Por Eliana Moraes
Ultimamente tenho pensado sobre a palavra e o ato. Nas nossas relações cotidianas podemos falar através de
palavras, mas tenho observado que estas podem ser ditas despretensiosamente ou
facilmente “levadas pelo vento”. Mas falamos também através do ato: como nos
posicionamos, ou não – o que já é um posicionamento - perante o outro e às
situações. E ouso dizer que é por este que verdadeiramente nos falamos. E é
através dele que de fato nos responsabilizamos.
Estas são reflexões aquecidas nos
diálogos com minha supervisora, psicanalista, e trago aqui uma de suas frases
que recorrentemente vem a minha cabeça: “As
palavras são enganosas. É o ato que se inscreve.”
E o que isto tem a ver com nosso
objeto de estudos aqui, a arteterapia? As psicoterapias em geral são
estruturadas em sua maior parte pela comunicação verbal. E não há dúvidas de
que elas têm o seu lugar. Mas creio que a arteterapia propõe um processo
terapêutico que por definição abre espaço para o ato; neste contexto, o ato
criativo.
Há algum tempo escrevi um texto para
este blog chamado “O Repetir, a Atuação e
o Ato Criativo” trazendo citações do clássico texto “Repetir, Recordar e Elaborar” de Freud e defendi:
“...ao perceber na minha prática como arteterapeuta,
que vejo o Ato Criativo também como uma atuação... Quando o paciente tem dificuldade de
iniciar um trabalho, quando este trabalho fica vazio ou cheio, demasiadamente
organizado ou desorganizado, com cores intensas ou cores pastéis, se se debruça
sobre ele ou o executa de forma rasa, seus movimentos corporais..., são apenas
algumas das maneiras do paciente atuar no
ato criativo.
Dando prosseguimento à reflexão, vejo ato criativo como um ato. É fala,
sem palavras. Na sessão de arteterapia o paciente faz uso das palavras mas em
paralelo tem a oportunidade de falar através do seu ato criativo. Seu atuar
enquanto cria, como lida com cada material, quando por meio de formas,
movimentos, composições e cores, produz. Ato.
Esta é a razão pela qual cada vez mais divido com
meus colegas arteterapeutas e membros do grupo de estudos que coordeno como meu
olhar tem se ampliado, não apenas para o simbolismo do resultado do trabalho,
mas o processo criativo do paciente;
pois ele é ato.
E se o ato, por si só é o que se inscreve, em
arteterapia a medida que criação vai se “coisificando” (termo utilizado pela
arte), naturalmente o ato se inscreve em objeto. Objeto que
servirá para o confronto de um diálogo interno entre o autor e sua obra.
Esta inscrição do ato em objeto é um
fenômeno tão intenso, que merece uma reflexão específica em breve!
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