Tudo
começou com um teste de associação de palavras e Jung, a partir dele,
desenvolve sua teoria dos complexos. Estes sendo conceituados como núcleos de
energia psíquica que por sua vez se comportam como imãs atraindo mais energia
psíquica e formando um grande nó, que ao ser afetado transborda e toma a
consciência do individuo trazendo com ele questões dolorosas, sofrimento e
também o desconhecido.
Partindo do princípio dos grandes
mestres da cura como Hipócrates, Paracelso e Edward Bach, onde está a dor e a
doença encontra-se também a cura, pois ela aponta o caminho para a saúde,
entendendo cura e saúde como um processo de reequilíbrio.
Logo, podemos concluir que é muito
importante que haja a manifestação desses complexos no setting
terapêutico, pois eles vão nos apontar o caminho da dor, da ferida e também o
caminho para alcançar a cura.
Mas como será que esses complexos se
manifestam? Quando eu quero?
Não, eles se manifestam quando são
afetados e isso pode acontecer vendo um comercial de TV ou num movimento
mobilizador de um processo terapêutico. Quando não se recebe a resposta
imediata do WhatsApp ou quando o chefe não reconhece o esforço do trabalho
realizado. No engarrafamento da cidade ou no silencio mórbido da mesa de
jantar.
Enfim, é preciso um gatilho. E é muito
bom quando ele acontece dentro do vaso hermético do setting terapêutico,
pois aqui, há um continente seguro que possibilita que ele se expanda sem
reverberar em outrem, e o terapeuta, como um grande espelho, precisa estar
confiante de sua prática para se manter nesse lugar e não ser capturado pelas
imagens que transbordam do Ego.
Quando o individuo então, busca um
processo terapêutico partimos do pressuposto que algo não esta bem, que há
sofrimento. Logo, já há uma mobilização de um conteúdo psíquico que
desestabiliza o controle egoico da consciência, muitas vezes motivado por algum
gatilho, seja uma frase, um trauma ou uma perda. Sendo assim quem nos chega é
alguém já em estado de tensão psíquica, mas ainda muito apropriado de seus
processos de defesa, que pouco permite uma tomada de consciência mais profunda.
Podemos chamar este estado de crise,
do latim Krisis, como um momento de desconstrução, de definição que gera
tensão. Essa tensão e essa crise antecede um momento muito importante do
processo terapêutico que é o caos, do latim Kaos, vazio, nada, de onde
tudo pode vir a ser.
E é a partir desse caos que tudo
nasce. Esse é o grande momento criativo cósmico, o momento da criação que
sucede o vazio, o caos, o nada.
Essa
breve conceituação nos permite começar a entender como se dá a evolução de um
processo terapêutico, que ainda que seja chamado de processo, é desprovido de
linearidade do tempo, pois estamos falando de psique, e esta é atemporal.
A
Arteterapia, por sua vez, nos fornece uma grande possibilidade de acesso a
esses conteúdos críticos através dos materiais plásticos e dos recursos
corporais e teatrais que possui. Essas possibilidades se comportam ora como
grandes gatilhos, ora como possibilidades de transformação e contingencia. O
que determina é o momento em que são usados e a forma comosão usados.
Voltamos então à primeira conceituação
desse ensaio, o teste de associação de palavras. Aqui observamos um elemento
fundamental que possibilita a comprovação e a evocação dos complexos existentes
no individuo: a espontaneidade da resposta diante do estímulo. O analista
apenas fornece uma palavra e a partir dela uma sequencia de associações
psíquicas são elaboradas e saem como respostas espontâneas.
Minha proposta dentro do conceito
de livre expressão é buscar, a partir desse conceito junguiano, uma associação
livre de materiais, onde o primeiro estímulo do terapeuta: “Como deseja
trabalhar hoje? Para qual material seu desejo aponta?”, permite que seja
desencadeada uma serie de associações de imagens e afetos que se manifestam nos
materiais expostos no ateliê. Para que tal trabalho seja possível de ser
realizado é preciso um setting adequado com diversas possibilidades de
material a vista e alcançável ao paciente.
A
crise psíquica evolui para o caos, o momento do vazio diante do material e este
por sua vez, evolui para o processo criativo que é a retomada do fluxo da
libido que pode se manifestar numa obra titânica ou olímpica, dependendo da
etapa do processo terapêutico de cada um.
Neste modelo de atuação, a análise se
dá em diversos níveis, tais como a resistência diante deste ou daquele
material, a repetição de um material ou imagem, a imagem geral da obra, desde
quando o paciente chega ao setting, até a finalização da obra.
Também é solicitado ao terapeuta um
vasto conhecimento da linguagem dos materiais e do recolhimento de sua postura
egoica de ser aquele que irá conduzir o paciente rumo à consciência maior. Quem
faz esse percurso é a arte e suas manifestações através dos materiais. Cabe ao
mesmo perceber as nuances, apontar as questões observadas e sugerir materiais
que possam potencializaro processo de cada um, sem esperar alcançar nenhum
objetivo pré-determinado, como a ideia linear de trabalhar sementes e assim
evocar o arquétipo da grande mãe.
É
possível qualquer manifestação diante de um material e essa fluidez dentro do
ateliê de Arteterapia é o ponto alto da beleza de um processo de livre
expressão da existência de um ser humano.
Falarei
um pouco mais sobre este processo na palestra do Ciclo de Palestra do Blog
Não-Palavra que este mês será realizada dia 11 de setembro, sexta-feira às
18:00h em Botafogo.
AGENDA
Ciclo de palestras Não-Palavra: Pensando a Arteterapia
Dia 11 de setembro| SEXTA | 18h às 20h
Arteterapia e o Ateliê de livre expressão
com Maria Cristina de Resende
Investimento: R$ 15,00 por palestra Local: Botafogo.
VAGAS LIMITADAS. INSCRIÇÕES ANTECIPADAS SOMENTE POR EMAIL: naopalavra@gmail.com
Infelizmente não posso por causa do local e horário, tenho certeza que terei outras oportunidades. Obrigada.
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