“O surrealismo não é
estilo. É o grito da mente que se volta para si mesma.” Antonin Artaud**
Os movimentos Dada e Surrealista têm
em comum a busca da não razão na
arte. O Dadaísmo tinha como princípio a não fundamentação teórica e tinha como
palavra de ordem o acaso. Em um texto anterior deste blog pudemos ver a aplicabilidade deste movimento
na prática da arteterapia.
O Surrealismo nasce como uma reconstrução das ruínas do Dada, que ao
negar a tudo acaba por negar a si mesmo. E o acaso dadaísta se transformou na influência do inconsciente na arte,
embasados na teoria psicanalítica de Freud. O movimento buscava:
“... criar uma arte que fosse
‘automática’, que brotasse diretamente do inconsciente, sem ter sido moldada
pela razão, pela moralidade ou por julgamentos estéticos.” (LITTLE)
(Soa familiar, arteterapeutas?)
Os experimentos que estes artistas
faziam para de toda forma tentarem burlar a influência da consciência em suas
obras são riquíssimos e muito propícios a serem aplicadas no setting arteterapêutico.
Acredito que são muito interessantes no trabalho com pacientes racionais, que ao manejarem bem as
palavras, constroem e calculam seu discurso. Que se imaginam
sabedores de si e queiram explicar-se.
Ou mesmo que estejam abertos ao processo terapêutico, mas que por resistência
tentam controlar os conteúdos que
levam à terapia.
As técnicas surrealistas (algumas já mencionadas em textos anteriores) procuram
acessar o inconsciente (o maravilhoso) através do automatismo, ou seja, tudo que era
criado de forma espontânea: Disse
Ernst em Além da Pintura:
“Lutando mais e mais para restringir
minha própria participação ativa no desenvolvimento da figura e assim ampliando
o papel criativo das faculdades alucinatórias da mente, cheguei a assistir como
um espectador ao nascimento de todos os meus trabalhos ” (BRADLEY)
Além disso, uma das principais
características do movimento que é o permanente intercâmbio entre o “poético e
o pictórico” nos possibilita a
reprodução da técnica da associação
livre da psicanálise, originalmente por palavras, na associação
livre por imagens, sendo esta uma outra forma do sujeito se falar tão
legítima quanto.
A associação livre é a técnica psicanalítica ao qual
o analista pede que o paciente fale sem restrições ou censuras tudo o que passa
pela sua mente e coloca o analista atento à tudo aquilo que “escapole”
diretamente do inconsciente para o discurso consciente, como os atos falhos,
chistes, lapsos, sonhos... A prática nos mostra que o ato criativo, e
neste contexto específico as técnicas surrealistas, também se estabelecem como
conteúdos inconscientes não racionalizados e não controlados pelo paciente, que
se materializam na representação plástica, e que muito ricos em produção de símbolos espontâneos são um excelente
recurso na clínica do arteterapeuta.
Referências
Bibliográficas:
*BRADLEY, Fiona. "Surrealismo - Movimentos da Arte
Moderna" LITTLE, Stephen. “Ismos para entender a arte”.
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