segunda-feira, 13 de junho de 2016

A importância da produção textual na Arteterapia

Por Maria Cristina de Resende
crisilha@hotmail.com

Quase um ano se completa desde as primeiras publicações que fiz para este Blog e de lá para cá vários foram os temas abordados dentro da Arteterapia, como as observações acerca da prática do profissional, o desenvolvimento de outras metodologias possíveis, chegando a necessária hybris de novas construções conceituais. Acredito que esta evolução foi possível devido ao próprio ato de escrever.


Segundo Anne Lamott, citada por Donna Kaiser, editora da Revista de Arteterapia da Associação Americana de Arteterapia,

Writting has much to give, so much to teach, so many surprises. That thing you have to force yourself to do – the actual act of writing – turns out to be the best part. It´s lie discovering that while you thought you needed the tea ceremony for the caffeine, what you really needed was the tea ceremony. The act of writing turns out to be its own reward. (1995, p xxvi)
Escrever tem tanto a dar, tanto a ensinar, tantas surpresas. Aquela coisa que você precisa se esforçar para fazer – o ato de escrever em si – se torna a melhor parte. É como descobrir que enquanto você pensava que precisava da cerimônia do chá para tomar o chá, o que você realmente precisa é da cerimônia em si. O ato de escrever se transforma na própria recompensa. (Tradução livre da autora)

Conforme eu, Flávia e Eliana fomos mergulhando neste hábito semanal de escrever sobre nossas práticas, sobre nossas ideias, sobre nossos devaneios teóricos, fomos aos poucos descobrindo que o ato de escrever nos exige a cada texto uma superação na forma, no conteúdo, na fundamentação e, principalmente, na dedicação e responsabilidade que devemos ter com nossas práticas e estudos. Muitas conversas foram travadas acerca deste movimento no nosso meio da Arteterapia e nos perguntamos onde mais encontramos colegas dispostos a enveredar por este caminho de troca, de partilha e de construção pessoal e coletiva, pois ao mesmo tempo que a escrita nos impulsiona para um desenvolvimento profissional pessoal, ela também impulsiona todo um coletivo que compartilha dessa produção textual, e por isso, se beneficia dessa produção.

Por isso, este texto de hoje é dedicado aqueles que estão construindo a profissão de Arteterapia no Brasil. Colegas que, como nós, praticam e estudam a Arteterapia em suas diversas formas de atuação, e para vocês eu tenho uma pergunta: Por que não escrever sobre o que vocês fazem?
Kaiser continua sua ideia sobre o ato de escrever quando discorre acerca da importância dos profissionais estarem contribuindo tanto para a profissão, quanto para outros colegas iniciantes que serão os representantes da categoria: “it is vital for practicing art therapy to educate their colegues about what they are doing” – “é vital para o praticante de arteterapia ensinar seus colegas sobre o que eles estão fazendo” (tradução livre da autora).
Entretanto, escrever, ainda que seja uma operação, que no fim opera sobre nós, como Lamott afirma, acima citado, não é algo que deva ser tratado de forma leviana e desarrumada. É importante escrever, e escrever bem.

O que seria escrever bem?

Uma boa escrita deve antes de tudo ser clara, coesa e atraente, ou seja, deve convidar a cada parágrafo o leitor a continuar a história. Porém o aspecto conceitual do texto deve ser tomado com significativa importância. Ainda Kaiser, “It is importante to tell your stories within conceptual frameworks that guide practice.” – “É importante contar suas historias com os conceitos estruturais que guiam esta prática” (tradução livre da autora), ou seja, não é só escrever o que se faz, mas também fundamentar sua prática a partir de teorias que sustentem a terapêutica daquela prática, e é neste ponto que escrever sobre nosso trabalho nos faz crescer enquanto profissionais e nos coloca a pensar sobre nossa dedicação e responsabilidade com este saber, que deve ser construído e reforçado por cada arteterapeuta formado em nossa cidade, estado e país.

Seguir regras de construção textual também nos ajuda a acessar áreas de saberes que claramente possuíam grande resistência com nossa prática, pois além de desconhecerem, não têm acesso a materiais com equivalência conceitual em suas áreas, ou seja, se somos formados para nos tornarmos terapeutas com quais profissionais ao nosso redor estaremos atuando? Psiquiatras, Neurologistas, Geriatras, Psicólogos, Pedagogos e atualmente empresários e gestores de instituições públicas e privadas. Que linguagem usamos quando estamos diante desses profissionais? Como mostrar a eles que nossa prática possui um bom alicerce que garante a eficiência de sua utilização nesses meios?

Com estas contestações não afirmo que necessitamos convencer nenhum outro profissional da qualidade de nossa prática, mas devemos sim conquistar o respeito de nossa atuação e do nosso profissionalismo, e para tanto saber falar outras linguagens técnicas se torna absolutamente fundamental, e com isso escrever sobre elas se torna igualmente necessário. É nossa responsabilidade zelar pela qualidade de nossa prática e pelo respeito de outros profissionais. Acredito que só conseguiremos conquistar esse lugar quando os profissionais que formam esse coletivo buscarem aprimorar sua prática, desenvolver um processo de escrita afim de registrar, compartilhar e ensinar sobre ela, favorecendo toda a camada profissional que dará continuidade a esta bela potencia terapêutica.

Sendo assim, convido cada profissional recém formado ou não a buscar ritualizar esta prática de escrever a partir dos seus próprios estudos de caso, fazendo o simples relatório de atendimento se tornar um artigo em potencial. Para que esta ideia se torne concreta convidamos os interessados em fortalecer esta corrente a participar do Grupo de Estudos onde eu e Flávia Hargreaves oferecemos um espaço de construção coletiva de novas ideias, novas possibilidades de estudo, de perspectiva a partir da leitura e discussão de textos da Arteterapia, Psicologia e Arte produzidos pelos nossos profissionais brasileiros mas também de outros autores de outras nacionalidades, discussão e supervisão de casos clínicos e claro, a produção textual de cada participante. Aqui não existem hierarquias, mas um coletivo que busca qualidade na atuação e no desenvolvimento teórico e prático.

Referência:

Donna H. Kaiser (2016) The Importance of Writing (and Writing Well), Art Therapy, 33:1, 2-3, DOI: 10.1080/07421656.2016.1132100
disponível em <http://dx.doi.org/10.1080/07421656.2016.1132100> acessado em 04/06/2016

Caso tenha dificuldades em postar seu comentário, nos envie por e-mail que nós publicaremos no blog: naopalavra@gmail.com

9 comentários:

  1. Excelente ideia! Com certeza, na medida em que conseguirmos uma produção teórica e, porque não dizer também científica, estaremos nos fortalecendo enquanto categoria e aprendendo a falar claramente à sociedade de uma forma geral, o que é e como é feita a nossa prática. Nesse sentido, somos privilegiados, porque precursores, com seus ônus e bônus...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Sandra, gratidão pelo seu comentário. Acho importantissimo esse fortalecimento, já ouvi coisas muito ruins de outros profissionais de outras categorias da saúde sobre a Arteterapia, desejo poder mudar isso, desejo uma pática e uma teoria onde eu posso falar de igual pra igual, e ser respeitada por isso! Juntos somos muito mais fortes!
      ;)

      Excluir
    2. pode contar com meu apoio Maria Cristina!

      Excluir
    3. pode contar com meu apoio Maria Cristina!

      Excluir
  2. A cada dia sinto-me mais estimulada e desafiada a exercitar tal convite. Em ..
    Excelente texto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Tania, fico muito contente em saber que esta estimulada a essa prática, já peum grande passo. Dá trabalho, mas nos coloca em outros niveis de experiência com a teoria e com a nossa percepção do caso, estudar além de somente atender o caso faz muita diferença!
      No que precisar conte conosco!

      Excluir
  3. Adorei o texto amiga querida!
    Busquei a arteterapia como uma bancária aposentada em depressão.
    No dia do encerramento do meu curso de formação em Arteterapia fiz o lançamento do meu primeiro livro infantil, fruto do trabalho interno do curso.
    Não parei mais de escrever. Vou lançar o setimo livro infantil e devo este processo de descobrimento às técnicas que aprendi com a arteterapia.
    Sou um ser humano melhor!

    ResponderExcluir
  4. Adorei o texto amiga querida!
    Busquei a arteterapia como uma bancária aposentada em depressão.
    No dia do encerramento do meu curso de formação em Arteterapia fiz o lançamento do meu primeiro livro infantil, fruto do trabalho interno do curso.
    Não parei mais de escrever. Vou lançar o setimo livro infantil e devo este processo de descobrimento às técnicas que aprendi com a arteterapia.
    Sou um ser humano melhor!

    ResponderExcluir