por Clarice
Almeida / SP
Psicóloga e
Arteterapeuta.
Através deste artigo trago a
intenção de corroborar com os aspectos fundantes da Arteterapia (entendida aqui
como ambiente facilitador de comunicação entre as esferas conscientes e
inconscientes de nosso ser) em um diálogo com a Psicologia, objetivando ilustrar
através de um relato de caso, os desdobramentos observados quando da
experiência arteterapêutica em um processo Psicoterápico de uma mulher de 30
anos, com diagnóstico psiquiátrico de Agorafobia. Situando sobre a Arteterapia
neste contexto, Almeida (2016)
nos relembra que
A Arteterapia comunga
a intenção de abraçar a arte como recurso ou instrumento facilitador do
desabrochar inconsciente, da expressão criativa do humano, mas é ela quem
envolve o todo complexo do processo criativo: arte – símbolo inconsciente –
expressão simbólica –
emoção oculta revelada – consciência – integração consciente/inconsciente – transformação. (2016, p.24).
O sintoma fóbico perpassa a
compreensão de que uma profunda angústia avassala aquela determinada pessoa, cujo
medo se transforma em pânico e domina toda a corporeidade com intensos
calafrios, suores e/ou acelerados batimentos cardíacos, acompanhados de uma
forte sensação de aprisionamento, de não haver saída para a circunstância,
configurando um quadro geral de profundo mal-estar físico e psíquico.
Com F.[1] estas sensações passaram a
acontecer com alguma frequência seguidas de queixas iniciais de ansiedade. O
formato de sessões online configurou os encontros por muito tempo, uma vez que
vivíamos o surto pandêmico de covid-19 e permaneceu assim até o início deste
ano. Contudo, a proposta de retomar presencialmente foi fazendo sentido para F.
e, hibridamente, ora presencial, ora online, os encontros eram permeados de
depoimentos de muita angústia e sintomas fóbicos geralmente despertados quando
ela precisava trabalhar presencialmente. Às vezes, mesmo para visitar sua
família e vir às sessões a hesitação era grande e seu Psiquiatra sugeria o
entendimento de ser um comportamento erupcionado na pandemia, uma vez que ela ficava
um grande período de tempo sozinha, sem sair de casa, namorava virtualmente e seu
apartamento passou a ser seu escritório de trabalho.
Porém, se tornara muito viva
para mim, a hipótese de que alguma situação traumática muito anterior à pandemia
pudesse ter acontecido à F. e, como já se sabe, em toda manifestação
psicossomática, estaria inconsciente.
Certo dia, ela veio
presencialmente à sessão. Transpirava, parecia sem fôlego, seus olhos
arregalados transmitiam uma aparência de pessoa muito assustada. Ela estava
vivendo naquele momento do deslocamento de sua moradia até o meu consultório, o
pânico que me descrevera em outras situações. Acalmei-a e propus uma adaptação
da expressão arteterapêutica desenvolvida por Moraes[2] (2021) e indicada em uma
de suas palestras, chamada “Mapeando os Sentimentos”, a ser sugerida em algumas
demandas, como por exemplo, ansiedade elevada.
Sugeri
que F. fizesse em pé esta expressão, que entrasse em contato com as sensações
de seu corpo naquele momento, imaginasse o lápis em sua mão como sendo a extensão
de seu braço e através dele expressasse na cartolina com uma linha contínua, o
“movimento” das sensações, emoções e sentimentos; posteriormente ao traçado do
lápis, colorisse com canetas hidrocor, os distintos sentimentos suscitados,
como se fosse “mapear” os sentimentos pulsantes em seu peito.
Imagem 1 - Atividade Expressiva “Mapeando
Sentimentos”.
Fonte: acervo da autora.
Em seguida descrevo a ela os
traçados, reapresentando-lhe as configurações das linhas desenhadas e lhe
pergunto se a parte do meio lhe sugeria algo. Ela diz que não. Reformulo a
descrição chamando sua atenção para a forma esférica contendo algo dentro, algo
no interior... ela nomeia o sentimento de aprisionamento; Então, lhe pergunto
se possuía alguma informação sobre seu nascimento, parto ou gestação e ela
afirma não saber, mas lhe ocorre neste instante a lembrança de um acidente em
que foi empurrada de surpresa para dentro de uma piscina quando tinha 12 anos e
que não reagiu, não nadou para voltar à superfície, pressupondo ter permanecido
assim por um tempo razoável, até ser retirada por seu pai. Descreve a
experiência de sufocamento, a paralisia e a falta de reação instintiva de
sobrevivência e o subsequente comportamento pós acidente de ficar mais quieta e
de se manter como se nada tivesse acontecido.
Este compartilhar possibilitou
a analogia de sua reação aos 12 anos como sendo muito parecida com os sintomas
da agorafobia desenhados na cartolina. Observando novamente o desenho, afirma a
si mesma que precisa fazer algo antes de “cair” para baixo, não deixar isso
acontecer e desenha no ar um movimento de uma linha reta anterior à linha
inclinada. Sai mais aliviada da sessão e consegue dirigir e chegar bem em casa.
No encontro seguinte F. me conta que, ao compartilhar com sua mãe sobre a sessão e a lembrança do acidente, esta também se recorda de um episódio no pós-parto em que F. é trazida por uma enfermeira e, ao olhar para a filha, nota que ela estava “roxinha” e sufocada. Esta informação desvelou novos caminhos em seu processo psicoterapêutico; em outro momento, solicito uma expressão gráfica livre que simbolizasse seus recentes sentimentos compartilhados comigo.
Imagem 2 – Expressão livre
simbólica - autopercepção
Neste novo desenho
percebe-se claramente a ressignificação de sua autoimagem, de seus recursos
internos (flecha preta ascendente) despertados para lidar com o entendimento
dos episódios de crise (escadas que vão diminuindo de tamanho – e não mais
linha em declive), dos sentimentos (linhas amarelas descendentes) e de
alternativas/estratégias (sob o domínio da consciência) para “voltar à
superfície” (linha azul horizontal ondulada e bolas pequenas azuis
representando as bolhas de ar dentro d’água).
Aponto que os desdobramentos da atividade
expressiva “mapeando os sentimentos”, além de ter colaborado para o acesso
inconsciente das memórias de experiências traumáticas, ainda prosseguiu
contribuindo em sessões posteriores nas quais F. pôde descrever seu alívio e
discernimento sobre o autocuidado e a importância de acolher sua singularidade,
do respeito à sua biografia, à sua corporeidade, à sua sensibilidade,
culminando também em abertura para o acesso à sua religiosidade e para a
manifestação de questionamentos sobre a legítima identificação com sua
profissão.
Gostaria de concluir este
relato com a citação abaixo, pois me parece sintetizar as dolorosas expressões
existenciais de F. e de nos remeter à simbologia da expressão gráfica de seu primeiro
desenho quando se referiu à queda, além de nos incentivar à continuidade dos
estudos em Arteterapia, seus efeitos curativos e suas interações com outros
saberes.
Safra (2004) nos diz:
uma
das tarefas fundamentais do ser humano é alcançar o registro simbólico de suas
experiências, pois o registro simbólico dá ao homem a possibilidade de colocar
sob o domínio de seu gesto os aspectos paradoxais de seu ser. Sem esta
possibilidade o homem vive duas agonias insuportáveis: a claustrofobia da
finitude [...] e a agorafobia, que o lança para o abismo do sem fim. [...] o
que estou chamando de registro simbólico não é o simples representar, mas
colocar as questões fundamentais da existência em devir, por meio da ação
criativa. (2004, p.63).
[1] “F.”: Neste artigo, será a letra referendada ao nome da pessoa atendida, com a autorização prévia da mesma, apresentada aqui apenas com a inicial de um dos seus sobrenomes, como forma de preservação à sua identidade e em conformidade com os critérios de ética profissional.
[2] Eliana Moraes, Arteterapeuta e Psicóloga. Fundadora e coordenadora do “Não Palavra Arteterapia”. Autora da série de livros “Pensando a Arteterapia”.
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, C.B. Arteterapia com pais: O despertar do autoconhecimento e da
comunicação amorosa conjugal e familiar. Trabalho de Conclusão do Curso de
Especialista em Arteterapia – Universidade Paulista – UNIP, 2016.
SAFRA, G. A po-ética na clínica contemporânea. Aparecida/SP: Ideias
& Letras, 2004.
Sobre
a autora: Clarice Almeida
Psicóloga e Arteterapeuta.
Como Psicóloga, aprofundou seus estudos no entendimento das questões humanas e seus processos inconscientes embasada na teoria de Winnicott, Safra e autores afins.
Acompanha e atende mães e pais em Orientação Psicológica e Vivências Arteterapêuticas, com vislumbre dos ensinamentos da comunicação não violenta e da comunicação amorosa nas dinâmicas familiares, tendo se especializado em Arteterapia Junguiana.
Realiza workshops Arteterapêuticos sobre diversos temas dos ciclos existenciais.
Idealizou e Acompanhou grupos Arteterapêuticos: “Poesia”, “A Arte na alma do Ser”, “Adolescentes”, “O que busco está em mim? ”, entre outros.
Atende em processo de Arteterapia Casais,
Adultos e Adolescentes.
Uma oportunidade para uma oferta de crédito.
ResponderExcluirVocê precisa de um empréstimo? Sem sair de casa?
E você está tendo problemas para obter um empréstimo de bancos?
Ou gostaria de aproveitar as condições mais vantajosas?
Eu sou o Sr. Anderson Martins tenho um capital que vai ser usado para
conceder empréstimos de curto e longo prazo de
$ 5.000 a $ 10.000.000 é o montante emprestado.
Mesmo se você estiver registrado em seu país e não tiver acesso a financiamento,
entre em contato comigo até maio ou whatsapp wa.link/2f7td1
martinsanderson@outlook.fr
Seus projetos ou saia do impasse :
* Financeiro .
* Empréstimos de investimento .
* Recompra de crédito .
* Empréstimos pessoais .
Ps: Nosso SUCESSO NO TRABALHO É 100%
Andersonfinance está aqui para ajudar!
Não hesite em contatar:
WhatsApp: wa.link/2f7td1
E-mail: martinsanderson@outlook.fr
Sinceramente.
Clarice, querida! Experiência maravilhosa conduzida com tanta competência e arte por você! Parabéns, acompanho seu caminhar já há algum tempo, não é mesmo?! Fico orgulhosa por ver tanto profissionalismo sempre ao seu lado. Avanteee beijosss Lídia
ResponderExcluir