Por
Silvia Quaresma
othila.arteterapia@gmail.com
Algum
tempo atrás certamente acreditaria que dois raios não caem no mesmo lugar, mas a
ciência já desmistificou esta teoria quando afirmou que em áreas de grande
incidência podem cair não somente dois, mas diversos raios. Então, é render-se
aos fatos e aceitá-los.
Atendo
a dois artistas plásticos. Em ambos os casos os processos terapêuticos convencionais
já não estavam surtindo efeito e como pessoas totalmente envolvidas com arte,
Arteterapia pareceu ser um caminho lógico, como abordado por Moraes:
Fato
é que o conhecimento de algumas técnicas facilita, mas tem um fator limitador
considerável para o processo arteterapêutico. Dois
artistas habilidosos cujo contato com a tinta traz um grande nível de
racionalização, encontram dificuldade para entregar-se a fluidez quando esta
representa para eles momento de profunda racionalização: sistemático uso do
pincel, quantidade de tintas “matematicamente” calculada, perspectivas, etc.
A
princípio pensei na escrita não simplesmente para registro de uma experiência,
mas como disparador, como recurso expressivo. Contava com a possibilidade da
palavra transformar-se em imagem, em símbolo, conforme cita Philippini quando
fala das estratégias para o uso da escrita criativa no processo arteterapeutico:
Abordarei algumas destas estratégias,
mas priorizando as experimentações imagéticas em torno da palavra, consideramos
como um estímulo gerador para chegar a processos visuais e plásticos, sonoros
e/ou corporais. Assim abordarei a questão da utilização da palavra, além de sua
importância como ponte para uma produção literária mais fluente; examinando a
função da palavra como fonte geradora na produção de IMAGENS. (PHILIPPINI,
2018, p.108)
Ofereci
cinco folhas, contendo as seguintes imagens: A, B C, D e E.
Pedi
que escolhessem duas e que fizessem um registro das impressões em folha
separada. Surgiram várias palavras iniciadas com a forma escolhida.
Foi
observado pelos clientes não formas, mas letras e com letras é preciso fazer
palavras. A reflexão começou quando tiveram que abandonar um padrão pré-estabelecido,
instigados pela pergunta: Como sabem que são letras?
A
produção aconteceu quando foi solicitado o uso das imagens como formas e não
como convencionalmente se conhece.
O
resultado fascinou os clientes, surpreendidos pelo leque de possibilidades
apresentados pela Arteterapia: B, de suposta letra transformou-se em óculos, D
em aquário, e E, grandes garras.
O
processo arteterapêutico deve focar na criação e permitir que o ato criativo,
tenha como objetivo a expressão e a obtenção de novos símbolos, como lembra
Philippini:
Cada imagem produzida no “setting”
arteterapêutico tem o potencial de transformar-se em “imagem-matriz”, ou seja,
imagem geradora de uma série de outras imagens, ao longo do percurso arteterapêutico,
de significados correlatos. .(PHILIPPINI, 2018, p.108)
A
quebra de paradigmas como neste caso, onde letras assumiram novos significados,
contribuiu para o esquecimento das listas com inúmeras palavras e deu origem a
outros relatos trazidos pelas imagens produzidas.
O
arteterapeuta deve colaborar para a obtenção de novos recursos e usos
auxiliando na elaboração psíquica de seus clientes instrumentalizando-os.
Afinal de contas, quem disse que eram letras?
Bibliografia
MORAES, E. Pensando a Arteterapia. Rio de Janeiro: Semente Editorial, 2018.
PHILIPPINI.
A Linguagens e Materiais expressivos em
Arteterapia: uso, indicações e propriedades. Rio de Janeiro: Wak. 2018.
Sobre a autora: Silvia Quaresma
Arteterapeuta
Graduada em Letras
Pós-Graduada em Finanças
Pós-Graduada em Arteterapia e Criatividade
Professora especialista de artesanato
Idealizadora do Projeto Customizando Emoções –Interface entre Artesanato e Arteterapia
Idealizadora de Othila Arteterapia em Ação
Coordenadora de Grupos de Arteterapia em Instituição para cuidadores e voluntários
Atendimento individuais e em grupos em Arteterapia
Silvia, vc sempre nos surpreendendo com algo muito legal! Gostei demais da ideia! Quem disse que eram letras??? Criatividade é seu sobrenome mesmo, né? Parabéns pelo texto super legal e bem escrito! Leve, didático, criativo!!! Sua fã! Tania Moreira- @caminhartes.arteterapia
ResponderExcluirObrigada...que honra ter vc como fã...mas é verdade não é? Quem disse que eram letras?
ExcluirSilvia,
ResponderExcluiresse seu texto ficou muito bom! Leve e gostoso de ler. Adorei as imagens produzidas nos trabalhos e a última frase do texto foi a cereja do bolo! Parabéns!!!
Claudia Abe
Obrigada Cláudia e é verdade..neste caso não eram letras!!
ResponderExcluirSilvia, que percepção bacana! "Como sabem que são letras?" desestabilizou o mundo conhecido, abrindo para novas/atualizadas experiências. Obrigada pela partilha!
ResponderExcluirAbraço meu,
Nair