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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O ACASO E O COLABORATIVISMO EM ARTETERAPIA

            No último dia 27 de outubro estive no evento da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro, chamado “O Inconsciente e a Arte” juntamente com minha parceira de estudos e prática Flavia Hargreaves, coordenando a oficina “Arteterapia e História da Arte: Dada e Surrealismo”. Foi um encontro delicioso e surpreendente, onde pudemos vivenciar duas técnicas propostas pelos artistas destes movimentos que têm como premissa a tentativa de tirar a possibilidade de controle e racionalidade inicial no ato criativo.
            Para experimentar o acaso dadaísta fizemos o “Poema Dada”, ao qual palavras escolhidas por cada participante são colocadas em um saco e misturadas. Em seguida cada participante retira algumas palavras “escolhidas pelo acaso” e a proposta é que cada um as dê um sentido, organizando-as, associando-as, completando-as... “O poema sempre será parecido com você” dizia Tzara, pois para ele o acaso poderia ser tão pessoal  quanto uma ação consciente. E o que pudemos testemunhar é que ele não estava enganado.
            Outra recurso usado pelos surrealistas para se burlar a racionalização no ato criativo eram os jogos grupais:
“O trabalho em colaboração também era um modo de criar imagens que desafiassem o aparato racional da mente individual e consciente do artista. Os dadaístas já tinham feito alguns experimentos com o colaborativismo... No surrealismo, porém, a colaboração e o coletivismo tiveram uma importância crucial.” *
            Os surrealistas inventaram o jogo chamado cadavre exquis, cujos resultados eram regularmente publicados na revista La Revolution Surréaliste e que alguns dos quais serviram também de inspiração para obras de Miró.



Em arteterapia podemos utilizar esta técnica em grupos, onde uma folha de papel será dividia em 3 partes. Um participante desenha o que seria a cabeça – passamos o desenho para o participante da direita – um segundo o que seria o corpo – passamos para a direita – e por fim o terceiro, o que seriam as pernas e pés. O resultado é um personagem criado a 6 mãos, ao qual o participante recebe e tem a oportunidade de colocar cor e um cenário. Faz-se uma riquíssima reflexão sobre o que herdamos (dos nossos pais, da cultura, do meio ambiente, da genética, etc) e como “nos construímos como personagens” diante disto. Os resultados desta experiência riquíssima em simbolismos e conteúdos encontram-se na sessão IMAGENS QUE FALAM deste blog, com a autorização dos participantes da oficina.

            Por fim, vale a reflexão de que como terapeutas, ao propormos aos nossos pacientes técnicas que o façam experimentar o não controle, também nos coloca neste mesmo lugar:  como é para mim lidar com o acaso em minha prática como arteterapeuta?

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