Por Vera de Freitas - RJ
verafguimaraes@gmail.com
Trabalhar com os
sentimentos, com as emoções e a subjetividade do ser humano, passa do desafio
para o arteterapeuta para ser um trabalho complexo, muito rico, interessante e acima
de tudo surpreendente, pelo fato de sermos seres únicos, individuais, com
reações e manifestações próprias para cada estímulo apresentado. Quantas vezes
nos percebemos espantados com a transformação, com o novo olhar ou mesmo com as
reações e atitudes inesperadas de alguém que acompanhamos, estimulamos e
observamos?
Foi em um desses momentos de espanto, num atendimento de
grupos arteterapêuticos, que pude observar quando uma pessoa muito rígida e bastante
negativa, verbalizava exatamente o oposto de tudo que expressava nas imagens,
apesar do longo tempo participando do grupo, já familiarizada com os
exercícios, estímulos, atividades e as produções plásticas. A princípio você
pensa que houve alguma transformação, mas não, simplesmente é possível o uso de
palavras descontextualizadas, ou automáticas numa resposta positiva, sem um
contato verdadeiro.
A partir daí entendi a importância de nomear cada
sentimento, saber do que falamos e por que falamos. Foi assim que
experimentamos algumas dinâmicas com cores e linhas para representar o que
realmente se sente. Olhamos e analisamos o que sentimos. E como resultado
desses exercícios, dessa atividade de prestar atenção ao que se sente,
encontramos resultados significativos para os participantes, como o orgulho, a animação,
o otimismo, a motivação, etc.
Por isso seguimos com esse tema, confeccionando cartas e o baralho de sentimentos, com
estímulos variados e algumas linguagens que poderiam auxiliar no aprofundamento,
e no encontro de significado e expressão. E assim se deu.
Primeiro com a produção de cartas, com algumas atividades
para a escolha e representação do sentimento. Cada carta, um sentimento, uma
imagem. Com interferência do desenho de linhas de determinadas cores, e a escrita
criativa, espontânea – alternativas e sugestões para a melhor compreensão
daquele sentimento, facilitando o que se pode expressar e trazendo mais clareza.
Com algumas cartas prontas, passamos a trabalhar o seu
próprio baralho, ou seja, os seus próprios sentimentos. E com inúmeras e
diferentes dinâmicas, poderíamos nos ver, nos perceber e mesmo escolher
modificar.
Um trabalho muito delicado, sutil e individual.
Experimentamos diversos exercícios, estímulos, linguagens tanto para confecção
de cartas como para sua utilização, de forma terapêutica, para análise de si
mesmo, para o autoconhecimento e a possibilidade de fazer as mudanças que acharíamos
convenientes para uma vida emocional e psiquicamente mais saudável.
Algumas das propriedades e características terapêuticas
deste trabalho de confecção de cartas, ou construção do seu baralho de
sentimentos são: a ordenação, a síntese e a integração. A documentação, a organização
e a compreensão. Além de ativar a expressividade, o olhar e a autoanálise,
promovendo diálogos internos.
Já as propriedades oriundas das atividades relacionadas à
utilização das cartas, que servem de estímulos geradores para inúmeras
possibilidades terapêuticas, dependerão de cada proposta, porém sempre fazendo
uma conexão com conteúdos inconscientes, acessando a função intuição, nossa voz
interior e especialmente elaborando e trazendo notícias importantes para a
consciência.
Trabalhamos durante vários encontros, muitas atividades, de
acordo com o desejo e/ou a necessidade do grupo, muitas descobertas, várias
conclusões. Experimentaram, compartilharam assuntos dos mais variados,
mergulharam e se encontraram.
Os grupos produziram lindos baralhos, falaram de importantes
sentimentos e muitos conseguiram se perceber de uma nova forma. Com respeito,
aceitação e autocuidado.
Sobre a autora: Vera de Freitas
Advogada, Fomação e Pós Graduação em Arteterapia (POMAR)
Cursando Pós Graduação Envelhecimento Ativo (POMAR)
Administradora do Instituto VENHA CONOSCO - Tijuca, RJ
Professora de Iniciação Artística - Instituto ZECA PAGODINHO
Facilitadora de Grupo de Arteterapia para adultos, atendimento individual e Grupo de Desenho Livre.
Ateliê de PAPEL MACHÊ
Amei a idéia. Já estava em busca de algo assim,mais autoral e pessoal e não com emojis. Vou propor com coragem.
ResponderExcluirGratidão pela partilha. 🌷