segunda-feira, 23 de setembro de 2024

A BUSCA PELO PERTENCIMENTO - REFLEXÕES NA ARTETERAPIA

 


Por Sarita Elias 

@sarita_arteterapeuta


O tema do pertencimento tem sido uma constante na minha trajetória como Arteterapeuta. Já escrevi um artigo sobre este assunto no contexto de idosos residentes em uma Instituição de Longa Permanência e atendo uma cliente que mora fora do Brasil há 12 anos, estando sempre em diálogo com essa temática, ainda que de forma inconsciente. Recentemente, recebi uma nova cliente que expressou a seguinte inquietação: “Não me sinto bem neste lugar, não me sinto pertencente”. Pertencimento! Palavra que tem o mesmo significado de pertença, que significa "aquilo que faz parte de; pertence, propriedade; atribuição". Como seres sociais, faz parte da nossa natureza humana a necessidade de pertencer, de fazer parte de algo. De acordo com Cardella (2015): 

"A vida humana é sempre vida de alguém, que acontece em meio aos outros. O outro, o diferente, o estranho, nos limita, desafia, contesta, desaloja, desarruma e também confirma, testemunha, acolhe e se deixa transformar pelo nosso modo de ser. Paradoxalmente, nos faz outros para nós mesmos e possibilita que nos apropriemos do próprio" (CARDELLA, 2015, p. 181). 

Sendo o pertencimento uma necessidade humana fundamental, naturalmente, essa questão chega à clínica arteterapêutica. Isso me faz refletir sobre a importância de estarmos preparados para acolher essa busca, o que implica, entre outras coisas, compreender o que significa pertencer para cada cliente. No entanto, é igualmente crucial diferenciar entre um desejo autêntico e legítimo de pertencer e o anseio por "encaixar-se" em um contexto de forma irrefletida. 

Esse desejo irrefletido de "se encaixar" pode estar fortemente ligado à perda de identidade, causada por uma variedade de fatores. Um caminho terapêutico pode ser criar propostas que fortaleçam a autoestima e o senso de identidade. Ao perceber-se como único e singular, o indivíduo tende, naturalmente, a descobrir a sua pertença nos espaços que lhe são dignos, afastando-se dos lugares que não lhe cabem.

 Além disso, o pertencimento é apenas uma das várias dimensões que constituem a dignidade humana. Observar como o cliente se relaciona com essas diferentes dimensões – como a sua criatividade, senso de responsabilidade, hospitalidade, reconhecimento de si e do outro, entre outros aspectos – é essencial. Isso nos permite compreender melhor as razões pelas quais essa necessidade de pertencimento emerge nas sessões. 

Compreender as necessidades do cliente requer uma abordagem cuidadosa, uma vez que é o próprio cliente quem sabe o que precisa ser trabalhado em terapia. Como afirma Cardella (2015): "Só quando aceitamos que não conhecemos o outro é que podemos, de fato, reconhecê-lo" (CARDELLA, 2015, p. 51). 

Com esses pontos em mente, o acolhimento, as propostas e os materiais selecionados na arteterapia devem funcionar como uma ponte entre a dor inicial que a ausência de pertencimento provoca e a descoberta do lugar do cliente no mundo. Isso, por sua vez, permite que o pertencimento seja vivido como uma consequência natural do "ser". 

Bobliografia CARDELLA, B e a t riz. D e v olt a p a r a c a s a. 2. e d. A m p a r o: G r á fic a F o c a, 2 0 2 0. 2 9 6 p.


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Sobre a autora: Sarita Elias - AATESP 1104/0923 


Formação: Graduação em Pedagogia e Artes Visuais e pós graduação em Arteterapia pelo instituto Faces 

Área de atuação/projetos/trabalhos: Sou Sarita Elias, Arteterapeuta, Arte-Educadora e Artesã. Atuo como Arte-Educadora com crianças de escola pública e Arteterapeuta com atendimentos individuais e em grupo no formato online e presencial. Atualmente faço parte do projeto de Atendimento Social do Não Palavra como Arteterapeuta e coordeno o grupo de Arteterapia online “Criar, cuidar e ser!”. 

Contato: @sarita_arteterapeuta (instagram); sarita.arteterapeuta@gmail.com (email) 

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