segunda-feira, 4 de novembro de 2013

SURREALISMO NA PRÁTICA DA ARTETERAPIA



“O surrealismo não é estilo. É o grito da mente que se volta para si mesma.” Antonin Artaud**

            Os movimentos Dada e Surrealista têm em comum a busca da não razão na arte. O Dadaísmo tinha como princípio a não fundamentação teórica e tinha como palavra de ordem o acaso. Em um texto anterior deste blog  pudemos ver a aplicabilidade deste movimento na prática da arteterapia.
            O Surrealismo nasce como uma reconstrução das ruínas do Dada, que ao negar a tudo acaba por negar a si mesmo. E o acaso dadaísta se transformou na influência do inconsciente na arte, embasados na teoria psicanalítica de Freud. O movimento buscava:
“... criar uma arte que fosse ‘automática’, que brotasse diretamente do inconsciente, sem ter sido moldada pela razão, pela moralidade ou por julgamentos estéticos.” (LITTLE)
            (Soa familiar, arteterapeutas?)
            Os experimentos que estes artistas faziam para de toda forma tentarem burlar a influência da consciência em suas obras são riquíssimos e muito propícios a serem aplicadas no setting arteterapêutico. Acredito que são muito interessantes no trabalho com pacientes racionais, que ao manejarem bem as palavras, constroem e calculam seu discurso. Que se imaginam sabedores de si e queiram explicar-se. Ou mesmo que estejam abertos ao processo terapêutico, mas que por resistência tentam controlar os conteúdos que levam à terapia.
            As técnicas surrealistas (algumas já mencionadas em textos anteriores) procuram acessar o inconsciente (o maravilhoso) através do automatismo, ou seja, tudo que era criado de forma espontânea: Disse Ernst em Além da Pintura:
“Lutando mais e mais para restringir minha própria participação ativa no desenvolvimento da figura e assim ampliando o papel criativo das faculdades alucinatórias da mente, cheguei a assistir como um espectador ao nascimento de todos os meus trabalhos ” (BRADLEY)
            Além disso, uma das principais características do movimento que é o permanente intercâmbio entre o “poético e o pictórico”  nos possibilita a reprodução da técnica da associação livre da psicanálise, originalmente por palavras, na associação livre por imagens, sendo esta uma outra forma do sujeito se falar tão legítima quanto.
A associação livre é a técnica psicanalítica ao qual o analista pede que o paciente fale sem restrições ou censuras tudo o que passa pela sua mente e coloca o analista atento à tudo aquilo que “escapole” diretamente do inconsciente para o discurso consciente, como os atos falhos, chistes, lapsos, sonhos... A prática nos mostra que o ato criativo, e neste contexto específico as técnicas surrealistas, também se estabelecem como conteúdos inconscientes não racionalizados e não controlados pelo paciente, que se materializam na representação plástica, e que muito ricos em produção de símbolos espontâneos são um excelente recurso na clínica do arteterapeuta.



Referências Bibliográficas:
*BRADLEY, Fiona. "Surrealismo - Movimentos da Arte Moderna"
LITTLE, Stephen. “Ismos para entender a arte”.


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