É comum quando as pessoas se interessam pela arteterapia imaginarem se tratar da Terapia Ocupacional. Por isto me motivei a escrever este texto. São dois campos de saber legítimos, pertinentes e coexistentes em serviços de saúde. Embora tenham suas interseções, são distintos e cada um tem seu objeto e sua função no desenvolvimento ou na recuperação do individuo.
Em
linhas gerais, a Terapia Ocupacional
é um campo de estudo que envolve três grandes áreas: a Reabilitação Física,
a Saúde Mental e a Área Social. A ocupação
humana é o objeto de estudo.e, dentro desse contexto, é especializada em análise
de AVDs (Atividades de Vida Diária) – alimentar-se, tomar banho, vestir-se com
independência etc – como também de AVIs (Atividades de Vida Instrumentais) – lazer,
trabalho, comunicação, etc – gerando condutas de prevenção, manutenção e tratamento,
fazendo inclusive adaptação de materiais e treino de uso dos mesmos. Numa análise
de atividade considera as articulações, os grupos musculares, tipo de
movimentação envolvida, características específicas de possíveis estímulos neuropsicomotores
e outros. Entretanto também é papel do TO avaliar e lidar com fenômenos que
permeiam o processo de tratamento a partir do uso de atividades: o envolvimento
emocional, social e afetivo do sujeito, o vínculo terapêutico, a tolerância à
permanência em atividade, o significado que se dá a este “fazer”, o
desenvolvimento de um começo, meio e fim... Ou seja, fenômenos que acontecem em
um atendimento, onde o encontro desse triângulo “paciente – atividade –
terapeuta” podem gerar processos semelhantes de expressão e/ou internalização,
porém cada campo de atuação acolherá este sujeito e suas questões com sua visão
e estratégia diferenciada.
De
fato, a Arteterapia pode manejar em
sua atuação estes benefícios que a Terapia Ocupacional visa, como o efeito
terapêutico do “fazer” e o desenvolvimento do corpo em suas partes motoras e
cognitivas. Entretanto seu foco primário, seu objeto é outro. Para além disto,
sua “matéria prima” é outra: o
inconsciente.
A
Arteterapia se faz em um modo de atuar, pelo qual a utilização das técnicas gera
um efeito no psiquismo. Não está propriamente dita no campo do desenvolvimento
de habilidades ou das finalidades artísticas, mas visa a expressão e a comunicação de conteúdos psíquicos: sentimentos,
pensamentos, conteúdos inconscientes.
Jung
no Livro “A Prática da Psicoterapia” dá valor à utilização de técnicas
expressivas pois por meio das imagens criadas o sujeito vê-se diante da
circunstância de “traduzir o indizível em formas visíveis.” Este recurso tem
benefício ao favorecer posteriormente a expressão em palavras daquilo que antes
não tinha nome, identidade ou sequer lugar ou espaço para manifestar-se.
Nas
palavras de Maria Cristina Urrutigaray, a Arteterapia:
“... é um passo viável, visível objetivado que
possibilita aproximar elementos ou realidades ocultas (inconscientes) às dimensões
mais acessíveis de serem compreendidas, facilitando a conscientização dos
mesmos.” **
* Este texto foi escrito
com a colaboração de minha amiga, Terapeuta Ocupacional Aline Bini.
** Meterial de Apoio: “Arteterapia
– A transformação pessoal pelas imagens” Maria Cristina Urrutigaray
Arteterapia pode ser um recurso utilizado pelo terapeuta ocupacional em suas intervenções, seja no dali da saúde mental, da reabilitação física, da educação, entre outros.
ResponderExcluirÉ preciso atentar para o processo histórico sobre o uso de ocupações com fins terapêuticos. Exemplo o trabalho de Nise da Silveira em Terapêutica Ocupacional, baseado na abordagem de C.Jung, no Brasil, e que mais tarde deu origem à profissão de Terapia Ocupacional.
O debate histórico é necessário.
Por Derivan Brito da Silva
Terapeuta Ocupacional
Docente UFPR.
Onde lê-se "dali" leia-se "campo". Porque Derivan
ExcluirÀ arteterapia possibilita se conhecer mais distintamente os indivíduos, mesmo estando trabalhando em grupos,e em conjunto com a TO, seria mais eficaz ainda.
ResponderExcluirA arteterapia como instrumento físico, auditivo e visual tende a ajudar nas mais diversas formas de artes como desenho, pintura, dança e até contação de histórias como entretenimento dos pacientes é benéfica para a melhora deles.
ResponderExcluirMuito esclarecedor. Arteterapia e Terapia Ocupacional possuem pontos em comum, porém, com objetivos distintos. Suas fronteiras se entrelaçam e ganham novos rumos, entretanto ambas visam o bem estar do sujeito como pessoa na sua integridade tanto física como mental.
ResponderExcluirGostei muito do que li e me esclareceu as minhas duvidas.
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