Por Selma Lessa – RJ
slessa.rj@terra.com.br
Estou me lançando a um
lugar que nunca estive, o de “escritora”. Enfim, perder o medo de fazer algo
novo. Vou começar contando parte da minha trajetória na graduação na Universidade
de Artes Visuais, meus medos, inseguranças, processos, desafios e como o
processo em Arteterapia facilitou a autodescoberta da criação para o meu trabalho
final de conclusão do curso: a Arteterapia descobriu a artista.
Eu já era arteterapeuta
na época em que fiz a graduação de Artes Visuais, queria conhecer mais a arte,
seus materiais, história da arte, esse universo que eu já amava. Passados mais
da metade do curso já estava na hora de pensar na monografia, na exposição
individual e na poética. Entrei em choque, só eu sabia o quanto era penoso
fazer esse curso, pois achava eu que não tinha o “dom”, “a luz” necessária para
ser artista. E agora? A universidade não tinha material, espaço, uma estrutura
básica para facilitar o trabalho do futuro artista.
Com a ajuda de um amigo
artista plástico, arteterapeuta e que tinha um ateliê, começamos um trabalho
arteterapêutico para descobrir a artista e meu projeto individual, objetivo que
deveria ser alcançado para o final do curso. Ele me ofereceu vários materiais e
com medo, fui testando, criando, mesmo assim, achava que nada fazia sentido.
Estes foram alguns dos primeiros e nas conversas depois dos trabalhos, fomos
descobrindo formas orgânicas.
De acordo com Fayga
Ostrower, criar é basicamente, formar. É dar uma forma a fenômenos que foram
relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. (OSTROWER,1987
p.11)
As sessões de
Arteterapia sempre foram um bálsamo para mim, fluindo, e aos poucos deixava
surgir o que fosse pra vir e na Universidade aprendendo e experienciando a argila,
fotografia, criação de fantoches, mídias digitais, pinturas e tantos outros que
auxiliaram na descoberta do projeto individual e na poética pessoal.
Cerâmica
Aos poucos com os resultados dos trabalhos teórico-prático e a utilização das criações simbólicas que ali se constelava foi surgindo a poética do “vazio como processo criador”, como um lugar de possibilidades, ali estavam representados níveis profundos e inconscientes da psique.
C.G.Jung, com sua Psicologia Analítica, referenciou e
fundamentou teoricamente esse trabalho. Essas criações simbólicas, ao serem
trabalhadas de forma concreta por meio do fazer artístico, propiciam
estabelecer conexões e proporcionam a experiência de insights que
posteriormente geram transformação e expansão da estrutura psíquica.
O Universo dominante em
Arteterapia é o da sensorialidade e da materialidade: texturas, cores, formas,
volumes, linhas, por isso, integrar-se e movimentar-se nesse universo requer
atenção e preparo.
“A intuição caracteriza
todos os processos criativos. Ao ordenar, intuímos. As opções, as comparações,
as avaliações, as decisões, nós as intuímos. Intuímos as visões de
coerência...”
(OSTROWER, 1987 p. 68)
Buscando na Arteterapia um lugar de possibilidades, me deparei com
Picasso na frase: “Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma
existência para aprender a desenhar como criança”.
O vazio citado era a
dificuldade que eu sentia em “não saber pintar”, “não saber desenhar”, diante
da necessidade acadêmica em desenvolver um projeto artístico individual.
Segundo Jung,
“Com sua propensão para
criar, o homem transforma inconscientemente objetos ou formas em símbolos [conferindo-lhes assim
enorme importância psicológica] que lhes dá expressão, tanto na religião
quanto nas artes visuais”. (JUNG, 1977, p. 232)
O vazio na minha vida e
no meu trabalho
No meu trabalho estas questões foram claramente observadas através do círculo que passei a denominá-lo de “vazio”. Esse vazio fazia parte em algum momento da minha vida e através da significação do símbolo ali plasmado foi possível perceber que esses fatos ainda estavam presentes no inconsciente e torná-lo consciente foi possível retrabalhá-lo e dar um novo significado a essa representação do vazio agora fértil.
No meu trabalho estas questões foram claramente observadas através do círculo que passei a denominá-lo de “vazio”. Esse vazio fazia parte em algum momento da minha vida e através da significação do símbolo ali plasmado foi possível perceber que esses fatos ainda estavam presentes no inconsciente e torná-lo consciente foi possível retrabalhá-lo e dar um novo significado a essa representação do vazio agora fértil.
O círculo surgiu no
processo, como uma forma recorrente, presente nos vórtices, espirais, e formas
afuniladas da pintura.
O círculo (ou esfera),
como símbolo do self, expressa a totalidade da psique em todos os seus
aspectos, incluindo o relacionamento entre o homem e a natureza.[...] ele
indica sempre o mais importante aspecto da vida – sua extrema e integral
totalização (JUNG, 1977).
Desse modo, por meio da
Arteterapia, venci minhas dificuldades perante o “vazio”, transformando o
desafio em arte, e continuando os desafios.
Ainda tem muito para
contar, quem sabe numa próxima.
Referências
- ANDRADE, Liomar Quinto. Terapias
Expressivas. Rio de Janeiro: Editora Vetor, 2000.
- Castro, Selma Maria Lima Lessa de.
Vazio: Lugar de criação, 2011 – João Pessoa -PB
- JUNG,
C.G. (Carl Gustav). O homem
e seus símbolos/ Carl G.Jung e M. L. Von Franz... [et AL.]; tradução de Maria
Lúcia Pinho. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.
- OSTROWER, Fayga. Criatividade e
processos de criação – Petrópolis Vozes 1987.
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Sobre
a autora: Selma Maria Lima Lessa
de Castro
Psicóloga/
Arteterapeuta/Artista visual/ Instrutora de Yoga Integral
Pós-Graduada em
Arteterapia
Pós-Graduanda em
Psicologia Analítica
Colaboradora e
professora do Ateliê de Artes e Terapias Eveline Carrano.
Lindo seu processo criativo, Selma!! Obrigada por compartilhar sua experiência.
ResponderExcluirObrigada Patricia, é a vida.
ExcluirAmei
ResponderExcluirMuito orgulhosa da pessoa e da profissional que você é, sinto-me imensamente honrada em ter você como amiga. Desejo muito mais descobertas e grande sucesso em todas as áreas de sua vida. Obrigada por compartilhar um pouco de sua trajetória.
ResponderExcluirEsse seu processo de resignificação da psiquê e toda a sua trajetória contada passo a passo, nos leva a crer, piamente, que você está fazendo a coisa certa! Sem sombra de dúvidas minha querida amiga Selma. Indiscutivelmente você se desnudou de tudo! Abrindo, assim, a sua mente para o suposto "desconhecido".
ResponderExcluirGratidão amada! ��