Por Eliana Moraes – MG
naopalavra@gmail.com
A poesia sempre fez
parte do meu caminhar arteterapêutico, tanto no desenvolvimento de minha escuta
clínica às questões humanas que aparecem no setting
terapêutico mas também na construção do meu repertório de estímulos projetivos
e geradores de práticas vivenciais. E encontrei eco de minha relação com a
poesia nas palavras de Beatriz Cardella:
Podemos contemplar e
refletir sobre o humano a partir de um diálogo... entre a Poesia e a
Psicologia.
A Psicologia nos ensina
sobre o humano, a Poesia nos recorda do humano... A Psicologia é o estudo sobre dimensões do
humano, a Poesia é revelação dos fundamentos, o que nos faz humanos.
A Psicologia nos informa, a
Poesia nos comove.
A Poesia fala à nossa sensibilidade, mexe em nossos afetos, toca nossa intimidade; a Poesia fala à inteligência do coração, e para compreendê-la, precisamos nos despir do orgulho da razão; a Poesia nos oferece um espelho, é expressão pura da nossa humanidade. (CARDELLA, 154)
Ao longo de minha jornada, fui construindo uma relação tanto
profissional quanto pessoal com alguns poetas, sendo um dos principais, Carlos
Drummond de Andrade. Percebi que periodicamente escrevo por ele inspirada, e ao
me pensar, percebo a principal das identificações: Drummond foi um mineiro que
viveu boa parte de sua vida no Rio de Janeiro – definitivamente nossas formas
de enxergar o mundo têm suas aproximações.
No livro “Pensando a Arteterapia Volume 1” publiquei um texto
que articulava o tão conhecido poema “José” com os percursos teóricos arteterapêuticos,
mas no texto de hoje desejo atualizar a experiência de José em uma vivência
arteterapêutica. Afinal:
A poesia de Drummond impacta-me quando retrata aquele momento de crise fatalmente conhecida por nós: “E agora?”. Drummond revela esse momento como algo tão humano, que escolhe para o personagem o nome José, um dos nomes mais comuns de nossa cultura, convidando-nos a pensar no José que há em cada um de nós e que sua crise nos pertence. (MORAES, 2018, 166)
Principalmente nos últimos tempos, desde que o fenômeno
pandemia nos atravessou, a escuta clínica nos mostra o quanto a experiência de vazio e incerteza ou sentimentos de desesperança e solidão nos afetou de alguma
forma, inseridos nos enredos de nossa história. Sendo este um tema tão humano,
e da mesma forma, tão atual, é importante que nossa leitura do poema esteja
atenta à aproximação que existe entre José e cada um de nós. Eis o poema.
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já
não pode,
a noite esfriou,
o dia não
veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora,
José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave
na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no
escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Onde está você, leitor, na experiência de José? Pessoalmente,
por muitas vezes me identifiquei com o trecho em que José procura o mar (do Rio
de Janeiro) e não o encontra. Então busca Minas, mas aquela Minas de suas
memórias não existe mais. Eis então a experiência do vazio, do não-lugar e do não
pertencimento que eventualmente assombra aqueles que vivenciam o
estrangeirismo.
Se procurarmos bem, perceberemos que existe um José em cada
um de nós.
Prática
Arteterapêutica
Meu reencontro com o poema “José” se deu concomitante com meus estudos sobre os elementos visuais e pude perceber um paralelo entre a experimentação de alguns deles com a jornada de José. Esta experiência foi vivenciada no “Grupo Quiron: encontros com o curador ferido”* e com alguns de meus pacientes individuais.
O primeiro momento se dá na contemplação da folha em branco como a experiência de vazio, quando tudo se foi, tudo se perdeu. “E agora José?”
Em um segundo momento é solicitado que o experienciador faça um ponto, onde ele se localiza nesse vazio. É importante se pensar sobre os simbolismos do ponto. Para Kandinsky, este é o “ponto zero”. Um lugar de silêncio. Imóvel, estático. E introvertido. Mas também, é do ponto que nasce o impulso, onde o “ponto morto” torna-se um ser vivo. Assim, o ponto se faz extremamente fecundo, carrega em si múltiplas possibilidades. Como nos diz Kandinsky, “Tudo começa num ponto”. E Drummond nos diz “se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José!”
E assim descobrimos a linha, que nasce do movimento e torna-se dinâmica. Para seu surgimento é necessário uma força, o resultado de uma tensão a qual Drummond traduz como “você marcha, José!”. Assim estimulamos que o experienciador explore na superfície do papel o elemento linha de forma que seu movimento gere um caminho. Este caminho ainda não tem destino certo, é um caminhar intuitivo, o que na poesia percebemos que seu fim se dá com uma pergunta não respondida: “José, para onde?”
Por fim, exploramos mais uma propriedade da linha, que é gerar formas, superfícies. E orientamos que o experienciador observe seus caminhos gerados intuitivamente. Que contemple suas formas figurativas ou abstratas, e que de posse do elemento cor invista de sua energia psíquica para o a apropriação e o firmar destes caminhos.
Alguns relatos que pude acompanhar desta vivência, mostraram que ao mesmo tempo que simples, nela reside um grande potencial de identificação e aprofundamento de questões pessoais. Além da poesia tão próxima de nossas experiências de vida, o uso dos elementos visuais também se mostra como um instrumento riquíssimo de possibilidades em práticas arteterapêuticas.
Venho estudando os elementos visuais e suas aplicabilidades na Arteterapia. Nos últimos anos venho explorando bastante o elemento cor em conteúdos para o Não Palavra, mas em uma próxima oportunidade, pretendo escrever e compartilhar minhas reflexões sobre o elemento linha.
Sigamos nossa marcha. (Para onde?)
* Grupo Quíron é um
grupo vivencial online oferecido pelo
Não Palavra e Espaço Crisântemo para terapeutas e estudantes que desejam
separar um tempo e um espaço para seu contato pessoal com o ato criativo e a
produção de imagens.
Referências Bicliográficas:
CARDELLA, Beatriz. De volta para casa.
KANDINSKY, Wassily. Ponto e linha sobre plano.
Uma oportunidade para uma oferta de crédito.
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