Percebo em minha prática clínica que
um dos mais belos potenciais da arteterapia é proporcionar ao paciente
vivenciar no micro – o trabalho
produzido na sessão – aquilo que ele entende precisar vivenciar no macro – sua própria vida. Este paralelo
pode ser amplamente experimentado pelo paciente, por exemplo quando percebe-se
alguém sem coragem de arriscar; e ele pode convocar e exercitar esta coragem ao
iniciar cada trabalho em cada sessão. Ou quando o paciente reconhece-se como alguém
que transita muito bem no campo da ideia, mas tem dificuldade de concretizar
aquilo que mantém na mente. Ao produzir seus trabalhos até o final o paciente
experimenta a sensação de ser capaz de realizar e trazer para o concreto suas
ideias, e consequentemente seus projetos pessoais.
Da mesma forma, venho defendendo
para meus alunos e colegas arteterapeutas, como é muitíssimo importante que o
terapeuta esteja com os ouvidos bem atentos para as falas do paciente enquanto
estão produzindo seus trabalhos, seja em que linguagem for. Falas que a
princípio são referentes ao próprio trabalho, porém, se forem transportadas para a
história do paciente, faz todo sentido consigo e nos “joga no colo” a sua
questão.
Já pude ouvir:
“Preciso cobrir todos os
espaços vazios. Espaços em branco me incomodam.”
“...é que o fácil me
complica.”
“... mas se eu fizer isso
vou ter que mudar. Prefiro fazer o que vá mudar menos.”
" Fiz desta forma porque assim não corro o risco de errar."
“Nunca encontro o material
que eu quero.”
“Uso o preto para esconder
as imperfeições e os erros.”
“Eu ocupo o mínimo de espaço
possível.”
“Tudo que eu faço fica muito
vazio.”
“O que eu faço é tão cheio
de detalhes, tão cheio de coisinhas que eu nunca consigo terminar.”
“Mas eu já não fico mais
voltando pra concertar os erros”
“Eu não sei como ta ficando.
Mas como sempre na vida a gente só vê depois.”
Apenas alguns exemplos do que podemos concluir: sim,
ao falar do trabalho (um outro), o paciente está falando de si. De sua questão.
E cabe ao terapeuta ouvir, acolher e dar passagem a esta riqueza tão própria da
arteterapia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário