Há algumas semanas escrevi sobre
meus estudos sobre o Surrealismo e meu desejo de compartilhar, passo a passo,
minhas descobertas e aplicações para o trabalho da arteterapia. Mas antes de se
falar em Surrealismo é necessário falar de Dadaísmo, um movimento artístico
imediatamente anterior.
O termo Dada foi escolhido por ser o primeiro som
emitido pela criança denotando o primitivismo, o começar do zero, o novo na
arte. De fato o Dadaísmo é marcado pela idéia de se romper com tudo o que
existia e desconstruir o estabelecido. Estavam reagindo ao horror da Primeira
Guerra Mundial:
“Em Zurique, em 1915, tendo perdido
o interesse pelos matadouros da guerra mundial, voltamo-nos para as Belas Artes.
Enquanto o troar da artilharia se escutava a distância, colávamos, recitávamos,
versejávamos, cantávamos com toda a nossa alma. Buscávamos uma arte elementar
que,,pensávamos, salvasse a espécie humana da loucura destes tempos.” Revista
Dada, organizada por Tzara
As
obras Dada eram uma grande explosão de atividade que tinha como objetivo
provocar o público, destruir as noções tradicionais de bom gosto e libertar as
amarras da racionalidade e do materialismo.
Arp, um poeta e artista plástico, pertencente ao movimento dizia:
“Dada visou destruir as razoáveis
ilusões do homem e recuperar a ordem natural e absurda... Dadá é a favor do
não-sentido, o que não significa contra-senso. Dada é desprovido de sentido
como natureza. Dada é pela natureza e contra a arte...Dadá é pelo sentido infinito
e pelos meios definidos.”
Este artista aderiu ao ataque contra a linguagem que
o Dadá iniciou e o surrealismo deu seguimento à sua maneira.
Em sua obra, ele começou a permitir que o acaso se apresentasse. Utilizou
técnicas como rasgar um desenho em pedaços e deixar que os fragmentos caíssem,
formando um novo padrão. Também lançou mão do desenho espontâneo permitindo o
livre fluir da tinta. Da mesma forma, permitiu o acaso em seus poemas,
“rasgando” frases para que não houvesse coerência lógica, embora não estivessem
desprovidas de sentido,
Para o arteterapeuta, este movimento artístico traz
muitas possibilidades. Ele apresenta, de forma extremada, o binômio razão / não-razão
e convida ao paciente à refletir sobre aonde ele se encontra neste “jogo dos opostos”.
Para pacientes que apresentam características de enrijecimento, inflexibilidade
e apego, técnicas que propõem a desconstrução
os tiram de sua zona de conforto
e apresentam um desafio. Para aqueles extremamente racionais e controladores,
técnicas que propõem o acaso e a
aleatoriedade são extremamente desafiadoras e fazem com que o paciente se
perceba nesta realidade da vida: a impossibilidade racionalizar e ter controle
sobre tudo.
* Fonte: “Conceitos da Arte
Moderna” Nikos Stangos
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