Por Juliana Ohy - SP
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julianaohy@gmail.com
Site:
http://www.julianaohy.com.br
A internet vem sendo protagonista no
contexto profissional e pessoal do ser humano há muitos anos. Mas nunca
utilizamos tanto nossos aparelhos celulares, tablets ou computadores como
agora. Atualmente, a necessidade de aprender mais sobre tecnologia e o mundo
virtual cresceu.
O tele atendimento virou, rapidamente, a
nossa realidade em tempos de COVID-19. Essa nova forma de abordagem terapêutica
nos reaproximou dos pacientes distanciados do mundo social. Enquanto antes
pensávamos que o virtual era frio e impessoal, agora virou o meio de fazer com
que as pessoas sintam-se mais próximas umas das outras, mesmo que cada uma em
sua casa. E, apesar de ser algo novo para eles, os idosos vem surpreendendo a
cada dia com suas habilidades tecnológicas.
A proposta de fazer um tele atendimento
com pacientes idosos nem sempre é aceita logo de início, afinal tudo que é
desconhecido nos provoca inseguranças e resistência. É preciso deixar que o
idoso experimente e perceba que aquilo é possível. Assim, o papel do terapeuta
deve ser facilitar ao máximo essa adesão a nova abordagem. Quanto menos o idoso
precisar fazer, nesse momento relacionado a aprendizagem da tecnologia, melhor.
Isso porque devemos inserir uma nova aprendizagem a cada vez. Ou seja, primeiro
o idoso deve aderir ao tratamento. Assim, inicie convidando-o para uma conversa
de vídeo ou telefone de poucos minutos e deixe-o se sentir a vontade com aquela
forma de se comunicarem.
Uma vez que o idoso percebeu que a
tecnologia não é um impedimento para que ele possa encontrar seu terapeuta,
conversar com seus filhos e ver seus netos, ele estará mais apto e disponível
para aceitar os próximos passos do tele atendimento.
Outro ponto importante quando falamos em
tele atendimento é saber que a atenção exigida do terapeuta e do paciente é
muito maior, pois ambos estão visualizando apenas uma parte do corpo, o que
dificulta a compreensão através das expressões corporais. Alguns tele
atendimentos ainda estão sendo feitos apenas por telefone, o que diminui ainda
mais as chaves de comunicação.
Segundo os especialistas Gianpiero
Petriglieri, professor do Insead, e Marissa Shuffler, professora da
Universidade Clemson, algumas chaves de comunicação se perdem em uma
videoconferência, como o tom de voz, parte das expressões faciais e gestos
físicos. Isso nos força a prestarmos mais atenção ao que está sendo comunicado,
causando maior esgotamento mental.
Diante disso, o tempo no tele atendimento
deve ser analisado. Uma sessão presencial de duração de 60 minutos com um
paciente, talvez deva ser reduzida para 45 minutos com esse mesmo paciente.
Essa foi uma constatação que ficou evidente em meus próprios tele atendimentos.
Outra observação importante é para o
tipo de aplicativo que será utilizado. Alguns deles permitem que a tela do
computador seja compartilhada, assim, ambos (terapeuta e paciente) conseguem
visualizar um exercício de estimulação cognitiva, por exemplo. Outros, não
permitem esse compartilhamento. Nesse caso, é preciso trabalhar com o celular e
o computador concomitantemente, mostrando o exercício na tela do computador
pela câmera do celular. Isso vale para exercícios cognitivos, mas também para
imagens, por exemplo, quando queremos trabalhar através da arteterapia.
Os materiais que podem ser utilizados
como recursos terapêuticos e de estimulação também são de suma importância.
Materiais coloridos, com fácil visualização são melhores para trabalhar. Na
arteterapia, em especial, trabalhar com imagens, palavras, metáforas e músicas
tem dado ótimos resultados quando o assunto é tele atendimento.
Assim como no setting terapêutico, o
fazer junto pode aumentar o vínculo positivo. Pintar uma mandala junto com o
paciente, tomar um café ao mesmo tempo durante o atendimento, ouvirem a mesma
música ou lerem uma poesia, pode trazer de volta a sensação de proximidade e
calor humano em tempos de quarentena.
De
fato, o tele atendimento veio para ficar e devemos nos especializar e
transformar essa abordagem em algo simples e acessível para todos. Nosso
trabalho como terapeutas é criar possibilidades diante do caos, mesmo que o
caos seja o simples fato de não estarmos adaptadas ao Novo Normal.
Referências Bibliográficas
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Sobre a autora: Juliana Ohy
Formação:
Psicóloga, Arteterapeuta, Psicopedagoga, Especializada em Psicogeriatria e
Neuropsicologia, Mestre em Saúde Mental e Doutoranda em Ciências da Saúde.
Área
de atuação/projetos/trabalhos:
Sócia-diretora
da Clínica Synapse: Geriatria e Estimulação Cognitiva (Jundiaí – SP), autora do
Livro: Jogos Cognitivos: Um olhar multidisciplinar, pela editora WAK,
pesquisadora na área de Neurocirurgia pelo Hospital Sírio-Libanês – SP. Membro
da equipe e professora do curso Neurociências da Educação do CBI of Miami, palestrante
na área de Neurociências, Gerontologia e Arteterapia, professora dos cursos
Arte e Cognição: Estimulando o cérebro através da arte e Jogos Cognitivos.
Ótimo texto, Juliana! Simples, direto, agradável e com boas ideias. Obrigada. Bjs
ResponderExcluirMeu comentário saiu como anônimo, mas sou eu, Isabel Pires. Bjs
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