Por Eliana Moraes
“É na hora de escrever que muitas
vezes fico consciente das coisas, das quais, sendo inconsciente, eu antes não
sabia que sabia.” Pag 85
Hoje gostaria de falar sobre uma
linguagem da arte pouco explorada aqui no blog. Muito refletimos sobre as artes
visuais, mas fato é que a arte literária e a escrita também são muito
interessantes e muito ricas em recursos para a clínica da arteterapia.
Estou fazendo um mergulho no livro “Crônicas para Jovens – de escrita e vida”
de Clarice Lispector, inclusive autora que inspira o nome deste blog. Nele, em
vários momentos Clarice fala sobre o potencial do ato de escrever, reflexões
que confirmam os benefícios do uso desta linguagem da arte no processo
terapêutico:
“Escrever é procurar entender, é
procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento
que permaneceria apenas vago e sufocador.” Pag 91-92
Estimular que o paciente faça
registros sobre seus trabalhos de arteterapia, que escreva sobre seus
sentimentos, pensamentos, memórias, opiniões, é uma técnica bastante
organizadora e tem efeito estruturante no paciente. E Clarice via este efeito
da escrita como uma necessidade para si:
“Minhas intuições se tornam mais
claras ao esforço de transpô-las em palavras. É nesse sentido, pois, que
escrever me é uma necessidade. De um lado, porque escrever é um modo de não
mentir o sentimento... do outro lado, escrevo pela incapacidade de entender,
sem ser através do processo de escrever.” Pag 103
Mas talvez uma das formas de escrita
mais férteis para o processo terapêutico, que proporciona grandes insights e
contato com conteúdos pessoais profundos antes não percebidos, seja o que Freud
chamou de associação livre, os surrealistas chamaram de escrita automática. Nós
arteterapeutas chamamos de escrita criativa e Clarice chamou de “escrever distraidamente” (pag 95):
“Ir me obedecendo - é na verdade o que faço quando escrevo, e
agora mesmo está sendo assim. Vou me
seguindo, mesmo sem saber ao que me levará.” Pag 73
“Escrevendo, tenho observações por
assim dizer passivas, tão interiores
que se escrevem ao mesmo tempo em que
são sentidas, quase sem o que se chama de processo. É por isso que no escrever
eu não escolho...” pag 77
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