segunda-feira, 6 de junho de 2022

A PRÁTICA DA CINEMATERAPIA EM AMBIENTE DIGITAL E NA MODALIDADE INDIVIDUAL - PELÍCULA A ODISSEIA (PARTE 4)



Por Milena Medeiros - Volta Redonda - RJ

milolmedeiros@gmail.com

          Chegamos a quarta parte da série sobre o tema Cinematerapia e o relato de caso que irá acompanha-lo(a) neste encontro tratar-se-á da aplicabilidade da técnica pela película A Odisseia [1](1997) em que o Setting arteterapêutico, na modalidade Digital, recebe um brasileiro, morador de   terras estrangeiras e que hoje está em um país da Europa Oriental.           Compartilharei, primeiramente, sobre como foi que tal narrativa fílmica, como instrumento arteterapêutico se fez presente no Setting, a partir da concepção de ideia.
         
          Após a habitual sessão semanal e a tônica envolvida sobre a jornada de vida empreendida até aquele momento, desde a saída de seu país, curiosamente percebi que havia rabiscado em um papel, a imagem de um olho. Apenas um! Observei a imagem por algum tempo até que fui acometida de uma necessidade em realizar uma expressão e assim deixei-me levar pelo fenômeno - encontrando base nas palavras da professora e artista plástica Fayga Ostrower (2004, p. 5) “(...)criar corresponde a um formar, um dar forma a alguma coisa. Sejam quais forem os modos e os meios, ao se criar algo, sempre se o ordena e se o configura”.
 
          Assim, inspirada pela última sessão de arteterapia, por meio da Colagem Digital, nasceu a imagem a qual chamei de “Percurso Atribulado”, levando em consideração os conteúdos levados ao setting, naquele último encontro.

 

         

          Poderia se ter a narrativa marítima A Odisseia como fonte de delineado percurso psíquico em formato fílmico e na modalidade de atendimento online?    Essa foi a pergunta que ressoou.      Afinal, os enredos de vida do paciente/cliente e do personagem principal do Poema Épico espelhavam-se, fossem pelas ricas aventuras que os levavam de um lugar a outro, desde a partida de casa, fosse pela personalidade racional, inteligente e estrategista que os compõe. A Odisseia narra a história de Odisseu (Ulisses para os Gregos), que depois de passar dez anos na Guerra de Tróia, leva mais dez para voltar para casa, passando por muitas aventuras pelo caminho marítimo. Ressalto que as aventuras do paciente/cliente mar afora se dão na mesma região de ilhas em que a Odisseia narra na antiguidade.           Compartilhando apenas a imagem “Percurso Atribulado” com o paciente/cliente           obtive o “sim” necessário para uma possível proposta de aplicação de técnica com a Cinematerapia: “Posseidon! Como posso me basear em mais coisas a respeito de Posseidon? Sempre fui apaixonado pelo mar”. Ele disse!  E assim a proposta de utilização do filme A Odisseia, concretizou-se.
 
          A Película assistida, dentre uma variedade de versões, foi escolhida em parceria. Um movimento importante e fortalecedor de vínculos, tanto na relação paciente/cliente e terapeuta, como entre paciente/cliente e linguagem expressiva.    A narrativa levada para o Setting, junto às vantagens de intervenção e efeitos terapêuticos para a utilização da técnica de Cinematerapia, mencionadas em nosso segundo encontro desta série, seguiu a estrutura da abordagem mitológica da filosofia clássica.       Lucia Helena Galvão, professora de Filosofia, em palestra para a Organização Filosófica Nova Acrópole (2017), expõe que:
 
O nome Odisseu ou Ulisses, esse recebido em Roma, em sua etimologia significa aquele que é irado(...)um homem cuja as emoções dominam. Isso e muito curioso! Odisseu era o grande protegido de Atena, a deusa da sabedora, aquela da mente lucida, da mente sobrea, (...) e ninguém é tão arguto mentalmente como Odisseu. Ele é o mais esperto! Todas as argucias da guerra foram criadas por ele(...) é muito interessante, mas o fato é (...) a contradição:  como um homem pode ser tão brilhante mentalmente e o seu nome querer dizer irado ao mesmo tempo? Ou seja, uma coisa á a emoção e a outra á a razão. Duas coisas bem diferentes, mas nem tanto! Na tradição histórica que fala do ser humano, a nossa mente é uma só e funciona como um espelho que quando se volta para abaixo fica tingido de emoções(...) a mente segue brincando de advogado do diabo - pois se veste das justificativas racionas para satisfazer os nossos gostos ou rejeições(...). A mente concreta da qual a emoção se serve. E existe a mente superior, com o espelho voltado para cima. Uma mente pura e fraterna, voltada para o bem da humanidade e pela função da evolução do homem. E tudo o que Atena queria era que Ulisses voltasse a sua mente para cima, depurasse-a. Porém havia dívidas no plano concreto. Como por exemplo o desentendimento com Posseidon que o impede de voltar para casa. Enredado, então na trama de Posseidon, Ulisses permanece na jornada por anos a fio, enquanto que Atena tenta protege-lo(...)
 
          Galvão ainda complementa que os mitos são verdadeiros patrimônios da humanidade, um convite para dentro de nós mesmos codificados por meio de uma linguagem universal.
 
           Assim, com o espírito de tom mítico que o filme e a narrativa retratam e em companhia de Ulisses vivenciando uma Odisseia interior conferindo as provas diárias, no intuito de relembrar quem somos, de onde viemos e para onde regressamos, a nossa casa - a tônica sobre a técnica fílmica foi estruturada junto à estratégia de produção da materialidade expressiva com a qual a película foi apresentada e discutida no setting.            
 
          Por meio de experimentações e estratégias simples a apresentação imagética da linguagem expressiva em ambiente digital, no compartilhamento de tela, foi exposta em 45 imagens que foram primeiramente printadas da tela do celular, transportadas para o Power Point e transformadas, pela técnica da colagem digital, em imagens ambientadas em um cinema. Cada uma delas, com algumas poucas exceções, receberam comentários por escrito que salientavam a tônica na introdução da discussão a respeito do filme.
 
          E sobre esse contexto, Angela Philippini (2013, p.17) insere que: “No processo de Arteterapia vamos compartilhar a experimentação, as construções e transformações que o material expressivo propicia(...).”

 


                                    Material expressivo Exemplificação de seis das quarenta e cinco imagens produzidas pela Arteterapeuta apresentadas s ao paciente /cliente como materialde apoio, referente ao filme assistido. 

 
A Película escolhida, aliada a todo o processo em que houve a participação efetiva do paciente/cliente revelou impressões, sensações e comportamentos importantes para o processo terapêutico vigente. Foram semanas em que viagens, fotos, literatura, trocas e relatos cercearam e apoiaram a técnica da Cinematerapia. Que ainda hoje reverberam de forma positiva e estruturante. Afinal, há muito a ser tocado na jornada heroica chamada vida. 
 
 


                                                                              Livro A Odisseia Paciente/Cliente
 
Deixo aqui o meu agradecimento por todos os envolvidos de forma direta e indireta que contribuíram e contribuem para que a técnica da Cinematerapia seja difundida e sim, no setting digital, uma experiência nova no contexto Arteterapêutico e que faz parte de meu repertório como profissional da Arteterapia.
 
A você leitor (a) Não Palavra Arteterapia, o meu muito obrigada!
 
Até a próxima!
 
[1] Filme Dublado A Odisséia.Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=z84wKeamBgA&t=22s. Acesso em 04/06/2022. 
 
REFERÊNCIAS
 
 
OSTROWER, Fayga. Criatividades e Processo de Criação. Petrópolis. VOZES editora, 2004.
 
PHILIPPINI, Angela. Para Entender a Arte terapia Cartografias da Coragem. Rio de Janeiro.  WAK editora, 2013.
 
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Sobre a autora: Milena Medeiros
 


Arteterapeuta AARJ1122
 
Com mais de 15 anos de experiência em Gestão de Pessoas e Negócios no mercado Corporativo, hoje atua com a Arteterapia nas empresas.
 
Practicioner em PNL Programação Neuro Linguística pelo Instituto Espaço Ser/SC;
 
Certificada pela UNAT-Brasil - 101 Introdutório Oficial de Análise Transacional. Abordagem psicológica de Erick Berne que trata de maneira prática e compreensível os aspectos mais importantes da personalidade e das relações entre as pessoas;
 
Certificada em Visão Sistêmica Organizacional - Systemic Team Awareness - Mundo VUCA (Volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade); Metaforum Internacional SP
 
Certificada - Visão Sistêmica com base Psicoterapêutica de Bert Hellinger;
 
Graduada em Gestão de PMES - Universidade Metodista de SP.







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