segunda-feira, 11 de maio de 2015

Olhares acerca do V Congresso Luso Brasileiro de Arteterapia

por Maria Cristina de Resende
Nos últimos dias 01 e 02 de maio de 2015, realizou-se no Rio de Janeiro o V Congresso Luso Brasileiro de Arteterapia, que buscou a convergência de profissionais da rota Brasil-Portugal.

Um encontro de pessoas onde as diversas motivações e perspectivas sobre a Arteterapia me suscitaram um único adjetivo: democrático. Considero, através da minha ótica, que este encontro fora por excelência um encontro democrático, a começar pelos valores das inscrições, que viabilizaram a participação de diversos arteterapeutas, desde os estudantes até nomes importantes da área. A democracia se estabeleceu também nas possibilidades de apresentação de trabalhos, e foram muitos trabalhos – oficinas, mini-cursos, temas livres, mesas temáticas, palestras e lançamentos de livros – possibilitando o profissional e o estudante de conhecer e participar da perspectiva que os profissionais atuantes na Arteterapia possuem no seu campo de trabalho. Infelizmente, a mesma democracia que gera oportunidades múltiplas para o participante, gera também a frustração de não conseguir um olhar global, pois muitas apresentações aconteceram simultaneamente, entretanto, é disso que se faz a democracia, de escolhas.

Para temperar com muito bom gosto esse caldo que vivenciamos no fim de semana, Carlos Byington e Walter Boechat, ambos analistas junguianos e não arteterapeutas, trouxeram um pouquinho de seus conhecimentos. O primeiro acerca da história do homem e os arquétipos relacionados ao seu desenvolvimento histórico-social e o segundo com a palestra Memória e História, o resgate da identidade pelas histórias ancestrais.

Carlos Byington na palestra "Arquétipo e História".

Particularmente, este Congresso teve uma representação importante em minha carreira profissional, sendo ele o primeiro onde inauguro as minhas perspectivas sobre a Arteterapia e como realizo meu trabalho, já atuante há sete anos. Além do lançamento do um livro “Vivenciando as Deusas”, onde publiquei um dos capítulos, em conjunto com Ligia Diniz, organizadora do livro.

Lançamento do livro "Arteterapia e as Deusas", no qual participei com capítulo sobre 
Deméter, em parceira com Ligia Diniz, organizadora da publicação. 
Também participaram os autores: Bianca Oigman, Bruno Elias, Juliana Rangel, Leila Moutinho, 
Mônica Valéria Iaromila e Rossana Lourenço.

Com apresentações nas modalidades Pôster e Tema Livre, também pude traduzir em palavras toda uma perspectiva que venho desenvolvendo, juntamente com Flávia Hargreaves, sobre novas possibilidades de atuação do profissional frente aos materiais plásticos e a relação com o setting e com o cliente, uma modalidade terapêutica que converge conceitos fundamentais da Psicologia e das Psicologias profundas assim como conceitos da arte e de vários artistas ao longo da história.

Na sala dos Pôsters, alguns trabalhos muito importantes foram expostos, como o trabalho no Hospital Universitário da UFF realizado por Denise Vianna e também a trajetória da Arteterapia no SUS do Distrito Federal, apresentado por Alba Sony Oliveira, um interessantíssimo e muito importante olhar sobre o profissional da Arteterapia dentro do SUS, assim como a importância dessa categoria no atendimento primário da saúde pública.

Nosso Pôster apresentou um projeto desenvolvido há um ano por mim e pela Flávia cuja máxima é a livre associação de materiais, o Ateliê Livre Terapêutico. Um espaço onde as pessoas podem, livremente, buscar expressar aquilo que quiserem com o material que quiserem, sem que haja a colocação de um tema ou a sugestão imediata de um material. A interferência do terapeuta é pontual, na medida em que for necessária a provocação e a amplificação de conteúdos que forem aparecendo em suas obras. Realizado em um espaço coletivo, o Ateliê é um processo de desenvolvimento individual realizado em grupo, onde várias pessoas compartilham a mesa de materiais e o espaço alquímico da terapia. Esse projeto foi inaugurado a partir das percepções que fomos elaborando ao longo do contato com o trabalho da Dra. Nise da Silveira, na Casa das Palmeiras, onde trabalhei por seis meses e onde Flávia ainda está atuante, além das discussões que fomos fazendo acerca da fundamentação teórica e prática da profissão.

Apresentação do pôster "Ateliê Terapêutico e a livre expressão em Arteterapia" 
que apresentei com  Flávia Hargreaves.

Já na modalidade Tema Livre, diversas apresentações foram sendo realizadas ao longo do dia. Neste espaço apresentei o tema “A Roda da Cura – A história ancestral da cultura nativa norte-americana”. Escolhi esse tema por alguns motivos pessoais e profissionais. Pessoalmente, vivencio os ensinamentos desse mito nas minhas andanças pelo caminho da busca interior, buscando somá-los aos conteúdos da psicologia e da Arteterapia quando me dedico ao cuidado e a facilitar o processo de busca de outrem. Profissionalmente, encontrei nesses ensinamentos uma possibilidade de expansão para a técnica da amplificação, realizada dentro da clínica Junguiana. Atualmente, o que encontramos em muitas práticas, tanto de trabalho quanto de formação de profissionais, dentro do campo Junguiano e da Arteterapia, é um infindável número de trabalhos realizados sobre a mitologia grega, os processos alquímicos e os 4 elementos e tantos outros que exploram a cultura grega. O que é muito bom, afinal temos disponível muito sobre o tema. Entretanto, me faz pensar o quanto temos de material sobre as culturas do nosso continente, da nossa ancestralidade americana, própria da nossa raiz territorial. Acredito que muito pouco, ou quase nada.

Apresentação do tema livre: Roda da Cura e a história ancestral nativa norte-americana.

Logo, busquei trazer um conhecimento ancestral riquíssimo de possibilidades terapêuticas, tanto para os profissionais junguianos, quanto aos profissionais da Arteterapia, uma vez que a Roda da Cura nos oferece muitos recursos para amplificação, muitas metáforas e muita conexão com uma cultura fundamentada nas relações de fraternidade e de respeito às relações com o outro e com a natureza.

Sendo assim, posso concluir que o V Congresso Luso Brasileiro nos ofereceu, além da possibilidade democrática de apresentar nossos trabalhos, grande oportunidade de conhecer mais sobre o que tem sido feito do campo da Arteterapia e como os profissionais atuam dentro do campo técnico-teórico da categoria, proporcionando ao arteterapeuta uma ampliação do senso crítico e uma busca pela ampliação de seus conhecimentos e de sua metodologia de trabalho.

contato: naopalavra@gmail.com

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