Fiquei surpresa ao aprender que
embora seja através das artes plásticas que o Surrealismo se tornou conhecido
do grande público, em certo sentido elas são “auxiliares” ao movimento. Na
realidade, os principais interesses eram poesia, filosofia e política.
O Manifesto
Surrealista se apresentou como um movimento literário, mencionando a
pintura apenas como uma nota de rodapé. Nele continha a seguinte definição para
o Surrealismo.
“Puro automatismo psíquico, através do qual se pretende expressar, verbalmente ou por escrito,
o verdadeiro funcionamento do pensamento. O pensamento ditado na ausência de
todo o controle exercido pela razão, e à margem de qualquer preocupação estética
ou moral.” *
Os surrealistas defendiam que o automatismo revelaria a “verdadeira
natureza individual de quem o praticasse”, uma técnica muito mais completa do
que as “criações conscientes”, pois este seria o meio “mais perfeito para
alcançar e desvendar o inconsciente”.*
André Breton, líder Surrealista, psiquiatra de
formação, afirmava que seu interesse pelo automatismo se originava em Freud. Escreveu no
Manifesto:
“Completamente ocupado com Freud, como eu ainda estava nessa
época, e familiarizado com os seus métodos de observação, que eu tivera ocasião
de aplicar em pacientes durante a guerra, decidi obter de mim mesmo o que
tentamos obter deles, um monólogo pronunciado o mais rapidamente possível,
sobre o qual a mente crítica do indivíduo não deve produzir qualquer
julgamento, e que portanto, não seja embaraçado por nenhuma reticência e seja,
tão exatamente quando possível pensamento falado”.*
Em
parceria com Philippe Soupault, Breton produziu inúmeras páginas de escrita automática e ficaram espantados
com o resultado e sua “qualidade tal que não teríamos sido capazes de produzir
usando a escrita comum”. *
Breton aplicou para fins artísticos o que Freud
cunhou como a regra fundamental da psicanálise: a associação livre. Nesta época, Freud estava em pleno
desenvolvimento de suas técnicas terapêuticas para o tratamento das doenças
nervosas, em especial a histeria. Estabeleceu que o tratamento psíquico se dava
através da fala e como parte do método catártico, Freud pedia que o paciente falasse, sem restrições
ou censuras, tudo o que atravessasse a sua mente, com ou sem sentido. Eis a
associação livre, técnica fundamental à teoria psicanalítica ao qual visa
alcançar seu objeto, o inconsciente.
Na prática da arteterapia, é muito interessante
estimular que o paciente tenha um momento em que se debruce sobre um trabalho
ou uma temática e escreva automaticamente, tudo o que lhe vier a mente, sem a
obrigatoriedade das “regras para boas redações” como as ensinadas na escola.
Tenho obtido resultados muito interessantes com pacientes que ao se entregarem
a esta proposta, se surpreendem com o resultado de seus escritos, conteúdos tão
íntimos a serem trabalhados no processo terapêutico.
* “Conceitos da Arte Moderna – com 123
ilustrações” org. Nikos Stangos
Parabéns Eliana,
ResponderExcluirexcelente texto e tema! Utilizo muito a técnica da "escrita automática" em sala de aula, em trabalhos com jovens, pois abre um canal novo, os surpreende! Aliado a essa prática da escrita, podemos unir a técnica da colagem, também muito utilizada pelos surrealistas.
Um beijão!
Oi Matina! Que bom ver seu comentário aqui!
ExcluirTenho aplicado técnicas dadaístas e surrealistas nos meus grupos e temos alcançado resultados maravilhosos!!! Acho que como arteterapeutas precisamos nos aprofundar nesses estudos, vc concorda??? :)
bjs