materiais e tudo aquilo que cada um deles pode demandar.”

            Neste ano tenho proposto mais trabalhos de escultura e modelagem. Tenho percebido como esta linguagem da arte é bastante desafiadora para estes pacientes. É desconhecida, fora de suas zonas de conforto. Exige elaboração de uma ideia e estratégia para executá-la. Demanda esforço cognitivo na busca da forma e do equilíbrio. Os pacientes realmente precisam “exercitar o cérebro” para execução destes trabalhos.
            Uma das propostas foi inspirada no artista Alexander Calder (1898 – 1976) escultor americano famoso por seus móbiles e esculturas de arame. A imagem acima deste texto é um de seus trabalhos. Abaixo, fotos de trabalhos de pacientes idosos, participantes de grupos de arteterapia, aos quais autorizaram divulgação da imagem.


            Conhecendo a história de Calder e inspirando-se em sua obra, os pacientes puderam explorar as formas e cores disponibilizadas em arames e placas de EVA, produzindo suas próprias esculturas ou móbiles. Notoriamente foi uma experiência bastante desafiadora para os pacientes, tanto terapeuticamente no que se refere ao simbolismo da obra pronta e o que foi vivenciado durante o ato criativo, quanto a todo estímulo que a técnica pôde provocar cognitivamente.





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